quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Pink Floyd - "Louder Than Words"

"It's louder than words, this thing that we do.
Louder than words, the way it unfurls.
It's louder than words, the sum of our parts.
The beat of our hearts is louder than words."

Se me dissessem há uns meses que hoje, 9 de Outubro de 2014, eu me levantaria mais cedo da cama, só para ligar a emissão online da BBC Radio e ouvir um tema novo dos Pink Floyd, eu abanaria a cabeça em descrença, olhando para o chão enquanto pensava nas parcas possibilidades para que tal pudesse acontecer. Mas às vezes a vida guarda-nos surpresas onde menos esperamos.

"Louder Than Words" está aí e é o tema de avanço do álbum "The Endless River", que junta 4 diferentes peças musicais, cada uma ocupando um lado do duplo LP. Estas peças foram gravadas em 1993, nas sessões de "The Division Bell", as quais produziram 5 a 6 horas de música (segundo Richard Wright referiu numa entrevista em 1994).
Ao contrário do que eu especulei aqui, não vão aparecer as sessões instrumentais que Richard Wright gravou nos seus últimos anos (essas ficarão guardadas para o próximo álbum a solo de David Gilmour, ou até, quem sabe, para um álbum em nome próprio); não vão aparecer elementos da montagem "Soundscape"; e aparecerão alguns segundos apenas da peça "The Big Spliff", originalmente criada por Andy Jackson.
O que teremos em "The Endless River" é algo totalmente novo, inaudito.


"The Endless River" será - David Gilmour já o garantiu - o capítulo final da História dos Pink Floyd. É um duplo álbum quase integralmente instrumental do trio Gilmour-Wright-Mason. Quase, porque David Gilmour quis fechar a discografia dos Pink Floyd com um olhar para o passado.


"Well, Rick is gone. This is the last thing that’ll be out from us. I’m pretty certain there will not be any follow up to this. And Polly, my wife, thought that would be a very good lyrical idea to go out on. A way of describing the symbiosis that we have. Or had… I didn’t necessarily always give [Wright] his proper due. People have very different attitudes to the way they work and we can become very judgmental and think someone is not quite pulling his weight enough, without realising that theirs is a different weight to pull."
David Gilmour
É isso que ouvimos em "Louder Than Words".



Agora impõe-se a pergunta: será que as expectativas geradas por um novo tema dos Pink Floyd foram correspondidas? A resposta é não. Era praticamente impossível.

Não me interpretem mal, eu adorei "Louder Than Words". Mesmo. A voz de David continua divinal, a sua guitarra está no ponto e o Hammond de Richard conseguiu puxar-me as lágrimas diversas vezes em 4 minutos e meio. Só que "The Division Bell" é o meu álbum preferido de todos os tempos. É o álbum que o meu Pai punha a tocar todos os Domingos de manhã, durante anos a fio. Está na minha cabeça colado com a mesma força que a face da minha mãe e o caminho para a minha casa. É injusto comparar o que quer que seja ao melhor de sempre.

Posto isto, confesso que fiquei um pouco desapontado com o solo de guitarra do David Gilmour, para aquele que ficará para sempre como o último tema da discografia dos Pink Floyd. É demasiado curto. Mas depois lembrei-me que o que ouvi hoje é apenas um radio edit(uma versão curta para passar na rádio), por isso é possível que haja mais 2 minutos de solo no disco.
Mais uma vez, note-se que David é o meu guitarrista preferido de todos os tempos, por isso the bar was set very high para ele também.

Nesta paixão pela música, como em qualquer outra paixão, quando as expectativas são tão altas... É previsível haver dissabores e alguém acabar magoado.
Assim, sem querer ser um desmancha prazeres, vou pôr um pouco de água na fervura (também na minha).
Sejamos realistas, é muito difícil (para não dizer virtualmente impossível) que "The Endless River" supere "The Division Bell". Logo à partida, por 2 motivos: em primeiro lugar, porque TER é o que sobra das sessões de gravação de TDB, TER está para TDB como a Liga Europa está para a Liga dos Campeões; depois, porque o que vamos ouvir é material inacabado e daí ser revelado em forma instrumental.

Reitero que não quero com isto decretar o funeral a "The Endless River". Eu estou em pulgas para ouvir o resto do álbum. Estou convicto que vai ser fenomenal (olha para mim de volta aos superlativos), que vou adorá-lo e que vou ouvi-lo 100 vezes, só contando com o pouco que resta de 2014. Mas tenho que resfriar os ânimos desta paixão, especialmente para mim.

Honestamente, "The Endless River" é uma incógnita para mim. É um álbum duplo com 45 minutos instrumentais. Não sei o que esperar.

Se os Pink Floyd tivessem terminado em "High Hopes", teria sido um final perfeito. Mas se me derem a escolher entre ter ou não ter mais um álbum dos Pink Floyd, ainda que imperfeito, ainda que inacabado, a minha resposta será sempre: "SIM! CLARO QUE SIM! 'tás parvo ou quê, para me fazeres uma pergunta dessas?!".

Às vezes, a vida guarda-nos surpresas onde menos esperamos. E essas são as mais saborosas.
Foi o que me ensinou 2014.
"Let's go with the flow, wherever it goes. We're more than alive."

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Trent Reznor and Atticus Ross - "What Have We Done To Each Other?" (Gone Girl Soundtrack)



Acabo de sair da sala de cinema, onde fui exposto a "Gone Girl" - o filme que supostamente será o melhor do ano. E é mesmo.
Não me vou alongar sobre como David Fincher já deve reclamar para si um lugar de proa no panteão dos melhores contadores de histórias da História de Hollywood. Outros especialistas em cinema tratarão disso.

Vou antes falar da banda sonora. Porque da mesma maneira que o povo diz que "por trás de um grande homem, está sempre uma grande mulher", também por trás de um grande filme, está sempre uma grande banda sonora. E não raras vezes, por trás de um grande realizador, está um grande músico. Foi assim com David Lynch e Angelo Badalamenti, foi assim com Béla Tarr e Mihály Vig, foi assim com Krzysztof Kieślowski e Zbigniew Preisner.

Fincher encontrou o seu Badalamenti em Trent Reznor e no seu fiel escudeiro Atticus Ross. Juntos, deram voz a "The Social Network" de 2010 (que ganharia o Oscar de melhor banda sonora), "The Girl with the Dragon Tattoo" de 2011 (que ganharia o equivalente Grammy) e agora trazem-nos a banda sonora de "Gone Girl", acabadinho de chegar aos cinemas.
Se as 2 anteriores foram muito boas, esta é de cortar a respiração; causa ansiedade, provoca arritmia. É o perfeito casamento com o filme que sonoriza.

David Fincher pode continuar a confiar em Trent Reznor e Atticus Ross. Foi muito à custa deles que eu passei as últimas 2 horas e meia com os rins colados ao fundo do banco do cinema. Fica o aviso: não bebam café antes de "Gone Girl".