terça-feira, 21 de abril de 2020

10 Álbuns que influenciaram o meu gosto musical: #1 David Bowie - "Low" (1977)

«Escolher 10 álbuns que influenciaram o meu gosto musical. Um álbum por dia durante 10 dias consecutivos. Sem ordem cronológica, sem explicaç... 

Ah fuck it. Claro que tem que haver explicações, senão what’s the fucking point?
Bem. Depois de ter sido nomeado 3 vezes para entrar nesta corrente do Facebook, vou aceitar o desafio. Mas como isto é Rock’n’Roll, you gotta break the rules, e por isso, sim, vai haver explicações, não, não vão ser só capas de álbuns e não, não vou nomear mais ninguém. The madness stops here.
Também não vai ser só no Facebook. Vou aproveitar para fazer uma coisa que não faço há muito tempo, que é escrever no meu blog. No blog que começou tudo há 10 anos (o banner também está actualizado) e que entretanto foi esquecido para dar lugar a outros projectos. Mas como dizia o David, "where you start is where you end" e por isso aqui estou de volta. Vamos a isto.

Notem que "10 álbuns que influenciaram o meu gosto musical" não são os meus 10 álbuns preferidos, nem os 10 melhores álbuns de sempre. São os álbuns que, errh, influenciaram o meu gosto musical. Agora sim, bora.

#1. David Bowie — "Low" (1977)


Começamos então com “Low”, um álbum absolutamente pivotal na minha vida. Foi um disco que entrou na minha vida, como sempre acontece com a música, no momento certo. Estava saturado do meu quotidiano day-in-day-out (pun intended) de casa-trabalho-casa, recentemente fora de uma longa relação e a precisar desesperadamente de descarrilar, em nome da minha sanidade mental. Parece paradoxal, eu sei. Mas a fazer aquela vida certinha, eu sentia que eu não era eu. Sentia a necessidade de olhar para o abismo.

Não, esperem aí. Esse álbum foi o “Station To Station”. Pois. É um tópico para outro dia. Esse também poderia perfeitamente figurar aqui. Mas em vez da masterpiece cocainada do Bowie, decidi em favor do “Low”, o álbum concebido na ressaca desse mesmo ‘high’ (mais um pun intended) e que entrou na minha vida quando ela entrou em paralelo à vida do Bowie (menos a cocaína, atenção).

A influência do Bowie, e do "Low" em particular, foi tal, que às tantas fiquei obcecado com a ideia de emigrar para Berlim, para 'renascer' tal como Bowie fizera em 1977. Mas isto não foi uma daquelas conversas que nascem com um copo de whiskey na mão. Não. Eu fui mesmo ter aulas de alemão e ao fim de 6 meses apanhei um voo para Berlim, onde estive sozinho durante duas semanas para apanhar o ar da cidade. Era Fevereiro e por isso apanhei um ar bastante frio. Demasiado frio para quem só tinha levado t-shirts e um casaco de cabedal, com quem entretanto estabeleci uma ligação metafísica que na altura descrevia como "uma extensão do meu corpo". Mas divago.

A epifania de "Low" estava na certeza da validade da reinvenção, da regeneração do indivíduo. Eu podia perfeitamente não ser aquilo que estava predestinado para mim. Não precisava de ser o certinho. Percebi que o sucesso não era (nem podia ser) uma prisão, tal como o David Bowie não precisou de continuar a ser o Ziggy para continuar a ter sucesso. Percebi que não precisava de ser igual aos outros nem igual a nenhum modelo, tal como o Bowie deixou de ser o Ziggy e passou a ser o Thin White Duke e depois deixou de ser o Thin White Duke para passar a ser só o David Bowie e em nenhuma das iterações foi igual a mais ninguém. A semente do "Low" cresceu 'high' (mais um pun, estou on fire).

O "Low" é conhecido academicamente por ter sido o primeiro álbum de Rock 'alternativo', uma vez que o Bowie bebeu as influências alemãs do Krautrock e foi o primeiro artista mainstream ocidental a fundir a electrónica com o Rock. Eu não sou propriamente um gajo do dubstep e do minimal (correntes electrónicas vigentes em Berlim no momento), mas imaginem, o meu álbum preferido do David Bowie é o "Low". E foi o vinil que ouvi mais vezes na vida. Muitas garrafas de Jameson foram despejadas ao som "Always Crashing In The Same Car", a discutir geopolítica e geoestratégia económica e sentimental.

Para ilustrar este life-changing album, ficam uma foto com a minha colecção do "Low".
Em cima, à esquerda, o tal disco que terraplanei de tanto ouvir nas sextas-feiras à noite. Uma 1st UK pressing de orange label, que comprei por 7 euros e meio numa pawn shop em Bruxelas, imaginem. Na altura estava impecável, hoje nem tanto. E por isso mesmo, à direita está uma back-up copy da mesma primeira prensagem UK que só ouvi uma vez, mas que comprei porque nunca se sabe, não posso correr o risco de não ter um "Low" à mão se me apetecer encher um copo com Jameson. Continuo a ouvir a cópia terraplanada porque tem resquícios de Jameson nos grooves e acho que isso dá uma dimensão de realismo tridimensional ao álbum. Ah e a back-up copy ainda tem o panfleto para aderir ao fan club do David Bowie em 1977. Não mandei porque achei que já era capaz de ser um pouco tarde para isso.
No meio, à esquerda, está a minha primeira cópia do "Low" em CD — a remaster de 1991 da EMI, com 3 faixas bónus também essenciais. À direita está aquele que foi provavelmente o CD mais caro que já comprei — a primeira prensagem do "Low" em CD, lançada na Alemanha Ocidental em 1984.
Em baixo, à esquerda, a remaster da RCA International de 1981 de green label que, curiosamente, tem sido a minha versão go-to nos últimos tempos. Tem um soundstage mais amplo e maior claridade, faltando aquela sujidade da orange label de 1977. Mas a verdade é que ultimamente tenho ouvido o álbum sóbrio. Deve ser isso.

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