sábado, 27 de outubro de 2012

Freddie Mercury - "The Great Pretender"

"My need is such, I pretend too much. I'm lonely but no one can tell"



"I don't like to write message songs, like John Lennon or Stevie Wonder. I like to write songs about what I feel and what I feel about, very strongly, is love and emotion." 
King Mercury

Acabei de assistir ao novo documentário sobre a vida e a música do Rei - Freddie Mercury, apropriadamente baptizado de "Freddie Mercury: The Great Pretender". O documentário foi realizado este ano por Rhys Thomas, para a BBC e foi recentemente lançado em DVD e Blu-Ray.


Eu vi a versão completa do Blu-Ray, de 107 minutos e que dizer...? O único problema destes documentários é que acabam sempre em tragédia... Foi uma hora e meia de carpidura a baba e ranho.
Não sou de chorar em filmes, mas é porem-me a ver uma biografia dos Queen, ou do Freddie Mercury e logo vêem como é...




Disse que o documentário foi apropriadamente chamado de "Freddie Mercury: The Great Pretender". Apropriadamente, porque foi exactamente assim que Freddie viveu: fingindo.
Mas não é isso que todos fazemos, até um determinado nível, nas nossas vidas? Até a mais genuína das pessoas é obrigada a fingir, ou foi obrigada nalgum dia, ou nalgum aspecto da sua vida. Seja para se sentir inserida na sociedade, para agradar a alguém, para cumprir um desafio.

Parte da nossa vida é feita a fingir.

Fingir que somos mais fortes. Fingir que somos mais divertidos. Fingir que somos mais dinâmicos.
Para chegarmos onde queremos, somos muitas vezes obrigados a usar uma máscara e ser aquilo que não somos. A vida é isto mesmo.
"Too real is this feeling of make-believe
Too real when I feel what my heart can't conceal"

Isto tinha especial relevância para Freddie Mercury, um homem que usava em palco a máscara de macho dominante, mas que não se traduzia na realidade. Segundo o próprio, Freddie considerava-se uma "pessoa aborrecida" na vida privada, quando despia a sua persona de artista. No entanto, com esta vestida, Freddie era uma força da natureza: uma voz divina aliada a uma presença em palco como nunca se tinha visto e nunca se voltou a ver.

Ao longo do documentário, Freddie aparece várias vezes em discurso directo sobre a sua personalidade, a sua maneira de estar e as suas fraquezas.
Freddie era uma pessoa frágil. A sua persona artística era uma máscara que o protegia disso mesmo. Ao elevar-se ao patamar de estrela Rock inacessível, Freddie guardava uma distância de segurança em relação às pessoas. A páginas tantas, Freddie refere-se à dificuldade que tem em encontrar alguém que o compreenda:
"People have a hard time to accept me as a normal person."
"I'd like to share my life with someone, but nobody wants to share their life with me"
"The more I open up, the more I get hurt. I'm riddled with scars and I just don't want anymore."

Freddie formulara a sua persona para se distanciar de quem o magoara, mas no fim de contas, a sua persona alienava as outras pessoas da sua verdadeira maneira de estar, por vezes mais calma e até "aborrecida". Freddie atara um novelo paradoxal com a sua personalidade e a única forma de fugir a isso seria, uma vez mais, fingindo.

"Oh yes, I'm the great pretender, pretending I'm doing well"

Por outro lado, Freddie era uma pessoa muito intensa (ver citação depois do vídeo) e isso não é, de todo, uma característica com que é fácil lidar. Pelo menos é o que me vão dizendo, pelo que me posso identificar com este outro paradoxo da sua vida.
Como mostrar o apreço por alguém sem o fazer de maneira exagerada? Como mimar alguém, sem assustar? Qual a medida certa? Eu nunca soube, Freddie também não.
Como ultrapassar isto? Fingindo.
"I seem to be what I'm not, you see!"

"The Great Pretender" é por isso um tema que encaixa que nem uma luva em Freddie Mercury. É um tema escrito por Buck Ram, para os The Platters, originalmente lançado em 1955. Foi o primeiro e único cover lançado por Freddie Mercury ao longo da sua carreira, algo que, segundo o próprio diz no documentário, ele sempre quisera fazer, mas que seria impossível nos Queen.
A interpretação de Freddie foi um sucesso (chegou a nº 4 nas tabelas britânicas) que ainda hoje é tocado nas rádios, sendo muito mais reconhecida que a versão original.



O documentário é obrigatório para quem gosta dos Queen, especialmente para quem, como eu, tem grande admiração por Freddie Mercury. Depois do meu Pai, o meu ídolo de sempre.

domingo, 21 de outubro de 2012

Guns N' Roses - "Out Ta Get Me" (Live At The Ritz '88)

‎"I don't know, what by chance, the television audience will see... what anyone will see.
But what we'll see tonight..."



"We want to dedicate this song to the people that try to hold you back!
The people that tell you how to live!
People that tell you how to dress!
People that tell you how to talk!
People that tell you what you can say, and what you can't say...
I personally don't need that! I don't need that shit in my life!
Those are the kind of people that get me down. They make me feel like somebody, somebody out there... is OUT TA GET ME!"

Para lá das minhas bandas preferidas de sempre - os Queen e os Pink Floyd - bandas de quem sou fã desde que me lembro de existir e que acompanharam o meu crescimento como Homem e como ouvinte, houve 3 artistas/bandas que revolucionaram a minha vida: nos despreocupados anos de adolescência, pré-faculdade, houve os Oasis; mais recentemente, quando comecei a provar os sabores amargos da vida, apareceu Bruce Springsteen; e entre estes dois, vivia eu os meus revoltados anos de faculdade, os Guns N' Roses. Foram estes os artistas que maior impacto tiveram em mim.



Nos árduos anos do Técnico, o impacto dos Guns N' Roses na minha vida foi completamente transversal. A música dos Guns trouxe-me o ímpeto da revolta: fez-me virar contra o estado das coisas que passavam à minha volta e, mais importante que isso, tomar atitudes nesse sentido.

Mudou a música que ouvia.
Os Guns foram o ponto de partida para toda a música mais pesada que comecei a ouvir a partir daqui, desde o Heavy dos clássicos Deep Purple, Black Sabbath, ou Led Zeppelin, até ao Thrash Metal dos Metallica.

Mudou a roupa que vestia.
A partir do momento em que mergulhei na tecnosfera dos Guns, defini um estilo de roupa que me acompanha até hoje: calças de ganga, T-shirt, casaco de cabedal preto e óculos Ray-Ban Aviator. Basta olhar para a foto no meu perfil para se perceber a ideia.
O estilo acompanha-me até hoje, sim, mas desde que saí da faculdade apenas aos fins-de-semana. Durante a semana, outro estilo mais formal se desenvolveu, mas sempre pincelado com o original, nunca prescindindo do casaco de cabedal, nem dos óculos.
You are what you wear, já diz o ditado.

Mudou o penteado que usava.
Esta foi uma das maiores revoluções, que o diga a minha namorada da altura. Do corte "jovem" de cabelo espetado e moldado com gel, passei a usar longos cabelos ondulados. Ah e barba comprida, também. De barba e cabelos compridos, se vestisse um manto branco e aparecesse sem aviso nas instalações do antigo cinema Império, era capaz de confundir algumas cabeças.
Infelizmente este penteado não foi muito duradouro; depois de muitos desgostos às minhas avós, acabaria por desaparecer poucos dias antes de começar a trabalhar. Contingências da sociedade.

Mudou a minha forma de pensar.
Dentro das certezas que compõem o motor que move a nossa vida, todos temos as nossas dúvidas. Nesta fase, algumas foram colocadas de cima da mesa.
Tudo foi posto em causa na minha vida. O que é que eu andava a fazer? Os estudos universitários eram o caminho correcto? Era feliz? Era preciso romper com algo que se passava na minha vida? Os dogmas que carregava faziam algum sentido?

Neste ímpeto de revolução, passou mesmo pela minha cabeça deixar os estudos de Engenharia e enveredar pela... rádio. Depois de uma chamada telefónica ébria com a minha mãe, a ideia foi obviamente abortada. Mas ficou para sempre implantada no sub-consciente...

Em suma, a música dos Guns N' Roses mudou a música que eu ouvia, mudou a roupa que eu vestia, mudou o penteado que eu usava e mudou até a forma como eu pensava relativamente a alguns assuntos.
Se isto não encarna o poder da música numa pessoa, então não sei o que será.

Todo este poder teve como base não só a música dos Guns N' Roses, mas também a sua imagem. Principalmente a imagem do concerto que deram no Ritz Hotel, em Nova Iorque, na noite de 2 de Fevereiro de 1988. O DVD deste concerto foi tocado tantas vezes pelo meu leitor, que praticamente gastou o disco.
A música que os Guns tocavam, a maneira como eles se vestiam, a forma como eles se mexiam... Para um jovem que acabara de chegar sozinho à grande cidade, tudo ali puxou o gatilho da mudança na minha vida.

O tema que aqui fica é "Out Ta Get Me", parte do superlativo "Appetite For Destruction", álbum epitomador da revolta contra a sociedade. Antes de Izzy e Slash arrancarem com o riff de "Out Ta Get Me", Axl Rose faz um dos discursos mais inflamados que já ouvi num concerto rock, combustível para os ouvidos de um jovem revoltado. Puro veneno.


Na crista da crescente onda de sucesso do álbum "Appetite For Destruction" (lançado a Julho de 1987), os Guns mostraram-se aqui na sua forma pura e crua: um gangue de miúdos rebeldes, cheios de álcool e drogas no corpo; a tocar Rock pesado, reminiscente das bandas dos anos 70, mas com o cabelo das bandas de Hair Metal de então.
O mais electrizante os concertos Rock em filme. Pode mudar uma vida. A minha mudou.