domingo, 1 de setembro de 2013

The Beatles - "Back In U.S.S.R."

"You don't know how lucky you are, boy"




Esqueçam as compilações com os maiores êxitos, esqueçam as colectâneas, esqueçam o Álbum Vermelho ("1962-1966"), esqueçam o Álbum Azul ("1967-1970"). Se quiserem saber porque os The Beatles foram mesmo importantes, então o que querem ouvir é o Álbum Branco ("The Beatles").

"The Beatles" é um monumento. É o castelo de pedra, em cima do monte majestoso que é a discografia da banda. É um castelo construído em pedra maciça, pesada. As pedras são as canções, 30 no total. 30 temas que mostram o bom, o mau e o feio dos The Beatles.
As compilações podem mostrar porque os Beatles foram grandes, mas não mostram o porquê de terem sido os mais importantes.



O álbum homónimo dos The Beatles é vulgarmente conhecido como White Album ou, em português, o Álbum Branco. É um álbum duplo, lançado em 1968 e que não inclui muitos mega-êxitos; esses foram, propositadamente, deixados de fora do álbum - falo de "Hey Jude" e "Revolution" (a versão pesada do tema).
Curiosamente, o grande êxito que foi, de facto, incluído no álbum, é um dos temas mais fracos do lote: "Ob-La-Di Ob-La-Da" - um tema-paródia cujo interesse eu considero ser pouco superior ao de "Yellow Submarine". (não era difícil)

O que resta do álbum... Bem, o que resta é um cardápio ilustrado da importância dos The Beatles na música Rock feita desde então; é um autêntico catálogo de tudo, ou quase tudo, o que se pode fazer no Rock.
Estamos em 1968 e, logo aqui, os The Beatles deixaram muito pouco para inventar. Não que eles tenham inventado alguma coisa no vácuo. Nada disso. Mas tiveram o condão de ir beber aqui e ali, a tudo o que de novo se experimentava na época (estamos nos anos 60 e a palavra-chave é precisamente esta: experimentar), somar essas influências ao seu único sentido melódico e usar o veículo dos The Beatles - na altura, uma das entidades com maior visibilidade no Mundo (lembrem-se do "bigger than Jesus" de John Lennon) - para as espalhar por toda a parte.
De repente, milhões de miúdos foram expostos ao Heavy Metal de "Helter Skelter" (e isso não fez muito bem a alguns deles, veja-se o Charles Manson), ao Avant-Garde de "Revolution #9" (escusado, John, escusado...), ao Country Rock de "Rocky Racoon", ao British Hall de "Honey Pie", bem como a um pouco de todos os géneros que os Beatles já tinham experimentado anteriormente.
Em cima deste bolo, temos ainda a cereja trazida por Eric Clapton, a fazer a estreia de um non Beatle num disco da banda, em "While My Guitar Gently Weeps" - o meu tema preferido dos The Beatles.

Como vimos, a grande novidade que a banda introduziu em "The Beatles" e que é a palavra-chave deste álbum é diversidade. Mas será que esta é a grande valência do White Album? Negativo.
A grande valência de "The Beatles" são as melodias; umas atrás das outras, são descarregadas sobre o ouvinte como uma torrente.
Recordo que este é um álbum duplo, com 30 temas e todos eles com o seu interesse. Até o "Revolution #9" é interessante, só que não o é no âmbito musical.

"The Beatles" é rico devido à sua diversidade, mas é maravilhoso devido à qualidade individual das suas canções. Nem todas são apostas ganhadoras, é preciso dizê-lo. Já referi o escusado (ou deverei dizer Yokonizado?) "Revolution #9", há a parvoíce de "Why Don't We Do It In The Road?" (o tema mais gráfico da banda, que curiosamente não deu polémica alguma) e há também "Don't Pass Me By" - o inevitável rebuçado que deram ao Ringo (bem que podiam tê-lo ajudado a escrever algo melhor). Mas mesmo estas são apostas feitas conscientemente; eles sabiam os riscos que corriam, mas lavaram as mãos e não se importaram com isso em favor da... diversidade.

White Album faz parte da minha banda sonora do Verão, já desde 2008 que assim é. Há qualquer coisa no gesto de ligar a ignição do carro, quando estou debaixo de um sol que, num céu aberto, parece querer torrar o volante, que me induz a pôr "Back In The U.S.S.R." em volume máximo.
"Back In The U.S.S.R." é um tema escrito por Paul McCartney (mas creditado à parceria Lennon-McCartney) , que prova que Paul pode não ser o mais convincente dos roqueiros (era ele o cute Beatle), mas consegue ser um dos melhores. O tema causou na época alguma controvérsia uma vez que, em plena guerra fria, Paul parecia cantar "I'm backin' the U.S.S.R.". A verdade é que os Beatles não queriam tomar lados nesta guerra e a fazê-lo, não seria com certeza o americano, até porque os mercados (na altura barrados) do leste eram muito apetecíveis.

O avião que introduz "Back In The U.S.S.R." (uma das melhores introduções de sempre para um tema) dá o pontapé de saída para o monstro que é o White Album. Curiosamente, o álbum surge numa altura em que a banda já andava às avessas, tendo mesmo levado à saída de Ringo Starr (mas só por umas semanas). Com isto, muitos dos temas foram gravados pelos vários membros da banda, literalmente a solo; com John, Paul e George a gravarem, ao mesmo tempo, temas diferentes, em salas diferentes do mesmo estúdio.
O resultado é que "The Beatles" pode ser visto como o somatório de vários álbuns a solo dos vários Beatles. Contudo, a verdade é que tudo o que aqui ouvimos tem o filtro, os instrumentos e o sentido melódico dos The Beatles; E isso não é de somenos, como se veria uns anos mais tarde, em alguns trabalhos verdadeiramente a solo dos vários Beatles, quando estavam rodeados epanas de yes men.

White Album é o meu álbum de eleição dos Beatles.
No dia em que forem obrigados a escolher um álbum dos The Beatles para levar para uma ilha deserta, esqueçam as colectâneas, esqueçam o Álbum Vermelho, esqueçam o Álbum Azul. Levem o Álbum Branco.

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