"When I was all messed up and had opera in my head, your love was a light bulb hanging over my bed"
E pronto. Hoje chegamos ao fim da linha de 2010. Terminado que está 2010, fica aqui hoje o tema que mais me marcou este ano. O tema é "Ultraviolet (Light My Way)" dos U2, retirado do álbum "Achtung Baby" de 1991.
Sometimes I feel like I don't know
Sometimes I feel like checkin' out
I want to get it wrong
Can't always be strong
And love it won't be long...
"Ultraviolet (Light My Way)" é um tema sobre amor e a dependência que o amor pode causar. Relata o desespero de um homem cuja vida está na escuridão, à espera de encontrar uma luz que o guie.
É a história de um homem que cometeu erros no passado, erros que o levaram à situação actual. E que está disposto a tudo para encontrar esta luz.
"I guess that's the price of love, I know it's not cheap"
Este é o tema que faz a transição entre as sonoridade dos U2 dos anos 80 e dos anos 90, combinando elementos de ambas as partes. A estrutura básica da música, com o inconfundível riff de The Edge, é semelhante ao que os U2 faziam nos 80's. Já os arranjos e a produção do tema é característica da inovação vincada no álbum "Acthung Baby".
Os U2 revolucionaram a sua música em 1991. E essa revolução não foi nada pacífica. Influenciados pela música de dança que proliferava no início dos anos 90 e pela cena Industrial, Bono e The Edge queriam inovar a música dos U2, experimentando novas sonoridades. Por outro lado, Mullen e Clayton estavam satisfeitos e confortáveis com o tipo de música que a banda fazia nos 80. Assim, os conflitos no seio da banda não se fizeram esperar e os U2 estiveram mesmo à beira da separação, devido a diferenças criativas.
Alegadamente, o consenso chegou quando The Edge estava a tentar escrever a bridge para "Ultraviolet (Light My Way)" e começou a tocar aquele que viria a ser o riff de "One". Ao ouvir esta descoberta de The Edge, todos concordaram que essa seria a nova sonoridade dos U2.
Uma das grandes novidades que os U2 trouxeram em 1991 foi a digressão de promoção a Acthung Baby: a espectacular "ZooTV Tour".
"Ultraviolet (Light My Way)" tinha um papel chave nos concertos da légua americana desta digressão: o tema figurava no encore da setlist e antes da entrada da banda, Bono telefonava para a Casa Branca e pedia para falar com o então Presidente dos EUA George Bush.
Ao ser confrontado com a indisponibilidade do Presidente, Bono responde:
"The President of the United States is not available TO ME?!
Oh... Well, I guess I mustn't be so important as I thought I was..."
"Ultraviolet (Light My Way)" esteve sempre lá. Mas encadeado pelo brilho dos singles dos U2, nunca tinha prestado particular atenção a este tema, até ver a sua performance no Blu-Ray "U2 360° at the Rose Bowl".
É impossível ficar indiferente à performance de "Ultraviolet (Light My Way)" na "360º Tour". Aqui, este tema volta a ter um papel fundamental na setlist, mais uma vez no encore. Depois de uma longa sequência em vídeo, Bono entra em palco usando um casaco de lasers (também quero um destes!) e canta para um volante iluminado que desce do cimo da estrutura. Espectacular.
Eu próprio pude testemunhar tudo isto, quando vi os U2 em Coimbra no dia 3 de Outubro deste ano, naquele que para mim foi o concerto do ano.
Rapidamente "Ultraviolet (Light My Way)" se juntou ao lote dos meus temas preferidos dos U2, juntamente com outras malhas como "Where The Streets Have No Name", "The Fly" , ou "Pride (In The Name Of Love)". Mais do que isso, o tema teve alta rotação durante um longo período de tempo. O suficiente para fazer "Ultraviolet (Light My Way)" o tema mais importante de 2010.
"Some people call it a one night stand but we can call it paradise"
Aproximamo-nos do fim do ano e por isso já só restam 2 temas nesta retrospectiva de 2010. Nesta fase, começa a ser difícil não só a escolha dos temas, mas também a sua ordenação. Não que esta seja vinculativa, mas procurei ordenar vagamente os temas, de modo a terminar o ano com aquele que teve mais importância ao longo de 2010.
Assim, para a penúltima escolha do ano, fica aqui o tema de uma banda que decobri mais profundamente este ano. Não que eu não conhecesse o essencial do trabalho dos Duran Duran, mas faltava-me dissecar os álbuns e a sua história para ter uma noção mais concreta da importância e da qualidade do seu trabalho. Ambas são imensas. Mas já lá vamos.
O tema que fica aqui hoje é "Save A Prayer", uma irresistível e sedutora balada retirada de "Rio" - o álbum de referência dos Duran Duran. Um tema que marcou os meus fins de tarde no Verão.
O single de "Save A Prayer" foi lançado em Agosto de 1982, como o 3º single de promoção de "Rio" e rapidamente despoletou um estrondoso sucesso à escala global. Chegou a nº 2 no Reino Unido, não atingindo o lugar cimeiro devido a "Eye Of The Tiger" dos Survivor.
Nesta altura, os Duran Duran eram a banda da moda. Faziam capas de revista, as suas músicas tocavam na rádio em alta rotação e os seus vídeos cosmopolitas serviam como pão para a boca da então embrionária MTV.
Dizia-se nos anos 80 que "Se a MTV gostasse de ti, o Mundo gostava de ti". E a MTV adorava os Duran Duran.
O motor de toda esta atenção dos media? Os Duran Duran aliavam a boa música, integrada nos então emergentes movimentos New Romantic e New Wave, à apresentação de uma imagem atraente. Eles sabiam disso e tinham intenção de explorar a sua imagem para impulsionar a promoção da música.
Para se ter uma dimensão da importância da banda nesta época, os Duran Duran eram então apelidados de "Fab Five", em alusão aos The Beatles. A banda tinha assim todos os dados para para conquistar o Mundo, pelo menos na sua faixa etária mais jovem.
Deste modo, para a gravação do vídeo de "Save A Prayer", os Duran Duran contrataram o consagrado realizador Russel Mulcahy e viajaram para o Sri Lanka, onde aproveitaram os cenários exóticos para criar vídeos pioneiros, completamente diferentes de tudo o que se fazia naquela altura. Os media adoraram e o público também.
"You don't have to dream it all, just live a day"
"Save A Prayer" é uma balada romântica e melancólica, que carrega na sua música e na sua lírica um simbolismo... um significado próprio. O tema basicamente relata a história de um amor efémero, mas segundo Simon Le Bon é muito mais que isso. É um tema sobre a liberdade individual, sobre o conceito filosófico que o que importa é o momento presente. Para Simon, a linha mais importante deste tema é aquela que está no início do post:
"Some people call it a one night stand but we can call it paradise"
A explicação, pela palavras do próprio Simon: "Não vamos pensar no que significa, não vamos pensar no que vai ser amanhã... Vamos pensar no que vai ser este momento. É a única coisa que importa."
A verdade é que há muito mais em "Save A Prayer" do que uma mensagem. A estrutura deste tema é de uma complexidade extraordinária, mas é soberanamente organizada por um trabalho de produção magistral de Colin Thurston. Segundo o baixista John Taylor, o tema é composto por 4 faixas diferentes de sintetizador, 4 faixas de guitarra, 2 faixas de baixo, para além da bateria e das faixas vocais. Estonteante.
É fascinante a quantidade de coisas que acontecem simultaneamente em "Save A Prayer".
Mais do que isso, para alguém com algum treino de ouvido, é uma delícia identificar as diferentes partes que vão surgindo nos vários espaços da cortina sonora deste tema. Não estou a falar um muro de som, no sentido da wall of sound de Phil Spector ou do brickwalling de Owen Morris. Falo de uma cortina fina e delicada, produzida com a minúcia de um bordado.
A base da música é um loop de sintetizador que entra no início do tema e se estende até ao fim, quando sai em fade-out. Ao fim de dois loops, entra mais uma faixa de sintetizador com a melodia base do tema, uma faixa de guitarra acústica com os acordes básicos e a restante secção rítmica (bateria e baixo). Na verdade, a estrutura do tema é tão complexa que confesso que nem sequer consigo identificar algumas das faixas que referi em cima.
Para mim, o momento chave de "Save A Prayer" surge durante o 2º refrão (ao segundo 2:25 no vídeo), numa altura em que Simon Le Bon canta:
"Don't say a prayer for me now, save it 'til the morning after"
...e rebenta a agressiva guitarra eléctrica de Andy Taylor com um riff arrepiante... arrebatador. É um momento único, exclusivo, irrepetível.
É um daqueles momentos raros na música que mexem profundamente connosco.
Importa frisar que a agressividade da guitarra eléctrica de Andy Taylor era, nesta altura, um dos factores mais importantes que separava os Duran Duran de todas as outras bandas Pop. Andy tinha raízes Punk e dava um edge único à música dos Duran Duran. Infelizmente, com a sua saída durante a gravação de Notorious - o 4º álbum dos Duran Duran - a banda perdeu esta faculdade e nunca mais foi a mesma.
"Don't make us some little girl's dream that can't ever come true, that only serves to hurt and make you cry like you do"
Na ressaca da dolorosa experiência da concepção e promoção do álbum "Darkness On Edge Of Town", Bruce Springsteen regressou ao estúdio em Março de 1979 para gravar o seu 5º álbum.
Desta vez, o processo de gravação parecia correr de forma menos conturbada e a CBS (editora de Bruce) já fazia planos para o lançamento natalício do novo álbum de originais de Bruce Sprinsgteen.
Até ao final de Agosto, Bruce Springsteen já tinha escrito e/ou gravado os seguintes temas:
"Roulette"
"White Lies" "Hungry Heart"
"The Ties That Bind"
"Find It Where You Can"
"Break My Heart"
"Out On The Run (Looking For Love)"
"In The City"
"The Man Who Got Away"
"Chain Lightning"
"Night Fire"
"Under The Gun"
"Mary Lou"
"I Wanna Be With You"
"Bring On The Night" "Ramrod"
"The Price You Pay"
"Ricky Wants A Man Of Her Own"
"Loose Ends"
"Cindy" "I Want To Marry You"
"To Be True" "Stolen Car"
"The River"
"You Can Look (But You Better Not Touch)"
"Dollhouse" "Point Blank"
Nem mais nem menos 27 temas.
27 temas em diversas versões diferentes, que formam um lote considerável de material de qualidade, em quantidade mais que suficiente para compôr um álbum.
O título para o álbum foi escolhido e foram seleccionadas e masterizadas 10 faixas, que formariam "The Ties That Bind", o álbum perdido de Bruce Springsteen:
LADO A
"1. The Ties That Bind" (3:37)
2. "Cindy" (2:28)
3. "Hungry Heart" (3:28)
4. "Stolen Car" (4:33)
5. "To Be True" (3:54)
LADO B
6. "The River" (4:54)
7. "You Can Look (But You Better Not Touch)" (2:12)
8. "The Price You Pay" (5:51)
9. "I Wanna Marry You" (3:31)
10. "Loose Ends" (4:08)
"The Ties That Bind" seria um álbum conceptual, o primeiro álbum de Bruce Springsteen a abordar a temática das relações entre o homem e a mulher: a responsabilidade do compromisso e a dificuldade da manutenção dessa ligação.
São usadas várias metáforas como o rio, o nó e até uma viagem de carro, para ilustrar estes sentimentos. Era um álbum com uma orientação um pouco mais leve do que "Darkness On the Edge Of Town", mas que ainda assim carregava um importante significado.
"Baby you be true to me and I´ll be true to you!"
"So how about it?"
No entanto, após a actuação em dois concertos de beneficiência, em Setembro de 1979 Bruce mudou de ideias e decidiu que queria seguir uma direcção diferente. Bruce queria incluir uma série de outros estilos musicais que ele também gostava, mas que até então tinham sempre sido estrangulados pela rigidez da matriz dos seus álbuns conceptuais. Isso já tinha ocorrido na criação do álbum "Darkness On Edge Of Town" e Bruce não queria repetir o formato para o seu 5º álbum. O significado perdera a sua importância.
Assim, o álbum "The Ties That Bind" foi cancelado por completo e Bruce Springsteen e a E Street Band regressaram ao estúdio em Outubro de 1979 para uma longa 2ª fase de sessões de gravação. Essas sessões durariam até ao Verão de 1980 e dariam lugar ao multifacetado álbum "The River", que apresentava uma diversiade de estilos à imagem do que Bruce tinha em mente. Dos 27 temas da 1ª fase de gravações, apenas 8 chegaram a "The River" (assinalados a negrito na lista em cima), alguns deles com versões drasticamente diferentes.
Volvidos 15 anos, em 1994 chegou aos fãs um cópia da master tape de "The Ties That Bind", directamente dos estúdios Power Station, local onde tiveram lugar as sessões de gravação em 1979. Os fãs puderam finalmente ouvir o álbum perdido de Bruce Springsteen.
Com isto, levantou-se a questão: será que Bruce Springsteen fez bem em cancelar o projecto "The Ties That Bind"? Será porventura "The Ties That Bind" melhor que "The River"?
Em primeiro lugar, devo sublinhar que "The Ties That Bind" é, sem sombra de dúvida, sonicamente superior a "The River". Tendo em conta que todas as prensagens já lançadas de "The River" são um verdadeiro desastre sonoro e que "The Ties That Bind" chegou às mãos dos fãs directamente da master tape original, isso não era difícil.
Quanto à comparação entre os dois projectos... São coisas diferentes.
Não diria que "The Ties That Bind" é superior a "The River", porque o primeiro é uma parte do segundo e o primeiro tem 10 faixas, contra 20 do segundo. Seria injusto comparar assim os álbuns.
No entanto, diria que Bruce Springsteen cometeu um erro em ter cancelado o lançamento de "The Ties That Bind". Este álbum, tal como foi formulado, resulta muitíssimo bem. É um álbum que, ao contrário de "The River", segue uma linha de raciocínio e que tem temas excelentes, alguns deles abortados para "The River". Isso foi uma pena.
Na minha opinião, é verdade que há algum material supérfluo em "The Ties That Bind", nomeadamente "You Can Look (But You Better Not Touch)" e "I Wanna Marry You". Contudo, ambos os temas acabaram por figurar em "The River", tal como uma série de outros temas que nada acrescentam àquele álbum.
Em suma, para mim Bruce deveria ter lançado em 1979 o mais sólido e mais coerente "The Ties That Bind" e logo depois, como era sua vontade, lançar um party album, com temas mais leves e desconexos.
O resultado em "The River" acabou por ser um cruzamento destes dois conceitos, com um conjunto de material muito bom misturado com material bastante fraco, sem se vislumbrar qualquer fio condutor.
Do conjunto de 10 temas que figuravam em "The Ties That Bind", 3 deles não foram incluídos em "The River": "Cindy", "To Be True" e "Loose Ends". Todos são grandes temas, inexplicavelmente postos de parte.
O tema que aqui fica é "To Be True", uma versão arcaica de "Be True", que seria lançado em 1980 como o Lado B do single "Fade Away", retirado de "The River". Segundo Bruce Springsteen, "Be True" ficou de fora do álbum em favor do tema "Crush On You", uma decisão que, ao fim de alguns anos, o próprio tem dificuldade em perceber.
"To Be True" é mais que um tema criminosamente deixado de lado em "The River" (seguindo a tradição de outros temas como "The Promise" em "Darkness On The Edge Of Town"), é uma das minhas gravações preferidas de Bruce Springsteen, onde destaco o fabuloso solo de saxofone de Clarence Clemons no fim do tema.
Em 2010, pelo segundo ano consecutivo, Bruce Springsteen foi o artista que mais ouvi. A descoberta da sua obra significa a entrada num túnel cheio de tesouros, que parece não ter fim à vista. A quantidade de temas que ele gravou vai muito para além da (já respeitável) quantidade que está editada.
E eu continuo fascinado na descoberta destes tesouros.
"When you close your eyes and you fall asleep, everything about you is a mystery"
5 dias... 5 temas. Os 5 temas que mais me marcaram em 2010. Se o tema de ontem metaforizava viagens entre espaços da vida, o tema de hoje não deixa grande margem de análise. O que se ouve é o que se tem. E o que se tem é um grande tema 80's.
Sem mais introduções, o próximo tema desta retrospectiva pessoal de 2010 é o vibrante "Talking In Your Sleep" dos americanos The Romantics. Este tema foi originalmente lançado em single pelos The Romantics em 1983 e foi incluído no seu álbum "In Heat". O single tornou-se o maior êxito da banda, chegando mesmo ao 1º lugar da tabela de dança americana, onde permaneceu por 2 semanas. Este single não teve grande sucesso no Reino Unido em 1983, onde o tema só obteve notoriedade no ano seguinte, quando foi gravado pelos Bucks Fizz.
"Talking In Your Sleep" é um tema que condensa quase tudo o que de melhor tem a Pop dos anos 80. A frase é hiperbólica, mas é o que sinto quando ouço este tema. "Talking In Your Sleep" é 80's. Diversão pura.
Atentem na estrutura simples da música, cuja base é uma vibrante linha de baixo. A guitarra, a bateria e mesmo a voz são apenas acompanhamentos para esta espectacular linha de baixo. Tal como em tantos outros tema da época, é o baixo que faz "Talking In Your Sleep".
Também o vídeo é um standard daquela época. Foleiro? Talvez. Mas está aqui o charme dos anos 80. E eu adoro.
"You only live twice, or so it seems: one life for yourself and one for your dreams"
Depois de ter dedicado a semana passada a temas alusivos ao Natal, na última semana do ano vou fazer uma retrospectiva da música que mais ouvi e que mais me marcou em 2010.
Atenção que não se trata de uma retrospectiva da música que se fez em 2010, mas sim daquilo que eu ouvi, duas acções que raramente concorrem no tempo.
Começo por aquele que foi provavelmente o álbum que mais ouvi em 2010. Na realidade não é bem um álbum de originais, mas sim uma compilação: "The Best of Bond...James Bond", lançada aquando do 40º aniversário do 1º filme da saga - "Dr. No".
