"You took my heart and soul away with you, but now I stand alone and dream I'm in your heart again"
Muito se tem passado nos últimos dias, sem que eu tivesse tempo para actualizar devidamente este espaço com todas as boas novas. Mas o blog não corre ao mesmo ritmo do mundo lá fora, "aqui o tempo não é tempo, é só um chão que ninguém pisou" (já dizia o Pedro Abrunhosa) e como tal, nunca houve grande preocupação em seguir as tendências. Mas agora há muito chão para pisar.
Uma das grandes notícias dos últimos dias foi a revelação de 3 novas faixas dos Queen com Freddie Mercury na voz, para inclusão em "Queen Forever" - compilação que pretende recolher algumas das melhores baladas dos Queen e assim dar a conhecer esse lado do grupo à geração mais nova.
Espera aí, faixas novas dos Queen, com Freddie Mercury na voz?! Então mas esse barril não tinha já sido esvaziado com o "Made In Heaven" em 1995? Parece que não.
Há cerca de um ano, Brian May fez uma revelação avassaladora para os fãs dos Queen (para mim, pelo menos, foi com certeza): havia mais faixas vocais de Freddie Mercury, inauditas, passíveis de serem utilizadas para um novo álbum dos Queen, à imagem de "Made In Heaven". Um Made In Heaven II, portanto. Êxtase completo.
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Deixem-me enquadrar-vos na matéria: "Made In Heaven" foi o único álbum que eu vivi dos Queen.
Houve outros que foram lançados no meu tempo de vida ("One Vision" foi lançado no dia em que vim ao Mundo), mas era demasiado novo na altura. Apesar do meu Pai me contar que eu já vibrava com a música dos Queen desde os 2 anos - altura em que comprou o álbum "Live Magic" e gravou o concerto dos Queen no Wembley e eu não queria ver outra coisa senão a cassete VHS com aquelas 2 horas mágicas - eu era muito novo para ter noção do que era aquilo.
Só quando o Freddie Mercury morreu a 24 de Novembro de 1991 - tinha eu acabado de fazer 6 anos - é que eu me apercebi: isto não era como os desenhados animados das outras cassetes que eu via; isto era um ser humano, real, que desaparecera naquele dia.
Com o choque com que a notícia foi dada na televisão, chorei.
Chorei, como se de um tio se tratasse. Não um tio afastado; mas sim um tio que vivia ali ao lado e que eu via e ouvia todos os dias; que falava comigo numa língua estranha que eu não entendia, mas de alguma forma percebia o que ele me queria dizer.
Chorei, sem perceber bem o impacto que teria o desaparecimento de uma pessoa.
Quando 4 anos mais tarde, já com 10 anos de idade e totalmente seguro do meu know-how dos Queen, é anunciado o lançamento de "Made In Heaven" - o álbum com as últimas gravações de Freddie Mercury, rejubilei.
A promoção ao álbum foi forte e eu sabia bem o que queria para os meus anos, em 1995. No dia em que chegou à loja de discos de Castelo Branco, o meu Pai foi lá e trouxe o CD mágico para casa.
Devorei positivamente o álbum naquele Inverno e no Verão seguinte e no Inverno seguinte e no Verão posterior. Era como se não existisse mais nada.
Apesar do soslaio com que é olhado por alguma crítica (sempre os mesmos idiotas), eu grito-o sem reservas: eu amo o "Made In Heaven". Sem ses, nem mas, nem apesares.
"Made In Heaven" é um álbum muito especial para mim e tem lugar no meu Top 5 de álbuns de sempre.
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Agora que já vos enquadrei na matéria, podem imaginar a excitação que me induziu a revelação de Brian May. Só me restava esperar para ver o que daí vinha.
Não é que eu não imaginasse que temas poderiam vir aí. O Freddie já cá não está desde 1991 e depois de "Made In Heaven", o poço da água que ele nos deixou para beber já estaria com certeza quase seco. Mas sabia que havia ainda algumas faixas no arquivo dos Queen que poderiam levar o mesmo toque de Midas que acontecera no álbum "Made In Heaven".
