"Trust some of this, it'll show you where you're at, or at least it'll help you really feel it"
Nota prévia: Se não estão preparados para (mais) um texto cheio de superlativos e loas a Bruce Springsteen e à sua E Street Band, devem abandonar desde já este espaço. Aqui, sempre se adorou, adora-se e vai continuar a adorar-se o Boss.
Segunda nota prévia: Por volta das 21:30 de ontem, a meio do concerto dos James no Palco Mundo, o vocalista da banda - Tim Booth - deu o mote para o que se passaria umas horas mais tarde. Com aquele seu ar sério de ex-presidiário na tentativa de reinserção na sociedade, Tim Booth contou uma história que se passou com ele e que terá marcado o fim da sua adolescência "rebel without a cause":
"I was a 16 years old punk rocker, all my role models were self destructive.
I was into the Sex Pistols and Iggy Pop and a 100 other tortured artists who wished to come on stage and cut themselves for people's entertainment.
And then... when I was 17, a friend of mine bought me a ticket to see a concert in Birmingham, in England. I didn't wanna go, because I didn't like the guy's music. And they dragged me along to this guy's concert in Birmingham and after the 3rd song, I was standing up with the biggest smile on my face.
That was Bruce Springsteen & The E Street Band. That was the "Born To Run" tour.
They showed me another kind of artist that doesn't have to burn himself out... That doesn't have to cut themself for people's entertainment.
They showed me a new way of being onstage.
So it's a great pleasure to be here this evening, with you and with them.
We need more role models like Bruce Springsteen.
I needed one."
Bruce Springsteen & The E Street Band ao vivo, como uma life changing experience. Onde é que eu já ouvi isto?
De uma maneira ou de outra, esta é uma história cujos contornos são comuns a milhares de pessoas em todo o Mundo e que ontem foi partilhada por muitas outras.
Isto ignorando o facto que Tim Booth se trocou todo nas datas e/ou nos locais, uma vez que a E Street Band tocou pela primeira vez em Birmingham (UK) em 1981, na digressão de promoção ao álbum "The River". Na digressão de "Darkness On The Edge Of Town" (1978-1979), Bruce não saiu do espaço EUA / Canadá, por falta de verbas. Nas digressões de "Born To Run" (1974-1977), Bruce foi, efectivamente ao Reino Unido (Tim fez 17 anos em 1977), mas tocou apenas em Londres, no lendário Hammersmith Odeon.
Loas a Bruce Springsteen? Este espaço está longe de estar sozinho.
Especialmente desde ontem à noite, quando Bruce Springsteen trouxe finalmente a lendária E Street Band a Portugal. Depois do espectáculo sensaborão de Alvalade em 1993, com a Other Band (sim, a "outra" banda de Bruce foi mesmo baptizada de... Other Band), havia uma clara onda descrente em relação ao Boss no nosso país. Até ontem. Ou melhor, até hoje, porque o Boss demorou a chegar e quando entrou no Palco Mundo do Rock In Rio Lisboa 2012, já passavam das 0:00 de 4 de Junho.
Bruce demorou, mas quando chegou, não defraudou as expectativas e deu aquele que para mim foi o MELHOR (e mais longo?) concerto do festival. Como já esperava, foi mais que um concerto, foi uma experiência.
Por onde é que eu hei-de começar? Vou ter que escrever qualquer coisa sobre o que presenciei, mas não sei ao certo o quê, uma vez que ainda estou em êxtase pós-orgásmico.
Foram 2 horas e meia de masturbação emocional colectiva. Um turbilhão de emoções. Milhares de vidas que nunca mais serão as mesmas. Porque a partir de ontem, para essas pessoas houve qualquer coisa lá dentro que mudou, uma emoção que acordou.
Tal como aconteceu com Tim Booth, na sua juventude. Tal como aconteceu com o meu melhor amigo que, tal como acontecera com Tim Booth, também eu "arrastei" para o concerto de ontem. E tal como Tim, também ele, ao fim do 3º tema, deu por ele com um sorriso idiota na cara.
São muitos anos a arrancar sorrisos a carrancudos.
É o Boss. É inigualável.
Mas reitero: desde as 2:30 de hoje, que este espaço deixou de estar sozinho em Portugal.
Ao longo do dia, a imprensa multiplicou-se em loas ao Boss, elegendo a sua actuação como o grande concerto do Rock In Rio 2012. Mas não só. Hoje já li críticas que vão desde “o concerto do Rock In Rio”, passando pelo “concerto do ano”, até ao “concerto da década”.
Para ver alguns exemplos: aqui, aqui, aqui, aqui, ou aqui.
Como disse ontem Bruce, após arrancar um surpreendente "Twist And Shout" para fechar o concerto (até ontem "Tenth Avenue Freeze Out" tinha sido sempre o último tema): "You've just experienced the legendary E Street Band!". Indeed we did.
Ninguém se pode queixar que não foi avisado.
No início do concerto, como é seu hábito, Bruce profetizou a missão da E Street Band. Na introdução de "Spirit In The Night" - um dos meus temas preferidos de Bruce, do seu álbum de estreia de 1973: "Greetings From Asbury Park, NJ" - Bruce revelou ao que vinha:
"The E Street Band has come thousands of miles, just to be here in Lisbon tonight.
And we've come here on a mission!
We're gonna bring the power! We're gonna bring the glory! We're gonna bring the fun! We're gonna stimulate your sexual organs, with the power of Rock N' Roll!
Can you feel the spirit? Can you feel the spirit now?"
E assim foi.
Depois de 3 dias consecutivos de Rock In Rio, hoje estou de rastos. Sem voz, com a garganta rebentada e já não sinto pernas, pés e costas.
Estou mais morto que vivo, mas estou feliz. Com o tal sorriso idiota na cara.
Obrigado por tudo, Bruce. Vemo-nos por aí, numa estrada qualquer. De preferência brevemente.
"Together we move like spirits in the night!"