domingo, 20 de setembro de 2020

Scorpions — "Blackout"

 "I really had a blackout"

Vai fechar o Crobar, o último dos resistentes em Soho. Um bar fiel às suas raízes motards e metaleiras que nunca mudou, cruzando décadas de gentrificação e trendificação do bairro do Soho, sempre imune a tudo. Agora é mais uma das vítimas de 2020. Dave Grohl, Slash e o Alice Cooper eram fãs desta casa lendária, mas duvido que algum deles tenha uma história lendária como a minha primeira noite no Crobar — a noite do Blackout.

O ano era 2018 e numa sexta-feira à noite, já a bater nas 24 horas, recebo uma chamada do Diogo, um amigo que trabalhava como bartender em Soho: "Nuno, vamos aí dar um giro!", diz ele. Eu respondo que nem sequer tinha ainda jantado, tal era o nível de exaustão que trazia da semana que terminava. Tinha chegado a casa umas horas antes e deste então que estava estatelado no sofá, a destilar o stress do trabalho. Mas o Diogo insiste: "Não te preocupes, eu tenho aqui jantar para ti no pub". Bem, sendo assim, não havia desculpa. Borrifei-me com perfume, para disfarçar a roupa usada e pus-me a caminho, já passava da meia noite.

Quando cheguei ao Soho, já o Diogo estava a fechar o pub onde trabalhava. "Onde é que está a comida?!", perguntei eu já cheio de fome (sublinho aqui que a última coisa que tinha comido fora uma sandes ao meio-dia, 12 horas antes, portanto). Ele sorri e exclama "Toma aí!", enquanto me passa para a mão... um gin tónico. Eu nem sequer bebo gin, mas para além do estômago vazio, também já trazia sede, por isso foi tudo de enfiada. "Então onde é que vamos?", perguntei eu já com o gin a bater. "Vamos a uma casa que vais adorar!", responde o Diogo. Eu torci o nariz. 

Deixem-me falar-vos da noite de Londres — é uma merda. Amo Londres, mas para onde quer que vá, pareço sempre ser mergulhado num bidão de plástico liquidificado. É tudo tão fake, tudo tão estacionário, que nunca consegui apreciar a noite londrina como apreciava, por exemplo, a noite lisboeta. Mas o Crobar era diferente. Gente verdadeira, untrendy, zero fucks given. Senti-me imediatamente em casa.

As minhas melhores histórias na noite londrina sempre aconteceram em sítios e situações inesperados — como aquela vez que, sem fazer a menor ideia, entrei numa discoteca gay, fui dançar para a pista e, bem, o melhor é deixar essa história para outra altura. Chegados ao Crobar, numa curta viagem da qual já tenho memória difusa, junta-se mais um grupo de amigos do Diogo. "Round of shots!", grita um deles. A partir daqui, bem, já devem imaginar. Estômago vazio, gin tónico para jantar, seguido de quatro ou cinco (who's counting?) rodadas de shots de tequila. Curti à brava o Crobar.

Quando fomos despejados às 3 da manhã — hora de fecho do bar —, eu sentia-me como o (a) protagonista do vídeo do "Smack My Bitch Up" — visão em túnel e o túnel a rodar como uma mangueira solta a alta pressão. "Diogo, agora tenho mesmo que comer", supliquei-lhe. Ele fez-me finalmente a vontade. Só que de todos os restaurantes em Soho, levou-me para um restaurante chinês. Ora, eu não propriamente fã da cozinha do Extremo Oriente e passado 5 minutos de estarmos sentados, corri para a rua para e, como já era mais do que esperado, despejei o que tinha no estômago.

O problema é que já não podia voltar para dentro. Estava em modo super spinning e sem dizer mais uma palavra, deixei o Diogo e liguei automaticamente o Safe Mode — o modo de segurança em que o único objectivo é chegar a casa, custe o que custar. Chamar um Uber? Não, o metro é mesmo ali e são só 5 estações. E aí sim, começou a minha aventura.

Cheguei ao metro e estava tão quentinho e confortável, que disse para mim "vou só fechar os olhos um minuto". Quando esse minuto passou e eu voltei a abrir os olhos, estava em Heathrow. "Fuck. Vou ter que andar tudo para trás", pensei. Mudei de linha e lá fui eu em direcção a Earl's Court. Era supostamente uma viagem de 45 minutos, mas os olhos pesavam e quando acordei, já estava na outra ponta da Piccadilly Line. Nem queria acreditar.

Voltar a mudar de linha aqui já foi um suplício de arrastar ossos indizível. De alguma maneira, encontrei forças para entrar em mais uma carruagem do metro. Seria a última. Mas a viagem estava longe ainda de terminar. Sabia que tinha a linha toda ainda pela frente e por isso, não faz mal nenhum dormir mais um bocadinho, certo? Errado, pois claro. Quando acordei, estava em Hounslow Central, novamente quase ao pé de Heathrow. Fiquei a morrer. 

