sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

U2 - "Ultraviolet (Light My Way)"

"When I was all messed up and had opera in my head, your love was a light bulb hanging over my bed"



E pronto. Hoje chegamos ao fim da linha de 2010. Terminado que está 2010, fica aqui hoje o tema que mais me marcou este ano. O tema é "Ultraviolet (Light My Way)" dos U2, retirado do álbum "Achtung Baby" de 1991.


Sometimes I feel like I don't know
Sometimes I feel like checkin' out
I want to get it wrong
Can't always be strong
And love it won't be long...

"Ultraviolet (Light My Way)" é um tema sobre amor e a dependência que o amor pode causar. Relata o desespero de um homem cuja vida está na escuridão, à espera de encontrar uma luz que o guie.
É a história de um homem que cometeu erros no passado, erros que o levaram à situação actual. E que está disposto a tudo para encontrar esta luz.

"I guess that's the price of love, I know it's not cheap"

Este é o tema que faz a transição entre as sonoridade dos U2 dos anos 80 e dos anos 90, combinando elementos de ambas as partes. A estrutura básica da música, com o inconfundível riff de The Edge, é semelhante ao que os U2 faziam nos 80's. Já os arranjos e a produção do tema é característica da inovação vincada no álbum "Acthung Baby".

Os U2 revolucionaram a sua música em 1991. E essa revolução não foi nada pacífica. Influenciados pela música de dança que proliferava no início dos anos 90 e pela cena Industrial, Bono e The Edge queriam inovar a música dos U2, experimentando novas sonoridades. Por outro lado, Mullen e Clayton estavam satisfeitos e confortáveis com o tipo de música que a banda fazia nos 80. Assim, os conflitos no seio da banda não se fizeram esperar e os U2 estiveram mesmo à beira da separação, devido a diferenças criativas.

Alegadamente, o consenso chegou quando The Edge estava a tentar escrever a bridge para "Ultraviolet (Light My Way)" e começou a tocar aquele que viria a ser o riff de "One". Ao ouvir esta descoberta de The Edge, todos concordaram que essa seria a nova sonoridade dos U2.

Uma das grandes novidades que os U2 trouxeram em 1991 foi a digressão de promoção a Acthung Baby: a espectacular "ZooTV Tour".
"Ultraviolet (Light My Way)" tinha um papel chave nos concertos da légua americana desta digressão: o tema figurava no encore da setlist e antes da entrada da banda, Bono telefonava para a Casa Branca e pedia para falar com o então Presidente dos EUA George Bush.
Ao ser confrontado com a indisponibilidade do Presidente, Bono responde:

"The President of the United States is not available TO ME?!
Oh... Well, I guess I mustn't be so important as I thought I was..."




"Ultraviolet (Light My Way)" esteve sempre lá. Mas encadeado pelo brilho dos singles dos U2, nunca tinha prestado particular atenção a este tema, até ver a sua performance no Blu-Ray "U2 360° at the Rose Bowl".




É impossível ficar indiferente à performance de "Ultraviolet (Light My Way)" na "360º Tour". Aqui, este tema volta a ter um papel fundamental na setlist, mais uma vez no encore. Depois de uma longa sequência em vídeo, Bono entra em palco usando um casaco de lasers (também quero um destes!) e canta para um volante iluminado que desce do cimo da estrutura. Espectacular.

Eu próprio pude testemunhar tudo isto, quando vi os U2 em Coimbra no dia 3 de Outubro deste ano, naquele que para mim foi o concerto do ano.


Rapidamente "Ultraviolet (Light My Way)" se juntou ao lote dos meus temas preferidos dos U2, juntamente com outras malhas como "Where The Streets Have No Name", "The Fly" , ou "Pride (In The Name Of Love)". Mais do que isso, o tema teve alta rotação durante um longo período de tempo. O suficiente para fazer "Ultraviolet (Light My Way)" o tema mais importante de 2010.

"Baby, baby, baby, light my way"

FELIZ 2011!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Duran Duran - "Save A Prayer"

"Some people call it a one night stand but we can call it paradise"



Aproximamo-nos do fim do ano e por isso já só restam 2 temas nesta retrospectiva de 2010. Nesta fase, começa a ser difícil não só a escolha dos temas, mas também a sua ordenação. Não que esta seja vinculativa, mas procurei ordenar vagamente os temas, de modo a terminar o ano com aquele que teve mais importância ao longo de 2010.

