"And if the people stare, then the people stare...
Oh I really don't know, I really don't care!"
Há uns anos atrás, tive uma namorada que dizia não compreender a minha atracção "por tudo o que fosse Brit". Confesso que eu também nunca lhe consegui explicar, sabia apenas que ela tinha razão.
De facto, o meu gosto musical tinha sido, ao longo dos anos, adubado por tudo o que fosse oriundo do UK e o resultado foi isto. Basta olharem para a barra lateral do blog para terem uma ideia.
Esta tendência começou cedo, devido à influência do meu Pai. As suas bandas preferidas sempre foram os Queen e os Pink Floyd, curiosamente, ou não, também as minhas bandas preferidas de sempre. Foi (principalmente) a música deles que compôs a banda sonora da minha infância. Tratou-se de uma transmissão por osmose, portanto.
Como se tal não bastasse, na última metade dos anos 90, vivia eu a pivotal entrada na adolescência - fase fundamental na modelação do "gosto musical independente" (chamemos-lhe assim) - fui alimentado por toda a onda Britpop / Britrock, que na época dominava as playlists das rádios. Stereophonics, The Verve, Travis, Pulp, Blur, Oasis, Suede, Radiohead... Devorava praticamente tudo.
Os anos passaram e a tendência manteve-se: a fome pela descoberta de mais e mais música britânica. Desde a fornada psicadélica dos anos 60 (The Beatles, The Rolling Stones, The Who...), passando pelo Heavy-Glam-Prog Rock dos anos 70 (Led Zeppelin, Deep Purple, Genesis, Bowie...), o Post-Punk e o New Wave dos anos 80 (Joy Division/New Order, Simple Minds, Tears For Fears, Pet Shop Boys...) e claro, a Britpop dos anos 90. Com o tempo, bati todos os géneros Pop/Rock da Grande Ilha, de uma ponta à outra.
Enfim, como dizia a minha ex-namorada: "tudo o que fosse Brit".
Viram a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres? Repararam no infindável desfile luxuoso de música britânica que eles tinham para apresentar? Dá para ter uma ideia do que estou a falar.
Mas então porque é que fui buscar aquela história da namorada antiga e da sua dúvida acerca da minha atracção compulsiva pela música britânica? Porque acho que a resposta para essa dúvida reside algures aqui, na música dos The Smiths.
Na altura, ainda não conhecia os The Smiths, estes só chegaram mais tarde (no ano passado para ser mais preciso). Mas estou convencido que se eu lhe desse a conhecer os The Smiths, uma dúzia de temas que fosse, ela, de alguma forma, me perceberia finalmente.
Porquê? Não sei, continuo sem conseguir explicar exactamente esta atracção pela música Brit. Mas estou convicto que a resposta está algures nas melodias saídas da guitarra de Johny Marr, ou nas letras traumatizadas de Morrissey.
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Tive imensa dificuldade em optar por um tema dos The Smiths para ilustrar este texto. Decidi-me por "Hand In Glove", o primeiro single da carreira dos The Smiths, lançado em Maio de 1983. Foi um dos primeiros temas dos The Smiths que eu conheci e que despertou o meu interesse na banda.
A primeira aparição da versão single de "Hand In Glove" num álbum dos The Smiths foi em "Hatful Of Hollow" (Novembro de 1984), compilação que reuniu temas gravados ao vivo para a BBC (as BBC Sessions) e 3 singles que não apareceram no 1º álbum da banda ("The Smiths"): "Hand In Glove" , "Heaven Knows I'm Miserable Now", e "William, It Was Really Nothing", com os respectivos Lados B "Girl Afraid", "How Soon Is Now?" e "Please, Please, Please Let Me Get What I Want".
"Hand In Glove" fora incluído no álbum "The Smiths", mas numa versão diferente, na minha opinião mais plástica, mais estéril, à imagem do que havia sido feito com "What Difference Does It Make?".
O tema não conseguiu entrar nas tabelas de singles britânicas, mas atingiu o nº 3 na tabela Indie, vendendo consistentemente durante o ano e meio seguinte, época de ascensão da banda. Este sucesso em "banho-maria" valeu aos The Smiths um registo no livro do Guinness em Janeiro de 1984, quando "Hand In Glove", "This Charming Man" e "What Difference Does It Make?" ocuparam os 3 primeiros lugares da tabela Indie britânica.