Tentei recompor-me e pensar na viagem que tinha ainda pela frente — sair em Hounslow West, mudar de linha e voltar para trás em direcção a Earl's Court. Qual não é o meu espanto quando a senhora do Tube anuncia: "Next station, Hounslow East". "Oi? Hounslow East? Então eu já vou em direcção contrária?". Ou seja: o metro já tinha ido a Heathrow e já estava a voltar. E eu sempre a dormir na carruagem. Vá lá que o condutor teve pena da cena e me deixou a dormir no comboio.

A partir daí, não mais fechei os olhos. Cheguei a casa às 9 da manhã. Foi a minha primeira noite no Crobar.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

George Michael - Listen Without Prejudice 30

"And if these wounds, they are self inflicted. I don't really know how my poor heart could have protected me" 

Nestes dias, sempre que decido escrever sobre um dos meus heróis, sinto que já não tenho mais nada a dizer sobre ele. Não admira. O blog já tem 10 anos e já escrevi (quase) tudo o que tinha para escrever sobre os artistas que marcaram, mudaram e salvaram a minha vida. Não resta nada, penso sempre.

Até que acontece um dia como este, um dia que o meu saudoso avô Artur chamaria sabiamente de um "dia de um filha da puta", um dia em que tudo corre mal, tudo sai ao contrário. Chego a casa com a cabeça em papa, abro o Facebook e vejo que faz hoje exactamente 30 anos que foi lançado o meu álbum favorito de 1990 — "Listen Without Prejudice Vol.1". Nem de propósito, era mesmo este o disco que eu precisava de ouvir. E tal como aconteceu em tantos outros momentos da minha vida, o George apareceu outra vez. Sempre para me salvar o coiro. Sempre quando mais precisava dele.

É por isso que amo o George. Ele esteve lá sempre que eu precisei e a única coisa que pediu em troca foi um pouco de atenção e que eu lhe fosse comprando os (poucos) discos que ia lançando. Nunca lhe faltei com a minha parte.

"Listen Without Prejudice Vol.1" é um álbum pivotal na vida do George. Marca a sua passagem de artista mercantilizado como sex symbol, de boy toy, para o que ele achava ser um artista sério.  George queimou as suas roupas no clip de "Freedom '90" e deixou de aparecer nos próprios vídeos. George já tinha tido a sua Beatlemania e queria agora o seu Imagine. E tal como John, George buscou a sua afirmação artística na procura pelas emoções mais viscerais, na aposta na estética minimalista e adicionou-lhe infusões de Jazz e Bossa Nova que atiraram o álbum "Listen Without Prejudice Vol.1" para um patamar de excelência raramente alcançado na Pop. Não admira que o público americano não o tivesse compreendido.


(Review hilariante do álbum Older, a pedir o George de Faith de volta. Em suma, gente que não gosta do George.)

Lançado a 3 de Setembro de 1990, "Listen Without Prejudice Vol.1" foi um sucesso no UK, onde vendeu ainda mais cópias que "Faith". No US, foi um suicídio artístico. Quem é que o George pensava que era? Armado em Bob Dylan, ou Leonard Cohen? O público americano conhecia o George de calças de ganga, casaco de pele e crucifixo na orelha esquerda e queriam mais. Mas o George estava mais preocupado em ser levado a sério. Sempre demasiado preocupado com o que os outros achavam dele, o nosso George. As putas das inseguranças que o atemorizavam e que o levaram daqui. E que ele deixou tão explícito no tema de fecho do disco, "Waiting (Reprise)": "All those insecurities that have held me down for so long, I can't say I've found a cure for these, but at least I know them, so they're not so strong.". Ninguém escrevia sobre inseguranças como tu, George. Que saudades.

"Please be stronger than your past, the future may still give you a chance"

Fiquem, pois, com um cheirinho late night da obra-prima maior da carreira do George, última faixa do Lado A de LWPv1 — "Cowboys And Angels":


P.S.: Tenho há anos em rascunho um post sobre o nunca lançado "Listen Without Prejudice Vol.2", cancelado devido ao conflito do George com a sua editora, a Sony. Afinal ainda há mais umas coisinhas para escrever.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Peter Gabriel - "Biko"

“September 77, Port Elizabeth, weather fine. It was business as usual, in police room 619.”


Ando há uma semana com esta merda a fervilhar-me a cabeça. E como quem me segue saberá, quando fico a ferver, tenho a tendência para o vernáculo, por isso tendo a segurar-me.

Não sei se já viram o vídeo do New York Times com a reconstrução do assassinato de Minneapolis em multicam, a partir de vídeos de vários telemóveis (as coisas que a tecnologia nos proporciona). É hediondo. É um assassinato. Ponto. Da primeira vez que vi o vídeo, há uma semana, vi de um ângulo em que se via um polícia a pressionar a traqueia do George Floyd, enquanto este gritava pela mãe e dizia que não conseguia respirar. Fiquei nauseado com a frieza daquilo. Hoje percebi que afinal eram 3 animais em cima dele.

