terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Simple Minds - "Theme For Great Cities"



Tal como prometido, hoje volto aos Simple Minds, para falar um pouco do período mais obscuro e mais fascinante da banda: os primeiros álbuns.

Desde "Life In A Day" em 1979, a "New Gold Dream (81-82-83-84)" em 1982, a sonoridade dos Simple Minds conheceu uma lenta e gradual evolução interessantíssima. Quando ainda eram apenas uma banda de culto, mais influenciável que influente, os Simple Minds foram moldando a sua música à imagem do que ia acontecendo à sua volta.

Nascendo da onda post-punk, os Simple Minds embarcaram na típica metamorfose para a New Wave / Electro Pop, pela qual outras bandas da época também passaram, caso dos Joy Division / New Order.
Foi uma evolução osmótica, de acordo com o que estava "na berra", mas sempre mantendo uma sonoridade muito característica, fruto das texturas construídas entre as sequências nas teclas de Mick MacNeil, as pulsantes linhas de baixo de Derek Forbes e a guitarra ambiente de Charlie Burchill. Uma secção rítmica invejável e uma combinação que ajudaria os Simple Minds a encontrarem o "seu som", algures entre 1981 e 1982, na véspera da gravação do álbum "New Gold Dream (81-82-83-84)". Seria essa matriz, com uma coloração mais radio friendly que daria aos Simple Minds os seus grandes êxitos em meados dos 80.

O que a maioria do público não sabe, é que o sucesso comercial para os Simple Minds só foi atingido entre o 6º e o 7º álbum, com a banda sonora de "The Breakfast Club" e "Don't You (Forget About Me)". O que ouvem em "Alive And Kicking" é o resultado polido de um amadurecimento que durou muitos anos e foi expresso em diversos álbuns. O sucesso dos Simple Minds foi tão grande por alturas de 1985/1986 (arrisco dizer que, na altura, eles eram maiores que os U2), que tudo o que se passou antes ficou esquecido pela banda e desconhecido pelo público.

Mas vamos então recuar ao princípio.

Os Simple Minds são uma banda escocesa formada em Novembro de 1977 por Jim Kerr (na voz) e Charlie Burchill (na guitarra), depois de terem dissolvido a sua banda Punk: os Johnny and the Self Abusers.
Kerr e Burchill queriam seguir numa direcção diferente e para isso foram buscar o nome da sua nova banda ao verso do tema de David Bowie "Jean Genie": "He's so simple minded, he can't drive his module". A escolha do artista já fazia adivinhar para onde iam os Simple Minds.


Foi preciso esperar 1 ano para a banda conseguir entrar entrar em estúdio e gravar o seu 1º álbum "Life In A Day", um álbum Post-Punk visto por muitos fãs como uma falsa partida. Apesar de alguma oscilação qualitativa, já se vislumbram momentos interessantes neste álbum, como o tema-título, "Chelsea Girl" (ambos lançados em single), ou o épico "Pleasantly Disturbed".


"Life In A Day" trouxe-nos boas indicações, mas é no 2º álbum "Real to Real Cacophony", de 1980, que os Simple Minds mostram ao que vêm. Com experimentalismos à volta de loops sombrios, as influências de Bowie e da sua trilogia de Berlim começam a ser aqui mais visíveis, de tal forma que por vezes penso que o 2º álbum deveria ser chamado qualquer coisa como "Music inspired on Low"... o que não tem que ser algo mau.


Continuando na sua transição electrónica, em direcção ao New Wave europeu, o 3º álbum "Empires And Dance", de 1980, parece ir buscar influências à base de sempre dos pioneiros electrónicos: a Alemanha e bandas como os Neu!, ou os Kraftwerk.
O álbum "Empires And Dance" impressionou de tal forma Peter Gabriel - na altura também entusiasmado com a revolução electrónica do início dos anos 80 - que este resolveu convidar os Simple Minds para o acompanhar na sua digressão europeia.


O ano de 1981 marcou mais um ponto de viragem para os Simple Minds. Depois de assinarem pela Virgin, uma editora que os poderia levar a mais altos voos (e levou mesmo), a banda entrou em estúdio motivadíssima e gravou um impressionante lote de música, tanto em quantidade como em qualidade. Um lote tão grande que era suficiente para um duplo álbum, uma ideia que não foi muito bem vista pela editora, vinda de uma banda ainda sem créditos firmados.
Mas os Simple Minds pareciam estar melhores que nunca e assim nasceu a ideia de lançar dois álbuns simultaneamente: "Sons and Fascination" e "Sisters Feelings Call".
O mais coerente "Sons and Fascination" seria o cabeça de cartaz e "Sisters Feelings Call", composto por sobras do primeiro, seria lançado apenas em edição limitada, juntamente com "Sons and Fascination".
O tempo acabaria por ditar que ambos os álbuns fossem vistos (e lançados) como apenas um só: o 4º da discografia dos Simple Minds.


"Sons and Fascination" incluía no seu alinhamento aquele que seria o primeiro êxito (moderado) dos Simple Minds: "Love Song". Mas foi o instrumental "Theme For Great Cities" (que podemos ouvir em cima), trazida em "Sisters Feelings Call", que definiu o tal ponto de viragem que referi em cima.
A composição electrónica minimalista, reminiscente do krautrock, num jogo de parada-resposta entre os vários elementos da secção rítmica dos Simple Minds, daria o mote para o que viria a seguir.

E a seguir, o que veio... foi História.
Os Simple Minds tornar-se-iam no grupo escocês mais popular de sempre, com 6 álbuns no nº 1 das tabelas do Reino Unido, conquistando também os lugares cimeiros em países como os EUA, a Alemanha, a Itália, a França, a Espanha, a Austrália, ou a Nova Zelândia.