“September 77, Port Elizabeth, weather fine. It was business as usual, in police room 619.”
Ando há uma semana com esta merda a fervilhar-me a cabeça. E como quem me segue saberá, quando fico a ferver, tenho a tendência para o vernáculo, por isso tendo a segurar-me.
Não sei se já viram o vídeo do New York Times com a reconstrução do assassinato de Minneapolis em multicam, a partir de vídeos de vários telemóveis (as coisas que a tecnologia nos proporciona). É hediondo. É um assassinato. Ponto. Da primeira vez que vi o vídeo, há uma semana, vi de um ângulo em que se via um polícia a pressionar a traqueia do George Floyd, enquanto este gritava pela mãe e dizia que não conseguia respirar. Fiquei nauseado com a frieza daquilo. Hoje percebi que afinal eram 3 animais em cima dele.
Todos foram (bem) despedidos no próprio dia, mas só o animal da traqueia foi detido “enquanto se averiguam os factos na investigação”. O NYT foi mais rápido que o tribunal e reconstruiu os factos num vídeo multicam. Entretanto, os outros animais continuam a monte. Não há democracia sem justiça e justiça tem que ser feita para George Floyd. Até lá, Minneapolis arderá. Compreensivelmente.
Por coincidência, ao mesmo tempo que isto acontecia, eu estava a ver um (excelente) documentário na Netflix sobre a guerra no Vietname (The Vietnam War - aconselho vivamente) que mostrava a revolução, os motins e as cidades americanas em chamas no verão de 1968, por causa da morte de MLK. Desligo o Netflix, mudo de separador e videos mostram-me uma cena exactamente igual em Minneapolis. Em 2020.
Serve de quê esta reflexão? Quem saiu a ganhar dos motins do verão de 1968? Um tal de Richard Nixon, boca sensação do Partido Republicano que prometia mão de ferro com os anarquistas. A classe média teve medo e votou nele.
Como vimos nesta alegoria, a história repete-se, por isso não excluam a reeleição de Trump por causa disto, por muito má que seja a sua conduta. Até porque do outro lado está um velho senil (não que ser um velho senil tenha algum mal, todos eventualmente lá chegaremos, se lá chegarmos) que nunca deveria ser candidato à presidência do US, muito menos nestas tão importantes eleições. Meu rico Bernie, que ias fazer a revolução do mundo livre e solidário. Mas isso, dizem-me, é fantasia. No mundo real, Trump já prometeu a intervenção do exercito (de armas os americanos percebem) e a classe média americana gosta disso.
Tudo se acalmará quando houver justiça. Todos os animais têm que ser prosecuted. O vídeo mostra uma frieza criminosa de todos os polícias presentes. Como não responder aos gritos de George Floyd? Who are these people? Eu gosto de estudar mentes twisted e se dá para “perceber” o train of thought do animal da traqueia, que alegadamente tinha simpatias supremacistas, que dizer do partner dele, chinês e também cúmplice? Isto ultrapassa o racismo, é de uma atrocidade indizível. NINGUÉM pode ficar indiferente a isto. Justiça para George Floyd precisa-se.
A banda sonora é providenciada por um dos meus heróis - Peter Gabriel - e o hino anti-racista dos anos 80 “Biko”, que conta a história de um homem assassinado numa esquadra na África do Sul, na altura do Apartheid. “It was business as usual” indeed, tal como em Minneapolis.