Todos foram (bem) despedidos no próprio dia, mas só o animal da traqueia foi detido “enquanto se averiguam os factos na investigação”. O NYT foi mais rápido que o tribunal e reconstruiu os factos num vídeo multicam. Entretanto, os outros animais continuam a monte. Não há democracia sem justiça e justiça tem que ser feita para George Floyd. Até lá, Minneapolis arderá. Compreensivelmente.

Por coincidência, ao mesmo tempo que isto acontecia, eu estava a ver um (excelente) documentário na Netflix sobre a guerra no Vietname (The Vietnam War - aconselho vivamente) que mostrava a revolução, os motins e as cidades americanas em chamas no verão de 1968, por causa da morte de MLK. Desligo o Netflix, mudo de separador e videos mostram-me uma cena exactamente igual em Minneapolis. Em 2020.

Serve de quê esta reflexão? Quem saiu a ganhar dos motins do verão de 1968? Um tal de Richard Nixon, boca sensação do Partido Republicano que prometia mão de ferro com os anarquistas. A classe média teve medo e votou nele.

Como vimos nesta alegoria, a história repete-se, por isso não excluam a reeleição de Trump por causa disto, por muito má que seja a sua conduta. Até porque do outro lado está um velho senil (não que ser um velho senil tenha algum mal, todos eventualmente lá chegaremos, se lá chegarmos) que nunca deveria ser candidato à presidência do US, muito menos nestas tão importantes eleições. Meu rico Bernie, que ias fazer a revolução do mundo livre e solidário. Mas isso, dizem-me, é fantasia. No mundo real, Trump já prometeu a intervenção do exercito (de armas os americanos percebem) e a classe média americana gosta disso.

Tudo se acalmará quando houver justiça. Todos os animais têm que ser prosecuted. O vídeo mostra uma frieza criminosa de todos os polícias presentes. Como não responder aos gritos de George Floyd? Who are these people? Eu gosto de estudar mentes twisted e se dá para “perceber” o train of thought do animal da traqueia, que alegadamente tinha simpatias supremacistas, que dizer do partner dele, chinês e também cúmplice? Isto ultrapassa o racismo, é de uma atrocidade indizível. NINGUÉM pode ficar indiferente a isto. Justiça para George Floyd precisa-se.

A banda sonora é providenciada por um dos meus heróis - Peter Gabriel - e o hino anti-racista dos anos 80 “Biko”, que conta a história de um homem assassinado numa esquadra na África do Sul, na altura do Apartheid. “It was business as usual” indeed, tal como em Minneapolis.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

10 Álbuns que influenciaram o meu gosto musical: #2 Pink Floyd - "Meddle" (1971)

#2 Pink Floyd - "Meddle" (1971)



Olha, olha. Que surpresa. O Nuno nomeou um disco dos Pink Floyd como um dos dez que mais influenciaram o seu gosto musical.
Antes que tome o gosto em falar sobre mim na terceira pessoa, interrompo-vos já esse revirar de olhos para vos dizer que pensei muito sobre qual dos álbuns dos Pink Floyd escolher para esta lista. A escolha lógica seria o "The Division Bell", que eu habitualmente cito como o meu álbum preferido de sempre; ou então o "The Dark Side Of The Moon", que eu habitualmente cito como o mais accomplished álbum de sempre. Mas o desafio em questão remete para as influências. Para como tudo começou. E se os Pink Floyd, para mim, começaram com Veneza em 1989 e continuaram em 1994 com o Division Bell, foi no ano 2000, quando saiu a compilação "Echoes: The Best Of Pink Floyd", que as comportas para a discografia da banda de Cambridge se abriram. E tudo girava à volta de um tema que era muito mais que um tema. Um tema que era uma vida. Um tema que no disco original em vinil, tomava todo o Lado B. Um tema que representava, melhor do que nenhum outro, tudo aquilo que eram os Floyd. E que por isso mesmo dava nome à primeira compilação que se atrevia a resumir a sua extensa e expansiva discografia num único álbum, orfanando os temas dos seus álbuns-mãe. Falo, obviamente, de "Echoes", o tema que ocupa o Lado B do álbum "Meddle", de 1971.

Nao é bem saudades. O que eu tenho mesmo é inveja do 15-year-old-me, que sem saber, estava numa viagem épica a descobrir toda uma avalanche de sons que nunca tinha ouvido. Estava pela primeira vez a descobrir música por mim próprio e era um sentimento de liberdade incomensurável. Quem me dera sentir-me assim outra vez. Quem me dera voltar sentir o que senti das primeiras vezes que ouvi o "Echoes". O fascínio. O bewilderment. Foram meses a tocar aquilo no meu quarto e no meu Discman em loop. Como eram 25 minutos, nunca cansava.

