"You learn to sleep at night with the price you pay"
Tinha 9 anos quando o meu Pai chegou a casa com um CD branco de um artista que nunca tinha ouvido falar. A capa mostrava um homem de costas, o que aumentava o mistério. "Vais gostar disto", assertou-me o meu Pai. Mal eu sabia que aquele álbum iria mudar a minha vida. Tratava-se do "Greatest Hits" do Bruce Springsteen:
Desde então que fui injectado ciclicamente em doses cavalares de Bruce. E ao contrário de outras bandas que adoro desde essa altura (como por exemplo, e que Freddie me perdoe a heresia, os Queen), à medida que os anos passam, eu gosto cada vez mais do Bruce. Cada vez mais o "percebo".
Quanto mais "vivo", mais sinto uma relação estreita, estranhamente próxima com o que ele escreve, com os sentimentos que ele transmite. Porque são tais e quais os meus. Só não sei é se isso é bom ou não.
Toda a música de Bruce Springsteen reflecte essencialmente sobre 3 escolhas da nossa vida: o que fazemos; para onde vamos; com quem estamos.
A todas estas escolhas está associado um preço. É essa a consequência de "escolha". Preferimos uma opção em detrimento de outra. E pagamos um preço por isso.
_________________________________
"You make up your mind, you choose the chance you take"
"The Price You Pay" fala disto mesmo. Do preço que pagamos pelas escolhas que fazemos.
Já uns anos antes, em "Darkness On The Edge Of Town", Bruce fora lapidar relativamente ao preço que se paga por determinadas escolhas:
"I'll be on that hill with everything I've got (...) and I'll pay the cost for wanting things that can only be found in the darkness on the edge of town"
"The Price You Pay" surgiu das
sessões para o álbum perdido de Bruce Springsteen -
"The Ties That Bind" -, aquele que deveria ter sido o primeiro álbum de Bruce sobre a difícil relação de um casal. Infelizmente,
como aqui referi, Bruce cancelou o projecto, em favor de um álbum mais variado como aquele que tivemos em
"The River".
Foi uma pena. Na minha opinião, de modo a exponenciar a importância da sua música que nesta fase lhe chegava em torrentes criativas, Bruce deveria ter lançado um a dois álbuns por ano, cada um obedecendo a uma determinada matriz, tal como fez com "Darkness On The Edge Of Town". Assim, "The Ties That Bind" poderia ter visto a luz do dia no Natal de 1979 e em 1980 poderíamos ter recebido um álbum festivo com "Out In The Street", "Ramrod", "Sherry Darling", "I'm A Rocker" e todos esses temas mais upbeat que acabaram por ir parar a "The River". E quem sabe, mais um álbum introspectivo, com temas como "Independence Day", "Drive All Night", "Point Blank", ou "Wreck On The Highway". E já nem falo na astronómica quantidade de material das sessões de "Darkness"...
O que torna esta decisão de cancelar
"The Ties That Bind" ainda mais frustrante é que para trás ficaram temas-chave como "To Be True", "Cindy" e "Loose Ends", bem como versões definitivas de temas como "Stolen Car" e "The Price You Pay". Na versão que chegou a "The River", Bruce decidiu inexplicavelmente cortar uma estrofe.
_________________________________
"Some say forget the past, and some say don't look back
But for every breath you take, you leave a track"
Normalmente, as escolhas da nossa vida são tomadas ao longo de um caminho que percorremos, de um processo contínuo; vamos sucessivamente chegando a diversos entroncamentos que nos obrigam a tomar decisões de vida, seja sobre a profissão, o lugar onde vivemos, a pessoa com quem fazemos este caminho.
Em raras ocasiões, este processo contínuo é interrompido, como se alguém carregasse num botão
PAUSE da nossa vida; e todas escolhas concorrem num momento, numa encruzilhada que nos obriga a pensar o que, afinal, queremos fazer da vida. Depois é escolher. E pagar o preço dessa escolha.
"Now you can't walk away from the price you pay"
Não há volta a dar, não é possível fugir deste preço.
Será que podemos pagar esse preço, sem que nos arrependamos?
Será que estamos preparados para dormir com essa escolha?