quinta-feira, 1 de outubro de 2015

New Order - "Tutti Frutti"

"Non è ancora il momento di entrare. Non è ancora il momento di..."


Antes de mais, uma constatação: a capa do novo álbum dos New Order é uma das melhores artworks que vi nos últimos anos. É uma ideia tão simples e tão enigmática. Será que estão lá um M e um C, das iniciais do álbum? Ou estão lá um N e um O, das iniciais da banda? Será que é uma mensagem subliminar que eu não consigo ler? Fuck knows. Passo dezenas de minutos a olhar para aquilo e não faço a mínima ideia do que é. Mas é espectacular. Se consegue pôr a imaginação a trabalhar, não se pode pedir mais.




Para além da capa, o que dizer então deste "Music Complete" - o primeiro álbum dos New Order desde a saída do meu elemento preferido da banda, Peter Hook? Cuidado. Muito cuidado. Ou "foda-se!", também podemos dizer isso. No meu livro, "Music Complete" é somente o melhor álbum dançável desde que o "Invaders Must Die" dos The Prodigy invadiu os meus ouvidos em 2009 e é somente o melhor dos New Order desde 1989, ano de "Technique". Chega para vos chamar a atenção? Boa.

O arranque de "Music Complete" é feito com "Restless", um típico single dos New Order. Bernard Sumner põe-nos logo à partida em casa, confortáveis, quando nos pergunta "how does it feel?". Onde é que já ouvimos isto? Numa segunda-feira azul, talvez? Pois. O tema poderia vir dos anos 80, mas também poderia vir dos 90s, ou dos 00s, de tão New Order que é. Instant classic. É a música mais amigável do álbum e o single óbvio.

As coisas ficam mais interessantes quando passamos para o segundo tema. "Singularity" começa como um tema dos Joy Division, mas por volta da marca dos 50 segundos salta para território dos New Order. Fica marcado o antagonismo entre a música downer dos JD e a música upper dos NO e como elas podem funcionar na mesma personalidade densa que é a banda de Manchester.

Falando em Manchester, é para lá que vamos logo a seguir em "Plastic". Logo no início levamos com Acid House e BUM, estamos na Haçienda. Fookin' Madchester all over again. É possível ter saudades de um tempo que nunca vivi, num lugar onde nunca estive? Não interessa. Que saudades da Haçienda, onde estão agora aqueles apartamentos trendy (mas ofensivos) e um dia foi o sítio mais cool mancuniano. O álbum, esse, continua a ganhar passada. 

Hook já não está lá, mas os hooks não faltam em "Music Complete" (haha, viram o que eu fiz? ya, brutal). A cavalgada do refrão de "Tutti Frutti" (You've got me where it hurts / but I don't really care / cause I know I'm OK / whenever you are there) é mais um clássico Pop. Mas o toque de Midas vem a seguir, quando entra a voz de um narrador de um qualquer filme soft porn italiano de Tinto Brass (julgava que nunca ia mostrar a minha sabedoria nesta matéria), a atirar "TUTTI FRUTTIIIIII". Eishhh... E ainda só vamos no quarto tema.

Depois chega o funk. Porra, que os velhotes de Manchester querem mesmo bater em todas as portas da dança. O riff de piano de "People On The High Line" é das maiores pérolas deste álbum, a lembrar aqueles doces Pop deliciosos dos early 90s, quando George Michael e Madonna davam masterclasses de como fazer um single Pop.

O resto do álbum? Sei lá! Hei-de ouvi-lo brevemente. Para já, estou em audição repetida e obsessiva da primeira metade. As primeiras 5 faixas são do melhor que tenho ouvido no panorama da música dançável. Que maravilha de álbum. Agora que a música de dança está tão em voga e é tão popular (tomando conta até dos festivais, como sabemos), os velhotes voltam a mostrar quem é que sabe disto.

"Music Complete" entronca um árduo desafio para mim. Numa altura em que ainda estou a recuperar de um pé partido e não posso dar azo à grande motivação deste álbum - DANÇAR - como é que eu consigo ouvir isto sem, no mínimo, bater o pé? Não me fazem a vida fácil, estes senhores dos New Order.

Nota: Falta-me fechar a saga do Rattle That Broken Foot Tour, eu sei. Mas tive que fazer um interlúdio para os New Order, não conseguia aguentar mais calado sobre este álbum. Este tema é parcialmente em italiano, por isso estamos enquadrados.