Estava a apanhar as primeiras bebedeiras e quando chegava a casa do Telheiro (o bar da moda em Castelo Branco) no fim da noite de Sexta-Feira, punha o CD do "Meddle", fast forward para a última faixa e deitava-me na cama a olhar para o tecto e a submergir-me na música. A minha imaginação voava sobre rios e desertos e desfiladeiros á noite, enquanto ecoava a guitarra do David. O mistério. O que era aquilo? Como é que o David fazia aqueles sons? Apaixonei-me pelo som daquela guitarra (ou vá, foi uma terceira lua-de-mel, depois de 1989 e 1994) e 20 anos depois, a paixão continua intacta.

Desde então, segui a guitarra o David sempre que pude e para onde pude. Tive o privilégio de o ver em Paris, a tocar os 25 minutos do "Echoes" com o Richard Wright. Continua a ser um dos momentos altos da minha vida.
A minha namorada da altura, que me acompanhava no concerto, deixou-se dormir na parte psicadélica do "Echoes". E não, não estava com os copos.

O "Echoes" mudou por completo a forma como eu olhava para a música. O conceito de canção podia agora tomar qualquer forma e qualquer duração. Tao válidos eram os 2 minutos de "Love Me Do", como os 25 de "Echoes", cada qual no seu contexto. A paciência compensava. É este tema, que na verdade é muito mais que apenas um tema, que o álbum "Meddle" aparece nesta lista.
Vem esta epifania a propósito da estreia no YouTube do filme "Live At Pompeii" que, na sua versão original, abre e fecha com "Echoes", contando ainda com o outro épico de "Meddle" - o instrumental "One Of These Days". Foi o filme que mudou a minha vida e fez de mim o weirdo que sou hoje.

Para ilustrar o "Meddle", deixou aqui apenas algumas das versões do álbum que constam na minha colecção (são 10 no total). Em baixo, as prensagens alemã e portuguesa, com a qual eu cresci, ouvindo-a esporadicamente no record player do meu Pai (estes não são os Floyd preferidos dele).
Em cima, a prensagem dourada da MFSL em CD, um dos items mais  preciosos da minha colecção. Mas ainda e muito mais precioso, é o que está atrás — uma 1st pressing UK, com os primeiros matrix numbers A-1U / B-1U, assinada pelo David Gilmour himself. Claro que o sonho era reunir as assinaturas do Roger e do Nick por cima das respectivas cabeças, mas acho que isso é tão provável como a reunião dos próprios em palco.

terça-feira, 21 de abril de 2020

10 Álbuns que influenciaram o meu gosto musical: #1 David Bowie - "Low" (1977)

«Escolher 10 álbuns que influenciaram o meu gosto musical. Um álbum por dia durante 10 dias consecutivos. Sem ordem cronológica, sem explicaç... 

Ah fuck it. Claro que tem que haver explicações, senão what’s the fucking point?
Bem. Depois de ter sido nomeado 3 vezes para entrar nesta corrente do Facebook, vou aceitar o desafio. Mas como isto é Rock’n’Roll, you gotta break the rules, e por isso, sim, vai haver explicações, não, não vão ser só capas de álbuns e não, não vou nomear mais ninguém. The madness stops here.
Também não vai ser só no Facebook. Vou aproveitar para fazer uma coisa que não faço há muito tempo, que é escrever no meu blog. No blog que começou tudo há 10 anos (o banner também está actualizado) e que entretanto foi esquecido para dar lugar a outros projectos. Mas como dizia o David, "where you start is where you end" e por isso aqui estou de volta. Vamos a isto.

Notem que "10 álbuns que influenciaram o meu gosto musical" não são os meus 10 álbuns preferidos, nem os 10 melhores álbuns de sempre. São os álbuns que, errh, influenciaram o meu gosto musical. Agora sim, bora.

#1. David Bowie — "Low" (1977)


Começamos então com “Low”, um álbum absolutamente pivotal na minha vida. Foi um disco que entrou na minha vida, como sempre acontece com a música, no momento certo. Estava saturado do meu quotidiano day-in-day-out (pun intended) de casa-trabalho-casa, recentemente fora de uma longa relação e a precisar desesperadamente de descarrilar, em nome da minha sanidade mental. Parece paradoxal, eu sei. Mas a fazer aquela vida certinha, eu sentia que eu não era eu. Sentia a necessidade de olhar para o abismo.

Não, esperem aí. Esse álbum foi o “Station To Station”. Pois. É um tópico para outro dia. Esse também poderia perfeitamente figurar aqui. Mas em vez da masterpiece cocainada do Bowie, decidi em favor do “Low”, o álbum concebido na ressaca desse mesmo ‘high’ (mais um pun intended) e que entrou na minha vida quando ela entrou em paralelo à vida do Bowie (menos a cocaína, atenção).