Confesso que sou um grande fã da saga de James Bond. Não são filmes intelectualmente exigentes, mas têm uma série de outras valências primárias e secundárias que os tornam num produto único no cinema.
As primárias são reconhecidas por todos: os filmes oferecem acção, fantasia e divertimento a rodos.
As valências secundárias são muitas vezes negligenciadas, mas são aquelas que separam a saga de Bond de todos os outros filmes de acção. Começando pela ligação histórica entre a acção nos filmes e a tensão característica da guerra fria, entre o mundo Ocidental e a realidade do Leste europeu. Esta dicotomia de culturas é aqui retratada pela acção de um agente secreto ocidental nos cenários dos países de Leste e serviu de pano de fundo ao core da saga Bond.
Outra valência única destes filmes é a banda sonora. Arrisco dizer que nenhuma outra saga está tão bem representada neste capítulo como a saga de James Bond. É isso mesmo que podemos ouvir nesta compilação.
A enxurrada de grandes temas que "The Best of Bond...James Bond" oferece é impressionante. Desde as inúmeras versões do clássico "James Bond Theme", originalmente composto por Monty Norman em 1962, passando por temas dramáticos como "Goldfinger" ou "Goldeneye", baladas como "Nobody Does It Better" ou "Moonraker", até temas mais Pop como "A View To A Kill" ou "The Living Daylights".
Temas fabulosos, arranjos orquestrais grandiosos, interpretações intensas por alguns dos mais conceituados artistas do Pop, do Rock e do Soul. Há espaço para um pouco de tudo.
Tendo em conta que a saga acompanhou a cultura popular desde os anos 60 até aos anos 00, o leque de artistas que já contribuíram para os filmes é vasto e representativo do mainstream de cada época: desde Shirley Bassey nos anos 60, passando por Paul McCartney nos anos 70, Duran Duran nos anos 80, Moby nos anos 90, ou Jack White nos 00.
O tema que fica aqui é "You Only Live Twice", do filme com o mesmo nome de 1967, interpretado por Nancy Sinatra e composto por John Barry. É um tema que acolhe maior significado em relação ao standard das bandas sonoras de Bond. Fala das flutuações que fazemos entre dois mundos diferentes: a vida corrente e uma 2ª vida, diferente do quotidiano, que oferece experiências e sensações diferentes: às vezes noutro lugar; às vezes noutro trabalho; às vezes com alguém diferente.
O fenómeno da vida-dupla.
"You Only Live Twice" é um dos meus temas preferidos da saga Bond (são tantos...) e é um dos temas que mais vezes foi "emprestado" a outros artistas, casos de Coldplay e de Björk. Robbie Williams também construiu um dos seus temas de maior sucesso (o seu primeiro nº 1 no Reino Unido) com base num sample deste tema. Nunca repararam que "Millennium" tem uma forte influência Bond? Pois é, até o vídeo faz inúmeras referências à saga.
"When the promise was broken, I cashed in a few of my dreams"
"A promessa". "A promessa" é um tema que fala de uma história de desilusão, traição e isolamento. É um tema que descreve a situação que Bruce Springsteen passava naquela altura.
Quem quebrou "a promessa" foi Mike Appel, o manager de Bruce Springsteen na época. Em 1972, Mike deu a assinar a Bruce um contracto, que estipulava que este recebesse uma ínfima parte dos direitos de autor das suas músicas e que os direitos de publicação fossem exclusivamente da editora. Reza a lenda que este contracto foi assinado por Bruce Springsteen num parque de estacionamento em New Jersey, sem sequer o ler.
Só em 1976, quando Bruce Springsteen decidiu que Jon Landau estivesse envolvido nas suas decisões artísticas e Landau aconselhou-o a analisar este contracto, Bruce se apercebeu do que tinha feito. Na sequência, Bruce despede Mike Appel e dão início a uma longa batalha jurídica que se arrastou pelos tribunais até 1977, sem que Bruce pudesse voltar ao estúdio, uma vez que Mike o tinha impedido de gravar com Landau.
"When the promise was broken I was far away from home, sleeping in the back seat of a borrowed car"
"A promessa". "A promessa" não só é um dos melhores temas que Bruce Springsteen nunca lançou (e são muitos), como também é dos momentos mais brilhantes da carreira de Bruce. Um momento tão brilhante e ao mesmo tempo tão pessoal, que Bruce tinha receio de o submeter ao juízo do público e da crítica. Medo esse que, em boa verdade, nunca terá perdido, uma vez que mais de 30 anos depois do lançamento do álbum, a versão mais aclamada deste tema continua sem ver a luz dia, em forma oficial:
"I followed that dream just like those guys do up on the screen"
A performance vocal de Bruce Springsteen neste take específico é tão profunda e tão emocional, que consegue materializar o sentimento de desilusão como nenhum outro tema que eu já ouvi. E parece-me que foi o seu cunho pessoal na interpretação do tema, que o impediu de lançar este take nas várias oportunidades que teve ao longo dos anos.
Vejamos: em 1978, Bruce deixa "The Promise" de fora do álbum "Darkness On the Edge of Town", muito embora este tema se encaixe na perfeição no espírito do álbum. Em 1998, Bruce deixa de fora da caixa "Tracks" que pretendia reunir em 4CD, os melhores temas de Bruce que tinham ficado de fora dos álbuns. Em 1999, pressionado pelos fãs que ficaram surpreendidos com a exclusão de "The Promise" da caixa, Bruce lança finalmente o tema em "18 Tracks", uma compilação com o melhor de "Tracks". No entanto, Bruce volta a surpreender, ao lançar uma regravação de 1999, excluindo os vários takes existentes no arquivo, de 1976 a 1978. Esta regravação é nomeada para um Grammy, mas voltou a não deixar os fãs satisfeitos. Finalmente, em 2010, Bruce lança um duplo álbum com os melhores temas gravados entre 1976 e 1978, que ficaram de fora de "Darkness On the Edge Of Town". A compilção chama-se "The Promise" e finalmente é incluído um take gravado na época. Mas ainda não não foi desta que "o take" que os fãs querem viu a luz do dia.
"I'll pay the cost for wanting things that can only be found in the darkness on the edge of town"
Para minha enorme satisfação, foi no passado fim-de-semana que, após largos meses de espera, me chegou às mãos no a reedição do álbum "Darkness On the Edge Of Town" de Bruce Springsteen, com o nome pomposo: "The Promise: The Darkness on the Edge of Town Story".
Mas já lá vamos. Antes disso, vamos abordar a complexa história deste álbum e resumir o que aconteceu até chegarmos aqui.
Depois do enorme sucesso do álbum "Born To Run" de 1975, altura em que Bruce cometeu a proeza de ser capa da Time e da Newsweek na mesma semana, a expectativa era grande para saber o que é que Bruce Springsteen tinha na manga para o 4º álbum. No entanto os meses passavam, Bruce andava na estrada e estreava alguns temas novos, mas não havia notícias sobre o novo álbum...
O problema estava no contracto que ele tinha assinado em 1972 com o manager Mike Appel, num parque de estacionamento em New Jersey, sem sequer o ler. "A promessa" tinha sido quebrada.
Enquanto decorria a batalha legal com Mike Appel, Bruce era obrigado a continuar na estrada a dar concertos com a E Street Band, a sua única verdadeira fonte de rendimento. Impedidos de gravar em estúdio, foi neste período que Bruce Springsteen e a E Street Band aperfeiçoaram as suas perfomances ao vivo, eventualmente ganhando a reputação de uma das melhores bandas rock ao vivo da história.
Resolvida a questão legal, no Verão de 1977 Bruce Springsteen avançou determinado para o estúdio com a E Street Band para gravar o seu novo álbum "American Madness", nome que daria lugar ao mais apropriado "Darkness On The Edge Of Town", lançado em 2 de Junho de 1978. Só que desta vez a motivação de Bruce Springsteen era bem diferente de "Born To Run".
Enquanto "Born To Run" era uma ode ao optimismo, à esperança e à mudança para um lugar e para tempos melhores (a metáfora nova-iorquina de “passar para o lado de lá do rio”); "Darkness" representa a percepção que afinal o lugar e os tempos para onde se mudou também têm os seus problemas e que a vida é isso mesmo: podemos andar a vida inteira à espera de um momento ("Badlands"), ou a perseguir um sonho ("Something In The Night"), mas no fim de contas o handicap com que nascemos ("Adam Raised A Cain") vai acompanhar-nos para sempre.
É esta dicotomia que faz estes dois álbuns tão especiais. Em suma, o optimismo e romantismo de "Born To Run", dá lugar à desilusão e isolamento de "Darkness On The Edge Of Town".
Fica aqui o tema-título "Darkness on the Edge of Town", ao vivo em Passaic (New Jersey), naquela que é a minha performance ao vivo preferida de Bruce Sprinsgteen. Seja ao vivo ou em estúdio. A paixão que Bruce imprime nesta actuação é arrepiante.
Na introdução, Bruce dedica a música a um amigo em dificuldades, com a seguinte frase lapidar, que resume o espírito do álbum:
"At one time or another, everybody's gotta drive through the darkness on the edge of town"
Os primeiros 3 álbuns de Bruce Springsteen são uma ode ao romance, aos sonhos da vida e do Rock N' Roll, sob a premissa que tudo é possível, desde que se acredite piamente nisso e se tenha força de vontade suficiente para mudar.
