"Return... Don’t put me on! Return... Don’t make me beg!"
Foi mais uma das surpresas de 2009. O álbum "Veckatimest" dos Grizzly Bear, o terceiro da sua carreira, conseguiu deixar-me com a estranha sensação de ouvir música dos anos 60 em 2009. Ou será música de 2009 nos anos 60?
Para quem não conhece, os Grizzly Bear são uma banda de Brooklyn, composta por Edward Droste e Daniel Rossen nas vozes, guitarras e teclas, Chris Taylor no baixo e Christopher Bear na bateria.
Classificar os Grizzly Bear... Isso já se torna um desafio.
É seguro rotular os Grizzly Bear de Alternativo, ou Indie. Mas atendendo às óbvias influências do psicadelismo dos anos 60 em "Veckatimest", à fraca proeminência de guitarras e ao uso dos sintetizadores, eu diria que a banda se situa algures na cena do Pop Psicadélico Moderno. O que quer que isso signifique.
Não que isto de rótulos tenha muita importância, até porque já ouvi chamarem os Grizzly Bear de muita coisa, entre as quais Chamber Pop Music e isso é que eu gostaria que decifrassem...
"Veckatimest" é um álbum complexo, obsessivamente meticuloso nos arranjos e na sónica. É um álbum carregadinho de ideias; algumas novas, outras nem por isso, mas a maioria conhece aqui uma nova e única forma de execução.
As decisões estratégicas de produção põem este álbum à partida à frente da maioria das bandas dos tempos que correm:
Em tempos em que as gravações são feitas quase exclusivamente de forma digital, os Grizzly Bear decidiram dar um passo atrás na tecnolgia e gravar em analógico.
Em tempos em que o som é comprimido para ficar bem em mp3, em que as partes calmas são altas e as partes altas são distorcidas, os Grizzly Bear decidiram dar primazia à dinâmica e apresentar um disco com um tratamento sónico magistral.
Por tudo isto (e não só), facilmente se percebe que "Veckatimest" é um álbum que tenta ser diferente. Eu diria que o consegue com brilhantismo.
Mas isso não chega aos Grizzly Bear. A atenção ao detalhe mostra que o verdadeiro objectivo do álbum é tentar ser perfeito. Eu diria que, pelo menos na produção, anda lá perto.
É assim que, logo à partida, pela forma de gravar, pela sonoridade morna das fitas e pela cuidada engenharia sonora, os Grizzly Bear primam pela diferença.
Louvo-os por isso.
Mas não é tudo. Nem só de brilhante produção vive "Veckatimest". Detrás de todo o folclore por cima de cada tema está uma melodia. Uma canção que poderia ser também tocada com uma guitarra acústica.
Em "Veckatimest", a complexidade dos arranjos não serve para esconder o vazio das melodias, mas sim para as enriquecer.
Hoje fica aqui o meu tema preferido de "Veckatimest": este "I Live With You", um tema repleto de texturas psicadélicas, que parecem fazer um cruzamento entre os Zero 7 e os Pink Floyd em 1967.
Pode parecer estranho e talvez até arbitrário, mas os elementos estão lá e esta é a melhor descrição que eu consigo formular para a caracterização de música Pop... Electrónica... Psicadélica.