quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Sting - "Brand New Day"

"Somanu stana stano stino remono remulibo lafulê
Stabinaf a BRAND NEW DAY!!"



Gosto do Sting. No final dos anos 70 / início dos anos 80 liderou os The Police - uma banda Rock de enorme sucesso, com Stewart Copeland e Andy Summers, que fazia um cruzamento curioso entre o Post Punk e o Reggae. De 1978 a 1983, os The Police lançaram 5 álbuns, alguns deles muito bons e depois de atingirem o seu ponto alto com "Synchronicity", Sting desfez a banda.

Entretanto, Sting atingira o estrelato do panorama musical, o que o levou, entre outras coisas, a assumir participações de destaque na Band Aid e no Live Aid, ou a ser convidado para gravar com os artistas de maior sucesso da época. Casos de "Money For Nothing" com os Dire Straits (aqui na versão estúdio e aqui ao vivo no Live Aid), tema do álbum "Brothers In Arms", e de "Long, Long Way To Go" com Phil Collins (aqui no Live Aid), que apareceu no seu álbum blockbuster "No Jacket Required" (aqui no álbum).

Como disse, gosto do Sting. O homem tem talento, sabe escrever uma canção e aprendeu a adornar as paisagens sonoras dos seus temas como ninguém. No entanto, para mim a sua carreira a solo é uma caixa de melões, que só depois de abertos é que se sabe se estão bons para consumo.

Mas o meu maior problema com o "Sting moderno" é este ter perdido a sua espontaneidade na música, em detrimento de uma excessiva preocupação com o detalhe da produção e a ornamentação sonora; e ter perdido a sua espontaneidade na lírica, em detrimento de uma eloquência erudita, que faz com que demasiadas vezes o ouvinte não perceba que raio ele está ali a cantar. Se a isto juntarmos um inusitado uso da métrica, de modo a conseguir atafulhar o maior número de sílabas num verso, então Sting torna os seus temas praticamente imperceptíveis.

Claro que não fui o primeiro a reparar na "viragem criativa" de Sting, pelo que esta sua característica peculiar foi aproveitada magistralmente por Seth MacFarlane em Family Guy:
"I promise you'll understand all the words. Not like Sting, where you can only understand the last 3!"




Não é que eu (e presumo, a malta do Family Guy) não goste de "Brand New Day", ou de Sting. Mas é impossível deixar de reparar na montanha de coisas que Sting quer expressar num simples verso. Ele é realmente alguém com muito para dizer.
Isto complica a vida, e de que maneira, à malta que gosta de cantar ao som das músicas de Sting (talvez ele não goste de sing-alongs). O melhor que podem fazer é balbuciar uns fonemas quaisquer até chegar a parte reconhecível do título da música.
Agora que penso nisto, lembro-me que tal dificuldade já foi sentida, em tempos, por um outro britânico:




ALELUIA!

Porque hoje, especialmente hoje, começa um novo dia para mim.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Noel Gallagher's High Flying Birds - "AKA... What A Life!"

"What a life!"



"It’s about things you love that are bad for you – drinking, women, smoking, you know... hero worship, that kind of thing. But thinking... aren’t they great?"
Noel Gallagher, sobre "AKA... What A Life!" 


Foi o "meu" grande álbum original (isto é, lançado no mesmo ano) de 2011. Lançado a 17 de Outubro do ano passado, bastou-me uma audição para ficar completamente rendido a "Noel Gallagher's High Flying Birds". A semana que se seguiu a esta 1ª audição foi para mim de trabalho intensivo, todos os dias "até às tantas" na empresa. O primeiro álbum a solo de Noel Gallagher foi a minha companhia. Resultado? Devorei positivamente "High Flying Birds".
Para terem uma ideia, segundo os registos do Windows Media Player do meu PC na empresa, nessa semana o álbum tocou mais de 40 vezes, enquanto trabalhava. E nisto já nem estou a contar com o CD em casa, nem com a cópia no carro, ambas em rotação constante.

