"My need is such, I pretend too much. I'm lonely but no one can tell"
"I don't like to write message songs, like John Lennon or Stevie Wonder. I like to write songs about what I feel and what I feel about, very strongly, is love and emotion."
King Mercury
Acabei de assistir ao novo documentário sobre a vida e a música do Rei - Freddie Mercury, apropriadamente baptizado de "Freddie Mercury: The Great Pretender". O documentário foi realizado este ano por Rhys Thomas, para a BBC e foi recentemente lançado em DVD e Blu-Ray.
Eu vi a versão completa do Blu-Ray, de 107 minutos e que dizer...? O único problema destes documentários é que acabam sempre em tragédia... Foi uma hora e meia de carpidura a baba e ranho.
Não sou de chorar em filmes, mas é porem-me a ver uma biografia dos Queen, ou do Freddie Mercury e logo vêem como é...
Disse que o documentário foi apropriadamente chamado de "Freddie Mercury: The Great Pretender". Apropriadamente, porque foi exactamente assim que Freddie viveu: fingindo.
Mas não é isso que todos fazemos, até um determinado nível, nas nossas vidas? Até a mais genuína das pessoas é obrigada a fingir, ou foi obrigada nalgum dia, ou nalgum aspecto da sua vida. Seja para se sentir inserida na sociedade, para agradar a alguém, para cumprir um desafio.
Parte da nossa vida é feita a fingir.
Fingir que somos mais fortes. Fingir que somos mais divertidos. Fingir que somos mais dinâmicos.
Para chegarmos onde queremos, somos muitas vezes obrigados a usar uma máscara e ser aquilo que não somos. A vida é isto mesmo.
"Too real is this feeling of make-believe
Too real when I feel what my heart can't conceal"
Isto tinha especial relevância para Freddie Mercury, um homem que usava em palco a máscara de macho dominante, mas que não se traduzia na realidade. Segundo o próprio, Freddie considerava-se uma "pessoa aborrecida" na vida privada, quando despia a sua persona de artista. No entanto, com esta vestida, Freddie era uma força da natureza: uma voz divina aliada a uma presença em palco como nunca se tinha visto e nunca se voltou a ver.
Ao longo do documentário, Freddie aparece várias vezes em discurso directo sobre a sua personalidade, a sua maneira de estar e as suas fraquezas.
Freddie era uma pessoa frágil. A sua persona artística era uma máscara que o protegia disso mesmo. Ao elevar-se ao patamar de estrela Rock inacessível, Freddie guardava uma distância de segurança em relação às pessoas. A páginas tantas, Freddie refere-se à dificuldade que tem em encontrar alguém que o compreenda:
"People have a hard time to accept me as a normal person."
"I'd like to share my life with someone, but nobody wants to share their life with me"
"The more I open up, the more I get hurt. I'm riddled with scars and I just don't want anymore."
Freddie formulara a sua persona para se distanciar de quem o magoara, mas no fim de contas, a sua persona alienava as outras pessoas da sua verdadeira maneira de estar, por vezes mais calma e até "aborrecida". Freddie atara um novelo paradoxal com a sua personalidade e a única forma de fugir a isso seria, uma vez mais, fingindo.
"Oh yes, I'm the great pretender, pretending I'm doing well"
Como mostrar o apreço por alguém sem o fazer de maneira exagerada? Como mimar alguém, sem assustar? Qual a medida certa? Eu nunca soube, Freddie também não.
Como ultrapassar isto? Fingindo.
"I seem to be what I'm not, you see!"
"The Great Pretender" é por isso um tema que encaixa que nem uma luva em Freddie Mercury. É um tema escrito por Buck Ram, para os The Platters, originalmente lançado em 1955. Foi o primeiro e único cover lançado por Freddie Mercury ao longo da sua carreira, algo que, segundo o próprio diz no documentário, ele sempre quisera fazer, mas que seria impossível nos Queen.
A interpretação de Freddie foi um sucesso (chegou a nº 4 nas tabelas britânicas) que ainda hoje é tocado nas rádios, sendo muito mais reconhecida que a versão original.
O documentário é obrigatório para quem gosta dos Queen, especialmente para quem, como eu, tem grande admiração por Freddie Mercury. Depois do meu Pai, o meu ídolo de sempre.
Este teu post de tão verdadeiro e honesto, torna-se incómodo. Quem é que gosta de admitir que tem inseguranças? Quem é que gosta de se sentir vulnerável e em posição de ser rejeitado pelos outros?...
ResponderEliminarSe fossemos sempre nós próprios, em qualquer situação ou circunstância da vida, quantas pessoas continuariam a querer-nos na vida delas? Claro que não digo sermos uns fingidos pela vida fora mas mesmo só o sendo em pequena escala, como dizes, mesmo assim há algo em nós que sabe que a autenticidade pode afastar os outros... E depois andamos todos nisto: escondemos isto e aquilo em nós, as outras pessoas idem e no final de contas gostamos de quem afinal? Se nem conhecemos realmente a pessoa... O "Lado Lunar" do Rui Veloso é uma música brilhante por isto tudo.
E é interessante isso que o Freddie Mercury diz: "The more I open up, the more I get hurt. I'm riddled with scars and I just don't want anymore." Por um lado quanto mais velhos vamos ficando, mais fechados nos tornamos. Mais cínicos, mais cautelosos, mais escaldados... Mas por outro lado menos nos ralamos com a opinião dos outros e em agradá-los. A percepção que têm de nós parece que conta cada vez menos. Não gostam, azar. Se bem que se for a pensar, conheço pessoas irascíveis, daquelas que ninguém simpatiza com elas e se há uma parte de mim que pensa que simplesmente são seguras de si e daí não fazerem favores a ninguém fingindo-se simpáticas, por outro lado se calhar também aquilo é uma defesa para afastar os outros, assim nunca estão em risco de serem vulneráveis (e então aí são tão inseguras quanto as que se desdobram em simpatias...).
Essa tua dúvida sobre qual a medida certa da intensidade, boa pergunta... também nunca tive grande resposta.
Antes de dar com o teu blog, a ideia que tinha do grande Freddie Mercury é que tinha uma personalidade muito forte e era alguém muito confiante e seguro de si. Depois apercebi-me que estava enganada e até faz sentido essa contradição nele: às vezes as pessoas que parecem mais confiantes são as mais inseguras...
Eu devo ter ouvido mais vezes a versão original que a do Freddie porque é daquelas músicas que fez parte da minha infância e adolescência. A minha mãe teve um restaurante e passavam-na muitas vezes como música ambiente :) foi assim que conheci muito do Frank Sinatra e outros cantores bem old school lol
É isso tudo, Rita. No post, já disse muito e talvez terei dito até demais, daí o incómodo que possa causar ao leitor. Enfim, é fina a linha entre as reflexões que eu acho que devo publicar e que não devo e é uma linha que dança conforme os dias.
EliminarA conclusão é que as fronteiras da autenticidade e do fingimento são um assunto delicado e muito nebuloso. Como disseste, às vezes até incómodo.