São álbuns que transmitem um sentido de possibilidades ilimitadas que intoxicam o ouvinte. São álbuns cheios momentos de glória que não são reais, são fantasias que reflectem a vontade de um jovem de origens modestas, mas com grande coração, em triunfar no mundo.
Na introdução do documentário "The Promise: The Making Of Darkness On The Edge Of Town", incluído na edição especial lançada no último mês, Bruce Springsteen descreve o álbum da seguinte forma:
“The album is a reckoning with the adult world, with a life of limitations and compromises.”
Numa retrospectiva, podemos dizer que a visão que definiu a carreira de Bruce é dada em “Darkness on the Edge of Town” e não nos seus primeiros álbuns. As ideias de luta contra as dificuldades do mundo e os handicaps da vida são a fundação de quase tudo o que seguiria no seu trabalho.
O resultado desta mudança foi um álbum bem menos comercial e com sucesso bem mais reduzido. Mas isso não incomodou Bruce Springsteen, uma vez que a sua motivação para este álbum era criar algo verdadeiramente seu, inserido nas experiências que estava a viver. Como o próprio diz no referido documentário:
"More than rich, more than famous, more than happy, I wanted to be great"
A prova de que Bruce Springsteen não procurava o sucesso mainstream com este álbum é a escolha das músicas. Alegadamente, foram escritos e gravados aproximadamente 60 a 70 temas para "Darkness", sendo que a larga maioria não chegou à versão final do álbum.
Alguns destes temas seriam oferecidos a outras artistas e resultaram em grandes êxitos (por exemplo, "Because The Night" a Patti Smith, ou "Fire" às Pointer Sisters). Outros temas só chegariam no álbum seguinte, o duplo "The River", ou muito mais tarde na retrospectiva de 4CD "Tracks", em 1998. Outros ainda apareceriam apenas em performances ao vivo, ou em bootlegs que os fãs partilhavam entre si.
Tudo isto até agora, quando em 2010 chega finalmente a tão prometida edição especial de "Darkness On The Edge Of Town". Juntamente com esta reedição, é lançado "The Promise", uma compilação de 22 temas que ficaram de fora do álbum. Neste lote, incluem-se temas mais conhecidos como "Because The Night", "Fire", temas novos como "Save My Love" ou até versões alternativas de temas do álbum, como a versão eléctrica de "Racing In The Street".
Dos temas incluídos em "The Promise", provavelmente o mais conhecido é mesmo "Because The Night", que seria o grande êxito da carreira de Patti Smith. Como é contado no documentário pelos próprios, Bruce Springsteen deixou o tema fora de "Darkness On the Edge Of Town" porque era uma canção de amor e não entrava no espírito gélido que procurava para o álbum. Assim, o tema foi entregue a Patti por meio de Jimmy Iovine (um produtor que trabalhava com ambos), ainda com partes da letra incompleta. Patti completou-a e lançou "Because The Night" como single de avanço do seu álbum "Easter".
Mais tarde, Bruce completaria a letra à sua maneira e o tema tornar-se-ia uma presença assídua nos seus concertos. Fica aqui um exemplo de uma versão ao vivo de "Because The Night" em Houston, uma performance também incluída na reedição de "Darkness On The Edge Of Town".
"I've been working real hard, trying to get my hands clean"
Com este post, termino hoje a sequência de artigos dedicados a "Darkness On The Edge Of Town" de Bruce Springsteen, por ocasião da (magnífica) reedição do álbum. Juntamente com o álbum remasterizado, esta reedição conta com a compilação "The Promise", com dois (!!) discos de temas que ficaram de fora do álbum original, um concerto completo da lendária digressão de promoção do álbum em 1978, um documentário sobre a história do álbum, uma performance recente do álbum e ainda diverso material de arquivo.
Assim, a caixa é composta por 3 CD e 3 Blu-Ray (ou DVD, na versão mais barata) e é uma delicia para quem é fã de Bruce ou, como é o meu caso, deste álbum em particular.
Resumidamente, o conteúdo da caixa é o seguinte:
CD 1 - "Darkness On the Edge of Town" (Remastered) CD 2 - "The Promise" (Disc 1) CD 3 - "The Promise" (Disc 2) DVD 1 - The Promise: The Making of "Darkness On the Edge of Town" (documentário sobre o gravação do álbum, realizado por Thom Zimmy, vencedor de prémios Emmy e Grammy) DVD 2 - "Darkness on the Edge of Town": Paramount Theatre, Asbury Park & Thrill Hill Vault: 1976–1978 (performance intimista do álbum completo, filmada em Asbury Park em 2009. Filmagens do arquivo pessoal de Bruce Springsteen, nunca antes vistas) DVD 3 - Houston '78 Bootleg: House Cut (concerto completo da Darkness on the Edge of Town Tour, nunca antes visto)
Olhando agora para o álbum original, este começa com um estrondoso Badlands (que parece fazer a transição do optimismo de "Born To Run" para o que viria a seguir) e depois continua até ao fim do Lado 1 com uma das sequências mais fantásticas num álbum rock: o brutal "Adam Raised A Cain", o desesperante "Something In The Night", o explosivo "Candy's Room" e o melancólico "Racing In The Street". É difícil escolher momentos altos ou baixos no Lado 1 deste álbum, tal é a sua solidez.
O Lado 2 parece começar mais uma vez com um raio de optimismo em "The Promised Land", outro fabuloso tema, mas também aqui prossegue com temas que transmitem dificuldades. A dureza da rotina de uma vida de trabalho em "Factory", a dureza da libertação em "Streets Of Fire" e a dureza do compromisso em "Prove It All Night". Todos estes temas fazem um build-up para o que chega no fim, quando o sujeito do álbum já perdeu tudo e surge de mãos vazias e coração despedaçado em "Darkness on the Edge of Town", terminando o álbum de forma sumária e lapidar:
"I'll pay the cost for wanting things that can only be found in the darkness on the edge of town"
O que me parece de realçar em "Darkness" é que, enquanto os temas no Lado 1 aparecem no álbum com as suas versões definitivas, os temas no Lado 2 parecem resultar melhor em concerto (especialmente na digressão de 1978), integrados num ambiente mais livre, vivo e acutilante. Para além disso, alguns temas foram alargados nas versões ao vivo, casos de "The Promised Land", com um solo duplo de harmónica no início e principalmente de "Prove It All Night" cuja versão no álbum durava 3:56, mas que ao vivo por vezes passava a marca dos 10 minutos.
E foi mesmo ao vivo que este álbum ganhou outra dimensão. A digressão de "Darkness On The Edge Of Town" ainda hoje é recordada como uma das mais intensas e lendárias da história do rock. A banda tinha chegado ao seu ponto alto, aperfeiçoando a performance dos temas novos e antigos.
O vídeo que está em cima é de uma performance de "Prove It All Night" em Phoenix, ainda no início da digressão, numa altura em que a versão alargada ainda não estava bem oleada, mas já dá para ter uma ideia. Esta versão está incluída no material de arquivo da reedição de "Darkness On The Edge Of Town".
Para terminar, vou fazer uso das palavras do próprio Bruce Springsteen, da mesma maneira que ele fecha o documentário de Thom Zimmy.
“How do you deal with those things and move on (...) to a life where you can make your way through the day and sleep at night”
“That's what most of these songs were about”
P.S.: Com este post encerro a sequência de posts de análise à reedição de "Darkness On The Edge Of Town". As 4 partes da análise estão aqui compiladas e estruturadas, de modo a conferir uma forma coerente ao texto.
P.P.S.: Esta foi a minha prenda de Natal. Espero que recebam as vossas.
E eis que, em plena véspera de Natal, deixo aqui o meu tema preferido de Natal, aquele que é muito provavelmente o mais popular, dos mais velhos aos mais novos, no género Pop/rock: "Last Christmas" dos Wham!.
Last Christmas, I gave you my heart, but the very next day you gave it away
This year, to save me from tears I'll give it to someone special
Quem não conhece estes versos? Um tema de Natal em forma de balada, escrito por alguém que é um especialista do género: George Michael. Se isto não é uma grande balada...
O single foi lançado em 1984 (um "double A-Side" com "Everything She Wants") e foi um sucesso retumbante. Foi lançado em Dezembro, à espera de alcançar a simbólica posição de nº1 no Natal.
No entanto, "Last Christmas" acabou por se tornar no single mais vendido de sempre no Reino Unido que nunca chegou a nº 1. Isso só não aconteceu devido a "Do They Know It's Christmas?" da Band Aid, que naquele ano atingiu vendas recorde no Reino Unido.
Termino assim esta sequência de temas natalícios com esta viagem aos anos 80 e o sincero desejo de bom Natal a todos!!!
Agora que nos aproximamos a passos largos do Natal, ficam apenas mais 2 temas por apresentar. Para isso, regressamos aos 80's e aos temas natalícios da Pop.