Assim, para a penúltima escolha do ano, fica aqui o tema de uma banda que decobri mais profundamente este ano. Não que eu não conhecesse o essencial do trabalho dos Duran Duran, mas faltava-me dissecar os álbuns e a sua história para ter uma noção mais concreta da importância e da qualidade do seu trabalho. Ambas são imensas. Mas já lá vamos.

O tema que fica aqui hoje é "Save A Prayer", uma irresistível e sedutora balada retirada de "Rio" - o álbum de referência dos Duran Duran. Um tema que marcou os meus fins de tarde no Verão.
O single de "Save A Prayer" foi lançado em Agosto de 1982, como o 3º single de promoção de "Rio" e rapidamente despoletou um estrondoso sucesso à escala global. Chegou a nº 2 no Reino Unido, não atingindo o lugar cimeiro devido a "Eye Of The Tiger" dos Survivor.


Nesta altura, os Duran Duran eram a banda da moda. Faziam capas de revista, as suas músicas tocavam na rádio em alta rotação e os seus vídeos cosmopolitas serviam como pão para a boca da então embrionária MTV.
Dizia-se nos anos 80 que "Se a MTV gostasse de ti, o Mundo gostava de ti". E a MTV adorava os Duran Duran.

O motor de toda esta atenção dos media? Os Duran Duran aliavam a boa música, integrada nos então emergentes movimentos New Romantic e New Wave, à apresentação de uma imagem atraente. Eles sabiam disso e tinham intenção de explorar a sua imagem para impulsionar a promoção da música.
Para se ter uma dimensão da importância da banda nesta época, os Duran Duran eram então apelidados de "Fab Five", em alusão aos The Beatles. A banda tinha assim todos os dados para para conquistar o Mundo, pelo menos na sua faixa etária mais jovem.

Deste modo, para a gravação do vídeo de "Save A Prayer", os Duran Duran contrataram o consagrado realizador Russel Mulcahy e viajaram para o Sri Lanka, onde aproveitaram os cenários exóticos para criar vídeos pioneiros, completamente diferentes de tudo o que se fazia naquela altura. Os media adoraram e o público também.

"You don't have to dream it all, just live a day"

"Save A Prayer" é uma balada romântica e melancólica, que carrega na sua música e na sua lírica um simbolismo... um significado próprio. O tema basicamente relata a história de um amor efémero, mas segundo Simon Le Bon é muito mais que isso. É um tema sobre a liberdade individual, sobre o conceito filosófico que o que importa é o momento presente. Para Simon, a linha mais importante deste tema é aquela que está no início do post:

"Some people call it a one night stand but we can call it paradise"

A explicação, pela palavras do próprio Simon: "Não vamos pensar no que significa, não vamos pensar no que vai ser amanhã... Vamos pensar no que vai ser este momento. É a única coisa que importa."

A verdade é que há muito mais em "Save A Prayer" do que uma mensagem. A estrutura deste tema é de uma complexidade extraordinária, mas é soberanamente organizada por um trabalho de produção magistral de Colin Thurston. Segundo o baixista John Taylor, o tema é composto por 4 faixas diferentes de sintetizador, 4 faixas de guitarra, 2 faixas de baixo, para além da bateria e das faixas vocais. Estonteante.

É fascinante a quantidade de coisas que acontecem simultaneamente em "Save A Prayer".
Mais do que isso, para alguém com algum treino de ouvido, é uma delícia identificar as diferentes partes que vão surgindo nos vários espaços da cortina sonora deste tema. Não estou a falar um muro de som, no sentido da wall of sound de Phil Spector ou do brickwalling de Owen Morris. Falo de uma cortina fina e delicada, produzida com a minúcia de um bordado.

A base da música é um loop de sintetizador que entra no início do tema e se estende até ao fim, quando sai em fade-out. Ao fim de dois loops, entra mais uma faixa de sintetizador com a melodia base do tema, uma faixa de guitarra acústica com os acordes básicos e a restante secção rítmica (bateria e baixo). Na verdade, a estrutura do tema é tão complexa que confesso que nem sequer consigo identificar algumas das faixas que referi em cima.

Para mim, o momento chave de "Save A Prayer" surge durante o 2º refrão (ao segundo 2:25 no vídeo), numa altura em que Simon Le Bon canta:

"Don't say a prayer for me now, save it 'til the morning after"

...e rebenta a agressiva guitarra eléctrica de Andy Taylor com um riff arrepiante... arrebatador. É um momento único, exclusivo, irrepetível.
É um daqueles momentos raros na música que mexem profundamente connosco.

Importa frisar que a agressividade da guitarra eléctrica de Andy Taylor era, nesta altura, um dos factores mais importantes que separava os Duran Duran de todas as outras bandas Pop. Andy tinha raízes Punk e dava um edge único à música dos Duran Duran. Infelizmente, com a sua saída durante a gravação de Notorious - o 4º álbum dos Duran Duran - a banda perdeu esta faculdade e nunca mais foi a mesma.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Bruce Springsteen - "To Be True"

"Don't make us some little girl's dream that can't ever come true, that only serves to hurt and make you cry like you do"



Na ressaca da dolorosa experiência da concepção e promoção do álbum "Darkness On Edge Of Town", Bruce Springsteen regressou ao estúdio em Março de 1979 para gravar o seu 5º álbum.

Desta vez, o processo de gravação parecia correr de forma menos conturbada e a CBS (editora de Bruce) já fazia planos para o lançamento natalício do novo álbum de originais de Bruce Sprinsgteen.
Até ao final de Agosto, Bruce Springsteen já tinha escrito e/ou gravado os seguintes temas:

"Roulette"
"White Lies"
"Hungry Heart"
"The Ties That Bind"

"Find It Where You Can"
"Break My Heart"
"Out On The Run (Looking For Love)"
"In The City"
"The Man Who Got Away"
"Chain Lightning"
"Night Fire"
"Under The Gun"
"Mary Lou"
"I Wanna Be With You"
"Bring On The Night"
"Ramrod"
"The Price You Pay"

"Ricky Wants A Man Of Her Own"
"Loose Ends"
"Cindy"
"I Want To Marry You"
"To Be True"
"Stolen Car"
"The River"
"You Can Look (But You Better Not Touch)"

"Dollhouse"
"Point Blank"

Nem mais nem menos 27 temas.
27 temas em diversas versões diferentes, que formam um lote considerável de material de qualidade, em quantidade mais que suficiente para compôr um álbum.
O título para o álbum foi escolhido e foram seleccionadas e masterizadas 10 faixas, que formariam "The Ties That Bind", o álbum perdido de Bruce Springsteen:

LADO A
"1. The Ties That Bind" (3:37)
2. "Cindy" (2:28)
3. "Hungry Heart" (3:28)
4. "Stolen Car" (4:33)
5. "To Be True" (3:54)
LADO B
6. "The River" (4:54)
7. "You Can Look (But You Better Not Touch)" (2:12)
8. "The Price You Pay" (5:51)
9. "I Wanna Marry You" (3:31)
10. "Loose Ends" (4:08)

"The Ties That Bind" seria um álbum conceptual, o primeiro álbum de Bruce Springsteen a abordar a temática das relações entre o homem e a mulher: a responsabilidade do compromisso e a dificuldade da manutenção dessa ligação.
São usadas várias metáforas como o rio, o e até uma viagem de carro, para ilustrar estes sentimentos. Era um álbum com uma orientação um pouco mais leve do que "Darkness On the Edge Of Town", mas que ainda assim carregava um importante significado.

"Baby you be true to me and I´ll be true to you!"
"So how about it?"

No entanto, após a actuação em dois concertos de beneficiência, em Setembro de 1979 Bruce mudou de ideias e decidiu que queria seguir uma direcção diferente. Bruce queria incluir uma série de outros estilos musicais que ele também gostava, mas que até então tinham sempre sido estrangulados pela rigidez da matriz dos seus álbuns conceptuais. Isso já tinha ocorrido na criação do álbum "Darkness On Edge Of Town" e Bruce não queria repetir o formato para o seu 5º álbum. O significado perdera a sua importância.

Assim, o álbum "The Ties That Bind" foi cancelado por completo e Bruce Springsteen e a E Street Band regressaram ao estúdio em Outubro de 1979 para uma longa 2ª fase de sessões de gravação. Essas sessões durariam até ao Verão de 1980 e dariam lugar ao multifacetado álbum "The River", que apresentava uma diversiade de estilos à imagem do que Bruce tinha em mente. Dos 27 temas da 1ª fase de gravações, apenas 8 chegaram a "The River" (assinalados a negrito na lista em cima), alguns deles com versões drasticamente diferentes.

Volvidos 15 anos, em 1994 chegou aos fãs um cópia da master tape de "The Ties That Bind", directamente dos estúdios Power Station, local onde tiveram lugar as sessões de gravação em 1979. Os fãs puderam finalmente ouvir o álbum perdido de Bruce Springsteen.


Com isto, levantou-se a questão: será que Bruce Springsteen fez bem em cancelar o projecto "The Ties That Bind"? Será porventura "The Ties That Bind" melhor que "The River"?

Em primeiro lugar, devo sublinhar que "The Ties That Bind" é, sem sombra de dúvida, sonicamente superior a "The River". Tendo em conta que todas as prensagens já lançadas de "The River" são um verdadeiro desastre sonoro e que "The Ties That Bind" chegou às mãos dos fãs directamente da master tape original, isso não era difícil.

Quanto à comparação entre os dois projectos... São coisas diferentes.
Não diria que "The Ties That Bind" é superior a "The River", porque o primeiro é uma parte do segundo e o primeiro tem 10 faixas, contra 20 do segundo. Seria injusto comparar assim os álbuns.

No entanto, diria que Bruce Springsteen cometeu um erro em ter cancelado o lançamento de "The Ties That Bind". Este álbum, tal como foi formulado, resulta muitíssimo bem. É um álbum que, ao contrário de "The River", segue uma linha de raciocínio e que tem temas excelentes, alguns deles abortados para "The River". Isso foi uma pena.

Na minha opinião, é verdade que há algum material supérfluo em "The Ties That Bind", nomeadamente "You Can Look (But You Better Not Touch)" e "I Wanna Marry You". Contudo, ambos os temas acabaram por figurar em "The River", tal como uma série de outros temas que nada acrescentam àquele álbum.

Em suma, para mim Bruce deveria ter lançado em 1979 o mais sólido e mais coerente "The Ties That Bind" e logo depois, como era sua vontade, lançar um party album, com temas mais leves e desconexos.
O resultado em "The River" acabou por ser um cruzamento destes dois conceitos, com um conjunto de material muito bom misturado com material bastante fraco, sem se vislumbrar qualquer fio condutor.

Do conjunto de 10 temas que figuravam em "The Ties That Bind", 3 deles não foram incluídos em "The River": "Cindy", "To Be True" e "Loose Ends". Todos são grandes temas, inexplicavelmente postos de parte.

O tema que aqui fica é "To Be True", uma versão arcaica de "Be True", que seria lançado em 1980 como o Lado B do single "Fade Away", retirado de "The River". Segundo Bruce Springsteen, "Be True" ficou de fora do álbum em favor do tema "Crush On You", uma decisão que, ao fim de alguns anos, o próprio tem dificuldade em perceber.

"To Be True" é mais que um tema criminosamente deixado de lado em "The River" (seguindo a tradição de outros temas como "The Promise" em "Darkness On The Edge Of Town"), é uma das minhas gravações preferidas de Bruce Springsteen, onde destaco o fabuloso solo de saxofone de Clarence Clemons no fim do tema.

Em 2010, pelo segundo ano consecutivo, Bruce Springsteen foi o artista que mais ouvi. A descoberta da sua obra significa a entrada num túnel cheio de tesouros, que parece não ter fim à vista. A quantidade de temas que ele gravou vai muito para além da (já respeitável) quantidade que está editada.
E eu continuo fascinado na descoberta destes tesouros.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

The Romantics - "Talking In Your Sleep"

"When you close your eyes and you fall asleep, everything about you is a mystery"



5 dias... 5 temas. Os 5 temas que mais me marcaram em 2010. Se o tema de ontem metaforizava viagens entre espaços da vida, o tema de hoje não deixa grande margem de análise. O que se ouve é o que se tem. E o que se tem é um grande tema 80's.

Sem mais introduções, o próximo tema desta retrospectiva pessoal de 2010 é o vibrante "Talking In Your Sleep" dos americanos The Romantics. Este tema foi originalmente lançado em single pelos The Romantics em 1983 e foi incluído no seu álbum "In Heat". O single tornou-se o maior êxito da banda, chegando mesmo ao 1º lugar da tabela de dança americana, onde permaneceu por 2 semanas. Este single não teve grande sucesso no Reino Unido em 1983, onde o tema só obteve notoriedade no ano seguinte, quando foi gravado pelos Bucks Fizz.


"Talking In Your Sleep" é um tema que condensa quase tudo o que de melhor tem a Pop dos anos 80. A frase é hiperbólica, mas é o que sinto quando ouço este tema. "Talking In Your Sleep" é 80's. Diversão pura.
Atentem na estrutura simples da música, cuja base é uma vibrante linha de baixo. A guitarra, a bateria e mesmo a voz são apenas acompanhamentos para esta espectacular linha de baixo. Tal como em tantos outros tema da época, é o baixo que faz "Talking In Your Sleep".

Também o vídeo é um standard daquela época. Foleiro? Talvez. Mas está aqui o charme dos anos 80. E eu adoro.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Nancy Sinatra - "You Only Live Twice"

"You only live twice, or so it seems: one life for yourself and one for your dreams"


Depois de ter dedicado a semana passada a temas alusivos ao Natal, na última semana do ano vou fazer uma retrospectiva da música que mais ouvi e que mais me marcou em 2010.
Atenção que não se trata de uma retrospectiva da música que se fez em 2010, mas sim daquilo que eu ouvi, duas acções que raramente concorrem no tempo.

Começo por aquele que foi provavelmente o álbum que mais ouvi em 2010. Na realidade não é bem um álbum de originais, mas sim uma compilação: "The Best of Bond...James Bond", lançada aquando do 40º aniversário do 1º filme da saga - "Dr. No".


Confesso que sou um grande fã da saga de James Bond. Não são filmes intelectualmente exigentes, mas têm uma série de outras valências primárias e secundárias que os tornam num produto único no cinema.
As primárias são reconhecidas por todos: os filmes oferecem acção, fantasia e divertimento a rodos.

As valências secundárias são muitas vezes negligenciadas, mas são aquelas que separam a saga de Bond de todos os outros filmes de acção. Começando pela ligação histórica entre a acção nos filmes e a tensão característica da guerra fria, entre o mundo Ocidental e a realidade do Leste europeu. Esta dicotomia de culturas é aqui retratada pela acção de um agente secreto ocidental nos cenários dos países de Leste e serviu de pano de fundo ao core da saga Bond.

Outra valência única destes filmes é a banda sonora. Arrisco dizer que nenhuma outra saga está tão bem representada neste capítulo como a saga de James Bond. É isso mesmo que podemos ouvir nesta compilação.

A enxurrada de grandes temas que "The Best of Bond...James Bond" oferece é impressionante. Desde as inúmeras versões do clássico "James Bond Theme", originalmente composto por Monty Norman em 1962, passando por temas dramáticos como "Goldfinger" ou "Goldeneye", baladas como "Nobody Does It Better" ou "Moonraker", até temas mais Pop como "A View To A Kill" ou "The Living Daylights".

Temas fabulosos, arranjos orquestrais grandiosos, interpretações intensas por alguns dos mais conceituados artistas do Pop, do Rock e do Soul. Há espaço para um pouco de tudo.
Tendo em conta que a saga acompanhou a cultura popular desde os anos 60 até aos anos 00, o leque de artistas que já contribuíram para os filmes é vasto e representativo do mainstream de cada época: desde Shirley Bassey nos anos 60, passando por Paul McCartney nos anos 70, Duran Duran nos anos 80, Moby nos anos 90, ou Jack White nos 00.

O tema que fica aqui é "You Only Live Twice", do filme com o mesmo nome de 1967, interpretado por Nancy Sinatra e composto por John Barry. É um tema que acolhe maior significado em relação ao standard das bandas sonoras de Bond. Fala das flutuações que fazemos entre dois mundos diferentes: a vida corrente e uma 2ª vida, diferente do quotidiano, que oferece experiências e sensações diferentes: às vezes noutro lugar; às vezes noutro trabalho; às vezes com alguém diferente.
O fenómeno da vida-dupla.

"You Only Live Twice" é um dos meus temas preferidos da saga Bond (são tantos...) e é um dos temas que mais vezes foi "emprestado" a outros artistas, casos de Coldplay e de Björk. Robbie Williams também construiu um dos seus temas de maior sucesso (o seu primeiro nº 1 no Reino Unido) com base num sample deste tema. Nunca repararam que "Millennium" tem uma forte influência Bond? Pois é, até o vídeo faz inúmeras referências à saga.