A influência do Bowie, e do "Low" em particular, foi tal, que às tantas fiquei obcecado com a ideia de emigrar para Berlim, para 'renascer' tal como Bowie fizera em 1977. Mas isto não foi uma daquelas conversas que nascem com um copo de whiskey na mão. Não. Eu fui mesmo ter aulas de alemão e ao fim de 6 meses apanhei um voo para Berlim, onde estive sozinho durante duas semanas para apanhar o ar da cidade. Era Fevereiro e por isso apanhei um ar bastante frio. Demasiado frio para quem só tinha levado t-shirts e um casaco de cabedal, com quem entretanto estabeleci uma ligação metafísica que na altura descrevia como "uma extensão do meu corpo". Mas divago.

A epifania de "Low" estava na certeza da validade da reinvenção, da regeneração do indivíduo. Eu podia perfeitamente não ser aquilo que estava predestinado para mim. Não precisava de ser o certinho. Percebi que o sucesso não era (nem podia ser) uma prisão, tal como o David Bowie não precisou de continuar a ser o Ziggy para continuar a ter sucesso. Percebi que não precisava de ser igual aos outros nem igual a nenhum modelo, tal como o Bowie deixou de ser o Ziggy e passou a ser o Thin White Duke e depois deixou de ser o Thin White Duke para passar a ser só o David Bowie e em nenhuma das iterações foi igual a mais ninguém. A semente do "Low" cresceu 'high' (mais um pun, estou on fire).

O "Low" é conhecido academicamente por ter sido o primeiro álbum de Rock 'alternativo', uma vez que o Bowie bebeu as influências alemãs do Krautrock e foi o primeiro artista mainstream ocidental a fundir a electrónica com o Rock. Eu não sou propriamente um gajo do dubstep e do minimal (correntes electrónicas vigentes em Berlim no momento), mas imaginem, o meu álbum preferido do David Bowie é o "Low". E foi o vinil que ouvi mais vezes na vida. Muitas garrafas de Jameson foram despejadas ao som "Always Crashing In The Same Car", a discutir geopolítica e geoestratégia económica e sentimental.

Para ilustrar este life-changing album, ficam uma foto com a minha colecção do "Low".
Em cima, à esquerda, o tal disco que terraplanei de tanto ouvir nas sextas-feiras à noite. Uma 1st UK pressing de orange label, que comprei por 7 euros e meio numa pawn shop em Bruxelas, imaginem. Na altura estava impecável, hoje nem tanto. E por isso mesmo, à direita está uma back-up copy da mesma primeira prensagem UK que só ouvi uma vez, mas que comprei porque nunca se sabe, não posso correr o risco de não ter um "Low" à mão se me apetecer encher um copo com Jameson. Continuo a ouvir a cópia terraplanada porque tem resquícios de Jameson nos grooves e acho que isso dá uma dimensão de realismo tridimensional ao álbum. Ah e a back-up copy ainda tem o panfleto para aderir ao fan club do David Bowie em 1977. Não mandei porque achei que já era capaz de ser um pouco tarde para isso.
No meio, à esquerda, está a minha primeira cópia do "Low" em CD — a remaster de 1991 da EMI, com 3 faixas bónus também essenciais. À direita está aquele que foi provavelmente o CD mais caro que já comprei — a primeira prensagem do "Low" em CD, lançada na Alemanha Ocidental em 1984.
Em baixo, à esquerda, a remaster da RCA International de 1981 de green label que, curiosamente, tem sido a minha versão go-to nos últimos tempos. Tem um soundstage mais amplo e maior claridade, faltando aquela sujidade da orange label de 1977. Mas a verdade é que ultimamente tenho ouvido o álbum sóbrio. Deve ser isso.

sábado, 7 de setembro de 2019

Bruce Springsteen — "The Promised Land" (Live at Passaic '78)

"There's a dark cloud rising from the desert floor, I packed my bags and I'm heading straight into the storm"


1. PIÈCE DE RÉSISTANCE

Já devem ter ouvido muitos contos e lendas acerca dos concertos de Bruce Springsteen. São todos verdade. Mas de todos os concertos, há um acima de todos os outros. E pluribus unum, como diz o emblema do Benfica; o unum aconteceu a 19 de Setembro de 1978 no Capitol Theater em Passaic, New Jersey e foi o primeiro de três concertos de "regresso a casa" para Bruce. Ele aparece na melhor forma de toda a sua carreira e com o melhor lote de canções, a promover o álbum "Darkness On The Edge Of Town".

A melhor noite de toda a carreira de Bruce Springsteen e uma das melhores gravações ao vivo de toda a história do Rock, que é finalmente editada oficialmente pelo Boss. O concerto foi transmitido nas rádios americanas, sendo mais tarde editado profusamente, mas em forma de bootleg, com o nome "Pièce de Résistance". "Pièce de Résistance" vem do francês e significa "obra-prima maior do artista" e não poderia haver nome melhor para esta gravação que resume todas as lendas já alguma vez contadas sobre os concertos de Bruce Springsteen. Ainda que tenha sido originalmente lançada em zona cinzenta da legalidade, a gravação ganhou tanta reputação, que se tornou num dos bootlegs mais vendidos de sempre e com ela Bruce ganhou fama de ser um animal de palco. 41 anos depois, Bruce decide recuperar as mastertapes e tirar o melhor desta lendária gravação. Tempo por isso de recordar como este bootleg mudou a minha vida há 10 anos e como deixou uma marca indelével para tudo o que se passaria a seguir.