O próximo tema é "Do They Know It's Christmas?", escrito por Bob Geldof e Midge Ure em 1984 e interpretado pela Band Aid - a primeira selecção "All Star" de músicos que se disponibilizaram para gravar uma música para a caridade. O single teve tanto sucesso, que se tornou o mais vendido de sempre na indústria britânica (título que iria manter até 1997 e a regravação de "Candle In the Wind" por Elton John) e é hoje uma das canções mais populares desta quadra.
A ideia da gravação deste tema surgiu quando Bob Geldof assistiu a um documentário sobre a fome em África e se apercebeu que todos os dias morriam centenas de pessoas naquele continente devido à subnutrição. O single gerou uma enorme onda de caridade e as pessoas em todo o Mundo começaram a aperceber-se do flagelo que se passava mesmo ali ao lado.
Apesar dos milhões de libras angariados (a que se juntaram os fundos correspondentes ao Live Aid, 6 meses depois), a iniciativa acabou por cair como uma gota de água num balde de azeite e infelizmente, mais de 25 anos depois. o problema mantém-se...
O verdadeiro mérito desta iniciativa é que despoletou desde então muitas outras para a caridade (a mais famosa sendo o "We Are The World" dos "USA For Africa") e que conseguiu associar os mais importantes nomes da música à causa.
Neste tema juntam-se nomes como George Michael, Bono Vox, Sting, Boy George, Simon Le Bon e o inevitável Phil Collins na bateria. Eis a lista completa de artistas e bandas que participaram:
Bananarama
Bob Geldof
Culture Club
David Bowie
Duran Duran
Eurythmics
Frankie Goes to Hollywood
Heaven 17
Human League
Kool and the Gang
Midge Urge
Paul McCartney
Paul Young
Phil Collins
Spandau Ballet
Status Quo
Sting
The Style Council
U2
Wham!
A participação de todos estes artistas, que representavam o crème de la crème da cena musical britânica da época fez com que o single se tornasse um fenómeno de vendas, vendendo aproximadamente 50 milhões de cópias em todo o Mundo, 3 milhões apenas no Reino Unido. No UK, entrou directamente para o nº 1 das tabelas, onde se manteve durante 5 semanas, até ser finalmente destronado em Janeiro por "I Want To Know What Love Is" dos Foreigner.
"Do They Know It's Christmas?" é um tema icónico e é um dos meus preferidos de Natal. A base da canção é construída de volta de um sample do tema "The Hurting" dos Tears For Fears (que não participaram no projecto) e da bateria de Phil Collins. A letra foi escrita por Bob Geldof, que apesar de ser também um cantor, não ficou com nenhuma linha a solo neste tema.
Finalmente, tentei pegar na letra e identificar "quem canta o quê" em "Do They Know It's Christmas?":
(Paul Young)
It's Christmas time
There's no need to be afraid
At Christmas time
We let in light and we banish shade
(Boy George)
And in our world of plenty
We can spread a smile of joy
Throw your arms around the world
At Christmas time
(George Michael)
But say a prayer
Pray for the other ones
At Christmas time it's hard (Simon LeBon)
But when you're having fun
There's a world outside your window (Sting entra)
And it's a world of dread and fear (Tony Hadley entra)
Where the only water flowing is
The bitter sting of tears (Bono entra)
And the Christmas bells that are ringing
Are clanging chimes of doom (Bono sozinho)
Well, tonight thank God it's them instead of you!
(Todos)
And there won't be snow in Africa this Christmas time.
The greatest gift they'll get this year is life
Where nothing ever grows
No rain or rivers flow
Do they know it's Christmas time at all?
(Todos)
Feed the world
Let them know it's Christmas time
Feed the world
Do they know it's Christmas time at all?
(Todos) Here's to you (Paul Young) raise a glass for everyone (Todos) Here's to them (Paul Young) underneath that burning sun (Todos) Do they know it's Christmas time at all?
(Todos)
Feed the world
Feed the world
Feed the world
Let them know it's Christmas time again
Feed the world
Let them know it's Christmas time again
Feed the world
Let them know it's Christmas time again
"He's making a list, he's checking it twice; gonna find out who's naughty and nice!"
O próximo tema é "Santa Claus Is Coming To Town", um tema tradicional de Natal, escrito por J. Fred Coots e Haven Gillespie e que remonta a 1934! Desde essa data, a canção já foi gravada por inúmeros artistas e tornou-se numa das mais populares canções de Natal.
A minha versão preferida deste tema é interpretada por Bruce Sprinsgteen e a sua E Street Band, que aqui ouvimos numa performance ao vivo em Winterland (San Francisco), em 1978. Esta versão baseia-se no arranjo que Phil Spector fez para as The Crystals em 1963. Como era habitual naquela época, antes de arrancar para o tema, Bruce Springsteen conta a história de como um dia deu de caras com o Pai Natal.
Infelizmente, esse dia ainda não chegou para mim, mas o importante é nunca perder a esperança!
Ao longo dos anos, Bruce Sprinsgteen lançou inúmeras vezes "Santa Claus Is Coming To Town", mais precisamente uma versão gravada ao vivo em 12 de Dezembro de 1975, quer em single ou em compilações do género. O lançamento mais popular deu-se em 1985, quando foi incluído como Lado B do single "My Hometown" em todo o mundo, com excepção de Portugal, onde "Santa Claus Is Coming To Town" foi o Lado A e "My Hometown" o Lado B. Assim, Portugal teve também direito a uma capa exclusiva:
Fica aqui então o poema original, escrito por Coots e Gillespie em 1934:
You better watch out
You better not cry
Better not pout
I'm telling you why
Santa Claus is coming to town
He's making a list,
And checking it twice;
Gonna find out Who's naughty and nice.
Santa Claus is coming to town
He sees you when you're sleeping
He knows when you're awake
He knows if you've been bad or good
So be good for goodness sake!
O! You better watch out!
You better not cry.
Better not pout, I'm telling you why.
Santa Claus is coming to town.
You better watch out
You better not cry
Better not pout
I'm telling you why
Santa Claus is coming to town
He's making a list,
And checking it twice;
Gonna find out Who's naughty and nice.
Santa Claus is coming to town
He sees you when you're sleeping
He knows when you're awake
He knows if you've been bad or good
So be good for goodness sake!
O! You better watch out!
You better not cry.
Better not pout, I'm telling you why.
Santa Claus is coming to town.
Santa Claus is coming to town.
"Children are fantasising, grown-ups are standin' by, what a super feeling! Am I dreaming?"
"Um conto de Inverno". Chegados ao primeiro dia de Inverno, hoje vou falar de um dos mais poderosos temas sobre esta estação: o fabuloso "A Winter's Tale" dos Queen.
A verdade é que "A Winter's Tale" é muito mais que uma "Um conto de Inverno", muito mais que um tema natalício.
"A Winter's Tale" foi o último tema jamais escrito por Freddie Mercury e foi também o último tema que ele cantou antes da sua morte, dia 24 de Novembro de 1991.
As sessões de gravação dos Queen em 1991, que resultariam no álbum póstumo de 1995 "Made In Heaven", foram alguns dos mais impressionantes capítulos da História da música.
No ano de 1990, a condição de Freddie já era de tal forma debilitada, que ele temia não terminar a tempo o álbum "Innuendo", que seria lançado no início de 1991. "The Show Must Go On" seria supostamente o último tema dos Queen, uma vez que ele não acreditava ser possível trabalhar mais no seu estado. Completado o processo de gravação e promoção deste álbum (para o qual Freddie ainda se sujeitou à filmagem de alguns videoclips), Freddie decidiu que até ao seu último suspiro, iria cantar... e gravar o máximo que pudesse, com o tempo que lhe restava.
Freddie terá então dito aos restantes membros dos Queen:
"Deêm-me qualquer coisa, o que quer que seja, que eu canto!"
Nos meses que se seguiram, os Queen instalaram-se nos Mountain Studios em Montreux, à espera de Freddie. Freddie esteve este tempo entre Londres e Montreux, entre casa e os consultórios, aparecendo em estúdio sempre que se sentia em condições mínimas para entregar a sua voz à música dos Queen.
E de que maneira o fez...
Esta é a história de um homem gravemente doente, severamente debilitado nas suas capacidades mais básicas, debaixo de dores terríveis, mas que mesmo assim cantava com um poder inabalável, com uma emoção visceral, como se fosse a última vez que estaria em frente a um microfone.
No caso de "A Winter's Tale", foi mesmo a última vez... No dia 12 de Novembro de 1991, Freddie interrompeu a sua medicação (cuja reacção o impedia de executar dignamente funções básicas como comer e beber) e deslocou-se pela última vez aos estúdios de Montreux, para gravar o take definitivo de "A Winter's Tale".
Foi a última vez que o Rei cantou para um microfone.
Dois dias depois, Freddie regressaria a Londres para passar tranquilamente os seus últimos dias com a sua família e na sua casa, onde acabaria por falecer 10 dias mais tarde.
(Dreaming) So quiet and peaceful
(Dreaming) Tranquil and blissful
(Dreaming) There's a kind of magic in the air
(Dreaming) What a truly magnificent view
(Dreaming) A breathtaking scene
With the dreams of the world
In the palm of your hand
"A Winter's Tale" foi assim o último tema de Freddie Mercury. Um tema cheio de imagens de beleza, de paz e tranquilidade, algo que nada tem a ver com a dor que sentia na época. Sob o peso podre e insustentável de uma doença maldita, Freddie conseguiu completar a letra e a melodia deste lindíssimo tema.
