sexta-feira, 9 de outubro de 2015

John Lennon - "How?"

"How can I give love when I don't know what it is I'm giving?"


Hoje o John Lennon faria 75 anos. O meu John. Sim, meu. Não que eu tenha especial orgulho nisso, porque toda a vida eu quis ser Paul. Mas não é Paul quem quer, é Paul quem pode. E eu não sou Paul, sou John. Temperamental, apaixonado, obstinado, conduzindo o dia-a-dia com o sangue a ferver nas veias. Não é fácil ser assim, acreditem. E também não deve ser fácil para quem me rodeia. Preferia a constância, o método e a segurança do Paul. Ou pelo menos acho que preferia. Mas talvez assim perdesse a piada.

Vejam aqui quem vocês são. O meu resultado foi (expectavelmente):


Para celebrar o John, deixo-vos "How?", do álbum "Imagine" (1971) -  um dos seus temas mais confessionais. Isto se for possível sequer fazer uma consideração deste tipo, já que todos os temas de John (pelo menos na sua carreira a solo) são confessionais. Os seus álbuns a solo são como que actas de várias sessões de terapia psicanalítica ao longo dos anos. Talvez por isso sejam tão inconsistentes e talvez por isso a sua carreira a solo seja tão ignorada. Ninguém quer olhar para John como ele é, preferimos manter a imagem estereotipada de um puto rebelde, de um excêntrico a lutar pela paz numa cama com uma chinesa, ou de um mártir que caiu aos pés de um louco. Mas John é muitíssimo mais complexo que isso. Ouçam, se conseguirem, a discografia a solo de John (álbuns avant-garde incluídos). É um desafio de mind games.

John está longe de ser perfeito (alguns idiotas formatados da internet descobriram agora isso), mas não é por isso que não o devemos amar por aquilo que ele é. Quem de nós é perfeito, anyway? Que direito temos de julgar quem se deu todo à sua arte e fez tudo o que podia para mudar o mundo que odiava onde vivia?

"How can I have feeling when I don't know if it's a feeling?"

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

David Gilmour - "Coming Back To Life" (live)

"I took a heavenly ride through our silence, I knew the moment had arrived for killing the past and coming back to life"



Rattle That Broken Fout Tour Journal

Tomo IV - Siga para Florença

Toda a vida ouvi maravilhas de Florença. Quando era pequeno, foi para lá o Rui Costa - o meu primeiro ídolo do futebol - e fiquei com o sonho de vestir aquela bela camisola patrocinada pela Nintendo. Não a vesti.
Falaram-me dos jardins (ao crescer em Castelo Branco, ouvia que o Jardim do Paço era uma miniatura dos alegadamente magníficos jardins de Florença). Não fui lá.
Falaram-me das praças, das catedrais, dos museus, das estátuas, da Galleria degli Uffizi, do Batistério de São João, da Ponte Vecchio. Tudo coisas que eu não vi, lugares onde eu não estive.
Falaram-me que ia ser uma viagem mágica, que Florença ia ficar comigo para sempre. Isso, vai. Porque a minha viagem a Florença não teve nada do que me falaram, mas teve mais um concerto de David Gilmour. O terceiro.

Recordo que na noite anterior tinha visto o segundo concerto da digressão, na Arena de gladiadores de Verona. Por isso não houve tempo para tretas de turismo. Na manhã seguinte, foi levantar e apanhar o Frecciarossa em direcção a Florença. Siga para bingo.

Chegado à estação de Santa Maria Novella, sigo directamente para o Ippodromo del Visarno.
Junto ao hipódromo, quase a bater nas seis da tarde, ouço sons de instrumentos vindos do palco. Estão a fazer o soundcheck! Começam com alguns temas do novo álbum. Nesta altura, dois concertos e outros tantos soundchecks depois, os temas já não constituem grande novidade. Até aqui, a setlist dos concertos fora sempre a mesma e não esperava grandes alterações para esta noite. Mas fico por ali. Para quê ver as maravilhas de Florença quando se tem a maior das maravilhas sonoras mesmo ao pé de nós?

Ouve-se um som grave. "É a introdução de "Sorrow"", penso. Confirma-se: David pratica o choro da sua Stratocaster. Ainda não ficou bem no "ponto", mas está quase.
Pausa.
Conversa-se no palco. Volta a ouvir-se o mesmo som grave. toum-toum... tãe-tãe... "Coming Back To Life"!!! Quatro notas chegam para identificar novo elixir da alma retirado de "The Division Bell". É a novidade da noite, espero.

Na foto não dá para ver, mas por trás daquelas árvores vem o som de "Coming Back To Life".

Ao contrário do concerto de Verona, em Florença há lugares marcados, por isso a entrada é feita de forma ordeira e lá dentro, salvo alguns grupos demasiado entusiastas, está um ambiente relativamente pacífico. Pelo menos até eu ter a brilhante ideia de comprar um Tour Program. Vendo o motim à frente da barraca do merchandising, hesito. Mas "estou de canadianas", penso. "O que é que pode correr mal?". Mal sabia eu.
Aproximo-me da multidão junto ao merch e não passa muito tempo até que se dê início ao empurranço... Que poucos minutos depois, dá lugar ao esmagamento. Canadianas? Who cares? Os italianos de certeza que não. Ao meu lado está um senhor com os seus 50 anos, aspecto fino de latifundiário da Toscana, que me põe a mão na cara e me empurra para trás para ganhar posição, num gesto que na grande área daria lugar a penalty. Siga para bingo.

