"Love has left you dreamless. The door to dreams was closed."
Perdido entre a ressaca do sucesso de "The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars" e a teatralidade de "Diamond Dogs", o álbum "Aladdin Sane" aparece como uma espécie de filho bastardo de Ziggy Stardust. Uma compilação desconexa de temas sobre decadência, o álbum revela (como normalmente acontece) o momento que David Bowie viva na altura.
"Ziggy goes to America", foi como Bowie descreveu "Aladdin Sane".
"Aladdin Sane" é, de facto, o outro álbum de Ziggy Stardust. Mas quem daqui concluir que "Aladdin Sane" não tem motivos de interesse, não pode estar mais longe da verdade.
David Bowie introduzira este personagem ao Mundo em Julho de 1972, com "The Rise And Fall Of Ziggy Stardust" (chamemo-lo apenas "Ziggy Stardust" a partir de agora...) e este trabalho elevara-o ao estatuto de super-estrela internacional. A digressão americana que se seguiu, serviu de inspiração para grande parte da escrita de "Aladdin Sane".
"All I had to give was the guilt for dreaming."
Experimentando um estilo de vida hedonístico, onde o álcool, as drogas e o sexo fácil eram partes do quotidiano, a personalidade absorvente de David Bowie dissolvia-se dia após dia naquela espiral decadente.
Enquanto tal acontecia, Bowie ia escrevendo canções, desenvolvendo uma fixação na cultura americana; canções que resultariam em "Aladdin Sane", lançado em Julho de 1973. Estas canções não formavam uma história, nem seguiam uma linha condutora, como em "Ziggy Stardust". Eram apenas páginas soltas de uma vida agarrada ao ponto mais alto do céu, enquanto batia no fundo do poço.
"Strung out on heaven's high, hitting an all time low", escreveria Bowie no autobiográfico "Ashes To Ashes", uns anos mais tarde.
Neste sentido, "Aladdin Sane" é um álbum que, no meio da sua esquizofrenia e falta de fio condutor, resulta pela força individual dos temas que o compõem. E aqui, olhando para os temas individualmente, arrisco dizer que não fica a dever nada ao seu antecessor.
"Time - He's waiting in the wings, he speaks of senseless things... His script is you and me"
O meu momento preferido de "Aladdin Sane" surge no início do Lado B. "Time" foi escrito por David Bowie em Nova Orleães, Novembro de 1972, durante a já referida digressão de Ziggy Stardust pelos EUA.
O tema foi descrito pela crítica como uma peça burlesca e comparada à música de cabaret de Jacques Brel. Tal como o álbum onde aparece, "Time" dividiu as opiniões, entre os que aclamavam a nova abordagem erudita de Bowie e o melodramatismo do tema e os que achavam que Bowie se devia cingir ao Rock. Como a história se encarregaria de provar, Bowie fez muito bem em nunca se cingir a qualquer estilo definido e os seus melhores trabalhos resultariam sempre das fusões musicais nascidas na sua cabeça.
O nome do álbum é um trocadilho com "A lad insane", referindo-se obviamente ao próprio David Bowie. Embora "Aladdin Sane" possa ser visto como um novo personagem, tendo em conta a sugestiva pintura facial que Bowie apresenta na capa, Aladdin não é mais que um desenvolvimento de Ziggy Stardust. Mesmo a digressão de promoção a "Aladdin Sane" foi apenas a continuação do espectáculo de Ziggy Stardust, acompanhado dos Spiders From Mars.
No fim da digressão, num concerto no lendário Hammersmith Odeon a 3 de Julho de 1973, David Bowie matou Ziggy Stardust e seguiu em frente com a sua vida e a sua carreira.
David Bowie ressuscitaria David Bowie uma última vez no Marquee, em Outubro de 1973, curiosamente para interpretar "Time", numa actuação para a televisão:
É daqueles cantores que tenho de ouvir melhor. Conheço algumas músicas, as mais conhecidas e pouco mais.
ResponderEliminarAproveitei para ler os teus outros posts sobre ele ;)
David Bowie é um verdadeiro filão, um pouco como o Bruce Springsteen, mas maior ainda! Isto porque o Bruce demorava bastante tempo para lançar álbuns novos nos seus anos dourados (as razões já as expliquei aqui ;) ), mas o David Bowie era exactamente o oposto - estava sempre a lançar música nova.
EliminarEm contrapartida, o Bowie retirou-se no início dos anos 00 e o Bruce lá vai continuando connosco, para grande alegria nossa :) Por falar nisso, ele está neste momento a marcar as datas para uma digressão europeia no próximo ano (YEEEAAHHH!!! :P ), por isso cruza os dedos para um concerto em Portugal. Cruza os dedos e/ou inunda as caixas de mail da Música no Coração, Everything Is New e Ritmos e Blues, para cá trazerem o Boss, de preferência em nome próprio, para uma daquelas maratonas de 4 horas!!! Se forem idiotas ao ponto de não o fazerem, então lá terei que fazer as malas para Espanha :P
Bem, voltando ao Bowie! Ele fez tanta, TANTA coisa e TÃO distinta no seu período áureo, que é difícil dizer por onde começar. Na minha opinião, ele tem um "lote dourado", que deve servir como ponto de partida para todas as suas fases mais importantes:
"The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars"
"Station To Station"
"Low"
O "Ziggy" serve de ponto de partida para a fase mais Glam Rock, com incursões no Heavy/Spacey/Psicadélico, onde não nos podemos esquecer do "Hunky Dory", ou do "Aladdin Sane".
O "Station To Station" será, talvez, a sua obra mais "global" e é um ponto de partida não só para a fase "fusão" (com um pé na estação do Rock e um pé na estação da Eletrónica, como eu metaforizei algures num post sobre este álbum :P ), como também para tudo o que Bowie foi fazendo mais tarde na sua carreira. Um artista completo, sempre com sede de experimentar coisas novas e fundir géneros aparentemente contrastantes.
O "Low" é talvez a obra mais importante de toda a carreira de Bowie e um marco pivotal nos anos 70. É a primeira vez que um artista Rock mainstream vai ao fundo das caves da Eletrónica e traz um álbum que é uma bomba. Eu só posso imaginar a reacção de perplexidade dos fãs de Bowie "Ziggy Stardust", quando ouviram isto pela primeira vez. Um autêntico pontapé na porta. Prometo um post sobre o "Low" MUITO brevemente!! :)
AHHHHHHHHHHHHHH! O BOSS EM 2013! Yes, please!!!!!!! :P
EliminarPorra, espero bem que venha! Depois do RiR, de certeza que alguma promotora se chega à frente para o trazer. Podendo, vejo-o cá e em Espanha. Com ele tem de se perder o amor ao dinheiro :P
Estes cotas faziam/fazem música que se desunhavam :P tenho muito com que me entreter então, quando investir do David Bowie :) obrg pelas dicas, mais uma vez! ;)