It's all so beautiful
Like a landscape painting in the sky, yeah
Mountains are zoomin' higher, uh
Little girls scream an' cry
My world is spinnin' and spinnin' and spinnin'
It's unbelievable
Sends me reeling
Am I dreaming
Am I dreaming...?
Num só take (aquele que ouvimos no disco), algo raríssimo na sua carreira, Freddie despejou tudo o que tinha e despediu-se dos ouvintes com "Um Conto de Inverno". O seu Inverno. O Inverno da sua vida. Um Inverno que foi penoso, mas tranquilo; doloroso, mas em paz; prematuro, mas glorioso. Com a glória que só o Rei poderia desfrutar.
Um dos mais populares temas de Natal é este "Rudolph, The Red-Nosed Reindeer", um tema de origem tradicional, que nasceu como um poema criado por um agente de marketing americano, de nome Robert May. Ao trabalhar no mundo da publicidade, Robert tinha um jeito especial com as palavras e utilizou esse talento quando lhe foi pedido que escrevesse um poema que os Pais Natal que trabalhavam nas lojas Montgomery Ward (uma cadeia americana) pudessem entregar às crianças.
"Rudolph, The Red-Nosed Reindeer" foi assim composto a pensar especificamente no apelo infantil. O sucesso deste poema entre as crianças foi tão grande que, no primeiro ano de publicação, foram oferecidos aproximadamente 2.4 milhões de cópias pela Montgomery Ward! Mais de 70 anos depois, Rudolph continua a ser um ícone natalício e a sua história continua a vender, sendo que já foi adaptada à música, à televisão e ao cinema.
O nascimento da versão musical deu-se em 1949 quando Johnny Marks, radialista e cunhado de Robert May, fez a adaptação do poema a uma canção que seria tão ou mais popular que o poema original. Desde esta data, "Rudolph, The Red-Nosed Reindeer" foi ao longo dos anos gravado vezes sem conta, por diversos artistas, em diversas línguas e em diversos arranjos diferentes. The Jacksons, The Supremes, Paul Anka, Bing Crosby e Dean Martin são apenas alguns dos mais famosos artistas que já gravaram este tema.
A minha versão preferida é cantada por Burl Ives e foi lançada originalmente em 1965, no seu álbum "Have a Holly Jolly Christmas". Juntamente com esta versão, fica aqui também o poema original de Robert May, um poema irresistível, seja qual for a idade!
You know Dasher and Dancer And Prancer and Vixen, Comet and Cupid And Donner and Blitzen. But do you recall The most famous reindeer of all?
Rudolph, the red-nosed reindeer had a very shiny nose. And if you ever saw him, you would even say it glows.
All of the other reindeer used to laugh and call him names. They never let poor Rudolph join in any reindeer games.
Then one foggy Christmas Eve Santa came to say: "Rudolph with your nose so bright, won't you guide my sleigh tonight?"
Then all the reindeer loved him as they shouted out with glee, Rudolph the red-nosed reindeer, you'll go down in history!
"Oh, I got red lights on the run, but soon there'll be a freeway
Get my feet on holy ground..."
O próximo tema de Natal é "Driving Home For Christmas" de Chris Rea.
"Driving Home For Christmas" foi lançado originalmente em 1988, como um single fora de um álbum. Não é uma das músicas de Natal mais conhecidas, mas é uma das minhas preferidas, uma vez que relata algo que nos é familiar a todos: a viagem para casa no Natal.
"Driving home for Christmas... with a thousand memories"
E porque já estamos perto da data, é exactamente isto que eu vou fazer agora.
"I take look at the driver next to me, he's just the same"
"So this is Xmas and what have you done
Another year over and a new one just begun"
O próximo tema é, ao mesmo tempo, uma canção de Natal e uma canção anti-guerra: "Happy Xmas (War Is Over)" da Plastic Ono Band - uma colaboração de John Lennon, Yoko Ono e mais alguns amigos.
Originalmente, a música foi lançada em single em 1971, como um tema de protesto contra a guerra do Vietname (que se estenderia até 1975); o seu refrão foi baseado no famoso cartaz que John e Yoko mandaram afixar em diversas cidades no Mundo, onde se lia "WAR IS OVER (if you want it)". Com o passar dos anos, acabou por se tornar num tema icónico de Natal, sendo frequentemente incluído nas compilações do género.
Uma vez que a humanidade parece não ter aprendido com os erros do passado e a guerra tem sido recorrente desde 1971, desde aí que foi adoptada como música de Natal e continua a fazer TODO o sentido. Atenção para o conteúdo do vídeo que pode chocar os mais sensíveis...
"Although it's been said many times, many ways... a Merry Christmas to you!"
Nos próximos dias vou deixar aqui algumas das minhas canções de Natal preferidas. Escusado será dizer que não esperem temas interpretados pelo Coro de St. Amaro de Oeiras...
E começa-se em grande! A primeira escolha é de um tema escrito em 1944 (!!) por Tormé e Wells, cuja interpretação mais famosa pertence a Nat King Cole: "The Christmas Song (Merry Christmas To You)". Um clássico.
O vídeo não corresponde à versão em disco (recomendo vivamente que a ouçam também), mas sim a uma performance ao vivo na televisão americana. Na verdade, Nat King Cole gravou este tema 4 vezes ao longo da sua carreira: 1946 (duas vezes), 1953 e 1961. A versão de 1961 é a única em Stereo e por isso é aquela que mais vezes passa na rádio e provavelmente a mais conhecida.
"In my mind's eye, one little boy anger one little man"
1985 foi um ano magnífico. Já em 1973, Paul McCartney tinha antecipado que este seria um ano especial, quando escreveu o fantástico "Nineteen Hundred and Eighty Five" para o maravilhoso álbum "Band On The Run". Mas isso ficará para outro dia.
Não é sobre nada disso que eu vou falar hoje.
O meu álbum preferido de 1985, que é simultaneamente um dos meus álbuns preferidos de sempre, dá pelo nome de "Songs From The Big Chair" e é de uma das bandas que definiu esse ano: os Tears For Fears.
Originalmente gravado em 1983, "We Are Broken" foi um tema construído à volta de drum machines e sintetizadores, guiado por um áspero riff de guitarra de Roland Orzabal.
Dois anos mais tarde, este tema foi recuperado para "Songs From The Big Chair" e rebaptizado de "Broken", numa gravação com a banda completa. No álbum, "Broken" foi dividido em dois excertos, que apareceriam separados pelo tema "Head Over Heels" (outra grande malha).
A versão original "We Are Broken" ficaria relegada para a obscuridão, apenas lançada como um Lado B no single "Pale Shelter" e no single exclusivo ao Japão de "The Way We Are".
Na verdade, a sequência de acordes de "We Are Broken" deu origem a uma série de diferentes temas dos Tears For Fears. A saber:
- "Broken"
- "Broken (Live)" (ambas as versões fazem parte do álbum "Songs From The Big Chair", intercaladas por "Head Over Heels")
- "Broken Revisited" (uma bizarra versão alternativa de "We Are Broken" com a gravação de vozes invertidas)
- "Head Over Heels" (um tema absolutamente novo com base na sequência de acordes de "We Are Broken")
- "When In Love With A Blind Man" (mais uma vez, um tema completamente novo com base na mesma sequência de acordes)
As faixas "Broken", "Head Over Heels" e "Broken (Live)" foram incluídas no álbum "Songs From the Big Chair". "When in Love with a Blind Man" foi o Lado B de Head Over Heels e "Broken Revisited" foi incluído numa edição limitada em MC de "Songs From the Big Chair".
É interessante perceber que todos estes 5 temas foram editados por diversas vezes ao longo dos anos, tanto em reedições de "Big Chair", como em compilações. Porém, o tema berço "We Are Broken" continuou sem ver a luz do dia até 2007, quando foi incluído na compilação "Famous Last Words - The Collection". E mesmo assim, já li que a introdução não é exactamente igual àquela que estava no single "Pale Shelter" de 1983. Se assim for, ainda estou para ouvir a versão original de "We Are Broken".
"Between the searching and the need to work it out, I stop believing everything will be alright"
"Broken" é a âncora do Lado 2 do álbum "Songs From The Big Chair". É um tema que reflecte o desespero visceral causado pela necessidade de fazer com que as coisas resultem na vida... quando as coisas teimam em não resultar.
Quem nunca sentiu isso?
É também interessante observar a colocação de "Broken" na estrutura do álbum, se pensarmos que "Head Over Heels" é um tema que transmite a pureza e a inocência de uma paixão juvenil. Estando "Head Over Heels" entalado entre dois segmentos de "Broken", esta sequência dá a ideia de full circle... A cada ciclo completo, mantém-se o mesmo estado de espírito:
"Broken, we are broken"
O vídeo que fica aqui documenta uma performance de "Broken" ao vivo em Munique, na digressão de promoção do multi-platinado "Songs From The Big Chair". Este vídeo está incluído no excelente filme "Scenes From The Big Chair", que compila uma série de clips, entrevistas e performances ao vivo dos Tears For Fears, alusivas ao álbum "Big Chair".
