segunda-feira, 12 de agosto de 2013

John Lennon - "#9 Dream"

"Ah böwakawa poussé, poussé"


"Everything is clearer when you're in love."
John Lennon

Volta John, estás perdoado.

Quem quer que tenha acompanhado o blog, pode perceber que John Lennon é o Beatle a quem eu dediquei menos atenção. Já por várias vezes aqui confessei a minha admiração por George Harrison e até Ringo Starr já mereceu dois posts em nome próprio. John tem sido esquecido, mas não por acaso.
(Agora que penso nisso, também estou em falha para com Paul McCartney. A rever.)

Porquê, então, esta ausência de John do blog?
Não, não sou um daqueles extremistas anti-Lennon, que acham que a defesa da facção de Paul McCartney na eterna discussão de "Quem separou os Beatles?" deve ser alimentada com ódio para com a facção de John.
Falando nisso, para um olhar diferente sobre John, visto por um extremista anti-Lennon, leiam este texto. Devido à imagem corrente que temos de John, a leitura do texto chega a ser dolorosa. Mas vale a pena, independentemente do seu conteúdo ser verdade ou mentira, nem que seja para vos pôr a pensar sobre o facto que todas as moedas têm duas faces. Nenhum dos nossos heróis é perfeito; eles, como nós, têm um lado negro.

Eu sei que já me estou a afastar do caminho do assunto inicial; é normal, faço-o sempre. Mas deixem-me divagar, já volto ao caminho inicial.

John, mais do que qualquer outro Beatle, levou com as culpas da separação dos The Beatles. Nem tanto ele, mas sim a Yoko Ono, apesar de ter sido Paul o primeiro a sair da banda.
Sem nunca confirmarem nem desmentirem, os outros membros da banda deixaram o boato criar raízes e durante anos as culpas da separação foram imputadas à infame mulher de John.
Só no ano passado, mais de 42 anos depois da notícia da separação dos The Beatles, Paul admitiu que Yoko não fora a culpada, uma vez que John iria sair de qualquer forma.

Mas será que Yoko está, assim, isenta de culpas? CLARO QUE NÃO. A verdade é que os The Beatles tinham os dias contados, já desde 1968.
John estava com a cabeça na Yoko, no experimentalismo avant-garde e no activismo anti-guerra.
Paul estava com a cabeça em Linda e numa carreira a solo, sem ter que dar satisfações a ninguém.
George estava com a cabeça no espiritualismo, na cultura indiana e no hinduísmo.
O Ringo, coitado, só queria que o deixassem fazer parte da festa.
Portanto, contas feitas, "a culpa" da separação dos The Beatles é de todos (ok, menos do Ringo).
"A culpa", neste caso, é um conceito ridículo. Procurar "a culpa" da dissolução de uma relação que já vive moribunda é ridículo. Isto serve para os The Beatles, como serve para qualquer outra relação interpessoal. O que há a fazer é juntar as peças que nos sobram e seguir em frente. Como os Beatles, que seguiram todos os seus caminhos, todos eles diferentes.

Mesmo tendo em conta estes ensinamentos sociológicos, que a dureza da vida nos transmite, a verdade é que é difícil absolver uma personagem tão macabra como a Yoko Ono. Tão difícil como imaginar o que seria trabalhar com alguém que, a partir de um determinado momento em que conhece alguém, passa a trazer essa pessoa para o seu local de trabalho, "colada" a si, 24 sobre 24 horas por dia. É toda uma nova dimensão para a definição de "sufoco". Tenho pena, a sério que tenho pena do Paul, do George e do Ringo, por terem sido sujeitos a isso.

Talvez tenha sido isso que "vacinou" os Beatles para admitirem a presença de câmaras de filme em Twickenham, enquanto gravavam o (abortado) álbum "Get Back", que depois daria lugar ao álbum "Let It Be". Se levaram com a Yoko, 24 sobre 24 horas, que diferença fariam umas câmaras de televisão?

Volto então à pergunta inicial: qual a razão da ausência de John do blog?
Acho que se deveu a um processo de ostracização subconsciente da minha parte para com o John, devido à Yoko. Também eu lhe imputei as culpas pela separação dos The Beatles, mesmo que subconscientemente.
Esta situação absurda, de uma presença estranha no local de trabalho, faz com que se torne fácil apontar o dedo a Yoko.

Em Março de 2006, tive a oportunidade de ver em Paris, no Cité de la Musique, a exposição "John Lennon, Unfinished Music", patrocinada pela Yoko. Escusado será dizer, que para além de toda a memorabilia alusiva aos The Beatles, a exposição tinha uma forte carga de Yoko Ono. Como se a vida dele fosse dividida em 2 capítulos de igual importância: "The Beatles" e "Yoko Ono". Isto serviu mais ainda para implantar a ideia de culpada, a Yoko.

A outra face da moeda (atenção, que não vão ouvir muitos argumentos a favor dela), foi que Yoko levou o underground psicadélico para os The Beatles. E foi essa pedrada no charco que mudou a música da banda em 1966 e que nos trouxe maravilhas como "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" e "Magical Mystery Tour". Nem tudo foi mau.

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Fast-forward 7 anos, até Agosto de 2013. A primeira semana deste mês foi de John Lennon. Debaixo de um oceano de trabalho, bateu-me a curiosidade e fiz de minha banda sonora de trabalho os álbuns a solo de John: desde o tão afamado "Plastic Ono Band", passando por "Mind Games", ou "Walls And Bridges".
A páginas tantas, deparo-me com "#9 Dream" e...

"Ah böwakawa poussé, poussé"

...foda-se! Por onde é que eu andei? Como é que eu não conhecia isto?

"#9 Dream", como o nome indica, evoca um sonho, um sonho que John teve. John escreveu e produziu o tema à volta disso (daí a sonoridade dreamy psicadélica) e até o refrão "Ah böwakawa poussé, poussé" terá tido origem nesse sonho.



A descoberta da obra a solo de John fez-me pensar acerca da sua posição nos últimos anos dos The Beatles e do que sujeitou os outros membros da banda.
O que fez John, se não seguir o seu coração? No fundo, o que ele sempre fez, foi ouvir o seu coração e agir, sem pensar nas consequências sociais disso mesmo. Será que isso torna a sua atitude inatacável? Obviamente que não, uma vez que ele afectou a vida e o bem-estar dos seus colegas, levando um elemento intrusivo para o seu ambiente de trabalho.
Mas tudo o que John fez, fê-lo por amor; o que para mim é razão suficiente para justificar todas, ou quase todas, as decisões que tomamos na nossa vida.

Volta John, está perdoado.