segunda-feira, 15 de julho de 2013

Tears For Fears - "Secret World"

"You and I have a secret world and we can keep it unfurled"


Porque hoje estou especialmente bem disposto, trago-vos um pouco do meu álbum preferido dos "anos 00". Sim, arrisco logo à partida tal louco epíteto. Não digo que é "o melhor" (esse exercício é extremamente subjectivo e terá que ficar para outra altura), muito menos direi que é o mais inovador e ainda menos o mais influente; mas é definitivamente o meu preferido.

Porque são os Tears For Fears e porque todos gostamos de um final feliz.
"Everybody Loves A Happy Ending" é o título que assenta como uma luva ao álbum da reconciliação dos Tears For Fears. Foram precisos 10 anos para que os elementos do core dos TFF voltassem a falar. A separação que seguiu a digressão de "The Seeds Of Love" foi feia, complicada. Complicada como fora todo o processo de gestação deste álbum.
Em 2000, as burocracias relativas àquela que ainda era "a banda" de ambos levaram a que Curt Smith e Roland Orzabal restabelecessem contacto. Nesta altura, Curt já levava 10 anos de (uma modesta) carreira a solo e Roland já tinha deixado de trabalhar a solo debaixo do nome da banda, lançando no ano seguinte o seu único álbum em nome próprio: "Tomcats Screaming Outside".

O encontro de Curt e Roland em 2000 foi um momento estranho, desconfortável. Sob o repto de Orzabal, cujo agente sugerira ao de Smith a possibilidade de uma reunião, Curt voou para Bath (onde Roland ainda vivia e vive) e aí se reuniram para jantar. Foi um reencontro incómodo, como se de um casal divorciado se tratasse.
Em tempos idos, esse casal fora feliz e mais próximas estavam as memórias dos conflitos entre ambos. Mas 10 anos volvidos, já nem os ressabiamentos dos conflitos estavam presentes na sala. Apenas estava uma amálgama de memórias, algumas boas, outras más e estavam duas pessoas que juntas, chegaram a conquistar o Mundo.

Depois de 10 minutos de constrangimento, as histórias dos dias em que o Mundo era deles começaram a voar sobre a mesa e, como sempre deveria acontecer, a força da amizade atropelou o que restava dos ressentimentos. Curt e Roland decidiram gravar um novo álbum juntos e em menos de 6 meses já tinham 14 novos temas escritos.

O processo de gestação de "Happy Ending" foi mais suave que o de "Seeds", mas nem por isso foi remotamente fácil. O álbum foi terminado em 2003, quase 3 anos (!!!) depois do início das gravações, e tinha lançamento previsto para esse ano, mas a saída da banda da editora Arista começou um longo e penoso período de espera para os fãs (onde eu me incluía), que ansiavam pelo infame álbum de reunião dos TFF.


"Everybody Loves A Happy Ending" acabaria por ser lançado em 2004 nos EUA e apenas em 2005 na Europa, altura em que eu (finalmente) lhe pus as mãos. Lembro-me como se fosse hoje daquele início de tarde na Fnac do Colombo, depois de um qualquer exame na faculdade. As primeiras audições do álbum foram uma viagem de descoberta. Uma viagem num balão de ar quente (como no vídeo do 1º single "Closest Thing To Heaven"), às vezes de dia ("Call Me Mellow"), às vezes de noite ("The Devil") carregada de vivas e coloridas imagens ("Who Killed Tangerine?").

Todo o álbum é um exercício de catarse, à boa maneira dos Tears For Fears. É da dor que saem os seus melhores trabalhos. Foi assim que nasceram "The Hurting" e "Songs From The Big Chair" (os 2 primeiros álbuns), à custa da dolorosa infância de Curt e Roland; foi assim com "The Seeds Of Love", que levou 2 anos e mais 1 Milhão de libras para gravar; foi assim com "Raoul And The Kings Of Spain", quando Roland se debatia com a dificuldade de manobrar a pesada máquina dos TFF sozinho.
"Happy Ending" é um álbum diferente de todos os anteriores. Desta feita, da dor resulta um arco-íris. Um produto de redenção.

"Secret World" é um exemplo desta redenção. Para dar a "Secret World" o cariz épico que procuravam, os Tears For Fears foram buscar uma orquestra dirigida pelo lendário Paul Buckmaster, "o homem" dos arranjos orquestrais de Elton John.
"You and I have a secret world and we can keep it unfurled"
"Eu e tu temos um mundo secreto e podemos mantê-lo à vista de todos". Ou a história de duas pessoas que encontraram em si uma zona de conforto para continuar a mostrar ao mundo o seu mundo secreto. Ou a continuação da história de Curt Smith e Roland Orzabal.

Curt e Roland voltaram a gravar e esperam-se novidades para este ano. Felizmente, "o final feliz" de "Everybody Loves A Happy Ending" ainda não foi o final dos Tears For Fears.

1 comentário:

Let the music do the talking.