"Scenes From The Big Chair" é um documentário que retrata os Tears For Fears no seu auge de popularidade em todo o mundo, capturando o sucesso da banda em locais tão distantes como o Japão, a Alemanha, ou os EUA.
Lançado em vídeo em 1985, "Scenes From The Big Chair" foi recentemente reeditado em DVD, numa edição que eu aconselho sem reservas. Conjuntamente com o documentário, está também incluído neste DVD uma entrevista com o produtor do disco Chris Hughes e ainda o concerto "Going To California", que teve lugar em Santa Barbara, na digressão do álbum "The Seeds Of Love". É pena que o concerto não seja da era de "Big Chair", mas não se pode pedir tudo...
"Roleta Russa aceita apostas - falsos fiéis das balanças
"é que em fortuna tudo são mudanças" [Camões] - perdes todos de quem gostas!"
Depois do enorme sucesso de "Rock In Rio Douro", álbum de 1992 dos GNR, a banda ficou com a árdua tarefa de pensar num sucessor à altura. O impacto de "Rock In Rio Douro" tinha sido estrondoso: 4 platinas, 160 mil cópias vendidas, 38 semanas de permanência no top nacional e 40 mil pessoas que esgotaram o malogrado Estádio de Alvalade, naquele que foi o primeiro concerto de uma banda portuguesa em Estádio. Números que reflectem um sucesso inédito para uma banda portuguesa... em Portugal.
Lembro-me bem da antecipação que foi feita ao "novo álbum dos GNR" nos media, qual banda internacional de renome. Isto mostrava a importância que os GNR tinham no início dos anos 90 em Portugal. O que é que eles teriam reservado para o sucessor de "Rock In Rio Douro"?
O sucessor chegaria em 1994, com o álbum "Sob Escuta", cujo primeiro single foi o tema "+ Vale Nunca". Com um claro apelo mainstream, "+ Vale Nunca" tocou em alta rotação nas rádios portuguesas e tornou-se num enorme êxito para os GNR. Apesar de tudo, globalmente "Sob Escuta" não parece ter a solidez do álbum anterior, mas não deixa de proporcionar alguns dos momentos mais altos da carreira dos GNR.
O ponto alto deste álbum é o brilhante "Las Vagas", um tema marcado pela poesia aparentemente arbitrária, característica de Rui Reininho. O uso da língua portuguesa é feito como se de uma paleta se tratasse, onde as palavras são cores que preenchem a tela da música.
"Onde a nave voga não havia vaga"
Mas nem só de lírica vivem os GNR e isso pode ser ouvido em "Las Vagas". Atentem na linha de baixo deste tema. Sublime.
"Las Vagas" foi o 2º single retirado de "Sob Escuta" e teve um videoclip gravado nos Estados Unidos, mas conheceu um sucesso bastante aquém do 1º single. Fica aqui um trecho do vídeo original:
Em 1975, os 10CC eram uma banda em sérias dificuldades de sobrevivência.
Apesar do relativo sucesso dos seus primeiros dois álbuns, o contracto com a editora de Jonathan King era muito pobre e a banda estava a ficar sem dinheiro e deseperadamente à procura de alternativas.
Até que um dia, um responsável da Mercury Records foi ao estúdio ouvir um tema que a banda estava a gravar e, estarrecido com o que acabara de ouvir, resolveu o problema aos 10CC.
Com base apenas nesta faixa, ofereceu imediatamente aos 10CC um contracto milionário de 5 álbuns, nos 5 anos seguintes. O catalisador? "I'm Not In Love".
A questão que fica é: porque é que este tema tem uma sonoridade tão diferente de TUDO o resto que já ouvimos? Antes e depois!
Enquanto toda a gente que já ligou a rádio durante a noite já ouviu "I'm Not In Love", poucos têm a noção da complexidade do processo de gravação deste tema.
O som etéreo e celestial deste tema foi obtido através de um laboroso trabalho de estúdio: durante 3 semanas consecutivas, um coro de apenas 4 vozes a cantar "Ahhhh" em todas as notas musicais foi gravado com múltiplos overdubs e misturado em multi-pista, num gravador de 16 canais, simulando um majestoso coro virtual de 256 (!!!) vozes.
A partir daqui, foram criados diversos loops, cada um correspondendo a uma nota musical. As notas da música foram depois tocadas na mesa de mistura (em vez de um sintetizador) para a gravação do tema, através dos faders: subindo ou descendo o fader correspondente a cada nota do tema, como se de um órgão se tratasse.
O resultado? Um tema relaxante e profundo, ao mesmo tempo sombrio e libertador. Um tema que, 35 anos depois do seu lançamento, continua completamente original, diferente de tudo o que tinha sido feito até aí e de tudo o que foi feito depois.
Maravilhoso.
O início dos anos 90 foi uma época viu que as pistas de dança povoadas de grande música. O Pop e o Rock misturaram-se com o Disco e muitos temas da noite chegaram mesmo a encontrar sucesso mainstream, com airplay significativo nas rádios generalistas. A música de dança era, no entanto, bastante diferente da que ouvimos hoje. Para melhor.
Foi o caso deste magnífico cover do tema mais famoso de Gerry Rafferty, "Baker Street" (um original de 1978), pela banda Undercover, que invadiu as discotecas e as tabelas em todo o mundo em 1992.
Confesso que me inclino mais para esta versão "dançável" deste tema, do que para o original de Gerry Rafferty.
"If I don't get some shelter, oh yeah I'm gonna fade away"
Hoje fica aqui "Gimme Shelter", ao vivo na lendária digressão americana dos Stones em 1972. A expressão "Sexo, Drogas e Rock N' Roll" deve ser associada, em primeira instância, a esta digressão, que serviu para promover o álbum "Exile on Main St.". Foi nesta altura que os Stones ganharam a reputação de maior banda Rock do mundo, muito devido à publicidade feita tanto em torno dos concertos, como do que acontecia no backstage.
Voltando ao tema, "Gimme Shelter" é retirado do álbum "Let It Bleed" de 1969, um álbum que representa, na minha opinião, o apogeu dos Stones. É um tema apocalíptico mid-tempo, que beneficia muito da adição de uma voz feminina.
Apesar de já gozarem de uma carreira com quase 50 anos (!!!), os Stones tiveram o seu período prolífico num espaço curto de tempo: aproximadamente entre 1965, com o lançamento de "(I Can't Get No) Satisfaction" (ainda hoje o seu tema ex-libris) e 1972, com o "Exile On Main St." e a histórica digressão americana de promoção ao álbum.
Depois disto os Rolling Stones nunca mais foram os mesmos, com a vida mundana do Rock a tomar conta da sua carreira até aos anos 80 e a partir daí, nunca mais recuperaram a grande forma artística do passado.
A performance que fica aqui está incluída no documento ao vivo "Ladies & Gentlemen: The Rolling Stones", um filme que, devido a questões de direitos, nunca tinha visto a luz do dia até agora, altura em que foi finalmente lançada em Blu-Ray, DVD e nesta magnífica edição de luxo:
Segundo este blog, o que está incluído na caixa é:
3 DVD:
Dvd 1: Filme "Ladies & Gentlemen: The Rolling Stones" + Bónus:
- Imagens do ensaio em Montreux;
- Old Grey Whistle Test de 1972 (entrevista com Mick Jagger);
- Entrevista com Mick Jagger em 2010;
Dvd 2: Documentário "Stones In Exile";
Dvd 3: Dvd Bónus - DVD de aproximadamente 40 minutos de duração, que contém:
- Imagens do Dick Cavett Show, com entrevistas e cenas dos bastidores dos concertos no Madison Square Garden, em 1972;
- Vídeo da televisão australiana, que inclui entrevistas com Keith Richards, Charlie Watts e Mick Taylor, filmado durante a digressão australiana;
Livro: Livro de capa dura com fotografias de Ethan Russel e Bob Gruen da "Exile On Main Street Tour";
Dois fotogramas de 35mm do filme "Ladies & Gentlemen: The Rolling Stones";
Cachecol: Cópia do cachecol original com o logótipo dos Stones oferecido na estreia de "Ladies & Gentlemen: The Rolling Stones" nos cinemas, em 1974;
Poster: Reprodução do poster de promoção da estreia de "Ladies & Gentlemen: The Rolling Stones" nos cinemas, em 1974.
"When the routine bites hard and ambitions are low...
And the resentment rides high, but emotions won't grow..."
Como hoje é 6ª feira, hoje recordo uma banda que tantas vezes me acompanhou nas noites de boas-vindas ao fim-de semana: os Joy Division.
Para quem não conhece, os Joy Division foram uma banda inserida no movimento post punk inglês do final dos anos 70. Originalmente, o nome da banda era "Warsaw", em homenagem ao tema "Warszawa", do álbum "Low" de David Bowie.
A banda teve uma vida muito curta, uma vez que o seu vocalista - Ian Curtis - sofria de graves depressões, acabando por se suicidar em 1980, numa altura em que a banda começava a ganhar alguma notoriedade. Os restantes membros formaram os New Order e cimentaram o estilo New Wave, num desenvolvimento natural do trabalho que já faziam com os Joy Division.
