"When the seventh son of the seventh son comes around and breaks the chain..."
Quando que me perguntam qual é a minha música preferida de sempre (na verdade, não me lembro de alguém me perguntar isto, eu é que gosto de fazer estas reflexões nerdicas), há meia dúzia temas que me vêm imediatamente à cabeça. Entre temas como "High Hopes" dos Pink Floyd, "The Show Must Go On" dos Queen, ou "Champagne Supernova" dos Oasis, está... (como já devem ter adivinhado por esta introdução) "Raoul And The Kings Of Spain" dos Tears For Fears.
Tenho uma amiga que me costuma dizer que as nossas preferências musicais se devem a 3 factores: "Opiniões, gostos e vivências", porque "muitas vezes gostamos ou não de uma música pela vivência que temos com ela".
É uma teoria com fundamento.
Separar opiniões e gostos, é algo que não é fácil, mas que é possível. Por exemplo, se me perguntarem qual e a minha banda preferida (a que eu mais gosto), a resposta seriam os Queen. Por outro lado, se me perguntarem qual a melhor banda de sempre (a que na minha opinião, é a melhor), a minha resposta já seriam os Pink Floyd. Em qualquer dos casos, obviamente que gosto de ambas.
Relativamente às vivências, é uma relação que dispensa exemplificações. A música fica associada a momentos da nossa vida. Os bons e os maus. É inevitável. E se tivermos em conta o efeito terapêutico da música, nem é preciso ficar associada a bons momentos, para que crie um elo de ligação connosco.
Pensem nos vossos temas preferidos, ou nos vossos álbuns preferidos e avaliem, caso a caso, se eles estão associados a tempos de bonança, ou a tempos de provação. Pode ser que tenham uma surpresa.
Mas se é verdade que já risquei determinados álbuns, por me levarem para lugares para onde eu não quero ir; há outros que puxo sempre que preciso de navegar para o meu porto seguro. São os álbuns que passam mais tempo empilhados junto ao leitor de CD's, do que devidamente arrumados na prateleira. São os álbuns que me teleportam para um lugar de segurança e despreocupação, a maioria deles associados a momentos da minha infância.
Este é o caso de "Raoul And The Kings Of Spain", dos Tears For Fears - um disco que marcou a minha vida, um dos meus álbuns preferidos de sempre.
Viajemos então no espaço e no tempo.
Fim de semana alargado, de 6 a 9 de Abril, de 1996. A família Bento decide fazer a sua primeira grande viagem de carro ao estrangeiro, no seu Lancia Dedra branco. O roteiro compreendia o Sul de Espanha, com passagens por Sevilha, Gibraltar, Algeciras, Granada e a Serra Nevada.
No auto-rádio Alpine do carro, uma cassete:
Mas a cassete não tinha o álbum todo. Numa geração diferente da pirataria, muito antes do mp3 e dos downloads, esta ainda se fazia com a gravação indevida em formato Compact Cassette, abreviado de MC (MusicCassette). Nas cassetes, gravava-se o que se podia, tendo em conta a limitação de espaço na fita. No caso de "Raoul", com pouco mais de 50 minutos, o álbum caberia em qualquer cassete de 60 minutos - as mais banais naquela altura.
O problema é que, quem quer que tenha gravado a cassete, gravou duas vezes o mesmo "lado", isto é, o mesmo conjunto de temas nos dois lados da fita. Graças ao inovador sistema auto-reverse do auto-rádio, o resultado foi um loop contínuo de 25 minutos que se repetiu ad aeternum ao longo da viagem, durante 4 dias, dentro do carro:
1. "Raoul and the Kings of Spain" (5:16)
2. "Falling Down" (4:56)
3. "Secrets" (4:42)
4. "God's Mistake" (3:47)
5. "Los Reyes Católicos" (1:44)
6. "Sorry" (4:48)
Uma viagem destas, cheia de paisagens novas e cheiros desconhecidos, teria que marcar indelevelmente a impressionável mente de um miúdo de 10 anos. Colado às imagens da neve na Serra Nevada, da chuva copiosa de Gibraltar, ou da miragem de África lá ao fundo, para lá do intenso nevoeiro, estará para sempre um grito:
"Raaaaaaoooouuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuul!!"Aos 10 anos, a minha percepção da língua inglesa ainda não era grande coisa, mas para cantar a plenos pulmões o refrão de "Raoul And The Kings Of Spain" com Roland Orzabal, tal não era necessário.
Colados à música, ficaram estes momentos, estas vivências. Daí em diante, "Raoul" ficaria sempre como um bilhete directo para os bancos de trás do Lancia Dedra branco, onde eu podia dormitar em segurança, despreocupadamente, enquanto olhava pela janela, para paisagens nunca vistas.
Dentro em breve, voltarei inevitavelmente a "Raoul And The Kings Of Spain", da mesma forma que já voltei imensas vezes ao longo da minha vida. Voltarei a "Raoul", porque muito mais fica por dizer sobre este álbum, na minha opinião uma das obras primas da curta, mas concisa, carreira dos Tears For Fears.
gosto muito :)
ResponderEliminarAmélia, bem vista sejas!! O que se passou com o teu blog?
EliminarGosto muito deste post :) fez-me lembrar imensas viagens que também fiz em miuda e as músicas que ficaram associadas a essas lembranças. É aí que me dou conta de como as músicas dos anos 80 e início dos 90 marcaram tanto a minha infância...
ResponderEliminarSame here :)
EliminarBoa tarde Nuno, tudo bem? Meu nome é João Luis e sou do Brasil. Não sei se blog ainda existe. Estou ouvindo (ou a ouvir, como vocês por aí) todos os álbuns desta banda que sempre gostei muito, o Tears For Fears. Quando cheguei no Raoul And The Kings Of Spain, fiquei impressionado. Tenho 60 anos e não ouvi o álbum em sua época, apenas duas canções. Ainda não ouvi os dois mais recentes, porém, posso afirmar que este é o que mais curti. Gostei muito do seu texto. Muito didático e lírico ao mesmo tempo. Parabéns pela escrita e pelo seu gosto musical, é lógico! Um abraço.
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