2. THINGS THAT CAN ONLY BE FOUND IN THE DARKNESS ON THE EDGE OF TOWN

No final de 2008, a minha vida dava uma cambalhota completa. Ao mesmo tempo que acabava o curso no Técnico e começava uma vida rotineira de trabalho, estava prestes a sair da relação mais sólida e duradoura da minha vida, um amor que durou os 5 anos da minha estadia no Técnico. É um período que hoje relembro com enorme carinho e um passado com o qual estou em perfeita paz. Mas nem sempre foi assim. Nos meses que se seguiram àquele rompimento, vivi a agonia da dúvida se tinha feito o que era certo para mim. Não era uma agonia aguda, um sentimento que me fizesse disparar a marcação de um número de telefone. Era sim um ruído que se arrastava no dia-a-dia, uma interferência no sinal da minha rádio, um grão na imagem que persistia e teimava em não sair. Estava confuso, perdido e à procura de respostas sobre as grandes questões da vida. Nesse período, descobri Bruce Springsteen.

Já me conhecem, não sou de deixar os superlativos caídos no chão. Por isso vou ser directo: Bruce Springsteen salvou a minha vida entre 2008 e 2009, num exorcismo que começou em Dezembro de 2008 e culminou no dia 2 de Agosto de 2009, num Monte do Gozo a rebentar pelas costuras em Santiago de Compostela. Foi a primeira vez que vi Bruce Springsteen ao vivo e uma noite que definiu a minha vida e tudo o que eu queria dela daí em diante. Emoção. Honestidade. Seja ela em beleza, ou em bruteza. É isso que Bruce dá ao público nos seus concertos, porque é exactamente aquilo por que as pessoas estão esfomeadas.

Durante este período de exorcismo, havia um CD que rodava em loop no meu carro. Era a gravação do primeiro set do primeiro concerto de Passaic. Tudo o que eu tinha que ouvir de Bruce naquele momento estava condensado ali. Bruce tinha todas as respostas que eu procurava para as grandes questões da vida. Foi ele que me fez perceber porque é que eu tinha saído. E o que é que me esperava a seguir.
Saí, porque quis ver o que havia na escuridão da orla da cidade. E como Bruce avisou, tive que pagar o preço de querer coisas que só podem ser encontradas na escuridão da orla da cidade. Leiam aqui o que entenderem.

3. A LIGHT IN THE DARKNESS

Naquela gravação ao vivo de Passaic, Bruce enquadrou tudo o que eu sentia naquela altura. Deu nomes aos lugares metafóricos que existiam na minha cabeça ("the edge of town"). Deu nomes aos sentimentos de culpa que me assolavam ("When the night's quiet and you don't care anymore / Your eyes are tired and someone at your door / And you realize... you wanna let go") e resumiu o espírito da minha viagem de redenção, quando introduziu "Darkness On The Edge Of Town" em jeito de pregador: "At one time or another, everybody's gotta drive through the darkness on the edge of town".

Mas o conteúdo era apenas uma parte e não a parte fundamental desta gravação catártica. A forma, aqui, é tudo. A paixão que Bruce imprime nesta actuação é arrepiante. Desde a contagem para "Badlands" que entramos numa auto-estrada sensorial, onde nos agarram pelos colarinhos e somos submetidos a chuveiro de emoções que tão depressa nos imprimem excitação ("Badlands"), raiva ("Streets Of Fire"), alegria ("Spirit In The Night"), ambição ("Thunder Road", "The Promised Land"), desespero ("Meeting Across The River") e arrepios, quando Bruce Springsteen pergunta à audiência "New Jersey, are you ready to prove it all night?" e depois abre a guitarra. Tudo num espaço de 80 minutos.

4. MEETING ACROSS THE RIVER


O tempo passou e eu procurei refazer a minha vida, sempre carregando a tocha do Bruce no meu dia-a-dia. Foram os anos áureos do blog "Escolha Musical do Dia", que na altura escrevia quase diariamente (como era suposto) e que, não por acaso, tinha uma avalanche de posts de Bruce Springsteen. Para meu gáudio, em 2012 Bruce vem a Portugal, ao Rock In Rio, e eu tenho a oportunidade de o voltar a ver.

Nesta altura, uma "ex" que tinha sido uma má ideia desde o início (não é a do segundo capítulo, obviamente), tenta uma reaproximação com o pretexto de que queria também ver o Bruce Springsteen no Rock In Rio e como tal, pediu-me para eu a ajudar a preparar o concerto. Eu gravei-lhe o CD do Passaic e acordámos um encontro à beira rio, que eventualmente iria reatar a má ideia inicial.

