terça-feira, 20 de agosto de 2013

Tears For Fears - "Ready To Start"

"If I was yours, but I'm not... Now I'm ready to start."

Já tinha aqui avisado em Março: os Tears For Fears estão de volta.
Pelo aparato, parecia ser algo em grande e os últimos meses confirmaram: vem aí um novo álbum, o regresso da banda às grandes digressões (nomeadamente à Europa) e uma edição especial de "The Hurting" - o 1º álbum dos TFF.

Estas revelações foram surgindo na internet, muito pela mão de Curt Smith, mas nada de oficial tinha sido anunciado ainda. Até hoje.
Aproximadamente às 00:00, o Facebook oficial dos Tears For Fears repetiu uma imagem enigmática que já tinha sido sido partilhada a semana passada:



Os Tears For Fears estão de volta com... um cover dos Arcade Fire.
Apropriadamente, para dar início às hostilidades, "Ready To Start":





O cover vinha com uma dedicatória especial, onde Curt e Roland parecem querer piscar o olho à geração mais nova, homenageando os artistas que ao longo dos anos foram interpretando temas dos TFF:
Having appreciated artists like Kanye West, Katy Perry, Kimbra, Nas, Gary Jules/Michael Andrews, Adam Lambert & Dizzee Rascal covering and sampling our songs over the past years, we agreed that some reciprocal cross-generational love was in order. We decided to give Arcade Fire a twist of TFF. Enjoy.
Curt Smith e Roland Orzabal

[Aparte: Apreciaram o Kanye West e a Katy Perry? Medo!]

"Ready To Start" é um original dos Arcade Fire, incluído no álbum (muito bom) "The Suburbs" de 2010 e lançado em single na época.
Fica aqui a versão original dos Arcade Fire:



Curiosa, esta escolha de um tema dos Arcade Fire, a banda hipster mais mainstream da actualidade (ou será que é a banda mainstream mais hipster?).
Em qualquer dos casos, é seguramente uma das bandas que mais acende o paradoxo hipster / popular da cultura ocidental. Muito os hipsters devem coçar as cabeças debaixo daqueles chapéus, para decidir se podem gostar ou não dos Arcade Fire.

Mas isto é assunto para todo um outro tópico.
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Voltando ao cover dos Tears For Fears, em primeiro lugar, tenho que rejubilar com a alegria de voltar a ouvir a voz do Roland Orzabal. Que saudades!
Desde "Floating Down The River (Once Again)", lançada em 2006, como faixa bónus no álbum ao vivo "Secret World Live in Paris", que não ouvíamos a voz de Roland Orzabal. Já lá vão mais de 7 anos!

Relativamente ao arranjo desta versão de "Ready To Start", parece que os TFF querem fazer um tributo à época de "The Hurting", ao regressarem em força aos sintetizadores. Acho que falta guitarra neste cover, instrumento que Roland sabe tão bem usar.
Deixo-lhe aqui um repto, que espero que ele siga para o que falta gravar do novo álbum:

More guitar please, Roland! Thank you.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Bruce Springsteen - "State Trooper"

"License, registration, I ain't got none.
But I got a clear conscience 'bout the things that I done"


À custa deste texto, hoje voltei a ouvir o álbum "Nebraska". É o texto que eu sempre quis escrever sobre o álbum alienado de Bruce Springsteen e nunca fui capaz. De leitura obrigatória.

"Hey, somebody out there, listen to my last prayer: deliver me from nowhere."

"Alguém aí que ouça a minha última prece: livrem-me do nada."
Desde o primeiro sopro na harmónica de Bruce Springsteen no tema-título "Nebraska", passando pelos gritos de "State Trooper", até ao último suspiro na mesma harmónica em "Reason To Believe", que Bruce nos leva numa viagem por um túnel escuro, onde não encontramos quaisquer laivos de luminosidade; apenas morcegos, ratazanas e gotas de água gelada que condensou no tecto e que nos caem na nuca, ao passar.

Nada. É este o lugar para onde Bruce Springsteen nos leva em "Nebraska". O lugar do vazio, onde não há redenção, nem esperança; não há vida, nem morte; não há inocentes, nem culpados. Nada disso importa aqui, de qualquer forma. Aqui, só importam as histórias.



"Nebraska" é um álbum insípido, de muito difícil digestão. À falta de grandes adornos sonoros, a audição da música obriga-nos a tomar atenção às escassas melodias e às duras histórias que Bruce vai contando.
Tal como no túnel escuro, das ratazanas e morcegos, as histórias em "Nebraska" são de seres escondidos da luz do dia, exilados do mundo de fora, proscritos pela sociedade. São histórias de criminosos e fugitivos, pessoas a quem a vida virou as costas e que já não têm esperança na sua redenção. Para eles, já nada disso importa: “I guess there’s just a meanness in this world.”, suspira a personagem de Bruce em "Nebraska" (assunto para outro tópico).

Gravado numa cassete durante uma tarde fria de Janeiro, o álbum mostra-nos Bruce sozinho no seu quarto em New Jersey, com a sua guitarra, a sua harmónica e a sua depressão.
1982 foi um ano problemático para Bruce, altura em que foi obliterado por pensamentos suicidas.
Bruce conduzia o seu carro furiosamente de New Jersey até à Califórnia e da Califórnia, de volta a New Jersey, somando quilómetros de estrada na fuga dos seus próprios fantasmas.
(Faço exactamente o mesmo. É nestas pequenas coisas que eucomo homem, me sinto próximo de Bruce.)

"Mr. State Trooper, please don't stop me."

Em "State Trooper", ouvimos Bruce num raro grito histérico e despido, que soma ao desespero da história de um homem que, tal como ele, tal como eu, também conduzia para afastar os seus fantasmas. Sem carta de condução e sem documentos do carro, rogando apenas que a Brigada de Trânsito não o mande parar. Tudo o que ele quer é a solidão do volante, uma companhia que não ponha em causa a sua existência e a sua consciência tranquila.

Em busca da sua própria consciência tranquila, Bruce foi obrigado a fazer terapia para combater a depressão. O seu passado continuava a atormentá-lo: Bruce passava repetidamente em frente à casa dos seus pais, em New Jersey, 3 a 4 vezes por semana
Acerca deste comportamento obsessivo, o seu terapeuta ter-lhe-á dito:

"What you’re doing is that something bad happened, and you’re going back, thinking that you can make it right again. 
Something went wrong, and you keep going back to see if you can fix it or somehow make it right."

Ao que Bruce exclamou, em concordância: 

"Yes! That is what I’m doing!" 

E ao que o terapeuta terá respondido: 

"Well, you can’t."

(...)