domingo, 19 de abril de 2015

Queen - "We Will Rock You"

"I like it, sing it again!"


Os melhores 20 minutos da história da humanidade. Ou quase.

A memória mais antiga que tenho de um sonho remonta aos meus 6 anos de idade. O sonho foi tão vívido e tão marcante, que ainda hoje me recordo dele com exactidão.
Estádio do Wembley. Eu estou num concerto, mesmo à frente do palco. Em cima do palco, os Queen. Lá atrás, o símbolo do Live Aid e um relógio gigante. Os Queen tocam o seu set, mas no fim de um estrondoso "We Will Rock You", Freddie Mercury cai no chão, inanimado. O Estádio do Wembley tem um momento de silêncio aterrador, como se tivesse mergulhado no oceano. De repente, começam a ouvir-se gritos histéricos de horror, eu olho para o palco e o Freddie desapareceu. Sumiu-se.
Acordo em pânico.

Foi só um pesadelo, mas Freddie Mercury estava mesmo morto. Só não teve um final tão teatral e espectacular como o que sonhara. O sonho foi o resultado do impacto profundo na mente de um miúdo de 6 anos, após a perda do seu maior ídolo. A cobertura mediática do acontecimento e o documentário da BBC que passou na RTP no dia da sua morte, com a performance dos Queen no Live Aid, ficaram coladas no subconsciente daquele miúdo, que reagiu assim àquela tragédia. Foi como se a tivesse presenciado com os seus próprios olhos.

Foi assim que eu vi os Queen no Live Aid na altura. O mundo viu-o como "os 20 minutos que mudaram a música":



Fast-forward até hoje e já vejo as coisas de forma diferente. Agora, eu vejo os Queen no Live Aid como os melhores 20 minutos da história da humanidade. Ou quase. À frente, só as 2 horas do concerto dos Queen no mesmo local, um ano mais tarde. Independentemente da minha opinião, uma coisa é certa: durante aqueles 20 minutos, os Queen reinaram o Mundo.

Quando Freddie Mercury conduzia a audiência em "We Will Rock You" com um grito de "I like it, sing it again!", já milhares de milhões de espectadores em todo o Mundo moravam na palma da sua mão. O Wembley, esse já era seu, desde que "Radio Ga Ga" pusera as 74 mil pessoas que enchiam o estádio a bater palmas, com a coordenação de um comício nazi. E aqui reside a magnitude do seu feito: aquele não era sequer o público dos Queen.

No Wembley havia U2, Elton John, David Bowie, reunião dos The Who e Paul McCartney a cantar temas dos Beatles. No JFK, em Filadélfia, havia reunião dos Black Sabbath, reunião dos Led Zeppelin, Neil Young, Madonna, Duran Duran e Simple Minds. Todos os grandes nomes da Pop e do Rock estavam no Live Aid, incluindo os líderes das tabelas da época. A maioria da audiência em Wembley, pelo menos a falange mais nova, estava lá para ver os U2 (basta olhar para os cartazes à frente do palco). Aquele não era o público dos Queen, mas aquela era a noite de Freddie Mercury.

Naquela noite, Freddie queria mais do que o Wembley, Freddie queria o Mundo. E agarrou-o, ao dançar com o cameraman em "Hammer To Fall", como se desse a mão às 1.9 mil milhões de pessoas (um terço da humanidade) que o viam em casa. E foi assim, que na noite de 13 de Julho de 1985, o Mundo acordou para um facto que estivera o tempo todo à sua frente: não havia (não voltou a haver) um showman como Freddie Mercury, com uma capacidade sem paralelo para captar a audiência. O Wembley parecia uma pequena chávena, para o brilho da estrela que explodia em palco.

Assim foi a vida de Freddie Mercury: como uma estrela que brilhou muito, muito rápido, muito intensamente e explodiu, porque o universo não aguentava com tanto brilho.
O sonho daquele rapaz de 6 anos não fez mais do que captar esta metáfora na perfeição.