quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Duran Duran - "Save A Prayer"

"Some people call it a one night stand but we can call it paradise"



Aproximamo-nos do fim do ano e por isso já só restam 2 temas nesta retrospectiva de 2010. Nesta fase, começa a ser difícil não só a escolha dos temas, mas também a sua ordenação. Não que esta seja vinculativa, mas procurei ordenar vagamente os temas, de modo a terminar o ano com aquele que teve mais importância ao longo de 2010.

Assim, para a penúltima escolha do ano, fica aqui o tema de uma banda que decobri mais profundamente este ano. Não que eu não conhecesse o essencial do trabalho dos Duran Duran, mas faltava-me dissecar os álbuns e a sua história para ter uma noção mais concreta da importância e da qualidade do seu trabalho. Ambas são imensas. Mas já lá vamos.

O tema que fica aqui hoje é "Save A Prayer", uma irresistível e sedutora balada retirada de "Rio" - o álbum de referência dos Duran Duran. Um tema que marcou os meus fins de tarde no Verão.
O single de "Save A Prayer" foi lançado em Agosto de 1982, como o 3º single de promoção de "Rio" e rapidamente despoletou um estrondoso sucesso à escala global. Chegou a nº 2 no Reino Unido, não atingindo o lugar cimeiro devido a "Eye Of The Tiger" dos Survivor.


Nesta altura, os Duran Duran eram a banda da moda. Faziam capas de revista, as suas músicas tocavam na rádio em alta rotação e os seus vídeos cosmopolitas serviam como pão para a boca da então embrionária MTV.
Dizia-se nos anos 80 que "Se a MTV gostasse de ti, o Mundo gostava de ti". E a MTV adorava os Duran Duran.

O motor de toda esta atenção dos media? Os Duran Duran aliavam a boa música, integrada nos então emergentes movimentos New Romantic e New Wave, à apresentação de uma imagem atraente. Eles sabiam disso e tinham intenção de explorar a sua imagem para impulsionar a promoção da música.
Para se ter uma dimensão da importância da banda nesta época, os Duran Duran eram então apelidados de "Fab Five", em alusão aos The Beatles. A banda tinha assim todos os dados para para conquistar o Mundo, pelo menos na sua faixa etária mais jovem.

Deste modo, para a gravação do vídeo de "Save A Prayer", os Duran Duran contrataram o consagrado realizador Russel Mulcahy e viajaram para o Sri Lanka, onde aproveitaram os cenários exóticos para criar vídeos pioneiros, completamente diferentes de tudo o que se fazia naquela altura. Os media adoraram e o público também.

"You don't have to dream it all, just live a day"

"Save A Prayer" é uma balada romântica e melancólica, que carrega na sua música e na sua lírica um simbolismo... um significado próprio. O tema basicamente relata a história de um amor efémero, mas segundo Simon Le Bon é muito mais que isso. É um tema sobre a liberdade individual, sobre o conceito filosófico que o que importa é o momento presente. Para Simon, a linha mais importante deste tema é aquela que está no início do post:

"Some people call it a one night stand but we can call it paradise"

A explicação, pela palavras do próprio Simon: "Não vamos pensar no que significa, não vamos pensar no que vai ser amanhã... Vamos pensar no que vai ser este momento. É a única coisa que importa."

A verdade é que há muito mais em "Save A Prayer" do que uma mensagem. A estrutura deste tema é de uma complexidade extraordinária, mas é soberanamente organizada por um trabalho de produção magistral de Colin Thurston. Segundo o baixista John Taylor, o tema é composto por 4 faixas diferentes de sintetizador, 4 faixas de guitarra, 2 faixas de baixo, para além da bateria e das faixas vocais. Estonteante.

É fascinante a quantidade de coisas que acontecem simultaneamente em "Save A Prayer".
Mais do que isso, para alguém com algum treino de ouvido, é uma delícia identificar as diferentes partes que vão surgindo nos vários espaços da cortina sonora deste tema. Não estou a falar um muro de som, no sentido da wall of sound de Phil Spector ou do brickwalling de Owen Morris. Falo de uma cortina fina e delicada, produzida com a minúcia de um bordado.

A base da música é um loop de sintetizador que entra no início do tema e se estende até ao fim, quando sai em fade-out. Ao fim de dois loops, entra mais uma faixa de sintetizador com a melodia base do tema, uma faixa de guitarra acústica com os acordes básicos e a restante secção rítmica (bateria e baixo). Na verdade, a estrutura do tema é tão complexa que confesso que nem sequer consigo identificar algumas das faixas que referi em cima.