Na semana seguinte, fui de férias para Londres e adivinhem o que levei no meu Creative? (sim, como já expliquei aqui, a Creative tem leitores de media portáteis muito melhores que a Apple e o seu iPod) "Noel Gallagher's High Flying Birds", "All Things Must Pass" de George Harrison e "Wasting Light" dos Foo Fighters.
Por motivos parcialmente alheios à música, essas férias em Londres resultaram numa das semanas mais felizes e entusiasmantes de toda a minha vida. Digo "parcialmente", porque a semana teve o  bónus de, sem estar à espera, ter a oportunidade de assistir ao concerto de estreia dos Noel Gallagher's High Flying Birds (o nome do álbum é igual ao nome da banda) na capital mundial do Rock. Ainda para mais, o concerto era no lendário Hammersmith Odeon (palco onde actuaram grandes nomes como os Queen, ou os Genesis e onde David Bowie "matou" Ziggy Stardust), hoje rebaptizado de HMV Hammersmith Apollo, por motivos publicitários.

Foi uma noite lendária, daquelas que ficam para sempre gravadas na nossa memória, como se uma longa metragem se tratasse. Daquelas noites para as quais somos transportados holograficamente, com o simples rebentar de uma determinada música nos altifalantes.

Mas como fazer parte de tudo isso?
Como seria de esperar, o concerto estava esgotadíssimo (toda a digressão britânica de estreia de Noel Gallagher esgotou em 4 minutos) e tive que recorrer a um scalper (em bom português, à candonga) para arranjar o bilhete. As pequenas lojas de discos mostravam nos seus placards anúncios com pessoas a vender os bilhetes a preços a rondar os 100£ / 150£, tudo para garantir um lugar no pequeno e exclusivo Hammersmith Odeon.

Sem outras alternativas, lá marquei um encontro com um destes "amigos", que me vendia o bilhete pela módica quantia de 80£. Apareceu um bife bem apresentado, com um blazer que lhe dava um ar de intelectual rockeiro (o que quer que esta amálgama signifique) e fiz o negócio. Não sabia se era um achado ou se estava a ser enganado, mas isso não interessava. Afinal, o Noel Gallagher estava à espera. Com a adrenalina a subir e uma pontinha de medo, lá fui desde o Hyde Park em direcção ao bairro de Hammersmith. A linha de metro estava cortada, o que me obrigou a dar uma volta enorme para lá chegar, com a hora do concerto a aproximar-se perigosamente.
Em cima da hora, com a adrenalina nos limites, cheguei ao Hammersmith Odeon.
Entrei.
O bilhete era genuíno.



WOW! Estava lá dentro. Finalmente, cumpria um sonho antigo, alimentado por todos aqueles documentários que seguiam as bandas em digressão. Estava "ali", "naquele momento", quando tudo estava a acontecer, debaixo da euforia londrina que recebia pela primeira o Noel Gallagher a solo. Fantástico!

Me @ Hammersmith Odeon

O concerto varreu o novo álbum por inteiro (estranhamente, com excepção de "Stop The Clocks", um dos seus temas fortes), mais alguns lados B, sacando aqui e ali nos inevitáveis clássicos dos Oasis.

- "(It's Good) To Be Free" (Lado B de "Whatever" - 1994)
- "Mucky Fingers" (Oasis - Álbum: "Don't Believe The Truth" - 2005)
- "Everybody's On The Run" (Álbum: "Noel Gallagher's High Flying Birds" - 2011)
- "Dream On" (Álbum: "Noel Gallagher's High Flying Birds" - 2011)
- "If I Had A Gun" (Álbum: "Noel Gallagher's High Flying Birds" - 2011)
- "The Good Rebel" (Lado B de "The Death Of You And Me" - 2011)
- "The Death Of You And Me" (Álbum: "Noel Gallagher's High Flying Birds" - 2011)
- "Freaky Teeth" (outtake de "Noel Gallagher's High Flying Birds"- 2011)
- "Wonderwall" [acústico] (Oasis - Álbum: "(What's the Story) Morning Glory?" - 1995)
- "Supersonic" [acústico] (Oasis - Álbum: "Definitely Maybe" - 1994)
- "(I Wanna Live In A Dream In My) Record Machine" (Álbum: "Noel Gallagher's High Flying Birds" - 2011)
- "AKA...What A Life!" (Álbum: "Noel Gallagher's High Flying Birds" - 2011)
- "Talk Tonight" [banda completa] (Lado B de "Some Might Say" - 1995)
- "Solider Boys And Jesus Freaks" (Álbum: "Noel Gallagher's High Flying Birds" - 2011)
- "AKA...Broken Arrow" (Álbum: "Noel Gallagher's High Flying Birds" - 2011)
- "Half The World Away" (Lado B de "Whatever" - 1994)
- "(Stranded On) The Wrong Beach" (Álbum: "Noel Gallagher's High Flying Birds" - 2011)

Encore:
- "Don't Look Back In Anger" (Oasis - Álbum: "(What's the Story) Morning Glory?" - 1995)
- "The Importance Of Being Idle" (Oasis - Álbum: "Don't Believe The Truth" - 2005)
- "Little By Little" (Oasis - Álbum: "Heathen Chemistry" - 2002)




Para mim, ávido fã de (quase) tudo o que os Oasis e Noel fizeram (incluindo, obviamente, este álbum), foi uma setlist perfeita. O culminar de um dia perfeito.
Londres ainda me reservaria mais umas surpresas, mas não tinha nenhum lugar mais alto para me levar. Naquele momento, já estava no céu.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Ringo Starr - "Photograph"

"Now you're expecting me to live without you, but that's not something that I'm looking forward to..."




Hoje continuamos a olhar para o trajecto de Ringo Starr nos Beatles e na impotância da banda na sua carreira a solo.
No último dia, ficámos em 1965, no álbum "Rubber Soul", onde John Lennon e Paul McCartney ajudaram Ringo no seu primeiro crédito de autoria, com o sensaborão "What Goes On" (único tema creditado a Lennon-McCartney-Starkey).
Lennon e McCartney continuariam a ajudar Ringo ao longo dos anos, mas em 1966, logo a seguir a "Rubber Soul", dar-lhe-iam um presente envenenado. Ou não, depende da perspectiva.

Na gravação de "Revolver", Paul McCartney achou por bem escrever um tema para Ringo, um tema que se adequasse à sua imagem e à sua voz. O resultado de tal ideia pioneira seria... "Yellow Submarine".
Segundo as palavras de John Lennon, "Yellow Submarine" foi: "Paul's inspiration. Paul's idea. Paul's title... written for Ringo".
"Yellow Submarine" é um tema que parece saído dos megafones de uma banda marcial (para quem não sabe, é o que em inglês se denomina marching band), que desce a rua a anunciar que "vivemos todos num submarino amarelo"... Exacto. Foi esta a brilhante conclusão de Paul, depois de mais uma daquelas sessões de inspiração transcendental (cough... trips) que ele gostava de experimentar na época: a de que vivemos todos num submarino amarelo!

Bem... Eu sou o primeiro a dar graças pelas trips dos Beatles! Afinal, elas deram-nos coisas fantásticas como os álbuns "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" e "Magical Mystery Tour". Louvado seja o cogumelo que deu "I Am The Walrus" a Lennon, ou "Fixing a Hole" a McCartney!
Mas isto?! WTF?!

Não contentes com a façanha, os Beatles resolveram lançar "Yellow Submarine" em single... E não é que acertaram?! O tema esteve no 1º lugar das tabelas britânicas durante 4 semanas (1 mês!!!) e venceu um Ivor Novello Award como o single mais vendido de 1966 no Reino Unido. Incrível.
Para elevar a demência a níveis estratosféricos, ainda foi feito um filme de animação baseado no conceito de "Yellow Submarine": uma viagem dos Beatles... num submarino amarelo. (Jesus...) Incrível, mesmo...

A redenção de Lennon e McCartney para com Ringo (na minha opinião, claro; porque para o resto do Mundo, parece que "Yellow Submarine" é coisa que se apresente...) surgiria logo a seguir no álbum "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band". Apresentando-se como Billy Shears - líder da Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band - Ringo canta "With A Little Help From My Friends", na minha opinião, um dos melhores temas do álbum. Aqui sim, um tema digno de Ringo.