O tema que fica aqui é o icónico "Love Will Tear Us Apart". Lançado um mês antes do suicídio de Ian Curtis, o tema acabaria por se tornar o primeiro grande êxito dos Joy Division, após a notícia da sua morte. Quase 30 anos depois, ainda é o tema ex-libris da banda.
Se quiserem saber mais acerca da história de Ian Curtis e dos Joy Division, recomendo vivamente o excelente filme de 2007 "Control", de Anton Corbijn.
"I am he, as you are he, as you are me and we are all together"
Ontem fez 30 anos que John Lennon foi assassinado à porta da sua casa em Nova Iorque.
O autor deste obsceno crime foi Mark Chapman, um homem que sofria de graves distúrbios mentais e que alegadamente até era um grande fã dos The Beatles. Ao longo dos anos, Chapman foi desenvolvendo uma obsessão em matar Lennon, uma vez que este, nos anos da sua carreira a solo, manifestava-se frequentemente contra o seu passado nos The Beatles, a religião, ou o direito à propriedade ("Imagine no possessions"). Apesar deste intervencionismo, Lennon tinha uma conta bancária recheada, pelo que Chapman achava que Lennon era um hipócrita e acreditava mesmo que depois do seu assassinato, Chapman seria visto como um visionário e um salvador.
Foi devido a esta demência que se perdeu um dos mais inventivos, mais influentes e mais importantes artistas da História.
Se é fácil reconhecer que John Lennon fez uma grande quantidade de trabalhos brilhantes, mais difícil é identificar a sua obra-prima. Para mim, esta é a resposta:
Lançado em 1967 simultaneamente no álbum/EP "Magical Mystery Tour" e como o Lado B do single nº1 "Hello Goodbye", "I Am The Walrus" é um dos temas de maior influência psicadélica dos The Beatles. Sem surpresa, Lennon revelaria mais tarde que grande parte do tema tinha sido escrito durante as suas trips.
"GOO GOO G´JOOB"
O carácter indecifrável da letra deve-se também ao facto de Lennon ter recebido uma carta de um aluno do Secundário, revelando que as letras das suas músicas eram objecto de estudo nas aulas de Inglês. Em resposta, Lennon deciciu escrever um tema cuja letra não fizesse qualquer sentido, de forma a confundir este sistema.
Mais do que a revelação do ano de 2001, os Zero 7 foram uma surpresa pela abordagem. O seu álbum de estreia "Simple Things" é o meu preferido deste ano. Para eu escolher um álbum de Chill Out (ou Trip-Hop) como o “álbum do ano”, ou o ano foi especialmente desinteressante para mim, ou o álbum é realmente muito bom. Eu diria que há muito poucos álbuns nos anos 00 que chegam a “Simple Things”. Listar as grandes músicas neste álbum corresponderia praticamente a transcrever a tracklisting. É mesmo assim... that good.
Mas a pergunta impõe-se: como é que uma banda de música electrónica consegue fazer algo tão atractivo para um aficionado do Rock? A resposta está na soma de estilos que eles reuniram para criar a sonoridade deste álbum. Ao contrário doutras bandas do género, demasiado apoiadas na electrónica, os Zero 7 foram também buscar elementos ao Soul, à World Music e, nalguns casos, no que à estrutura concerne, ao Rock. A inspiração pelos Air também é clara, nomeadamente em "La Femme D'Argent" - o tema de abertura de "Moon Safari".
O tema que aqui fica é "Out Of Town", o meu preferido de "Simple Things". Atentem ao riff de guitarra...
Se eu tivesse que escolher 5 álbuns dos 00’s, “Simple Things” com certeza lá estaria. Se estão à procura daquele álbum relaxante para desligar dos problemas do quotidiano, não procurem mais... É aqui.
Inteligente e brilhante.
Obrigatório.
Hoje, espaço para a música pop “lightweight”… que é muito mais do que isso. Os Simply Red, qualquer que seja o rótulo que lhes queiram pôr, sempre se quiseram afastar das restantes bandas pop e misturar diversas influências na sua música (soul, reggae, música cubana, dance music…), beneficiando depois dos (enormes) dotes vocais de Mick Hucknall.
É precisamente isso que é oferecido em “Home”, um álbum extremamente diversificado e que, na minha opinião, representa o ponto alto da carreira dos Simply Red, pelo menos desde o álbum de estreia “Picture Book” de 1985.
A quantidade de temas de qualidade apresentados em "Home" é impressionante: desde os singles "Fake" ou "Sunrise" (com um sample de "I Can't Go for That (No Can Do)" dos Hall And Oates), passando pelo cover de Bob Dylan "Positively 4th Street", mas principalmente o tema-título "Home" e "Home Loan Blues", com o uso proeminente do piano eléctrico.
Fica aqui precisamente "Home Loan Blues", num registo ao vivo. Esta actuação remonta à digressão de promoção de "Home" e teve lugar num dos espaços mais espectaculares para concertos rock: o lindíssimo anfiteatro greco-romano de Taormina, na ilha da Sicília.
"I've been working real hard, trying to get my hands clean"
Com este post, termino hoje a sequência de artigos dedicados a "Darkness On The Edge Of Town" de Bruce Springsteen, por ocasião da (magnífica) reedição do álbum. Juntamente com o álbum remasterizado, esta reedição conta com a compilação "The Promise", com dois (!!) discos de temas que ficaram de fora do álbum original, um concerto completo da lendária digressão de promoção do álbum em 1978, um documentário sobre a história do álbum, uma performance recente do álbum e ainda diverso material de arquivo.
Assim, a caixa é composta por 3 CD e 3 Blu-Ray (ou DVD, na versão mais barata) e é uma delicia para quem é fã de Bruce ou, como é o meu caso, deste álbum em particular.
Resumidamente, o conteúdo da caixa é o seguinte:
CD 1 - "Darkness On the Edge of Town" (Remastered) CD 2 - "The Promise" (Disc 1) CD 3 - "The Promise" (Disc 2) DVD 1 - The Promise: The Making of "Darkness On the Edge of Town" (documentário sobre o gravação do álbum, realizado por Thom Zimmy, vencedor de prémios Emmy e Grammy) DVD 2 - "Darkness on the Edge of Town": Paramount Theatre, Asbury Park & Thrill Hill Vault: 1976–1978 (performance intimista do álbum completo, filmada em Asbury Park em 2009. Filmagens do arquivo pessoal de Bruce Springsteen, nunca antes vistas) DVD 3 - Houston '78 Bootleg: House Cut (concerto completo da Darkness on the Edge of Town Tour, nunca antes visto)
Olhando agora para o álbum original, este começa com um estrondoso Badlands (que parece fazer a transição do optimismo de "Born To Run" para o que viria a seguir) e depois continua até ao fim do Lado 1 com uma das sequências mais fantásticas num álbum rock: o brutal "Adam Raised A Cain", o desesperante "Something In The Night", o explosivo "Candy's Room" e o melancólico "Racing In The Street". É difícil escolher momentos altos ou baixos no Lado 1 deste álbum, tal é a sua solidez.
O Lado 2 parece começar mais uma vez com um raio de optimismo em "The Promised Land", outro fabuloso tema, mas também aqui prossegue com temas que transmitem dificuldades. A dureza da rotina de uma vida de trabalho em "Factory", a dureza da libertação em "Streets Of Fire" e a dureza do compromisso em "Prove It All Night". Todos estes temas fazem um build-up para o que chega no fim, quando o sujeito do álbum já perdeu tudo e surge de mãos vazias e coração despedaçado em "Darkness on the Edge of Town", terminando o álbum de forma sumária e lapidar:
"I'll pay the cost for wanting things that can only be found in the darkness on the edge of town"
O que me parece de realçar em "Darkness" é que, enquanto os temas no Lado 1 aparecem no álbum com as suas versões definitivas, os temas no Lado 2 parecem resultar melhor em concerto (especialmente na digressão de 1978), integrados num ambiente mais livre, vivo e acutilante. Para além disso, alguns temas foram alargados nas versões ao vivo, casos de "The Promised Land", com um solo duplo de harmónica no início e principalmente de "Prove It All Night" cuja versão no álbum durava 3:56, mas que ao vivo por vezes passava a marca dos 10 minutos.
E foi mesmo ao vivo que este álbum ganhou outra dimensão. A digressão de "Darkness On The Edge Of Town" ainda hoje é recordada como uma das mais intensas e lendárias da história do rock. A banda tinha chegado ao seu ponto alto, aperfeiçoando a performance dos temas novos e antigos.
O vídeo que está em cima é de uma performance de "Prove It All Night" em Phoenix, ainda no início da digressão, numa altura em que a versão alargada ainda não estava bem oleada, mas já dá para ter uma ideia. Esta versão está incluída no material de arquivo da reedição de "Darkness On The Edge Of Town".
Para terminar, vou fazer uso das palavras do próprio Bruce Springsteen, da mesma maneira que ele fecha o documentário de Thom Zimmy.
“How do you deal with those things and move on (...) to a life where you can make your way through the day and sleep at night”
“That's what most of these songs were about”
P.S.: Para leitura complementar: os Capítulos I, II e III.