Na semana seguinte, escrevi o mail:
"De: Nuno Bento
Enviado: 25 de maio de 2012 19:22
Para: (...)
Assunto: "Stuff this in your pocket, it will look like you're carrying a friend" 
Olá! Conforme te tinha prometido, aí está o alinhamento do CD que te gravei do tio Bruce, uma das minhas gravações ao vivo preferidas de sempre (só atrás do Live At Wembley '86 dos Queen): 
1. Intro (0:31)
2. Badlands (5:00)
3. Streets Of Fire (4:47)
4. Spirit In The Night (6:50)
5. Darkness On The Edge Of Town (4:14)
6. Independence Day (5:29)
7. The Promised Land (5:23)
8. Prove It All Night (9:30)
9. Racing In The Street (8:09)
10. Thunder Road (5:28)
11. Meeting Across The River (3:17)
12. Jungleland (9:39) 
Como podes ver pelo site, este CD é apenas o 1º set de um concerto de quase 4 horas que o Bruce deu na sua terra Natal (New Jersey) em 1978. Na altura, ele dava dois "sets" de hora e meia e depois voltava para mais meia-hora/uma hora de encores. Aquilo nunca mais acabava! 
No sábado não acabei de te contar a minha "história" sobre este concerto: há mais ou menos 4 anos fiquei apanhadinho pela música do tio Bruce e por acaso dei com este concerto. Foi daquelas coisas que mudou a minha vida. Durante 2 anos, esteve em constante repeat no meu carro e arrisco dizer que foi o álbum que mais ouvi (de sempre) no meu carro! Ok, eu tenho um uso muito fácil de superlativos, mas é verdade! Mudou a minha vida! Por isso, quando te gravei o CD, foi como se de uma "entrega" de algo importante e pessoal se tratasse. Agora que já foste apanhada também pela mística do tio Bruce, achei que estavas preparada para ouvir isto! 
E pronto, já tens aí tudo o que precisas para saber tudo do tio Bruce. O trabalho não me deixou enviar isto mais cedo, mas ainda vais bem a tempo!
Desejo-te um bom concerto e, uma vez que vais incentivada por mim, espero que gostes! 
Beijinhos,
Nuno"
Ai, ai, ai, Nuno. Que tontinho. O concerto do Bruce foi espectacular, como é óbvio. O retomar da má ideia é que foi um desastre. O que vale foi que a seguir a uma série de desastres, que culminaram num acidente de automóvel em Setembro desse ano, deu-se início à caminhada que me iria levar para a terra prometida.

5. THE PROMISED LAND


A continuação da história está contada aqui (por escrito) e aqui (na rádio). O caminho para a terra prometida continua. Sempre ao som do Bruce.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Freddie Mercury — "Love Me Like There's No Tomorrow" (2019 Remix)

"Anything can happen but we only have one more day together"


Mesmo a tempo dos festejos do seu aniversário, foi anunciada a nova colectânea de Freddie Mercury — "Never Boring" —, a qual vai ser lançada em duas versões: uma compilação que reúne os temas mais conhecidos da carreira a solo (incluindo a recente remistura de "Time") e uma caixa que junta esta compilação, às versões revisitadas dos dois álbuns que perfazem a sua discografia a solo ("Mr. Bad Guy" de 1985 e "Barcelona" de 1988), mais um DVD e um Blu-Ray com vídeos. O nome do projecto é retirado do famoso pedido que Freddie Mercury fez a Jim Beach, manager dos Queen, quando o nomeou o seu executor testamentário e representante legal na banda: "Do whatever you want with my music, just never make me boring". Foi um pedido que nem sempre foi satisfeito, mas certamente que tal não foi por falta de vontade do Jim Beach.

Os Queen, os verdadeiros, foram votados ao esquecimento pelo Dr. Brian May e pelo Sr. Roger Taylor, uma vez que estão demasiado ocupados a viver o sonho Americano com o Adam Lambert, nas asas do sucesso do filme "Bohemian Rhapsody". Já vamos assim para o segundo ano consecutivo sem um lançamento de arquivo dos Queen. O cenário é ainda mais desanimador, se pensarmos que o último produto verdadeiramente interessante já remonta a 2014 — as caixas do "Live At The Rainbow" — e que este ano tinha sido cogitado o lançamento da caixa de "Live Killers", que iria reunir vários concertos em audio / video da segunda metade dos anos 70.

Se no ano passado havia a desculpa do filme, que estava a canalizar todas as atenções da máquina dos Queen — a Queen Productions Limited (QPL) —, este ano a única explicação é mesmo o completo desinteresse de Brian e Roger pela sua própria banda. O Conselho de Estado da QPL é neste momento formado por Brian May, Roger Taylor, John Deacon e Jim Beach, que representa Freddie Mercury. O voto do John é favorável por defeito; ele tem poder de veto, mas raramente se opõe às decisões dos colegas (até porque continua a receber). O voto do Roger é, por defeito, o que quer que o Brian quiser. E o voto do Jim é, por respeito, também favorável à decisão do Brian.

