segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

George Harrison - "Hear Me Lord"

"Now, won't you please... Please... Hear me, Lord"



Hoje volto a "All Things Must Pass" para fechar 2012 e vos falar na categoria que falta: o Tema do Ano. A minha escolha é o divinal "Hear Me Lord".
Em Agosto, já aqui falei da grande obra-prima de George Harrison; o albatroz da sua discografia; o álbum onde o Quiet Beatle almejou alcançar, sozinho, as alturas babilónicas dos The Beatles. Na minha modesta opinião, subiu alto, muito muito alto.
"All Things Must Pass" foi o meu álbum preferido de 2011 e foi, quase, quase, quase... o meu preferido de 2012. O volume de material que encontramos aqui é tão vasto, tão imenso, que a longevidade que este álbum teve comigo foi enorme.



"All Things Must Pass" é um álbum onde George Harrison abre o coração e despeja tudo o que lhe vai na alma. E como seria de esperar de George (principalmente nesta fase da sua vida), o que vai na sua alma é essencialmente fé.
A fé aqui exposta não está necessariamente ligada a uma religião específica, como deixa entender em "Awaiting On You All" ("By chanting the nameS of the Lord, you'll be free"); George nunca fala em Deus ("God"), mas refere-se repetidamente ao Senhor ("Lord"). O que George quer transmitir é que qualquer que seja a crença (e ele também tem a dele), o que é preciso é ter fé. Porque a fé é a luz que nos previne da escuridão ("Beware Of Darkness").

Ora bem, eu não me considero, de todo, uma pessoa religiosa. A invocação contínua do Senhor por parte de George, como figura religiosa da Salvação, não é uma acção com a qual eu me identifique directamente.
Mas tenho fé, pois claro. Tenho fé na verdade de valores (muitos deles cultivei com a aprendizagem religiosa que tive), fé na verdade de sentimentos, fé na verdade de pessoas que me rodeiam. Porque a fé é muito mais do que religião.

"Help me, Lord, please, to rise a little higher, hmmm-hmmm
Help me, Lord, please, to burn out this desire, hmmm-hmmm"

Por isso, a forma como George se entrega em "Hear Me Lord" deixou-me completamente rendido ao tema. George canta em desespero, despe o seu íntimo, revela as suas fraquezas, pede força para o ajudarem a ultrapassá-las e assim usa a fé como uma arma... para ser uma melhor pessoa. E se não é isso que todos queremos, é de certeza o que todos deveríamos querer.

"Hear Me Lord" é um dos temas mais pessoais que George Harrison escreveu em toda a sua carreira. George escava até ao ponto mais profundo do seu íntimo para sacar o que ouvimos. A sua inclusão no final do 2º disco de "All Things Must Pass" serve como uma chave de ouro, para fechar a sua obra-prima (não conto aqui com o 3º disco - Apple Jams).

Desde a explosiva introdução de bateria, que "Hear Me Lord" é um tema que me consegue, invariavelmente, arrancar arrepios na espinha. A beleza dos arranjos, da interpretação vocal de George e das harmonias, daquela slide guitar que se ouve a chorar lá ao fundo, do piano caótico a carpir as suas mágoas... é uma beleza que me esmaga. É tudo perfeito.

Em alternativa, ouvir George Harrison aqui, em modo solo, a cantar "Hear Me Lord" acompanhado apenas da sua guitarra eléctrica, despido de toda a produção de Phil Spector, pode ser ainda mais arrepiante. Decidam vocês.



Depois do post de Agosto e desta introdução, acho que já praticamente esgotei os elogios que poderia fazer a este álbum. O impacto que esta obra teve em mim está à vista e o que me resta agora é desafiar-vos a deixarem-se submergir nela, de mente livre e coração aberto, tal como eu o fiz, desde que o descobri no último terço de 2011.

2 comentários:

  1. E que belo álbum! ;) É uma daquelas pérolas que "tirei" aqui do teu blog. Desde essa altura que nunca mais voltei a olhar para o George Harrison da mesma forma.
    E o que dizes dele, aplica-se a todos os artistas que põem tudo deles na música (digo isso porque me lembrei daquele "conselho" do Bruce: You’ve got to pull up the things that mean something to you in order for them to mean anything to your audience. That’s how they know you’re not kidding. No fundo não se aplica só a quem faz música mas a toda a gente que cria alguma coisa... Se formos verdadeiros e honestos, vai sempre atingir alguém).

    Em muitas coisas, ele lembra-me o Bill Hicks e os Tool (em termos de espiritualidade, religião aparte). É algo que em vários aspectos faz muito sentido para mim. Mas como é um assunto tão abrangente, é difícil compreendê-lo inteiramente.

    Essa versão a solo é muito boa!

    Mas tenho fé, pois claro. Tenho fé na verdade de valores (muitos deles cultivei com a aprendizagem religiosa que tive), fé na verdade de sentimentos, fé na verdade de pessoas que me rodeiam. Porque a fé é muito mais do que religião.

    Tãaao verdade! E é curioso que os teus dois últimos posts têm os dois alguma referência à fé :)

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    1. É isso mesmo que o Bruce disse! O mais engraçado é que eu estive para fazer precisamente um paralelismo entre a "profundidade" dos dois (sendo que o Bruce é mais virado para o sofrimento e o George é mais virado para a fé), porque na época em que o "All Things Must Pass" foi lançado, o George foi acusado de "exagerar no sentimento espiritual imposto nos seus temas, especialmente em "Hear Me Lord"". Ora isto é o equivalente que acusar o Bruce Springsteen de "exagerar na caracterização da condição humana". É ridículo.
      É exactamente a sua honestidade que faz deles, dois artistas ímpares!

      É verdade, os dois últimos posts centraram-se nessa temática: a fé. Acho que isso tem a ver com o sentimento para 2013 :)

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