"Don't be low, keep your own style and catch your train!"
A saída de Uli Jon Roth dos Scorpions, no final de 1978, marcou um ponto de viragem para a banda, o ponto em que se aproximou da sua sonoridade mais reconhecida.
Para trás, ficara uma década de metal ao mais alto nível, no mais pesado registo e um espólio de álbuns de enorme relevância no género. O meu álbum preferido desta fase é "Virgin Killer", lançado em 1976.
Seguindo o exemplo de "In Trance" e talvez alienados pelo estilo de vida de excessos que seguiam (para terem uma ideia, os Scorpions tinham acabado de andar em digressão com os Kiss), a banda decidiu lançar "Virgin Killer" com uma capa de álbum muitíssimo arrojada:
A ideia nem sequer partiu de nenhum dos membros da banda, mas sim da RCA - editora discográfica dos Scorpions na época - que queria gerar maior atenção à volta da banda. O objectivo foi cumprido, mas o problema é que, desta vez, muitos acharam que os Scorpions tinham ido longe demais. De tal forma que a capa acabou banida na maioria dos países onde o álbum foi lançado, sendo substituída por esta:
Para mim, é muito difícil avaliar o impacto que uma imagem destas teria nos anos 70, mas partindo do princípio que ela ainda hoje é censurada em vários sites na internet (incluindo, durante um período de tempo, na Wikipedia), imagino o choque que deve ter provocado na altura. Na minha opinião, trata-se de uma obra de arte, onde não vejo qualquer apelo sexual (é uma criança, porra!) e deve ser vista como tal. A imagem ilustra literalmente uma metáfora presente num tema do álbum (na verdade "Virgin Killer" diz respeito ao "tempo" e não deve ser lido literalmente) e pretende, objectivamente, chamar a atenção da púdica e tantas vezes perversa mente humana.
Eu não me sinto minimamente chocado ao olhar para a imagem, mas confesso que se tivesse o álbum em LP em casa, com esta capa, não o deixaria à vista dos meus filhos. Partindo do princípio que a capa de um álbum está exposta em qualquer loja de discos e que estas são acessíveis a qualquer criança... fica difícil de avaliar.
Resumindo: Inapropriado? Certamente. Mau gosto? Talvez. Ofensivo? Não me parece.
A polémica das capas vinha de trás ( "In Trance" já tinha sido censurado) e continuaria com "Taken By Force", que também seria banida de vários países, por mostrar dois miúdos a brincar aos cowboys num cemitério. Para terem uma ideia da política de choque que os Scorpions seguiam com as capas dos seus álbuns, deixo aqui a sequência de capas de "In Trance" (1975) a "Love At First Sting" (1984), os 10 anos dourados da carreira dos Scorpions:
(e já nem vou às compilações...)
"In Trance" (1970)
"Virgin Killer" (1976)
"Animal Magnetism" (1980)
"Blackout" (1982)
"Love at First Sting" (1984)
Voltando agora ao que realmente interessa (a música), o álbum "Virgin Killer" abre com uma sequência de 3 temas absolutamente esmagadora: "Pictured Life" / "Catch Your Train" / "In Your Park". Situado a meio deste lote está "Catch Your Train" - o espelho perfeito da música dos Scorpions naquele tempo: um tema "sempre a abrir", cortesia da guitarra rítmica de Rudolph Schenker; com aquela "lírica genérica Rock", característica dos Scorpions (não encontro melhor maneira de definir este registo que, aliás, acompanhou a banda ao longo de toda a sua carreira); um fenomenal solo de shredding de Uli Jon Roth (estilo de tocar guitarra em que ele foi pioneiro) e uma pujante interpretação vocal de Klaus Meine. Esta era a receita dos Scorpions na época e o resultado está à vista. É a banda sonora perfeita para a estrada, especialmente se for à noite, especialmente no Verão.
Em contrapartida, se ouvirmos a versão gravada em 2000, ao vivo no Convento do Beato, em Lisboa, para o álbum "Acoustica", perguntamo-nos para onde foi toda aquela pujança. Talvez ter-se-á perdido com os anos, ou ficado na Alemanha, mas a Lisboa não veio naquela noite de certeza. Aqui, vemos os Scorpions já totalmente domesticados (como falei aqui), apoiados por hediondos coros femininos, sem uma réstia da mística obscura dos anos 70.
Se é verdade que eu sou o primeiro a defender os Scorpions contra os hipsters que vêem neles um alvo fácil, como dinossauros sobreviventes do metal dos anos 70 e 80 que se tornaram, também não posso deixar de admitir que eles durante algum tempo contribuíram muito para a desintegração social do seu próprio nome.
Comparem agora a versão acústica de Lisboa, com a actuação ao vivo no Nakano Sun Plaza, em 1978, no mesmo concerto em que foi gravado "Tokyo Tapes" (álbum que deixou este tema de fora):
Os verdadeiros Scorpions? É neste comboio, é por aqui.
Os Scorpions... honestamente, nunca gostei deles lol :x associo-os sempre a músicas como "Wind Of Change" e músicas lançadas por volta dessa altura. Mas realmente nem fazia ideia de como eram no início da carreira...
ResponderEliminarQuanto à capa, não me choca. Mas assim que a vi (aqui no post porque não conhecia) percebi logo que nunca passaria despercebida, é daquelas coisas que gera sempre polémica (o que é óptimo para vender álbuns). Faz-me lembrar a capa do "Nevermind" dos Nirvana que no fundo é similar mas não criou tanta polémica (também eram os anos 90 mas há certas coisas que nunca mudam, nem nos dias de hoje quanto mais...).
Por acaso não vejo mal em deixar as crianças verem a capa, é uma criança como elas e acho que nem sequer estão pré-dispostas a pensar na foto de uma forma sexual. Já acho mais preocupante a forma distorcida como alguns adultos a vêm, isso sim, faz-me mais confusão.
A capa do "Blackout" faz-me lembrar o A Clockwork Orange (por causa dos olhos lol).
Pois, não és a única! Por isso é que eu comecei o outro post com a frase "Nos idos anos 70, os Scorpions eram um animal (pun intended) bastante diferente.". A verdade é que eles foram "muito bons" durante algum tempo, depois passaram a ser apenas "bons" e tiveram uma fase, já no fim dos 90's em que se tornaram mesmo maus. Depois recuperaram um pouco, mas nunca mais foram os mesmos. Este declínio criativo não deixa de ser um processo quase natural nos artistas/bandas com longas carreiras, mas no caso dos Scorpions foi mais que isso, foi na minha opinião o fruto de uma tentativa de se manterem in.
ResponderEliminarSei que gostas de alguma música mais pesada, por isso aconselho-te a dares uma tentativa aos primeiros álbuns dos Scorpions (os que têm as capas em cima), do "In Trance" até ao "Love At First Sting". Na parte final desta sequência, já notas o tal amolecimento e/ou popificação, mas não deixaram de ser bons por isso. Isto não minha opinião, obviamente.
És capaz de ter razão em relação à reacção de uma criança à capa. Afinal, muitas destas coisas são resultado de "macaquinhos" na nossa cabeça e a inocência de uma criança nem sequer lhes permite ver mal naquilo. Ainda assim, tendo vários posters com capas álbuns nas paredes da minha casa, aquele de certeza que não subia! ;-)
Bem visto com o "Laranja Mecânica"! Às tantas, até foi esse o berço da ideia!