Como já perceberam, esta estrutura significa que, na prática, quem manda nos Queen é o Dr. Brian May. Por isso, sempre que ele tem uma ideia para um novo lançamento dos Queen, essa ideia é executada se e só se for à sua maneira. Às vezes isto resulta bem ("Made In Heaven", "Live At The Rainbow"), outras vezes nem por isso ("News Of The World 40th", "Queen Forever"). Se ele não tem ideia nenhuma, nada se pode fazer com o nome dos Queen na habitual janela de lançamentos do Natal. O problema é que a editora paga à Queen Productions Limited a peso de ouro para lançar os seus produtos e se não há produtos, há um problema. E é aqui que Jim Beach levanta a mão para falar no Conselho de Estado dos Queen — "Então e se voltássemos a lançar os álbuns a solo do Freddie?". E é assim que nasce "Never Boring". O Jim Beach faz o que pode para carregar, agora sozinho, a tocha do Freddie.



O catálogo a solo de Freddie Mercury já foi revisitado e largamente explorado desde a sua morte. A caixa de 12 discos "The Solo Collection", lançada em 2000, é um documento exaustivo da sua carreira que, na prática, contou apenas com 2 álbuns. Nesta caixa, os álbuns aparecem nas suas versões originais.
Desde então, "Barcelona" foi revisitado em 2012 e totalmente regravado com uma orquestra real, uma vez que o álbum original tinha usado sintetizadores para recriar as orquestrações.
Se viram o filme "Bohemian Rhapsody", reconhecerão "Mr. Bad Guy" como o álbum a solo de Freddie que separou os Queen e correu muito mal. Se a parte dramática da separação da banda foi largamente inventada no filme, o álbum correu mesmo muito mal. É de longe a pior coisa que o Freddie fez em toda a sua carreira. Desde a sua morte, a maior parte das faixas deste álbum já foram revisitadas: para a compilação "The Freddie Mercury Album" (1992) foram remisturados "Foolin' Around" e "Your Kind Of Lover" por Steve Brown, "Let's Turn It On" e "My Love Is Dangerous" por Jeff Lord-Alge, "Mr. Bad Guy" por Brian Malouf e "Living on My Own" por Julian Raymond; "Made in Heaven" e "I Was Born to Love You" foram regravados pelos Queen para o álbum "Made In Heaven" em 1995; "There Must Be More to Life Than This", que originalmente havia sido gravado em dueto com Michael Jackson, foi (mal) reconstruído para a compilação "Queen Forever" em 2014. Tirando este último, surpreendentemente mal executado pelos Queen, todas as remisturas e regravações são superiores aos originais.

O álbum "Mr. Bad Guy" é de facto a ovelha negra do portfolio de Freddie Mercury. Nisto, é preciso dar razão ao Dr. Brian May, quando este pintou o disco como um enorme falhanço comercial e artístico no filme do ano passado. Não há nenhum problema com a composição de Freddie e muito menos com a sua voz, mas há sim um enorme problema com os arranjos, instrumentação e produção. O Freddie precisava mesmo de uma voz que lhe dissesse que "não". Ok Brian, tinhas razão.

É por isso com agrado que vejo que finalmente "Mr. Bad Guy" será totalmente revisitado em 2019 para inclusão na caixa de "Never Boring" (e será lançado em separado também como "Special Edition"). Juntando a versão de 2019 de "Mr. Bad Guy" e a versão de 2012 de "Barcelona", a caixa "Never Boring" torna-se assim complementar à já referida "The Solo Collection" de 2000, o que vai obrigar os fãs (onde me incluo, obviamente) a levá-la para a sua colecção.

Ouvindo a nova versão "Love Me Like There's No Tomorrow", um dos temas que ainda não tinha sido revisitado antes (o outro é "Man Made Paradise"), parece que se levanta um véu na paisagem sonora e agora a voz de Freddie é muito mais clara. O piano foi puxado para a frente da mistura e pela primeira vez, não parece que Freddie está a cantar noutra sala.

É curioso que ninguém se tivesse lembrado de pegar ainda em "Love Me Like There's No Tomorrow", um dos seus temas mais sinceros, profundos e ultra-pessoais. Freddie disse um dia que gostava de escrever canções sobre o que sentia e o que sentia com muita muita força eram as emoções e o amor. Este é dos casos mais flagrantes disso mesmo. Freddie canta sobre o drama da última noite, da noite de despedida, antes da inevitável separação. É uma separação cuja força ele sente ser maior que ele, mas que não inviabiliza o o despejo do depósito das emoções e dos amor, enquanto há tempo. Como se não houvesse amanhã.