segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

George Michael - "You Have Been Loved"



Adeus, George — You have been loved
Tudo o que eu queria ter dito ao George Michael
George, o que foste fazer? A minha namorada ligou-me há uma hora com a notícia que te tinhas ido embora e desde então que me tranquei no quarto e não consigo parar de chorar. Só penso em tudo o que te queria ter dito mas nunca tive a oportunidade. Escrevo-te aqui para me despedir de ti e te contar tudo o que não pude; para falar na tua importância, em como tu eras amado e em como te preocupavas demasiado. Esta é a carta do que nunca te disse.

Estou devastado, em choque no meu velho quarto da casa dos meus pais, a tentar processar que já cá não estás. Calhou receber a notícia aqui porque te foste embora no Natal, logo no Natal, época em que todo o mundo ouve a tua música. Aqui, neste quarto, a tua música sempre se ouviu todo o ano.
Foi dentro destas paredes que eu cresci ao som dos teus álbuns: foi aqui que dancei despreocupadamente com os Wham!, foi aqui que me revi nas tuas inseguranças — essas malditas inseguranças que te perseguiram e te levaram — e foi aqui que me senti protegido pela tua voz. Por me teres ajudado quando precisei, sempre te defendi acerrimamente. Fi-lo na escola, quando não havia nada mais uncool do que gostar de ti e fi-lo todos os dias até hoje, que ainda subsiste esse estigma idiota. Acredita, sempre fiz tudo o que pude para te defender.

Ainda assim, não consigo deixar de pensar que podia ter feito mais. Queria ter tido a chance de te dizer que te amava, que meio mundo te amava e que todos te amávamos incondicionalmente porque eras o George Michael. Não era preciso preocupares-te em ser outra coisa qualquer, estava tudo bem em seres "apenas" o George Michael. Tinhas ganho esse direito. Eras teimoso, mas talvez as coisas pudessem ter sido diferentes se me ouvisses.

Conhecia-te bem.  Sabia toda a tua música de cor, mas também sabia dos teus traumas, dos teus fantasmas e dos teus vícios. Sabia que eras um homem complexo, cheio de vícios adultos, mas no fundo só um menino perdido e frágil. Sabia do teu medo de envelhecer. Quando me mandei para Madrid sozinho para te ver e tu sacaste um tema obscuro do teu amigo Elton — "Idol", uma das minhas canções preferidas de sempre —, eu percebi que estavas a cantar sobre ti e as tuas inseguranças. E pensei que aquilo podia ser sobre mim também. E desatei ali a chorar compulsivamente.

A minha vida foi cheia de ti. A primeira grande viagem que fiz foi quando peguei corajosamente no carro e fui de Lisboa a Coimbra para te ver. A primeira vez que viajei para fora do país sozinho foi quando apanhei um avião para Madrid para te ver. A minha namorada, só o é, por causa de ti; porque na noite em que nos conhecemos lhe disse que gostava de Wham! e ela me desafiou a nomear o meu tema preferido da banda. Quando lhe cantei o refrão do "The Edge Of Heaven", ganhei a miúda. Era esta a importância que tinhas na vida das pessoas. 

Agora que já cá não estás e que o mundo chora o teu desaparecimento, estou convicto que já estamos preparados para reconhecer o génio que foste e enfim apreciar a tua obra conforme tu nos aconselhaste: "ouvir sem preconceitos". O teu legado será imortal. No que depender de mim, sê-lo-á de certeza absoluta. Vou falar de ti a todos os que se cruzarem comigo e celebrar a tua música até ao fim dos meus dias. É o mínimo que posso fazer para devolver o tanto que tu me deste.

You have been loved, George. And forever you will be. The world is going to be a shittier, shittier place without you.

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