O concerto (o terceiro) foi, musicalmente, o melhor de todos. Depois da insegurança de Pula e da tensão de Verona, em Florença, a banda já estava coordenada e saiu tudo quase ao milímetro. E tivemos, claro, a grande novidade: "Coming Back To Life". Faltou a mística das arenas romanas, a virgindade de Pula e a electricidade de Verona. Lados diferentes das mesmas moedas. Florença foi mais polido, mas também mais previsível.

Fiquem com "High Hopes":

David Gilmour - "High Hopes" live at Ippodromo del Visarno, Firenze

Posted by Nuno Bento on Quarta-feira, 16 de Setembro de 2015


No fim do terceiro concerto em apenas quatro dias, já estava habituado a isto. Tirar-me esse hábito foi como se me privassem da minha heroína (não que eu já tenha passado por essa experiência, ok Mãe? Eu sei que lês isto), mas já não dava mesmo para seguir David para Orange, demasiado fora de mão. A Oberhausen, foi o "Miguel" (esse mesmo) e a Londres, só se fosse doido, tendo em conta os preços dos bilhetes para o Royal Albert Hall. Era preferível ir aos EUA, ao outro lado do Mundo, na légua de 2016 da digressão, do que ir a Londres. Por isso, olhem, vou mesmo (por esta é que não estavas à espera, não é Mãe?).

Em 2016, lá estarei em Los Angeles, no histórico Hollywood Bowl, casa de noites lendárias de Beatles, Elton John e tantos outros, para mais duas doses de David (com possibilidade de uma terceira, no Forum de Inglewood). Siga para bingo.



terça-feira, 6 de outubro de 2015

Paul McCartney & Michael Jackson - "Say Say Say" (2015 Remix)

Dizem que a Segunda-Feira é o pior dia da semana, mas não para mim. Para mim, é a Terça-Feira que devia ser despejada numa sala às escuras com o Pedro Guerra e o Bruno Carvalho. Terça-Feira é o dia em que a ressaca do último fim-de-semana já desvaneceu e ainda estou demasiado longe de Sexta-Feira para pensar em abrir o Jameson. Terça-Feira é o dia em que passo a hora de almoço na aula de francês (desculpa lá, Gorete) - fala-se muito nas vítimas do holocausto, mas só fala nisso quem nunca teve aulas de francês quando devia estar a comer um bom bitoque.
A Terça-Feira é uma merda, ponto.
Serve este raciocínio para inferir que o que a minha Terça-Feira precisava era disto:

"Say, say, say what you want, but don't play games with my affection"

Paul McCartney and Michael Jackson 'Say Say Say [2015 Remix]'

Paul McCartney and Michael Jackson - '#SaySaySay [2015 Remix]'Song taken from 'Pipes of Peace 2015 Remaster' - in stores nowVideo directed by Ryan Heffington#PaulMcCartney #MichaelJackson #PipesOfPeace

Posted by Paul McCartney on Terça-feira, 6 de Outubro de 2015


aqui dissera que no fim da década de 70 e início da década de 80, Michael Jackson e Freddie Mercury eram bons amigos. Mas o verdadeiro mate de Michael nesta altura era mesmo Paul McCartney. Talvez o Cute Beatle se revisse na dureza da fama precoce de Michael e o quisesse ajudar, ajudando-se também a si mesmo, ao navegar na onda da maior superestrela mundial da época.
Paul já tinha sofrido com a Beatlemania e era de facto, a pessoa indicada para aconselhar Michael. E aconselhou-o bem: Paul persuadiu Michael a investir bem o seu dinheiro, aplicando-o em direitos de autor. Michael foi bem mandando e em 1985 investiu muitos milhões em direitos de autor de músicas... dos The Beatles (aproximadamente 47.5 milhões de dólares por 160 a 260 temas, incluindo "Yesterday" e "Let It Be"). E assim a amizade terminou abruptamente.
Paul só recuperaria os direitos das suas próprias canções em 2013, já depois da morte de Michael.

Mas voltemos aos tempos em que Mack and Jack eram best mates.
Uma amizade entre duas estrelas nos anos 80 significava a palavra mágica dueto (onde é que andam os duetos hoje em dia? Eram uma coisa tão boa nos 80s. Mas onde é que andam as estrelas, anyway?). Macca e Michael juntaram-se várias vezes em estúdio entre 1981 e 1982 e dessa colaboração nasceram dois temas: "Say Say Say" (1981) e "The Girl Is Mine" (1982). O primeiro tema a ver a luz do dia até seria o segundo a ser gravado - "The Girl Is Mine" - como o primeiro single do álbum megaseller "Thriller". "Say Say Say" só seria lançado em 1983, como single de avanço do álbum "Pipes Of Peace", de Paul McCartney.


"Pipes Of Peace" foi esta semana lançado em formato de luxo, conjuntamente com "Tug Of War" - o álbum que juntou Paul e Chris Martin (o produtor dos Beatles) novamente. E que grande álbum.
É nessa campanha que agora surge a nova remistura de "Say Say Say", com honras de novo vídeo. E que grande remistura foi feita aqui. O conceito foi simples, mas eficaz: pegaram nas faixas vocais originais de Michael e de Paul e trocaram as linhas que cada um cantava, relativamente à versão original. Podemos assim praticamente afirmar que as versões de 2015 e 1983 são complementares.
Eis o original: