"When you say it's gonna happen "now", when exactly do you mean?"
A vida é dura para quem é impaciente.
Para quem não tem paciência, a vida arrasta-se como se a atmosfera fosse substituída por um denso colóide. Para quem não aprendeu a arte de esperar, o ar pesa como se a gravidade nos arrastasse para além dos 9.81 m/s2.
Os The Smiths falaram sobre isso no seu tour de force "How Soon Is Now?" - como alguém um dia descreveu, o "Stairway To Heaven" dos anos 80. Inicialmente lançado como o lado B do single "William, It Was Really Nothing" em 1984, o tema acabaria por ganhar tal notoriedade, que seria lançado em nome próprio em single no ano seguinte, sendo também incluído no álbum "Hatful Of Hollow".
Em "The Queen Is Dead", Morrissey diz que a vida é longa para quem está sozinho. Mas essa não é grande lição da discografia dos The Smiths.
A vida é longa, sim, mas a vida é mais longa, insuportavelmente mais longa, para quem é impaciente.
A insuportabilidade da espera é uma das temáticas fulcrais da discografia dos The Smiths. E é também uma das temáticas fulcrais da minha vida. Esperar é por demais insuportável.
Eu aprendi isso quando ficava horas à espera que a minha mãe surgisse através das portas brancas envidraçadas do infantário, para me salvar das malhas da monotonia, da solidão e das empregadas de limpeza - as únicas sobreviventes daquele espaço após as 5 da tarde.
Eu aprendi isso quando ficava horas à espera que a carrinha branca de caixa aberta do meu avô aparecesse ao fundo da avenida da escola; ansiando por aquele barulho inconfundível da caixa aberta a chocalhar no irregular piso empedrado; ansiando com o desespero de quem tem uma corda atada ao peito, que teima em atirar-me sucessivamente em direcção ao lancil, sozinho, enquanto passam casais de adolescentes agarrados como ímanes em juras de amor eterno, que durariam até ao fim do 3º período.
"And you leave on your own, and you go home, and you cry and you want to die"
Eu aprendi isso quando ficava horas a olhar para a pasta do inbox, a fazer refresh de 2 em 2 minutos, à espera da resposta dela - ela que era a mulher da minha vida (tinha eu a certeza na altura) - uma resposta àquele mail, que era o mais importante que eu alguma vez escrevera. E a porra da resposta nunca mais chegava... Acho que carreguei 10 mil vezes no F5 e nada. E depois, quando finalmente veio, umas insuportáveis 8 horas e 43 minutos depois... Eram só 2 parágrafos. E eu que tinha escrito o equivalente a 5 folhas A4, frente e verso... Tanto que eu tinha para dizer e tão pouco que me era dado em troca.
"I am Human and I need to be loved, just like everybody else does"
Eu aprendi isso quando ficava horas a olhar para ela - ela que era a mulher da minha vida (tinha eu a certeza na altura) - a vê-la dançar graciosamente na pista com a amiga feia, como se o planeta rodasse em torno do eixo do seu torso, ali ao fundo dos degraus em cima dos quais eu me situava, na ânsia de chamar a sua atenção. E esperava sempre por aquele tema mais electrizante dos U2, ou dos Simple Minds, para ganhar coragem e ir lá puxar a sua mão esquerda. Mas o momento certo, aquele momento em que ela olhava para mim e eu olhava para ela, num bingo de olhares, nunca mais chegava.
"You shut your mouth. How can you say I go about things the wrong way?"
Aprendi também que não estava sozinho no Mundo, quando ouvi a música dos The Smiths.
Poucas vezes me senti tão próximo das palavras escritas por outrem, como das de Morrissey. Ele sabe, tão bem como eu, como é insuportável esperar.
Dizem-me que a espera já não é longa, que vai acontecer "agora". Mas quando exactamente é que é "agora"?!
Poucas vezes me senti tão próximo das palavras escritas por outrem, como das de Morrissey. Ele sabe, tão bem como eu, como é insuportável esperar.
Dizem-me que a espera já não é longa, que vai acontecer "agora". Mas quando exactamente é que é "agora"?!