A Wikipedia tem um levantamento bastante abrangente e assertivo do que se sabia haver nos arquivos dos Queen.
Aprofundarei o assunto dos arquivos mais tarde, mas já no último post dos Queen referi que "se há uma banda que ao longo da história inexplicavelmente ignorou os seus arquivos - tanto em áudio, como em vídeo - essa banda são os Queen.".
É verdade. Esperava-se então que este pecado fosse parcialmente corrigido com Made In Heaven II. Contava ver neste álbum, numa forma completa e renovada, as faixas vocais gravadas para temas como:
"Man On Fire" (deixado à última hora de fora de "The Works" e depois lançado a solo por Roger)
"I Guess We're Falling Out" (das sessões de "The Miracle")
"Dog With A Bone" (das sessões de "The Miracle")
"Face It Alone" (das sessões de "The Miracle" e "Innuendo")
Note-se que o que se ouve em cima são apenas demos, são pedras sem acabamento e o produto polido não teria nada a ver com isto. Contava para isso com o tal toque de Midas dos Queen.
Havia ainda o espólio a solo de Freddie que poderia ser aproveitado: desde as faixas inutilizadas do seu álbum a solo "Mr. Bad Guy" ("I Was Born To Love You" e "Made In Heaven" já tinham aparecido em "Made In Heaven"), as lindíssimas faixas do musical "Time" ("Time" e "In My Defense") e claro, os infames duetos com Michael Jackson, desde há 30 anos à espera para ver a luz do dia.
"State Of Shock" foi regravado com Mick Jagger e lançado no álbum dos The Jacksons "Victory" (faixa que deu nome ao álbum, mas que nunca foi lançada oficialmente).
Freddie, por seu lado, gravou "There Must Be More To Life Than This" a solo e incluiu-a no seu álbum "Mr. Bad Guy".
Uns anos mais tarde, a parte vocal de Michael Jackson em "There Must Be More To Life Than This" apareceu na internet e um fã fez o magnífico trabalho de juntar as duas vozes, criando esta maravilha.
Só de pensar no que os Queen tinham feito em "Made In Heaven", eu ficava aguado a imaginar o que poderia fazer o toque de Midas de Brian May e Roger Taylor a este tema.
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Bem me enganei.
5ª feira à noite chegou a grande revelação: vem aí novo álbum dos Queen, mas não é bem aquilo que estavam à espera. Afinal, o novo álbum é uma compilação e as novas faixas são apenas 3. É melhor que nada, é verdade. Mas não deixa de ficar um amargo na boca, sabendo do que poderia aí vir.
Mas o pior de tudo foi perceber que talvez o tal toque de Midas dos Queen já se tenha desvanecido.
A nova versão de "There Must Be More To Life Than This" - que agora aparecerá creditada a Queen + Michael Jackson - é inferior à versão maravilhosa criada por um mero fã, há mais de 10 anos.
A nova versão de "Love Kills" - que agora se apresenta com o subtítulo The Ballad - também fica a quilómetros de distância da assombrosa versão original de Freddie Mercury, que entrou na banda sonora de "Metropolis" de Giorgio Moroder.
Tanto os Queen quiseram polir as suas pedras, que elas ficaram sem nenhum edge.
(Esta observação resulta muito melhor em inglês: "Queen wanted so much to polish their rock, that they lost their edge" - veem? Muito melhor.)
Que pena...
Mas nem tudo está perdido.
Em contrapartida, os Queen desvendam em "Queen Forever" aquela que poderá ser a última pérola saída dos seus arquivos: "Let Me In Your Heart Again".
O tema foi gravado durante o ano de 1983, em Los Angeles, para o álbum "The Works" e emula exactamente aquilo que eu mais ansiava ouvir num Made In Heaven II. É um final de ciclo perfeito.
Naquela que pode ser a última vez que fala connosco, Freddie pede para entrar novamente no nosso coração.
Claro que sim, Freddie. Ele esteve sempre aqui para ti.
"Let Me In Your Heart Again" é mais um triunfo dos Queen. Possivelmente o último.
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