quinta-feira, 19 de novembro de 2015

David Bowie - "Speed Of Life"



Cinco anos. Parece impossível, mas o blog faz cinco anos. São cinco anos desde que comecei a escrever sobre música com alguma regularidade. São cinco anos em que tudo mudou, desde a minha vida, à minha escrita. São cinco anos que concorreram com a fase mais louca da minha vida. As histórias são imensas, algumas foram aqui relatadas, outras apenas insinuadas e muitas deliberadamente escondidas, com risco de perder emprego e namorada. Ui, dessas então, perdi inúmeras nestes cinco anos, mais do que um mero blog de fundo de rua na blogosfera poderia comportar. Mas deixemos essas epopeias de lado por hoje. Mais que histórias que não podem ser contadas, este blog foi um receptáculo de sentimentos e de emoções, porque são esses os impulsos neurológicos associados à música - a força motriz do meu blog e da minha vida. Em muitas ocasiões, ao longo destes cinco anos, ambos se confundiram.

São cinco anos a amaldiçoar a escolha do nome do blog. Escolha musical do dia? A sério? Poderia dizer em minha defesa que simplesmente não estava inspirado naquele dia; que mandei ao ar o primeiro nome que me veio à cabeça, como aquele e-mail que criámos quando tínhamos 14 anos e fomos buscar a um título de uma música, anexando a idade ou o ano de nascimento em sufixo. Mas não. Eu pensei mesmo nesta merda. Porque na verdade, o blog não faz cinco anos, mas sim SEIS ANOS. Tchi, que golpe de teatro! Pois é, foi exactamente HOJE, há seis anos que criei o (também genialmente baptizado) Rock na prateleira. O conceito desse blog era ligeiramente diferente do Escolha musical e bem mais ambicioso: desafiei-me a dissecar a fundo a criação, edição e reedições de todos os álbuns que já ouvira, classificando-os no fim. Foi um desafio que a mim próprio me recusei. Demasiado trabalho associado.

Rock na prateleira ficou na prateleira indefinidamente e durante um ano ruminei conceitos diferentes para um blog. Estávamos em 2010 e começava entretanto o advento do Facebook. Como a maior parte da população ocidental, deixei-me de hipsterices e também eu me alistei na rede social por esta altura. E como seria de esperar, comecei a expressar-me no Facebook através... de música. No meu grupo de amigos do Facebook (que na altura se limitavam mesmo aos amigos / conhecidos com quem me cruzava com frequência na vida real), era eu quem percebia mais do assunto e achava que tinha que partilhar com eles o meu conhecimento. Fazia-o todos os dias e por isso comecei a chamar-lhe Escolha musical do dia. Mas o interesse dentro do grupo era diminuto, pelo que regressei à ideia do blog para tentar encontrar quem me entendesse do lado de fora.

E foi assim que em 2010 refundei o blog, desta feita com o (genial...) nome de Escolha musical do dia. Qual não foi a minha surpresa quando percebi que afinal, do lado de fora da redoma onde vivia, estava uma multidão. Uma multidão de maluquinhos como eu, que amam a música como eu amo e sentem o que eu sinto. E nunca mais me senti sozinho.
A minha dívida para com o blog é enorme, o sentimento de pertença foi só uma das muitas coisas que ele me deu. De cabeça, o Escolha musical do dia deu-me um divã de confissão, deu-me uma coluna numa revista, deu-me amigos para a vida e até me deu uma namorada. Foi das melhores coisas que aconteceu na minha vida. Pena o nome. O nome que o blog devia ter foi mais tarde dado à minha coluna na NiT e depois ao blog onde publico os artigos que lá escrevo - Rapsódia Boémia. Curiosamente, criei o Rapsódia Boémia dias depois de ter fundado o Escolha musical do dia, mas como rapidamente ganhei aqui a notável média de um visitante por dia (que, ou vinham enganados, ou eram a minha mãe), achei que não podia defraudar os leitores e por isso nunca mudei o nome ao tasco. Enfim.

Pensei bastante no tema para acompanhar este post comemorativo. Primeiro considerei "Five Years" do David Bowie, mas esse é um tema que lamenta a tragédia de que a Humanidade só tem mais cinco anos de vida e eu espero que blog viva bem mais que isso. Em oposição a esse conceito, pensei em "Long May You Run" de Neil Young, mas esse é um tema demasiado luminoso para a escuridão que foram os últimos cinco anos. Voltei a Bowie. Se há artista que representa bem o que foram estes 5 anos, esse artista é David Bowie. Pensei então num álbum que assume um significado muito pessoal. Pensei no labirinto emocional de "Low", o álbum que, na sua loucura, na sua intensidade e na sua incongruência, melhor resume os últimos cinco anos. Amo os anos que passaram tanto como amo este álbum. Não os trocava por nada.


Este post vem acompanhado, como não poderia deixar de ser, de uma edição remasterizada do banner do blog.


Edit: E não é que Bowie desvendou hoje o seu novo single do álbum "Blackstar" a ser lançado em Janeiro? Coincidências.