O primeiro tema da autoria exclusiva de Ringo Starr seria "Don't Pass Me By" e apareceria apenas em 1968, no álbum homónimo da banda "The Beatles" (vulgarmente conhecido como o "White Album"). Convenhamos que foi um início muito pouco auspicioso para o baterista dos Beatles como compositor.

Por esta altura, Ringo ameaçou abandonar a banda, por achar que estava a um nível muito inferior de todos os outros. Com a auto-estima em baixo, farto das incessantes discussões em estúdio (lembro que foi aqui que uma nova personagem entrou no quotidiano da banda - a sinistra Yoko Ono) e de um processo de gravação cheio de precalços e indefinições, Ringo deixou Londres e foi de férias para o sul de França.
Duas semanas depois, a pedido dos restantes Beatles, Ringo regressaria ao estúdio para terminar as gravações do álbum. Fruto dos rasgos criativos individuais de cada um dos Beatles, sem qualquer matriz orientadora, o "White Album" acabaria por resultar numa compilação de álbuns a solo dos vários elementos da banda (obviamente com o domínio de John Lennon e Paul McCartney).

Depois da primeira amostra de criatividade com "Don't Pass Me By", o ano seguinte traria um enorme salto qualitativo para as composições de Ringo, quando contribuiu com "Octopus's Garden" para "Abbey Road", o último álbum gravado pelos Beatles. Agora sim, finalmente: um tema divertido e jovial, mesmo à imagem de Ringo Starr, para terminar o seu trajecto na banda.
Continuando na saga do surrealismo que tantos frutos tinha dado no passado, desta vez Ringo exclama que quer viver num jardim habitado por polvos no fundo do mar. Muito bem. Entre o jardim dos polvos e o cântico da banda marcial em como vivemos num submarino amarelo... fico com o jardim!

Com este panorama, previa-se que a carreira a solo de Ringo seria a menos interessante de todos os Beatles. E é assim sem surpresa que, a meu ver, percebemos que essa previsão se confirmou.
Só não digo que a carreira a solo de Ringo Starr foi, de todo, "desinteressante", porque em 1971 George "apareceu" com "It Don't Come Easy" e em 1973, Ringo chamou os restantes amigos da sua antiga banda (afinal, Ringo até era o "gajo porreiro" dos Beatles) para o álbum "Ringo".

O álbum "Ringo" foi a estrela que iluminou todo o seu reportório a solo.
"Ringo" é a cara de Ringo: é divertido, descontraído e despreocupado. A adicionar a esta equação, tem um punhado de boas canções, compostas com o auxílio dos seus amigos. Não é nada de extraordinário, nada que se possa pôr lado a lado com discos como "Band On the Run" (dos Wings de McCartney), ou a "All Things Must Pass" (de Harrison); mas cumpre. Cumpre a missão de deixar um trabalho de referência na carreira a solo de Ringo e mostra aquilo que ele pode e sabe fazer, especialmente quando é bem auxiliado.
O caso mais bem sucedido é este "Photograph", escrito (mais uma vez) com o auxílio de George Harrison (que andava on fire nesta altura), tema lançado em single em Maio de 1973 e que liderou as tabelas nos EUA; um feito que seria repetido no fim desse ano por "You're Sixteen".

No concerto de tributo a George Harrison no Royal Albert Hall, depois da sua morte em 2002, Ringo apareceu para tocar o tema escrito conjuntamente com o seu amigo, numa homenagem que, tendo em conta o conteúdo da letra de "Photograph", fez todo o sentido:

"Every time I see your face, it reminds me of the places we used to go.
But all I've got is a photograph and I realize you're not coming back anymore..."




"I thought I'd make it, the day you went away. But I can't make it, 'til you come home again to stay..."

George e Ringo partilhavam uma enorme amizade. No documentário "Living In The Material World" de Martin Scorsese (que já recomendei, sem reservas, aqui), Ringo conta a comovente história da última vez que viu George, já este estava gravemente doente... e não conseguiu evitar as lágrimas: