"I don't ask for much, i only want your trust and you know it don't come easy."
Não vos estarei a dar uma grande novidade se disser que Ringo Starr não era o mais talentoso dos The Beatles. Não que ele fosse mau na sua função de baterista. Aliás, na minha opinião, Ringo era o baterista ideal para a banda; o seu estilo assentava que nem uma luva nos Beatles.
Ringo marcou um estilo de tocar e influenciou milhares de outros bateristas em todo o Mundo. Beneficiando da popularidade sem paralelo dos Beatles, não há dúvidas que Ringo foi influente na arte do seu instrumento como muito poucos.
No entanto, como compositor, o facto é que Ringo era a face mais pálida dos Beatles. Como referi aqui, quando escrevi sobre George Harrison, os The Beatles foram a banda de Lennon e McCartney, onde também tocavam Harrison e Ringo. Os momentos destes últimos debaixo dos holofotes foram efémeros e se pela parte de George, isso pode ser apontado como uma crítica à política vigente do grupo, pela parte de Ringo, isso só pode ser apontado como uma forma de proteger o próprio baterista.
À falta de material escrito por Ringo para incluir nos álbuns, este foi interpretando temas escritos por outros artistas, nos primeiros anos dos The Beatles: "Boys" (Dixon, Farrell) em "Please Please Me"; "I Wanna Be Your Man" (Lennon, McCartney) em "With The Beatles"; "Honey Don't" (Carl Perkins) em "Beatles For Sale" e "Act Naturally" (Russell, Morrison) em "Help!".
O primeiro crédito de Ringo Starr apareceria em "Rubber Soul" (6º álbum da banda), como co-autor de "What Goes On" (único exemplo de co-autoria Lennon-McCartney-Starkey), que na minha opinião salda-se como um dos temas pobres de um álbum que, no resto, é simplesmente fabuloso.
Se é verdade que Paul e John sempre tentaram ajudar Ringo na sua carreira, logo desde a fase inicial (George também o faria mais tarde, como veremos à frente), também não é menos verdade que sempre tiveram noção das limitações do seu colega e amigo. Numa entrevista em 1980, John Lennon acabaria por se mostrar (estranhamente) bastante cínico em relação à "ajuda" que dera a Ringo, referindo-se a "I Wanna Be Your Man" (primeiro tema composto pela dupla Lennon-McCartney para Ringo cantar) de forma muito pouco abonatória:
"It was a throwaway. The only two versions of the song were Ringo and the Rolling Stones. That shows how much importance we put on it: We weren't going to give them anything great, right?"
Não é habitual ouvirmos John referir-se a Ringo nestes termos. Alguns anos antes, em 1975, numa entrevista para a televisão americana, Jonh abordou a dificuldade que Ringo sentia em escrever o seu próprio material, mas defendeu o seu amigo, sublinhando que ele não era um estúpido (dumb) qualquer e que até àquele ponto a sua carreira a solo até já conhecera mais sucesso que a do próprio Lennon:
Desabafos à parte, dêem-se as voltas que quiserem, a verdade é que os membros dos Beatles sempre tentaram proteger o seu elo mais fraco. Ringo era o "gajo porreiro" da banda e contribuía, à sua maneira, para aquilo que os Beatles se tornaram.
Nesse sentido, reza a História que George Harrison lhe terá oferecido "It Don't Come Easy" em 1970, mais uma sobra da pilha de temas que tinha para o álbum "All Things Must Pass".
Em Abril de 1971, Ringo lançou "It Don't Come Easy" em single (figurando como co-autor) e o tema tornar-se-ia numa dos seus ex libris.
Meses depois, em Agosto de 1971, Ringo juntou-se à banda de George Harrison no Madison Square Garden, para o concerto de ajuda ao Bangladesh (The Concert For Bangladesh) e cantou "It Don't Come Easy", ao mesmo tempo que tocava bateria. Resultado? Ringo esqueceu-se da letra e assim imortalizou esta actuação com uma valente argolada: