sexta-feira, 20 de abril de 2012

Elton John - "The Ballad of Danny Bailey (1909-34)"


‎"Born and raised a proper, I guess life just bugged him
He found faith in danger, a lifestyle he lived by...
A running gun youngster in a sad restless age"





Mais um dia na semana Elton e hoje chegamos a um dos meus temas preferidos. Se tivesse que escolher 5 temas de toda a carreira de EJ (segundo o Eltonography são mais de 620 temas!), com certeza que "The Ballad of Danny Bailey (1909-34)" estaria presente nesse lote. E no entanto, fora da fanbase de Elton, não é dos temas mais populares, uma vez que não foi promovido como single.

“The Ballad of Danny Bailey (1909-34)” faz parte do álbum “Goodbye Yellow Brick Road”, a obra-prima de Elton John e segue o mesmo padrão lírico que Bernie Taupin já tinha explorado no álbum "Tumbleweed Connection" de 1970: o Faroeste Americano.
O tema conta a história da curta vida errante do gangster Danny Bailey, um pistoleiro no Oeste americano. Danny Bailey é um personagem criado por Berie Taupin, na linha de outros célebres foras-da-lei como John Dillinger, ou Pretty Boy Floyd.

“Goodbye Yellow Brick Road” foi gravado em Maio de 1973 no Château d'Hérouville, na pequena localidade de Hérouville, em França. Num espaço rústico, tranquilo e isolado da civilização, Elton e a sua banda encontraram a inspiração que precisavam para produzir um lote notável de música (em quantidade e muita, muita qualidade), num curto espaço de tempo.

O Château foi uma lufada de ar fresco para a banda de Elton, que vinha traumatizada depois de umas sessões abortadas em Kingston, na Jamaica, onde tudo correu mal. A ideia foi de Elton, inspirado pelos The Rolling Stones, que tinham acabado de gravar ali o álbum "Goats Heads Soup", mas depressa se revelou uma má ideia. Desde forças armadas na rua, falta de microfones no estúdio, a energia era claramente negativa para Elton e a sua banda.

“Goodbye Yellow Brick Road” foi também o álbum onde a Elton John Band assumiu, pela primeira vez, a sua "formação clássica" completa: Elton John, no piano; Dee Murray, no baixo; Davey Johnstone, nas guitarras; Nigel Olsson, na bateria; Ray Cooper, na percussão.

Regressados ao Château (onde já tinham sido gravados "Honky Château" e "Don't Shoot Me I'm Only the Piano Player"), no total foram 22 as faixas compostas pela dupla Elton John / Bernie Taupin, das quais 18 chegaram a "Goodbye Yellow Brick Road", materializando o primeiro duplo álbum da carreira de Elton. Segundo o produtor do álbum Gus Dudgeon, a ideia não era fazer um álbum duplo, mas a quantidade de material era tanta e com tanta qualidade, que foram se tornava impossível rejeitar tanta coisa.

No vídeo em baixo, vemos a banda de Elton no Château a ouvir uma mistura de “The Ballad of Danny Bailey (1909-34)”, imagens do documentário "Goodbye Norma Jean":



Os temas de "Goodbye Yellow Brick Road" andam à voltam do desencantamento com a fama e da nostalgia dos tempos de uma infância mais humilde, em contraponto com a vida hedonística que John e Taupin levavam na época. Chegados ao auge do sucesso, surge a velha questão: "É isto?".

"Now it's all over Danny Bailey and the harvest is in"

“The Ballad of Danny Bailey (1909-34)” vai numa direcção ligeiramente diferente. A efemeridade da vida de um herói, em oposição a uma vida longa e, na sua maioria, desinteressante. O que é preferível? Para personagens como Danny Bailey, a questão nem se coloca. A única forma de viver é mesmo nos limites.
Embora a situação óptima esteja no meio de ambos os paradigmas, é inegável que a vida efémera de um homem como Danny Bailey (morte aos 25 anos, segundo o título do tema) é sempre mais interessante.

A produção de “The Ballad of Danny Bailey (1909-34)” é do melhor que é possível ouvir num álbum Rock. Somos disparados para uma outra dimensão quando ouvimos os coloridos arranjos orquestrais de Del Newman na parte final do tema. Fabuloso.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Elton John - "Burn Down The Mission"

"It's time we put the flame torch to their keep"




Hoje a semana Elton segue com um pequeníssimo salto temporal, de Abril de 1970 (aquando do lançamento de "Elton John"), para Outubro do mesmo ano, data do lançamento de "Tumbleweed Connection".

Não se pense que um intervalo tão curto entre álbuns significa um decréscimo de qualidade.
Bem pelo contrário.
Se "Elton John" é um álbum brilhantemente produzido, mas ainda naive, é notável ver um amadurecimento tão grande, em tão curto espaço de tempo. Em "Tumbleweed Connection", a dupla Elton John / Bernie Taupin achou que já tinha bagagem para fazer um álbum temático, sobre um dos assuntos predilectos de Taupin: o Faroeste Americano. E assim foi.
Não foram muitos os álbuns temáticos de Elton John, mas este terá sido provavelmente o mais sólido e mais focado da sua carreira.


"Tumbleweed Connection" é um dos meus álbum predilectos de Elton John, apenas atrás do tour de force "Goodbye Yellow Brick Road". Contudo, por razões que me ultrapassam, a editora cometeu a proeza de não retirar nenhum single do álbum. A única explicação que eu encontro para este disparate é a proximidade entre as datas de lançamento dos álbuns de Elton John.
Quando "Tumbleweed" foi lançado, em Outubro de 1970, ainda "Your Song" (do álbum anterior) estava a ser promovido. E a banda sonora para o filme "Friends" estava logo ali ao virar da esquina.
Note-se que Elton John tinha na época um acordo com a editora para 2 álbuns por ano, algo impensável nos dias de hoje para um artista de topo.

"Burn down the mission, if we're gonna stay alive
Watch the black smoke fly to heaven, see the red flame light the sky"

O tema que aqui fica é o épico "Burn Down The Mission" - o ponto alto do álbum de "Tumbleweed Connection", que aparece só no epílogo do álbum. É um dos melhores temas de Elton John, mas nunca foi um êxito.
A estrutura de "Burn Down The Mission" traz uma impressionante demonstração de maturidade por parte da equipa de Elton John. Num tema já carregado de Soul, as constantes mudanças de andamento injectam uma alma ainda mais cheia aos clímaxes orquestrais, mais uma vez a cargo de Paul Buckmaster.

Mais uma vez, podemos ouvir em cima "Burn Down The Mission" na versão de estúdio e em baixo ao vivo na BBC, na mesma actuação de ontem.



"Burn down the mission, burn it down to stay alive
It's our only chance of living, take all you need to live inside"

terça-feira, 17 de abril de 2012

Elton John - "Take Me To The Pilot"

"Through a glass eye your throne is the one danger zone, take me to the pilot for control... Take me to the pilot of your soul!"




A semana Elton continua e se ontem começámos com o álbum icónico de Elton - "Goodbye Yeallow Brick Road" - hoje vamos fazer uma pequena analepse até 1970, ano em que a sua carreira começou a levantar voo.

Mas recuemos ainda mais um pouco.
Segundo o próprio Elton John, a sua carreira como artista começou "por obrigação", devido à impossibilidade de encontrar alguém que interpretasse os temas da dupla Elton John / Bernie Taupin, o primeiro na música e o segundo nas letras.

A estreia de Elton John em gravações de estúdio seria em 1969 com o álbum "Empty Sky", uma ovelha tresmalhada no cartório mais antigo de Elton. Sem grande sucesso, a dupla Elton / Taupin foi buscar Gus Dudgeon para produtor e Paul Buckmaster para os arranjos orquestrais, equipa que se manteria por muitos mais álbuns.

O resultado do trabalho da nova equipa foi o homónimo "Elton John", lançado em 1970. Um álbum fantástico, que lançou Elton John para as mais altas esferas comerciais tanto nos EUA, como no Reino Unido.
Aliás, o mais curioso é que, apesar de ser uma equipa britânica, o frisson de volta de Elton John começou na América e só daí teve feedback no UK, fazendo um "efeito boomerang", que fez com que muitos nas ilhas pensassem que Elton era americano.


Meticuloso e polido, o álbum "Elton John" está repleto de grandes canções pintadas com laivos de uma grandiosa produção. Um feito notável para um álbum de "quase-estreia" (considerando "Empty Sky" uma falsa partida), que estabeleceu uma altíssima bitola para o que viria a seguir. E Elton cumpriu essa bitola... e de que maneira. Mas voltaremos a isso mais tarde.

O grande êxito deste álbum é, claro está, "Your Song". Um tema que dispensa apresentações e que se tornaria no ex-libris de Elton.

O tema que aqui fica é "Take Me To The Pilot", o segundo single retirado de "Elton John" (o primeiro havia sido o religioso "Border Song"), cujo lado B era... "Your Song".
Claro está que "Your Song" recebeu muito mais airplay nas rádios que "Take Me To The Pilot", substituindo este como o lado A do Single e disparando para o Top 10 das tabelas no Reino Unido e nos EUA.

Apesar disso, o meu tema preferido de "Elton John" é este "Take Me To The Pilot", que podemos ouvir em cima na versão de estúdio e em baixo numa magnífica versão ao vivo na BBC, completa com uma pequena orquestra conduzida por... Paul Buckmaster.



"Take Me To The Pilot" é um tema que entra facilmente no ouvido, com o seu refrão de "na na na" 's, mas de muito difícil compreensão. Tanto Bernie Taupin (autor da letra), como Elton, já confessaram diversas vezes não fazer a mínima idea sobre o que significa o tema.
Nas palavras de Elton:

"And in the early days, there were a lot of inquiries about 'What does this song mean? What does that song mean?' and in the case of 'Take me to the pilot/Lead me through the chamber/Take me to the pilot/I am but a stranger', I have no idea! You're on your own, I tell you."

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Elton John - "Funeral For A Friend / Love Lies Bleeding"

"The roses in the window box have tilted to one side"



Esqueçam tudo o que pensavam que sabiam acerca de Elton John.

Nos próximos dias, vou apresentar 5 temas "que ninguém ouviu" de Elton John, 5 razões que provam que Elton John é muito mais que o "velho gay gordo" que alguma comunicação social (principalmente a portuguesa) quer fazer passar. Aliás, a má imprensa que Elton John tem em Portugal é (quase) um caso de estudo, de tão desligada da realidade de outros países na Europa e nos EUA. Digo "quase" já que, para além do inevitável factor homofóbico (sempre importante numa análise musical), a única razão que pode explicar esta incompreensão geral em Portugal para com EJ redunda no famoso incidente do Casino Estoril.

Pois, o incidente do Casino Estoril... Todos já ouvimos falar dele, mas poucos sabem o que realmente se passou.
A 13 de Setembro de 2000, Elton John faria supostamente o seu regresso a Portugal, depois do grande concerto no Estádio de Alvalade em 1992, na digressão de promoção ao álbum "The One". Mas desta feita, quem trouxe EJ a Portugal foram os euros de um casino (na época já se transaccionava o Euro) e não uma comum promotora. Assim, o concerto estava reservado à "nata" socialite portuguesa, mais preocupada em fumar os seus charutos, do que em ouvir o espectáculo que aí vinha.

Chegada a hora de entrar em palco, Elton reparou que o Salão Preto e Prata do Casino Estoril, onde iria actuar, estava repleto por uma densa nuvem de fumo, o que iria dificultar a sua tarefa de... cantar. Porque na verdade, até era para isso que ele ali estava.
Preocupado com as condições da sala, Elton pediu ao Casino para tratar do assunto e durante 2 horas, Júlio César (o Director Artístico do Casino) pediu encarecidamente aos presentes para guardarem os seus cachimbos e apagarem os seus charutos, com risco de que Elton não pudesse actuar.

Claro que sim. Donos da sua razão, com a força de um convite na mão, o Jet-set português manteve a sua postura e a nuvem de fumo não desvaneceu.
Resultado? Elton pega no cachet e apanha o primeiro charter para fora do país. Só voltaria em 2009, para um (fabuloso) concerto de quase 3 horas no Pavilhão Atlântico.

No dia seguinte ao "incidente do Casino Estoril" não faltaram teorias para explicar o desaparecimento de Elton. Se bem me recordo, a mais popular dizia que um massagista musculado português tinha despertado um ataque de ciúmes no namorado e por isso Elton "teve" que sair imediatamente do país.

Claro que sim. Um artista que já levava mais de 30 anos de palcos e a quem não são conhecidos comportamentos deste tipo, cancelava um concerto e guardava o cachet, porque o namorado teve um ataque de ciúmes. A história pegava no inevitável factor homofóbico e a partir daí alimentava um ódio de estimação a Elton John. A perfeita fuga para a frente do Casino Estoril, protegendo a imagem dos seus nobres (e, como se viu, respeitosos) clientes.

Agora que esclarecemos este ponto, fiquemos então com o primeiro tema da semana Elton aqui no blog: "Funeral For A Friend / Love Lies Bleeding", que abre o magnífico álbum "Goodbye Yellow Brick Road".


Um tema que, na verdade, são dois. A primeira parte ("Funeral For A Friend") é uma faixa instrumental, em sintetizador, criada a partir da ideia da música que Elton desejava no seu próprio funeral. "Funeral For A Friend" segue naturalmente para "Love Lies Bleeding", um tema que lida com os destroços de uma relação que terminou.

Esta sequência marca uma ligeira incursão de Elton no Rock Progressivo. Não é por acaso que bandas como os Dream Theater (que lançaram um cover deste tema no seu álbum "A Change Of Seasons") citam Elton como uma das suas influências.
"Funeral For A Friend / Love Lies Bleeding" passa a marca dos 11 minutos, sendo o tema mais extenso da já longa carreira de Elton John. Apesar de, por razões óbvias de duração, nunca ter sido lançada como single, o tema foi ganhando ao longo dos anos uma notável projecção, precisamente por mostrar Elton em territórios menos usuais.