Para mim, o momento chave de "Save A Prayer" surge durante o 2º refrão (ao segundo 2:25 no vídeo), numa altura em que Simon Le Bon canta:

"Don't say a prayer for me now, save it 'til the morning after"

...e rebenta a agressiva guitarra eléctrica de Andy Taylor com um riff arrepiante... arrebatador. É um momento único, exclusivo, irrepetível.
É um daqueles momentos raros na música que mexem profundamente connosco.

Importa frisar que a agressividade da guitarra eléctrica de Andy Taylor era, nesta altura, um dos factores mais importantes que separava os Duran Duran de todas as outras bandas Pop. Andy tinha raízes Punk e dava um edge único à música dos Duran Duran. Infelizmente, com a sua saída durante a gravação de Notorious - o 4º álbum dos Duran Duran - a banda perdeu esta faculdade e nunca mais foi a mesma.

5 comentários:

  1. Dei com este post por acaso (até porque os Duran Duran nunca me disseram muito) e não podia não comentar.

    É fascinante a quantidade de coisas que acontecem simultaneamente em "Save A Prayer".
    Mais do que isso, para alguém com algum treino de ouvido, é uma delícia identificar as diferentes partes que vão surgindo nos vários espaços da cortina sonora deste tema. Não estou a falar um muro de som, no sentido da wall of sound de Phil Spector ou do brickwalling de Owen Morris. Falo de uma cortina fina e delicada, produzida com a minúcia de um bordado.


    És tão geek! :P mas eu digo isso no melhor sentido possível, acredita! :)
    Gostei mesmo muito deste post precisamente porque se nota tão bem esse teu entusiasmo em relação a esta música. É como já te disse, o que distingue a tua escrita é precisamente essa necessidade que crias em quem te lê (pelo menos a mim) de ir imediatamente ouvir também.

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    1. Hehe eu até levo isso como um elogio! :P
      Como diz um amigo meu, eu às vezes exagero na adjectivação, mas o que fazer, sou assim :D

      Acredita que não tenho qualquer complexo nesse tipo de "rótulos" que me possam colocar, porque eu levo tantos e tão diferentes, que até acho piada! Às vezes até são diametralmente opostos, consoante o quadrante que me está a classificar: se dentro do ambiente dos Engenheiros, sou conhecido como um "ganda maluco", fora daí sou normalmente conhecido como um "atinadinho". Eu no fim rio-me com isto tudo :)

      É curioso que, à medida que te vou lendo mais no teu blog, verifico que temos um estilo de escrita muito parecido! Eu pelo menos identifico-me "n" vezes com o que escreves e às vezes até penso Porra, eu poderia ter escrito isto! :)

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    2. Ah ainda bem! lol É que eu tenho tendência para brincar e gozar com essas coisas e já tenho tido situações com algumas pessoas que ficam um bocado chateadas/ofendidas comigo quando a minha intenção não é ofender. Aliás, só o faço com pessoas com quem me sinto à vontade e simpatizo. Eu própria não levo nada a mal que gozem/brinquem comigo nesse sentido também. Quando comecei a gostar dos Tool, alguns amigos e conhecidos meus chamavam-me "geek da ferramenta" por exemplo :P
      E é engraçado diferentes pessoas darem diferentes rótulos, vai tudo da maneira como nos vêem e em que contexto (trabalho/certo grupo de amigos etc). Também me acontece isso :)

      O primeiro post teu que li (aquele tal do concerto do Bruce) eu senti logo isso. Imagina o meu espanto quando o estava a ler e é daquelas coisas mesmo: epah, foi ISTO sem tirar nem pôr que eu senti no concerto!. Na altura pensei que seria uma coincidência mas conforme ia lendo mais posts: eu poderia ter escrito aquilo! :P
      Foi também por isso que te mostrei aquele post de 2008. Muito do que li/leio aqui escrevi lá, anos antes :) É engraçado isto.

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  2. Passando em 2018 para dizer que teu post ficou sensacional!!!! Você desistiu do blog?

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    1. Ola'! Nao desisti do blog, so' ja' nao tenho tanto tempo para escrever aqui, uma vez que (para além do meu trabalho de Engenheiro), ainda tenho uma crônica semanal da NiT.pt (que vai para o meu outro blog Rapsódia Boémia) e tenho um show de rádio também semanal na NiTfm.pt!
      Deixo os links em baixo ;)


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      https://nitfm.pt/programas/london-calling/

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      https://nit.pt/author/nuno-bento

      Blog:
      http://rapsodia-boemia.blogspot.com/

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