segunda-feira, 26 de setembro de 2011

George Michael - "Idol" (Live)

"He was an idol then, now he's an idol here.
But his face has changed, he's not the same no more and I have to say that I like the way his music sounded before..."



Lindo. Simplesmente lindo.
É a melhor, mais simples e mais exacta definição do que foi presenciar ao vivo o concerto em Madrid, da digressão "Symphonica" de George Michael.

Escrevo este texto já em Lisboa, com pouco mais de uma hora de sono, nesta altura apenas movido pela adrenalina que o concerto me injectou. Poucas horas de sono, mas com o coração cheio.
Porém, isto não significa, de maneira nenhuma, que o concerto foi uma experiência particularmente mexida.
Paradoxal? Passo a explicar: nesta digressão, George Michael resolveu brindar-nos com um alinhamento composto pelos temas mais calmos do seu reportório, muitos deles desconhecidos do público em geral, bem como uma série de covers.

Para o conhecedor generalista de George Michael, aquele que conhece apenas os singles da rádio e que esperava ouvir uma selecção dos seus êxitos (como foi com a sua digressão "25 Live"), esta poderá ter sido uma noite decepcionante. Para mim, que conheço o repertório de George de trás para a frente, foi o corolário de quase 14 anos a ouvir a sua música, desde que no Inverno de 1997 chegou às minha mãos a compilação "If You Were There (The Best of Wham!)".

Conforme já tinha sido veiculado pela crítica, confirmei que a voz de George Michael ainda está praticamente intacta. Não raras vezes, ele foge das notas mais difíceis que ouvimos em disco, mas é preciso lembrar que George está numa digressão longa, onde a sua voz é o instrumento frontal de uma orquestra sinfónica, por isso não é de admirar que se proteja.

Já disse que foi lindo?
Foi lindo. A música de George Michael assentou que nem uma luva nos arranjos orquestrais.
Ao longo da noite, a música pôs o meu coração repetidamente em vias de derreter. Foram tantos os momentos de êxtase: "Cowboys And Angels", "You Have Been Loved", "Understand", "You've Changed"... Poderia continuar.
Mas o momento alto da noite, o momento da estocada final, aconteceu quando George Michael sacou de "Idol", um fabuloso cover de Elton John, que George já tinha cantado algumas vezes na digressão "25 Live" (quando veio a Coimbra cantou "Ticking", também de Elton).

"Idol" é um tema retirado do duplo álbum "Blue Moves" de Elton John, em 1976. "Blue Moves" foi a última colaboração de Elton John com o seu letrista Bernie Taupin nos anos 70 e é visto como um dos álbuns mais heterogéneos de Elton, no que à qualidade diz respeito. De facto, para um álbum que estabelece uma alta bitola com temas como "Sorry Seems To Be The Hardest Word", "Tonight" e "Idol", esperava-se um pouco mais do restante material, especialmente tratando-se de um álbum duplo.
Fica a promessa de mais tarde voltar a "Blue Moves".


Voltando a "Idol", este é um tema que se encaixa na perfeição no conceito de "Symphonica" e na voz de George Michael. Minimalista e jazzy, com aquele toque urbano conferido pelo saxofone de David Sanborn, "Idol" é um tema que facilmente poderia ter entrado num álbum de GM, especialmente nos anos 90.



"He was a light star, tripping on a high wire
Bulldog stubborn, born uneven"

"Idol" fala sobre a queda de uma estrela frágil. Um homem como outro qualquer, que ascendeu ao patamar mais alto que sonhara, mas que não aguentou a vertigem dessas alturas. Um homem que triunfou no seu meio e que assim concretizou o sonho de passar para outro meio, o meio onde está a "lion's share".
"Era um ídolo então, agora é um um ídolo aqui".
O problema é que o ídolo não prosperou no outro meio. A sua música soava melhor antigamente.
Agora que o brilho da estrela já não é tão cintilante, o ídolo é um peixe fora de água em qualquer um dos meios. Já não pertence ao lugar de onde veio, mas não é bem-vindo ao lugar onde queria estar.

"But don't pretend that it won't end, in the depth of your despair"

A performance de "Idol" (que vemos em cima no concerto de inauguração do novo Estádio do Wembley, na digressão "25 Live") foi o momento em que George Michael me atingiu com maior intensidade.
Foi lindo. Já o tinha dito?

EDIT: Alguém gravou o momento de que falava! Eis a sequência "Your Have Been Loved" / "Idol" ao vivo em Madrid: