tag:blogger.com,1999:blog-9765177164388178222024-02-08T03:26:00.590+00:00Escolha musical do diaNuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.comBlogger285125tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-41639239347686611872020-09-20T18:29:00.004+01:002020-09-20T18:36:16.039+01:00Scorpions — "Blackout"<p> <i>"I really had a blackout"</i></p><blockquote><p></p></blockquote><p><iframe data-blogger-escaped-allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="https://www.youtube.com/embed/qGPT1kfaSEs" width="459"></iframe></p><p>Vai fechar o <a href="https://www.nme.com/news/music/legendary-london-rock-bar-the-crobar-closing-2757177" target="_blank">Crobar</a>, o último dos resistentes em Soho. Um bar fiel às suas raízes motards e metaleiras que nunca mudou, cruzando décadas de gentrificação e trendificação do bairro do Soho, sempre imune a tudo. Agora é mais uma das vítimas de 2020. Dave Grohl, Slash e o Alice Cooper eram fãs desta casa lendária, mas duvido que algum deles tenha uma história lendária como a minha primeira noite no Crobar — a noite do Blackout.</p><p>O ano era 2018 e numa sexta-feira à noite, já a bater nas 24 horas, recebo uma chamada do Diogo, um amigo que trabalhava como bartender em Soho: "Nuno, vamos aí dar um giro!", diz ele. Eu respondo que nem sequer tinha ainda jantado, tal era o nível de exaustão que trazia da semana que terminava. Tinha chegado a casa umas horas antes e deste então que estava estatelado no sofá, a destilar o stress do trabalho. Mas o Diogo insiste: "Não te preocupes, eu tenho aqui jantar para ti no pub". Bem, sendo assim, não havia desculpa. Borrifei-me com perfume, para disfarçar a roupa usada e pus-me a caminho, já passava da meia noite.</p><p>Quando cheguei ao Soho, já o Diogo estava a fechar o pub onde trabalhava. "Onde é que está a comida?!", perguntei eu já cheio de fome (sublinho aqui que a última coisa que tinha comido fora uma sandes ao meio-dia, 12 horas antes, portanto). Ele sorri e exclama "Toma aí!", enquanto me passa para a mão... um gin tónico. Eu nem sequer bebo gin, mas para além do estômago vazio, também já trazia sede, por isso foi tudo de enfiada. "Então onde é que vamos?", perguntei eu já com o gin a bater. "Vamos a uma casa que vais adorar!", responde o Diogo. Eu torci o nariz. </p><p>Deixem-me falar-vos da noite de Londres — é uma merda. Amo Londres, mas para onde quer que vá, pareço sempre ser mergulhado num bidão de plástico liquidificado. É tudo tão fake, tudo tão estacionário, que nunca consegui apreciar a noite londrina como apreciava, por exemplo, a noite lisboeta. Mas o Crobar era diferente. Gente verdadeira, untrendy, zero fucks given. Senti-me imediatamente em casa.</p><p>As minhas melhores histórias na noite londrina sempre aconteceram em sítios e situações inesperados — como aquela vez que, sem fazer a menor ideia, entrei numa discoteca gay, fui dançar para a pista e, bem, o melhor é deixar essa história para outra altura. Chegados ao Crobar, numa curta viagem da qual já tenho memória difusa, junta-se mais um grupo de amigos do Diogo. "Round of shots!", grita um deles. A partir daqui, bem, já devem imaginar. Estômago vazio, gin tónico para jantar, seguido de quatro ou cinco (who's counting?) rodadas de shots de tequila. Curti à brava o Crobar.</p><p>Quando fomos despejados às 3 da manhã — hora de fecho do bar —, eu sentia-me como o (a) protagonista do vídeo do "Smack My Bitch Up" — visão em túnel e o túnel a rodar como uma mangueira solta a alta pressão. "Diogo, agora tenho mesmo que comer", supliquei-lhe. Ele fez-me finalmente a vontade. Só que de todos os restaurantes em Soho, levou-me para um restaurante chinês. Ora, eu não propriamente fã da cozinha do Extremo Oriente e passado 5 minutos de estarmos sentados, corri para a rua para e, como já era mais do que esperado, despejei o que tinha no estômago.</p><p>O problema é que já não podia voltar para dentro. Estava em modo super spinning e sem dizer mais uma palavra, deixei o Diogo e liguei automaticamente o Safe Mode — o modo de segurança em que o único objectivo é chegar a casa, custe o que custar. Chamar um Uber? Não, o metro é mesmo ali e são só 5 estações. E aí sim, começou a minha aventura.</p><p>Cheguei ao metro e estava tão quentinho e confortável, que disse para mim "vou só fechar os olhos um minuto". Quando esse minuto passou e eu voltei a abrir os olhos, estava em Heathrow. "Fuck. Vou ter que andar tudo para trás", pensei. Mudei de linha e lá fui eu em direcção a Earl's Court. Era supostamente uma viagem de 45 minutos, mas os olhos pesavam e quando acordei, já estava na outra ponta da Piccadilly Line. Nem queria acreditar.</p><p>Voltar a mudar de linha aqui já foi um suplício de arrastar ossos indizível. De alguma maneira, encontrei forças para entrar em mais uma carruagem do metro. Seria a última. Mas a viagem estava longe ainda de terminar. Sabia que tinha a linha toda ainda pela frente e por isso, não faz mal nenhum dormir mais um bocadinho, certo? Errado, pois claro. Quando acordei, estava em Hounslow Central, novamente quase ao pé de Heathrow. Fiquei a morrer. </p><p>Tentei recompor-me e pensar na viagem que tinha ainda pela frente — sair em Hounslow West, mudar de linha e voltar para trás em direcção a Earl's Court. Qual não é o meu espanto quando a senhora do Tube anuncia: "Next station, Hounslow East". "Oi? Hounslow East? Então eu já vou em direcção contrária?". Ou seja: o metro já tinha ido a Heathrow e já estava a voltar. E eu sempre a dormir na carruagem. Vá lá que o condutor teve pena da cena e me deixou a dormir no comboio.</p><p>A partir daí, não mais fechei os olhos. Cheguei a casa às 9 da manhã. Foi a minha primeira noite no Crobar.</p>Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-79271810134886727452020-09-03T23:55:00.003+01:002020-09-04T11:14:17.645+01:00George Michael - Listen Without Prejudice 30<blockquote class="tr_bq">
<i>"</i><span style="font-style: italic;">And if these wounds, t</span><i></i><span style="font-style: italic;">hey are self inflicted. </span><i></i><span style="font-style: italic;">I don't really know </span><i></i><span style="font-style: italic;">how my poor heart could have </span><span style="font-style: italic;">protected me"</span><span style="font-style: italic;"> </span></blockquote>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhy1KEfqSs3vGdAt8c0LerHCWZ4Tq1gks4tZQ2xKU4bGuRPITOJlElmOtNJQy82dY1aJlgAxGOgdx-slC6JtPySjDxsbFUqE-QdWJ9RJnwaD__JxygHvQyuF3pZ3LEbUSxzIAI6QOf5h34/s1600/george.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhy1KEfqSs3vGdAt8c0LerHCWZ4Tq1gks4tZQ2xKU4bGuRPITOJlElmOtNJQy82dY1aJlgAxGOgdx-slC6JtPySjDxsbFUqE-QdWJ9RJnwaD__JxygHvQyuF3pZ3LEbUSxzIAI6QOf5h34/s640/george.jpg" width="640" /></a></div>
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Nestes dias, sempre que decido escrever sobre um dos meus heróis, sinto que já não tenho mais nada a dizer sobre ele. Não admira. O blog já tem 10 anos e já escrevi (quase) tudo o que tinha para escrever sobre os artistas que marcaram, mudaram e salvaram a minha vida. Não resta nada, penso sempre.<br />
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Até que acontece um dia como este, um dia que o meu saudoso avô Artur chamaria sabiamente de um "dia de um filha da puta", um dia em que tudo corre mal, tudo sai ao contrário. Chego a casa com a cabeça em papa, abro o Facebook e vejo que faz hoje exactamente 30 anos que foi lançado o meu álbum favorito de 1990 — "Listen Without Prejudice Vol.1". Nem de propósito, era mesmo este o disco que eu precisava de ouvir. E tal como aconteceu em tantos outros momentos da minha vida, o George apareceu outra vez. Sempre para me salvar o coiro. Sempre quando mais precisava dele.<br />
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É por isso que amo o George. Ele esteve lá sempre que eu precisei e a única coisa que pediu em troca foi um pouco de atenção e que eu lhe fosse comprando os (poucos) discos que ia lançando. Nunca lhe faltei com a minha parte.<br />
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"Listen Without Prejudice Vol.1" é um álbum pivotal na vida do George. Marca a sua passagem de artista mercantilizado como <i>sex symbol</i>, de <i>boy toy</i>, para o que ele achava ser um artista sério. George queimou as suas roupas no clip de "Freedom '90" e deixou de aparecer nos próprios vídeos. George já tinha tido a sua Beatlemania e queria agora o seu Imagine. E tal como John, George buscou a sua afirmação artística na procura pelas emoções mais viscerais, na aposta na estética minimalista e adicionou-lhe infusões de Jazz e Bossa Nova que atiraram o álbum "Listen Without Prejudice Vol.1" para um patamar de excelência raramente alcançado na Pop. Não admira que o público americano não o tivesse compreendido.<div><br /></div><div><img height="36" 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(Review hilariante do álbum Older, a pedir o George de Faith de volta. Em suma, gente que não gosta do George.)<br /><br />
Lançado a 3 de Setembro de 1990, "Listen Without Prejudice Vol.1" foi um sucesso no UK, onde vendeu ainda mais cópias que "Faith". No US, foi um suicídio artístico. Quem é que o George pensava que era? Armado em Bob Dylan, ou Leonard Cohen? O público americano conhecia o George de calças de ganga, casaco de pele e crucifixo na orelha esquerda e queriam mais. Mas o George estava mais preocupado em ser levado a sério. Sempre demasiado preocupado com o que os outros achavam dele, o nosso George. As putas das inseguranças que o atemorizavam e que o levaram daqui. E que ele deixou tão explícito no tema de fecho do disco, "Waiting (Reprise)":<i> "All those insecurities that have held me down for so long, I can't say I've found a cure for these, but at least I know them, so they're not so strong."</i>. Ninguém escrevia sobre inseguranças como tu, George. Que saudades.<br />
<br /><blockquote class="tr_bq"><i>"Please be stronger than your past, the future may still give you a chance"</i></blockquote><br />
Fiquem, pois, com um cheirinho late night da obra-prima maior da carreira do George, última faixa do Lado A de LWPv1 — "Cowboys And Angels":<br />
<br />
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<a href="https://www.instagram.com/tv/CEsH7iEDebX/?utm_source=ig_embed&utm_campaign=loading" style="background: rgb(255, 255, 255); line-height: 0; padding: 0px; text-align: center; text-decoration: none; width: 100%;" target="_blank"><svg height="50px" version="1.1" viewbox="0 0 60 60" width="50px" xmlns:xlink="https://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="https://www.w3.org/2000/svg"><g fill-rule="evenodd" fill="none" stroke-width="1" stroke="none"><g fill="#000000" transform="translate(-511.000000, -20.000000)"><g><path d="M556.869,30.41 C554.814,30.41 553.148,32.076 553.148,34.131 C553.148,36.186 554.814,37.852 556.869,37.852 C558.924,37.852 560.59,36.186 560.59,34.131 C560.59,32.076 558.924,30.41 556.869,30.41 M541,60.657 C535.114,60.657 530.342,55.887 530.342,50 C530.342,44.114 535.114,39.342 541,39.342 C546.887,39.342 551.658,44.114 551.658,50 C551.658,55.887 546.887,60.657 541,60.657 M541,33.886 C532.1,33.886 524.886,41.1 524.886,50 C524.886,58.899 532.1,66.113 541,66.113 C549.9,66.113 557.115,58.899 557.115,50 C557.115,41.1 549.9,33.886 541,33.886 M565.378,62.101 C565.244,65.022 564.756,66.606 564.346,67.663 C563.803,69.06 563.154,70.057 562.106,71.106 C561.058,72.155 560.06,72.803 558.662,73.347 C557.607,73.757 556.021,74.244 553.102,74.378 C549.944,74.521 548.997,74.552 541,74.552 C533.003,74.552 532.056,74.521 528.898,74.378 C525.979,74.244 524.393,73.757 523.338,73.347 C521.94,72.803 520.942,72.155 519.894,71.106 C518.846,70.057 518.197,69.06 517.654,67.663 C517.244,66.606 516.755,65.022 516.623,62.101 C516.479,58.943 516.448,57.996 516.448,50 C516.448,42.003 516.479,41.056 516.623,37.899 C516.755,34.978 517.244,33.391 517.654,32.338 C518.197,30.938 518.846,29.942 519.894,28.894 C520.942,27.846 521.94,27.196 523.338,26.654 C524.393,26.244 525.979,25.756 528.898,25.623 C532.057,25.479 533.004,25.448 541,25.448 C548.997,25.448 549.943,25.479 553.102,25.623 C556.021,25.756 557.607,26.244 558.662,26.654 C560.06,27.196 561.058,27.846 562.106,28.894 C563.154,29.942 563.803,30.938 564.346,32.338 C564.756,33.391 565.244,34.978 565.378,37.899 C565.522,41.056 565.552,42.003 565.552,50 C565.552,57.996 565.522,58.943 565.378,62.101 M570.82,37.631 C570.674,34.438 570.167,32.258 569.425,30.349 C568.659,28.377 567.633,26.702 565.965,25.035 C564.297,23.368 562.623,22.342 560.652,21.575 C558.743,20.834 556.562,20.326 553.369,20.18 C550.169,20.033 549.148,20 541,20 C532.853,20 531.831,20.033 528.631,20.18 C525.438,20.326 523.257,20.834 521.349,21.575 C519.376,22.342 517.703,23.368 516.035,25.035 C514.368,26.702 513.342,28.377 512.574,30.349 C511.834,32.258 511.326,34.438 511.181,37.631 C511.035,40.831 511,41.851 511,50 C511,58.147 511.035,59.17 511.181,62.369 C511.326,65.562 511.834,67.743 512.574,69.651 C513.342,71.625 514.368,73.296 516.035,74.965 C517.703,76.634 519.376,77.658 521.349,78.425 C523.257,79.167 525.438,79.673 528.631,79.82 C531.831,79.965 532.853,80.001 541,80.001 C549.148,80.001 550.169,79.965 553.369,79.82 C556.562,79.673 558.743,79.167 560.652,78.425 C562.623,77.658 564.297,76.634 565.965,74.965 C567.633,73.296 568.659,71.625 569.425,69.651 C570.167,67.743 570.674,65.562 570.82,62.369 C570.966,59.17 571,58.147 571,50 C571,41.851 570.966,40.831 570.82,37.631"></path></g></g></g></svg></a></div>
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<a href="https://www.instagram.com/tv/CEsH7iEDebX/?utm_source=ig_embed&utm_campaign=loading" style="color: black; font-family: arial, sans-serif; font-size: 14px; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 17px; overflow-wrap: break-word; text-decoration: none;" target="_blank">Para celebrar o trigésimo aniversário do meu álbum favorito de 1990, eis um cheirinho late night da obra-prima “Cowboys And Angels”. “Listen Without Prejudice Vol. 1”, lançado a 3 de Setembro de 1990. #lwp30 #listenwithoutprejudice #listenwithoutprejudicevol1 #georgemichael @georgemofficial</a></div>
<div style="color: #c9c8cd; font-family: arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17px; margin-bottom: 0px; margin-top: 8px; overflow: hidden; padding: 8px 0px 7px; text-align: center; text-overflow: ellipsis; white-space: nowrap;">
Uma publicação partilhada por <a href="https://www.instagram.com/nuno.mm.bento/?utm_source=ig_embed&utm_campaign=loading" style="color: #c9c8cd; font-family: arial, sans-serif; font-size: 14px; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 17px;" target="_blank"> Nuno Bento</a> (@nuno.mm.bento) a <time datetime="2020-09-03T21:33:47+00:00" style="font-family: arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17px;">3 de Set, 2020 às 2:33 PDT</time></div>
</div>
</blockquote>
<br />
P.S.: Tenho há anos em rascunho um post sobre o nunca lançado "Listen Without Prejudice Vol.2", cancelado devido ao conflito do George com a sua editora, a Sony. Afinal ainda há mais umas coisinhas para escrever.<br />
<script async="" src="//www.instagram.com/embed.js"></script></div>Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-89648757512161926262020-06-03T01:03:00.002+01:002020-06-03T01:09:05.376+01:00Peter Gabriel - "Biko"<blockquote class="tr_bq">
<i>“September 77, Port Elizabeth, weather fine. </i><i>It was business as usual, in police room 619.”</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/jsVieeccpQs" width="480"></iframe><br />
<br />
Ando há uma semana com esta merda a fervilhar-me a cabeça. E como quem me segue saberá, quando fico a ferver, tenho a tendência para o vernáculo, por isso tendo a segurar-me.<br />
<br />
Não sei se já viram <a href="https://www.nytimes.com/video/us/100000007159353/george-floyd-arrest-death-video.html" target="_blank">o vídeo do New York Times</a> com a reconstrução do assassinato de Minneapolis em multicam, a partir de vídeos de vários telemóveis (as coisas que a tecnologia nos proporciona). É hediondo. É um assassinato. Ponto. Da primeira vez que vi o vídeo, há uma semana, vi de um ângulo em que se via um polícia a pressionar a traqueia do George Floyd, enquanto este gritava pela mãe e dizia que não conseguia respirar. Fiquei nauseado com a frieza daquilo. Hoje percebi que afinal eram 3 animais em cima dele.<br />
<br />
Todos foram (bem) despedidos no próprio dia, mas só o animal da traqueia foi detido “enquanto se averiguam os factos na investigação”. O NYT foi mais rápido que o tribunal e reconstruiu os factos num vídeo multicam. Entretanto, os outros animais continuam a monte. Não há democracia sem justiça e justiça tem que ser feita para George Floyd. Até lá, Minneapolis arderá. Compreensivelmente.<br />
<br />
Por coincidência, ao mesmo tempo que isto acontecia, eu estava a ver um (excelente) documentário na Netflix sobre a guerra no Vietname (The Vietnam War - aconselho vivamente) que mostrava a revolução, os motins e as cidades americanas em chamas no verão de 1968, por causa da morte de MLK. Desligo o Netflix, mudo de separador e videos mostram-me uma cena exactamente igual em Minneapolis. Em 2020.<br />
<br />
Serve de quê esta reflexão? Quem saiu a ganhar dos motins do verão de 1968? Um tal de Richard Nixon, boca sensação do Partido Republicano que prometia mão de ferro com os anarquistas. A classe média teve medo e votou nele.<br />
<br />
Como vimos nesta alegoria, a história repete-se, por isso não excluam a reeleição de Trump por causa disto, por muito má que seja a sua conduta. Até porque do outro lado está um <a href="https://www.wsj.com/articles/what-is-joe-biden-talking-about-11590618349" target="_blank">velho senil </a>(não que ser um velho senil tenha algum mal, todos eventualmente lá chegaremos, se lá chegarmos) que nunca deveria ser candidato à presidência do US, muito menos nestas tão importantes eleições. Meu rico Bernie, que ias fazer a revolução do mundo livre e solidário. Mas isso, dizem-me, é fantasia. No mundo real, Trump já prometeu a intervenção do exercito (de armas os americanos percebem) e a classe média americana gosta disso.<br />
<br />
Tudo se acalmará quando houver justiça. Todos os animais têm que ser prosecuted. O vídeo mostra uma frieza criminosa de todos os polícias presentes. Como não responder aos gritos de George Floyd? Who are these people? Eu gosto de estudar mentes twisted e se dá para “perceber” o train of thought do animal da traqueia, que alegadamente tinha simpatias supremacistas, que dizer do partner dele, chinês e também cúmplice? Isto ultrapassa o racismo, é de uma atrocidade indizível. NINGUÉM pode ficar indiferente a isto. Justiça para George Floyd precisa-se.<br />
<br />
A banda sonora é providenciada por um dos meus heróis - Peter Gabriel - e o hino anti-racista dos anos 80 “Biko”, que conta a história de um homem assassinado numa esquadra na África do Sul, na altura do Apartheid. “It was business as usual” indeed, tal como em Minneapolis.Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-62770187899096358812020-04-24T19:15:00.002+01:002020-04-24T19:16:03.488+01:0010 Álbuns que influenciaram o meu gosto musical: #2 Pink Floyd - "Meddle" (1971)<span style="font-size: large;"><b>#2 Pink Floyd - "Meddle" (1971)</b></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpB4NNMbCvZODgpIhZqXI-uxNGLiSGX3xHv4Xl5QvAeNrunirdbI39QIE4YKRrNDrDeDFlw1dLW93doGlbehkPKXeCu5HQ68imdSyie1c7kk3RQLLGCQ-XeLnU2ciqLSC-9FReb-i5c2U/s1600/Meddle.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1198" data-original-width="1600" height="478" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpB4NNMbCvZODgpIhZqXI-uxNGLiSGX3xHv4Xl5QvAeNrunirdbI39QIE4YKRrNDrDeDFlw1dLW93doGlbehkPKXeCu5HQ68imdSyie1c7kk3RQLLGCQ-XeLnU2ciqLSC-9FReb-i5c2U/s640/Meddle.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
Olha, olha. Que surpresa. O Nuno nomeou um disco dos Pink Floyd como um dos dez que mais influenciaram o seu gosto musical.<br />
Antes que tome o gosto em falar sobre mim na terceira pessoa, interrompo-vos já esse revirar de olhos para vos dizer que pensei muito sobre qual dos álbuns dos Pink Floyd escolher para esta lista. A escolha lógica seria o "The Division Bell", que eu habitualmente cito como o meu álbum preferido de sempre; ou então o "The Dark Side Of The Moon", que eu habitualmente cito como o mais accomplished álbum de sempre. Mas o desafio em questão remete para as influências. Para como tudo começou. E se os Pink Floyd, para mim, começaram com Veneza em 1989 e continuaram em 1994 com o Division Bell, foi no ano 2000, quando saiu a compilação "Echoes: The Best Of Pink Floyd", que as comportas para a discografia da banda de Cambridge se abriram. E tudo girava à volta de um tema que era muito mais que um tema. Um tema que era uma vida. Um tema que no disco original em vinil, tomava todo o Lado B. Um tema que representava, melhor do que nenhum outro, tudo aquilo que eram os Floyd. E que por isso mesmo dava nome à primeira compilação que se atrevia a resumir a sua extensa e expansiva discografia num único álbum, orfanando os temas dos seus álbuns-mãe. Falo, obviamente, de "Echoes", o tema que ocupa o Lado B do álbum "Meddle", de 1971.<br />
<br />
Nao é bem saudades. O que eu tenho mesmo é inveja do 15-year-old-me, que sem saber, estava numa viagem épica a descobrir toda uma avalanche de sons que nunca tinha ouvido. Estava pela primeira vez a descobrir música por mim próprio e era um sentimento de liberdade incomensurável. Quem me dera sentir-me assim outra vez. Quem me dera voltar sentir o que senti das primeiras vezes que ouvi o "Echoes". O fascínio. O bewilderment. Foram meses a tocar aquilo no meu quarto e no meu Discman em loop. Como eram 25 minutos, nunca cansava.<br />
<br />
Estava a apanhar as primeiras bebedeiras e quando chegava a casa do Telheiro (o bar da moda em Castelo Branco) no fim da noite de Sexta-Feira, punha o CD do "Meddle", fast forward para a última faixa e deitava-me na cama a olhar para o tecto e a submergir-me na música. A minha imaginação voava sobre rios e desertos e desfiladeiros á noite, enquanto ecoava a guitarra do David. O mistério. O que era aquilo? Como é que o David fazia aqueles sons? Apaixonei-me pelo som daquela guitarra (ou vá, foi uma terceira lua-de-mel, depois de 1989 e 1994) e 20 anos depois, a paixão continua intacta.<br />
<br />
Desde então, segui a guitarra o David sempre que pude e para onde pude. Tive o privilégio de o ver em Paris, a tocar os 25 minutos do "Echoes" com o Richard Wright. Continua a ser um dos momentos altos da minha vida.<br />
<span style="font-size: xx-small;">A minha namorada da altura, que me acompanhava no concerto, deixou-se dormir na parte psicadélica do "Echoes". E não, não estava com os copos.</span><br />
<br />
O "Echoes" mudou por completo a forma como eu olhava para a música. O conceito de canção podia agora tomar qualquer forma e qualquer duração. Tao válidos eram os 2 minutos de "Love Me Do", como os 25 de "Echoes", cada qual no seu contexto. A paciência compensava. É este tema, que na verdade é muito mais que apenas um tema, que o álbum "Meddle" aparece nesta lista.<br />
Vem esta epifania a propósito da estreia no YouTube do filme <a href="https://www.youtube.com/watch?v=5m5yprC6_Zw" target="_blank">"Live At Pompeii"</a> que, na sua versão original, abre e fecha com "Echoes", contando ainda com o outro épico de "Meddle" - o instrumental "One Of These Days". Foi o filme que mudou a minha vida e fez de mim o weirdo que sou hoje.<br />
<br />
Para ilustrar o "Meddle", deixou aqui apenas algumas das versões do álbum que constam na minha colecção (são 10 no total). Em baixo, as prensagens alemã e portuguesa, com a qual eu cresci, ouvindo-a esporadicamente no record player do meu Pai (estes não são os Floyd preferidos dele).<br />
Em cima, a prensagem dourada da MFSL em CD, um dos items mais preciosos da minha colecção. Mas ainda e muito mais precioso, é o que está atrás — uma 1st pressing UK, com os primeiros matrix numbers A-1U / B-1U, assinada pelo David Gilmour <i>himself</i>. Claro que o sonho era reunir as assinaturas do Roger e do Nick por cima das respectivas cabeças, mas acho que isso é tão provável como a reunião dos próprios em palco.Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-72115688098102873412020-04-21T20:09:00.000+01:002020-04-21T23:53:04.711+01:0010 Álbuns que influenciaram o meu gosto musical: #1 David Bowie - "Low" (1977)<i>«Escolher 10 álbuns que influenciaram o meu gosto musical. Um álbum por dia durante 10 dias consecutivos. Sem ordem cronológica, sem explicaç... </i><br />
<br />
Ah fuck it. Claro que tem que haver explicações, senão what’s the fucking point?<br />
Bem. Depois de ter sido nomeado 3 vezes para entrar nesta corrente do Facebook, vou aceitar o desafio. Mas como isto é Rock’n’Roll, you gotta break the rules, e por isso, sim, vai haver explicações, não, não vão ser só capas de álbuns e não, não vou nomear mais ninguém. The madness stops here.<br />
Também não vai ser só no Facebook. Vou aproveitar para fazer uma coisa que não faço há muito tempo, que é escrever no meu blog. No blog que começou tudo há 10 anos (o banner também está actualizado) e que entretanto foi esquecido para dar lugar a outros projectos. Mas como dizia o David, <i>"where you start is where you end"</i> e por isso aqui estou de volta. Vamos a isto.<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">Notem que "10 álbuns que influenciaram o meu gosto musical" não são os meus 10 álbuns preferidos, nem os 10 melhores álbuns de sempre. São os álbuns que, errh, influenciaram o meu gosto musical. Agora sim, bora.</span><br />
<br />
<b><span style="font-size: large;">#1. David Bowie — "Low" (1977)</span></b><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3xCJOLablrT0XF_RCBjJK_FRR4ml65cQa3D5koaTt5OoKgFiTiB3PHhHRTEXovkvQTUdGfvTIgphwXH6vH6GCqAnLaWh793yFj_wJMbEiCQonuyqBtViD35rjVQ1AKDak8Yu1-cqMUUw/s1600/Low.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3xCJOLablrT0XF_RCBjJK_FRR4ml65cQa3D5koaTt5OoKgFiTiB3PHhHRTEXovkvQTUdGfvTIgphwXH6vH6GCqAnLaWh793yFj_wJMbEiCQonuyqBtViD35rjVQ1AKDak8Yu1-cqMUUw/s640/Low.jpg" width="640" /></a></div>
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Começamos então com “Low”, um álbum absolutamente pivotal na minha vida. Foi um disco que entrou na minha vida, como sempre acontece com a música, no momento certo. Estava saturado do meu quotidiano day-in-day-out (pun intended) de casa-trabalho-casa, recentemente fora de uma longa relação e a precisar desesperadamente de descarrilar, em nome da minha sanidade mental. Parece paradoxal, eu sei. Mas a fazer aquela vida certinha, eu sentia que eu não era eu. Sentia a necessidade de olhar para o abismo.<br />
<br />
Não, esperem aí. Esse álbum foi o “Station To Station”. Pois. É um tópico para outro dia. Esse também poderia perfeitamente figurar aqui. Mas em vez da masterpiece cocainada do Bowie, decidi em favor do “Low”, o álbum concebido na ressaca desse mesmo ‘high’ (mais um pun intended) e que entrou na minha vida quando ela entrou em paralelo à vida do Bowie (menos a cocaína, atenção).<br />
<br />
A influência do Bowie, e do "Low" em particular, foi tal, que às tantas fiquei obcecado com a ideia de emigrar para Berlim, para 'renascer' tal como Bowie fizera em 1977. Mas isto não foi uma daquelas conversas que nascem com um copo de whiskey na mão. Não. Eu fui mesmo ter aulas de alemão e ao fim de 6 meses apanhei um voo para Berlim, onde estive sozinho durante duas semanas para apanhar o ar da cidade. Era Fevereiro e por isso apanhei um ar bastante frio. Demasiado frio para quem só tinha levado t-shirts e um casaco de cabedal, com quem entretanto estabeleci uma ligação metafísica que na altura descrevia como "uma extensão do meu corpo". Mas divago.<br />
<br />
A epifania de "Low" estava na certeza da validade da reinvenção, da regeneração do indivíduo. Eu podia perfeitamente não ser aquilo que estava predestinado para mim. Não precisava de ser o certinho. Percebi que o sucesso não era (nem podia ser) uma prisão, tal como o David Bowie não precisou de continuar a ser o Ziggy para continuar a ter sucesso. Percebi que não precisava de ser igual aos outros nem igual a nenhum modelo, tal como o Bowie deixou de ser o Ziggy e passou a ser o Thin White Duke e depois deixou de ser o Thin White Duke para passar a ser só o David Bowie e em nenhuma das iterações foi igual a mais ninguém. A semente do "Low" cresceu 'high' (mais um pun, estou on fire).<br />
<br />
O "Low" é conhecido academicamente por ter sido o primeiro álbum de Rock 'alternativo', uma vez que o Bowie bebeu as influências alemãs do Krautrock e foi o primeiro artista mainstream ocidental a fundir a electrónica com o Rock. Eu não sou propriamente um gajo do dubstep e do minimal (correntes electrónicas vigentes em Berlim no momento), mas imaginem, o meu álbum preferido do David Bowie é o "Low". E foi o vinil que ouvi mais vezes na vida. Muitas garrafas de Jameson foram despejadas ao som "Always Crashing In The Same Car", a discutir geopolítica e geoestratégia económica e sentimental.<br />
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Para ilustrar este life-changing album, ficam uma foto com a minha colecção do "Low".<br />
Em cima, à esquerda, o tal disco que terraplanei de tanto ouvir nas sextas-feiras à noite. Uma 1st UK pressing de orange label, que comprei por 7 euros e meio numa pawn shop em Bruxelas, imaginem. Na altura estava impecável, hoje nem tanto. E por isso mesmo, à direita está uma back-up copy da mesma primeira prensagem UK que só ouvi uma vez, mas que comprei porque nunca se sabe, não posso correr o risco de não ter um "Low" à mão se me apetecer encher um copo com Jameson. Continuo a ouvir a cópia terraplanada porque tem resquícios de Jameson nos grooves e acho que isso dá uma dimensão de realismo tridimensional ao álbum. Ah e a back-up copy ainda tem o panfleto para aderir ao fan club do David Bowie em 1977. Não mandei porque achei que já era capaz de ser um pouco tarde para isso.<br />
No meio, à esquerda, está a minha primeira cópia do "Low" em CD — a remaster de 1991 da EMI, com 3 faixas bónus também essenciais. À direita está aquele que foi provavelmente o CD mais caro que já comprei — a primeira prensagem do "Low" em CD, lançada na Alemanha Ocidental em 1984.<br />
Em baixo, à esquerda, a remaster da RCA International de 1981 de green label que, curiosamente, tem sido a minha versão go-to nos últimos tempos. Tem um soundstage mais amplo e maior claridade, faltando aquela sujidade da orange label de 1977. Mas a verdade é que ultimamente tenho ouvido o álbum sóbrio. Deve ser isso.Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-82830920666748064212019-09-07T05:39:00.001+01:002019-09-09T13:27:03.057+01:00Bruce Springsteen — "The Promised Land" (Live at Passaic '78)<blockquote class="tr_bq">
<i>"There's a dark cloud rising from the desert floor, I packed my bags and I'm heading straight into the storm"</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/-K07mHLNb2U" width="480"></iframe><br />
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<b>1. PIÈCE DE RÉSISTANCE</b><br />
<br />
Já devem ter ouvido muitos contos e lendas acerca dos concertos de Bruce Springsteen. São todos verdade. Mas de todos os concertos, há um acima de todos os outros. <i>E pluribus unum</i>, como diz o emblema do Benfica; o <i>unum</i> aconteceu a 19 de Setembro de 1978 no Capitol Theater em Passaic, New Jersey e foi o primeiro de três concertos de "regresso a casa" para Bruce. Ele aparece na melhor forma de toda a sua carreira e com o melhor lote de canções, a promover o álbum "Darkness On The Edge Of Town".<br />
<br />
A melhor noite de toda a carreira de Bruce Springsteen e uma das melhores gravações ao vivo de toda a história do Rock, que é finalmente editada oficialmente pelo Boss. O concerto foi transmitido nas rádios americanas, sendo mais tarde editado profusamente, mas em forma de bootleg, com o nome "Pièce de Résistance". "Pièce de Résistance" vem do francês e significa "obra-prima maior do artista" e não poderia haver nome melhor para esta gravação que resume todas as lendas já alguma vez contadas sobre os concertos de Bruce Springsteen. Ainda que tenha sido originalmente lançada em zona cinzenta da legalidade, a gravação ganhou tanta reputação, que se tornou num dos bootlegs mais vendidos de sempre e com ela Bruce ganhou fama de ser um animal de palco. 41 anos depois, Bruce decide recuperar as mastertapes e tirar o melhor desta lendária gravação. Tempo por isso de recordar como este bootleg mudou a minha vida há 10 anos e como deixou uma marca indelével para tudo o que se passaria a seguir.<br />
<br />
<b>2. THINGS THAT CAN ONLY BE FOUND IN THE DARKNESS ON THE EDGE OF TOWN</b><br />
<br />
No final de 2008, a minha vida dava uma cambalhota completa. Ao mesmo tempo que acabava o curso no Técnico e começava uma vida rotineira de trabalho, estava prestes a sair da relação mais sólida e duradoura da minha vida, um amor que durou os 5 anos da minha estadia no Técnico. É um período que hoje relembro com enorme carinho e um passado com o qual estou em perfeita paz. Mas nem sempre foi assim. Nos meses que se seguiram àquele rompimento, vivi a agonia da dúvida se tinha feito o que era certo para mim. Não era uma agonia aguda, um sentimento que me fizesse disparar a marcação de um número de telefone. Era sim um ruído que se arrastava no dia-a-dia, uma interferência no sinal da minha rádio, um grão na imagem que persistia e teimava em não sair. Estava confuso, perdido e à procura de respostas sobre as grandes questões da vida. Nesse período, descobri Bruce Springsteen.
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<br />
Já me conhecem, não sou de deixar os superlativos caídos no chão. Por isso vou ser directo: Bruce Springsteen salvou a minha vida entre 2008 e 2009, num exorcismo que começou em Dezembro de 2008 e culminou no dia 2 de Agosto de 2009, num <a href="https://www.youtube.com/watch?v=dbV7ZcLybMc" target="_blank">Monte do Gozo</a> a rebentar pelas costuras em Santiago de Compostela. Foi a primeira vez que vi Bruce Springsteen ao vivo e uma noite que definiu a minha vida e tudo o que eu queria dela daí em diante. Emoção. Honestidade. Seja ela em beleza, ou em bruteza. É isso que Bruce dá ao público nos seus concertos, porque é exactamente aquilo por que as pessoas estão esfomeadas.<br />
<br />
Durante este período de exorcismo, havia um CD que rodava em loop no meu carro. Era a gravação do primeiro set do primeiro concerto de Passaic. Tudo o que eu tinha que ouvir de Bruce naquele momento estava condensado ali. Bruce tinha todas as respostas que eu procurava para as grandes questões da vida. Foi ele que me fez perceber porque é que eu tinha saído. E o que é que me esperava a seguir.<br />
Saí, porque quis ver o que havia na escuridão da orla da cidade. E como Bruce avisou, tive que pagar o preço de querer coisas que só podem ser encontradas na escuridão da orla da cidade. Leiam aqui o que entenderem.<br />
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<b>3. A LIGHT IN THE DARKNESS</b><br />
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Naquela gravação ao vivo de Passaic, Bruce enquadrou tudo o que eu sentia naquela altura. Deu nomes aos lugares metafóricos que existiam na minha cabeça (<i>"the edge of town"</i>). Deu nomes aos sentimentos de culpa que me assolavam (<i>"When the night's quiet and you don't care anymore / Your eyes are tired and someone at your door / And you realize... you wanna let go"</i>) e resumiu o espírito da minha viagem de redenção, quando introduziu "Darkness On The Edge Of Town" em jeito de pregador: <i>"At one time or another, everybody's gotta drive through the darkness on the edge of town"</i>.<br />
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Mas o conteúdo era apenas uma parte e não a parte fundamental desta gravação catártica. A forma, aqui, é tudo. A paixão que Bruce imprime nesta actuação é arrepiante. Desde a contagem para "Badlands" que entramos numa auto-estrada sensorial, onde nos agarram pelos colarinhos e somos submetidos a chuveiro de emoções que tão depressa nos imprimem excitação ("Badlands"), raiva ("Streets Of Fire"), alegria ("Spirit In The Night"), ambição ("Thunder Road", "The Promised Land"), desespero ("Meeting Across The River") e arrepios, quando Bruce Springsteen pergunta à audiência <i>"New Jersey, are you ready to prove it all night?"</i> e depois abre a guitarra. Tudo num espaço de 80 minutos.<br />
<b><br class="Apple-interchange-newline" />4. MEETING ACROSS THE RIVER</b><br />
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O tempo passou e eu procurei refazer a minha vida, sempre carregando a tocha do Bruce no meu dia-a-dia. Foram os anos áureos do blog "Escolha Musical do Dia", que na altura escrevia quase diariamente (como era suposto) e que, não por acaso, tinha uma avalanche de posts de Bruce Springsteen. Para meu gáudio, em 2012 Bruce vem a Portugal, ao Rock In Rio, e eu tenho a oportunidade de o voltar a ver.<br />
<br />
Nesta altura, uma "ex" que tinha sido uma má ideia desde o início (não é a do segundo capítulo, obviamente), tenta uma reaproximação com o pretexto de que queria também ver o Bruce Springsteen no Rock In Rio e como tal, pediu-me para eu a ajudar a preparar o concerto. Eu gravei-lhe o CD do Passaic e acordámos um encontro à beira rio, que eventualmente iria reatar a má ideia inicial.<br />
<br />
Na semana seguinte, escrevi o mail:<br />
<blockquote class="tr_bq">
"De: Nuno Bento<br />
Enviado: 25 de maio de 2012 19:22<br />
Para: (...)<br />
Assunto: "Stuff this in your pocket, it will look like you're carrying a friend" </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
Olá! Conforme te tinha prometido, aí está o alinhamento do CD que te gravei do tio Bruce, uma das minhas gravações ao vivo preferidas de sempre (só atrás do Live At Wembley '86 dos Queen): </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
1. Intro (0:31)<br />
2. Badlands (5:00)<br />
3. Streets Of Fire (4:47)<br />
4. Spirit In The Night (6:50)<br />
5. Darkness On The Edge Of Town (4:14)<br />
6. Independence Day (5:29)<br />
7. The Promised Land (5:23)<br />
8. Prove It All Night (9:30)<br />
9. Racing In The Street (8:09)<br />
10. Thunder Road (5:28)<br />
11. Meeting Across The River (3:17)<br />
12. Jungleland (9:39) </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
Como podes ver pelo site, este CD é apenas o 1º set de um concerto de quase 4 horas que o Bruce deu na sua terra Natal (New Jersey) em 1978. Na altura, ele dava dois "sets" de hora e meia e depois voltava para mais meia-hora/uma hora de encores. Aquilo nunca mais acabava! </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
No sábado não acabei de te contar a minha "história" sobre este concerto: há mais ou menos 4 anos fiquei apanhadinho pela música do tio Bruce e por acaso dei com este concerto. Foi daquelas coisas que mudou a minha vida. Durante 2 anos, esteve em constante repeat no meu carro e arrisco dizer que foi o álbum que mais ouvi (de sempre) no meu carro! Ok, eu tenho um uso muito fácil de superlativos, mas é verdade! Mudou a minha vida! Por isso, quando te gravei o CD, foi como se de uma "entrega" de algo importante e pessoal se tratasse. Agora que já foste apanhada também pela mística do tio Bruce, achei que estavas preparada para ouvir isto! </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
E pronto, já tens aí tudo o que precisas para saber tudo do tio Bruce. O trabalho não me deixou enviar isto mais cedo, mas ainda vais bem a tempo!<br />
Desejo-te um bom concerto e, uma vez que vais incentivada por mim, espero que gostes! </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
Beijinhos,<br />
Nuno"</blockquote>
Ai, ai, ai, Nuno. Que tontinho. O concerto do Bruce foi espectacular, como é óbvio. O retomar da má ideia é que foi um desastre. O que vale foi que a seguir a uma série de desastres, que culminaram num acidente de automóvel em Setembro desse ano, deu-se início à caminhada que me iria levar para <i>a terra prometida</i>.<br />
<b><br class="Apple-interchange-newline" />5. THE PROMISED LAND</b><br />
<br />
A continuação da história está contada <a href="https://rapsodia-boemia.blogspot.com/2018/06/london-calling-o-sonho-da-radio-e-real.html" target="_blank">aqui (por escrito)</a> e <a href="https://nitfm.pt/programas/london-calling/get-back-to-radio/" target="_blank">aqui (na rádio)</a>. O caminho para <i>a terra prometida</i> continua. Sempre ao som do Bruce.Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-71360044243678436742019-09-06T17:54:00.001+01:002019-09-07T02:28:39.642+01:00Freddie Mercury — "Love Me Like There's No Tomorrow" (2019 Remix)<blockquote class="tr_bq">
<i>"Anything can happen but we only have one more day together"</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/H1Wbu_AF2e4" width="480"></iframe><br />
<br />
Mesmo a tempo dos festejos do seu aniversário, foi anunciada a nova colectânea de Freddie Mercury — "Never Boring" —, a qual vai ser lançada em duas versões: uma compilação que reúne os temas mais conhecidos da carreira a solo (incluindo a <a href="https://www.youtube.com/watch?v=LGjt291COa0" target="_blank">recente remistura de "Time"</a>) e uma caixa que junta esta compilação, às versões revisitadas dos dois álbuns que perfazem a sua discografia a solo ("Mr. Bad Guy" de 1985 e "Barcelona" de 1988), mais um DVD e um Blu-Ray com vídeos. O nome do projecto é retirado do famoso pedido que Freddie Mercury fez a Jim Beach, manager dos Queen, quando o nomeou o seu executor testamentário e representante legal na banda: "Do whatever you want with my music, just never make me boring". Foi um pedido que nem sempre foi satisfeito, mas certamente que tal não foi por falta de vontade do Jim Beach.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Os Queen, os verdadeiros, foram votados ao esquecimento pelo Dr. Brian May e pelo Sr. Roger Taylor, uma vez que estão demasiado ocupados a viver o sonho Americano com o Adam Lambert, nas asas do sucesso do filme "Bohemian Rhapsody". Já vamos assim para o segundo ano consecutivo sem um lançamento de arquivo dos Queen. O cenário é ainda mais desanimador, se pensarmos que o último produto verdadeiramente interessante já remonta a 2014 — as caixas do "Live At The Rainbow" — e que este ano tinha sido cogitado o lançamento da caixa de "Live Killers", que iria reunir vários concertos em audio / video da segunda metade dos anos 70.</div>
<div>
<br /></div>
Se no ano passado havia a desculpa do filme, que estava a canalizar todas as atenções da máquina dos Queen — a Queen Productions Limited (QPL) —, este ano a única explicação é mesmo o completo desinteresse de Brian e Roger pela sua própria banda. O Conselho de Estado da QPL é neste momento formado por Brian May, Roger Taylor, John Deacon e Jim Beach, que representa Freddie Mercury. O voto do John é favorável por defeito; ele tem poder de veto, mas raramente se opõe às decisões dos colegas (até porque continua a receber). O voto do Roger é, por defeito, o que quer que o Brian quiser. E o voto do Jim é, por respeito, também favorável à decisão do Brian.<br />
<br />
Como já perceberam, esta estrutura significa que, na prática, quem manda nos Queen é o Dr. Brian May. Por isso, sempre que ele tem uma ideia para um novo lançamento dos Queen, essa ideia é executada se e só se for à sua maneira. Às vezes isto resulta bem ("Made In Heaven", "Live At The Rainbow"), outras vezes nem por isso ("News Of The World 40th", "Queen Forever"). Se ele não tem ideia nenhuma, nada se pode fazer com o nome dos Queen na habitual janela de lançamentos do Natal. O problema é que a editora paga à Queen Productions Limited a peso de ouro para lançar os seus produtos e se não há produtos, há um problema. E é aqui que Jim Beach levanta a mão para falar no Conselho de Estado dos Queen — "Então e se voltássemos a lançar os álbuns a solo do Freddie?". E é assim que nasce "Never Boring". O Jim Beach faz o que pode para carregar, agora sozinho, a tocha do Freddie.<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/LGjt291COa0" width="480"></iframe><br />
<br />
O catálogo a solo de Freddie Mercury já foi revisitado e largamente explorado desde a sua morte. A caixa de 12 discos "The Solo Collection", lançada em 2000, é um documento exaustivo da sua carreira que, na prática, contou apenas com 2 álbuns. Nesta caixa, os álbuns aparecem nas suas versões originais.<br />
Desde então, "Barcelona" foi revisitado em 2012 e totalmente regravado com uma orquestra real, uma vez que o álbum original tinha usado sintetizadores para recriar as orquestrações.<br />
Se viram o filme "Bohemian Rhapsody", reconhecerão "Mr. Bad Guy" como o álbum a solo de Freddie que separou os Queen e correu muito mal. Se a parte dramática da separação da banda foi largamente inventada no filme, o álbum correu mesmo muito mal. É de longe a pior coisa que o Freddie fez em toda a sua carreira. Desde a sua morte, a maior parte das faixas deste álbum já foram revisitadas: para a compilação "The Freddie Mercury Album" (1992) foram remisturados "Foolin' Around" e "Your Kind Of Lover" por Steve Brown, "Let's Turn It On" e "My Love Is Dangerous" por Jeff Lord-Alge, "Mr. Bad Guy" por Brian Malouf e "Living on My Own" por Julian Raymond; "Made in Heaven" e "I Was Born to Love You" foram regravados pelos Queen para o álbum "Made In Heaven" em 1995; "There Must Be More to Life Than This", que originalmente havia sido gravado em dueto com Michael Jackson, foi (mal) reconstruído para a compilação "Queen Forever" em 2014. Tirando este último, surpreendentemente mal executado pelos Queen, todas as remisturas e regravações são superiores aos originais.<br />
<br />
O álbum "Mr. Bad Guy" é de facto a ovelha negra do portfolio de Freddie Mercury. Nisto, é preciso dar razão ao Dr. Brian May, quando este pintou o disco como um enorme falhanço comercial e artístico no filme do ano passado. Não há nenhum problema com a composição de Freddie e muito menos com a sua voz, mas há sim um enorme problema com os arranjos, instrumentação e produção. O Freddie precisava mesmo de uma voz que lhe dissesse que "não". Ok Brian, tinhas razão.<br />
<br />
É por isso com agrado que vejo que finalmente "Mr. Bad Guy" será totalmente revisitado em 2019 para inclusão na caixa de "Never Boring" (e será lançado em separado também como "Special Edition"). Juntando a versão de 2019 de "Mr. Bad Guy" e a versão de 2012 de "Barcelona", a caixa "Never Boring" torna-se assim complementar à já referida "The Solo Collection" de 2000, o que vai obrigar os fãs (onde me incluo, obviamente) a levá-la para a sua colecção.<br />
<div>
<br class="Apple-interchange-newline" />
Ouvindo a <a href="https://open.spotify.com/album/3Zx1gWa75NC12XT9M18PGb" target="_blank">nova versão "Love Me Like There's No Tomorrow"</a>, um dos temas que ainda não tinha sido revisitado antes (o outro é "Man Made Paradise"), parece que se levanta um véu na paisagem sonora e agora a voz de Freddie é muito mais clara. O piano foi puxado para a frente da mistura e pela primeira vez, não parece que Freddie está a cantar noutra sala.<br />
<br />
É curioso que ninguém se tivesse lembrado de pegar ainda em "Love Me Like There's No Tomorrow", um dos seus temas mais sinceros, profundos e ultra-pessoais. Freddie disse um dia que gostava de escrever canções sobre o que sentia e o que sentia com muita muita força eram as emoções e o amor. Este é dos casos mais flagrantes disso mesmo. Freddie canta sobre o drama da última noite, da noite de despedida, antes da inevitável separação. É uma separação cuja força ele sente ser maior que ele, mas que não inviabiliza o o despejo do depósito das emoções e dos amor, enquanto há tempo. Como se não houvesse amanhã.</div>
Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-28558882626811381062018-11-27T10:41:00.001+00:002018-11-27T10:41:39.464+00:00George Michael & Elton John - "This Kind Of Love" (Bento Mix)<blockquote class="tr_bq">
<i>"You just have to believe in this kind of love"</i></blockquote>
<b>"THIS KIND OF LOVE" - O DUETO PERDIDO DE GEORGE MICHAEL E ELTON JOHN</b><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoCZd-nKQtls_G2AplH0HTX_2ZbxMjNxq8poDHZLwkRfwixAjvhRc_nZdCy8XwuUhmGTdor2YIt67SKQd6bTDCqNuaiLJaPMZPaZHv3MLOoDxi6E0sp_UaOk12VWqGBt5inBUagq5YO1w/s1600/george_michael_elton_john.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="730" data-original-width="1296" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoCZd-nKQtls_G2AplH0HTX_2ZbxMjNxq8poDHZLwkRfwixAjvhRc_nZdCy8XwuUhmGTdor2YIt67SKQd6bTDCqNuaiLJaPMZPaZHv3MLOoDxi6E0sp_UaOk12VWqGBt5inBUagq5YO1w/s640/george_michael_elton_john.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
Em 1993, depois do cancelamento do projecto "Listen Without Prejudice Vol. 2" e em pleno conflito com a Sony, George decidiu que queria escrever para outros artistas para não dar dinheiro à sua editora. Fez então um acordo com a Warner Bros e conseguiu 1 milhão de dólares para a sua nova ideia. O projecto, de nome "The Trojan Souls", evoluiu para um álbum de duetos com artistas de nomeada como Elton John, Sade, Seal, Janet Jackson, Stevie Wonder, Aretha Franklin e Bryan Ferry.<br />
<br />
O álbum prometia ser um <i>instant hit</i>, mas a morte do seu namorado Anselmo Feleppa devastou o nosso George de tal forma, que o projecto foi abandonado por completo. Pelo meio, ficaram algumas faixas quase completas, outras em versão instrumental, mas nenhuma terminada e misturada para lançamento.<br />
<br />
Nos anos mais recentes, estas faixas inacabadas apareceram na internet e David Austin, amigo de George, já explicou que isto se deve ao facto das masters terem desaparecido, o que inviabiliza que este projecto alguma vez se materialize. Por exemplo, a faixa "This Kind Of Love" era suposto ser um dueto com Elton John, mas o que existe na net são dois takes vocais separados, um de George e um de Elton.<br />
<br />
Uma vez que o próximo London Calling dará pelo nome de "Something To Save - As canções perdidas de George Michael" e como o próprio nome indica, terá como objectivo dar a conhecer ao mundo algumas das canções menos conhecidas de George, fui a caça do que restava de "The Trojan Souls". Sabendo da existência destas preciosidades, procurei na net uma versão do dueto que combinasse os dois take vocais de George e Elton e que alguém já tivesse remisturado, para incluir no programa. Não encontrei.<br />
<br />
Decidi então que eu próprio tinha que pôr as mãos à obra e dar ao mundo o dueto nunca ouvido entre George Michael e Elton John. E eis que com os meus limitados skills de mixer e ainda mais limitada disponibilidade, em duas horas fiz aquilo que podem ver como uma amostra do que poderia ter sido "The Trojan Souls".<br />
<br />
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</div>
Senhoras e senhores, pela primeira vez na história, eis "This Kind Of Love" (Bento Mix), o dueto de George Michael e Elton John.<br />
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<u>Legenda</u>:<br />
<div>
<span style="color: red;">George Michael</span></div>
<div>
<span style="color: blue;">Elton John</span><span style="color: red;"></span><br />
<span style="color: red;">
</span>
<div>
<b style="color: blue;">George & Elton</b><br />
<span style="color: red;"><span style="color: blue;">
</span></span>
<div>
<span style="color: red;"><span style="color: blue;"><b><br /></b></span></span></div>
<span style="color: red;"><span style="color: blue;">
<div>
<b><br /></b></div>
</span></span></div>
<span style="color: red;">
</span></div>
<div>
George Michael & Elton John - "This Kind Of Love" (Bento Mix)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<span style="color: red;">You don't have to think about it</span><br />
<span style="color: red;">You don't have to do without it</span><br />
<span style="color: red;">Just have to believe</span><br />
<span style="color: red;">In this kind of love</span><br />
<br />
<span style="color: blue;">You don't have to be so scared</span><br />
<span style="color: blue;">You don't have to hide that you care</span><br />
<span style="color: blue;">You just have to believe</span><br />
<span style="color: blue;">In this kind of love</span><br />
<br />
<span style="color: red;">Everybody's telling me that these are dangerous times</span><br />
<b>But you and me, can't you see baby?</b><br />
<b>Maybe we have better take a little care with this love</b><br />
<br />
<span style="color: blue;">Oh I know</span><br />
<span style="color: blue;">Cause I can't be happy without you</span><br />
<span style="color: red;">Then I'll be the one</span><br />
<br />
<b>Now that I've found you</b><br />
<b>Now that I've found you</b><br />
<b>Now that I've found you</b><br />
<br />
<span style="color: red;">I don't have to hold you down</span><br />
<span style="color: blue;">I don't need to push you around </span><br />
<b>I just want you to be</b><br />
<b>This kind of love</b><br />
<br />
<span style="color: red;">And if someone hurt you before</span><br />
<span style="color: red;">Can't you see, all that I wanna give you much more</span><br />
<span style="color: red;">Just have faith in me </span><br />
<span style="color: red;">This kind of love </span><br />
<br />
<span style="color: blue;">Everybody's telling me that these are dangerous times</span><br />
<span style="color: blue;">For you and me, can't you see baby?</span><br />
<span style="color: red;">People got to take a little bit of care when they got doubt</span><br />
<span style="color: red;">Don't let it go, no, never, no</span><br />
<br />
<span style="color: red;">And all I know</span><br />
<span style="color: red;">I have no reason to doubt you</span><br />
<span style="color: red;">Don't you think it's time to believe in someone?</span><br />
<span style="color: red;">So I'm telling you</span><br />
<br />
<b>Now that I've found you</b><br />
<b>Now that I've found you</b><br />
<b>I can't let you go</b><br />
<b>Found you</b><br />
<br />
<span style="color: red;">Nobody's perfect, we all have a past</span><br />
<span style="color: red;">When you look at me</span><br />
<span style="color: red;">How can you ask if I love you?</span><br />
<span style="color: red;">Is it so hard to see?</span><br />
<span style="color: red;">Now everyone has to get older I know</span><br />
<span style="color: red;">But this empty house seems to get colder and colder</span><br />
<span style="color: red;">So, won't you stay here with me?</span><br />
<br />
<span style="color: red;">And all I know is</span><br />
<span style="color: red;">I have no reason to doubt you</span><br />
<span style="color: red;">Don't you think it's time to believe in someone?</span><br />
<span style="color: red;">So I'm telling you</span><br />
<br />
<b>Now that I've found you</b><br />
<b>Now that I've found you I can't let you go</b><br />
<b>Found you</b></div>
<div>
<b><br /></b>
<b><br /></b>
Escusado será dizer que é muito difícil conter o meu entusiasmo com o programa que aí vem.</div>
Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-77830571424623415742018-10-19T08:17:00.001+01:002018-10-20T13:08:29.510+01:00Queen - "Bohemian Rhapsody"<blockquote class="tr_bq">
<i>"Anyway the wind blows"</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="https://www.youtube.com/embed/fJ9rUzIMcZQ" width="459"></iframe><br />
<br />
Sim, a banda sonora do "Bohemian Rhapsody" entrou no meu telemóvel às 6 da manhã, mas na boa demência que é isto de ser um fanático dos Queen, já aqui vos trago a primeira review do que vamos ouvir no filme da vida do Freddie.<br />
<br />
O álbum começa com o jingle da 20th Century Fox interpretado pelo Brian e pelo Roger e OMG, OMG, OMG. Impossível não ficar logo aos saltos na cadeira. Depois da versão do hino britânico que apareceu no álbum "A Night At The Opera" (1975) e da marcha nupcial no "Flash Gordon" (1980), os rapazes não podem ficar por aqui e sugiro já a reinterpretação do hino nacional, do hino do Benfica e do hino do Jardim Escola João de Deus. Desta forma todos os hinos da minha vida ficam covered pela guitarra do Dr Brian.<br />
<br />
Aparentemente não havia gravações de arquivo dos Smile - a banda de Brian, Roger e Tim Staffel que deu origem aos Queen - que se pudessem salvar e por isso os rapazes foram para estúdio com o Tim passados quase 50 anos e regravaram "Doin' All Right" (é sem o "g", ó Brian!). É bem, Bri. É bem. Aprovo.<br />
<br />
Uma das grandes novidades da banda sonora é a versão ao vivo de "Fat Bottomed Girls" gravada em Fevereiro de 1978 em Paris e lamentavelmente excluída do subsequente álbum ao vivo "Live Killers". Ora, o que acontecia neste segmento do louco show dos Queen nesta tour é que entravam em palco dezenas de miúdas nuas em bicicletas enquanto a banda tocava (é audível o entusiasmo de Freddie na gravação). Isto deixa antever que vamos ter alguma ousadia (e alguma nudez!) no filme. Será que o Dr. Bri deixou?<br />
<br />
Não consigo ainda acreditar que o filme tem o atrevimento de mostrar o Brian a compor o "We Will Rock You" com o Freddie de bigode. Para quem não sabe, o Freddie deixou crescer o bigode em Março de 1980 (a primeira aparição num disco foi no single de "Play The Game" em Maio desse ano) e "We Will Rock You" foi gravado no verão de 1977 para o álbum "News Of The World", quase TRÊS ANOS ANTES!!! What the fuck, Brian? Eu sei que os fãs dos Queen mamam tudo o que lhes pões à frente (começando por mim), mas não somos assim tão tapadinhos.<br />
<br />
Espero bem que o <b><i>moustachegate </i></b>(tinha que cunhar algum nome para este verdadeiro escândalo) seja o único grande major issue temporal do filme. Mas espera aí. Na banda sonora o "Bohemian Rhapsody" (de 1975) aparece DEPOIS de "Fat Bottomed Girls" (de 1978)! Tu queres ver?<br />
<br />
Um dos pontos altos da banda sonora é a versão absolutamente breathtaking de "Love of My Life" gravada no primeiro Rock In Rio em 1985 e cantada em plenos pulmões por 250 mil pessoas. É um dos pontos altos da história dos Queen, que aparece aqui pela primeira vez em disco. E eu estou felicíssimo, uma vez vou poder usar isto para o "London Calling" da próxima semana sobre os Queen ao vivo nos anos 80.<br />
<br />
Outro ponto alto é a também estreia em disco da aparição dos Queen no Live Aid em 1985. São 23 minutos que para algumas pessoas representam o pináculo de toda a existência humana. Para mim, por exemplo. É com esta cena que o filme (alegadamente) termina e eu espero que sim. Não vejo melhor final para um filme dos Queen que a coroação de Freddie.<br />
<br />
All in all, bela banda sonora, muito mais-do-mesmo como era esperado, mas com novidades mais que suficientes para os fãs dos Queen comprarem o disco. Eu vou já daqui a bocado à Pop Up Shop do Bohemian Rhapsody na Carnaby Street para tratar disso.<br />
<br />Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-69914957282475355702018-07-06T08:08:00.002+01:002018-07-06T08:17:05.031+01:00Roger Waters – "It's A Miracle"<blockquote class="tr_bq">
<i>"Miraculous you call it babe, you ain't seen nothing yet"</i></blockquote>
<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/K09MZYsDzrw" width="560"></iframe><br />
<br />
Faz um mês que tive uma inundação trágica. Não acredito em Deus nem no Diabo, mas a desgraça teve tais requintes de malvadez, que mais parecia ter sido obra do Demo.<br />
<br />
Apesar de ter os meus discos de vinil devidamente arrumados nas prateleiras com rigor bibliotecário, uma vez que tenho que aceder às prateleiras de escadote (eles chegam ao tecto e o pé direito tem 4 metros de altura), tenho os que estão em rotação corrente cá em baixo, cuidadosamente guardados num banco; banco esse onde figura também o poster do "The Division Bell" assinado pelo David, Nick e Rick (já devia estar na parede, eu sei). Ora, alguns destes discos têm enorme valor sentimental e coleccionista, caso da primeira prensagem do "The Wall" que vêem na imagem. E do poster assinado, enfim, nem preciso dizer nada.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAzwEQ6W1bcPatJpJQqNUYLZ6j8Zfd5JrzubZ-qoW438NpmQvI_GYOzFXdpdetGZ-ECbQSufc5KH6O1x936iO57Np_DHVKqJM9vElxY-6h1hTwilFiQzQh5VwH42m6-gyxf_4zAda4Ebs/s1600/wall+record.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAzwEQ6W1bcPatJpJQqNUYLZ6j8Zfd5JrzubZ-qoW438NpmQvI_GYOzFXdpdetGZ-ECbQSufc5KH6O1x936iO57Np_DHVKqJM9vElxY-6h1hTwilFiQzQh5VwH42m6-gyxf_4zAda4Ebs/s640/wall+record.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
Pois que há um mês tive uma inundação vinda do apartamento de cima e de todos os sítios do apartamento onde a água podia ter caído, foi escolher precisamente o centímetro onde os meus discos preferidos estão encostados ao poster do meu álbum preferido.<br />
<br />
Para tornar a situação mais dramática, isto aconteceu na hora em que estava na cozinha a fazer o jantar, pelo que demorei uns bons 10 ou 15 minutos até me aperceber da tragédia que se abatia sobre mim.<br />
<br />
Quando cheguei ao local da catástrofe, gelei. Nem queria acreditar no que estava a acontecer. Aflito, tentei salvar os discos da maneira que pude e corri a buscar toalhas e um secador. Mas parecia que não havia nada a fazer. Imaginem água suja de infiltração a cair sobre papel com 40 anos de idade, mais velho que eu. As capas dos discos ficaram todas engelhadas. Uma tragédia, portanto.<br />
<br />
Como não sou de ficar derrotado tão facilmente, passei horas a minimizar os estragos e para tentar restaurar as capas, meti-as debaixo de uma pilha de discos.<br />
<br />
Um mês passou e o milagre aconteceu. Como o autocolante da Flashback mostrar, a água passou por ali, mas a cama do meu The Wall está agora lisinha, como nova há 40 anos. Como diria o Roger himself, it's a fucking miracle.<br />
<br />
P.S.: A causa da inundação? Facilmente identificável. Era sábado à noite e os meus vizinhos de cima, um casal germânico-coreano, estavam na brincadeira na banheira e a água transbordou para o chão em quantidades que sabe-se lá. Como é que eu sei? Em primeiro lugar porque eles ouvem-se. Muito. E muito alto. Especialmente ela. E porque fui lá em cima e estavam os dois meio molhados e enrolados em toalhas. Não é preciso ser o Einstein para perceber o que se estava ali a passar.<br />
<br />
P.P.S.: Hoje é dia de Roger no Hyde Park. E' o meu 6º concerto do Roger e o 15º Floyd related:<br />
<br />
Roger 2002/05/04 Lisboa<br />
David & Rick 2006/03/15 Paris<br />
Roger 2006/06/02 Lisboa<br />
Roger 2012/03/21 Lisboa<br />
Roger 2013/09/13 Wembley Stadium<br />
David 2015/09/12 Pula<br />
David 2015/09/14 Verona<br />
David 2015/09/15 Firenze<br />
David 2016/03/24 Hollywood<br />
David 2016/03/25 Hollywood<br />
David 2016/07/08 Pompeii (front row!)<br />
David 2016/09/30 Royal Albert Hall<br />
Roger 2018/05/20 Lisboa<br />
Nick 2018/05/24 Putney<br />
Roger 2018/07/06 Hyde Park<br />
<br />
O melhor do concerto de hoje? <b>Pensar que vou ver o Roger no Hyde Park e vou a pé para casa. What a life.</b>Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-71266996695565491252018-06-09T00:00:00.000+01:002018-06-26T15:09:41.537+01:00Peter Gabriel - "Big Time"<blockquote class="tr_bq">
<i>"The place where I come from is a small town, they think so small, they use small words"</i></blockquote>
<iframe allow="autoplay; encrypted-media" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/PBAl9cchQac" width="560"></iframe><br />
<h2>
<b>Castelo Branco</b></h2>
Sempre tive uma relação muito difícil com a minha cidade natal. Bem, chamar ao meu sentimento por Castelo Branco uma "relação difícil" é obviamente um eufemismo somente dado ao facto do texto ser público. Deixemo-nos de palavras pequenas. Na verdade, sempre odiei o sítio de onde vim. E o tempo não melhorou o meu desdém.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"I've been stretching my mouth, to let those big words come right out"</i></blockquote>
<br />
"So" foi o álbum onde Peter Gabriel quis ser grande. Depois de se libertar das amarras dos Genesis em 1975, Peter embarcou numa carreira a solo onde pôde fazer uso da liberdade que a caixa dos Genesis (que é como quem diz, o Tony Banks) não lhe permitiam gozar.<br />
<br />
O próprio Peter não negou a sua vontade em disparar para outras alturas. Em 1985, quando gravou "So", já dez anos tinham passado desde a sua separação dos Genesis. Nesse espaço de tempo, viu a banda alcançar mais sucesso do que alguma vez havia conseguido com ele, ou do que ele conseguira a solo. E claro, viu o seu amigo Philip, o insuspeito baterista da banda, o homem atarracado da sombra a quem poucos davam crédito, a tornar-se uma superestrela internacional com milhões de discos vendidos, muitos mais do que ele ou a banda já tinham vendido. Era altura de ripostar.<br />
<br />
"Big Time" é o espelho do que PG estava à procura naquela altura. É sátira. Foi o auto-retrato satírico que Peter Gabriel fez a si mesmo, no álbum que usou para, conscientemente, atingir o sucesso: <i>"This drive for success is a basic part of human nature and my nature"</i>. Genial. Como não poderia deixar de ser, Peter foi acusado pelos puristas de fazer um sell out com este álbum (fucking Genesis fans), mas ele sabia exactamente o que estava a fazer. E é aqui que devemos atentar.<br />
<br />
Peter é um homem muito inteligente. Não sei de níveis de QI, mas pela complexidade que sempre exigiu da sua música e respectivo significado, Peter Gabriel será muito provavelmente o homem mais inteligente da história do Rock. É fácil alguém se identificar com os conflitos de Roger Waters. Não é de todo tão fácil identificar-se com os traumas de um homem que desenvolve uma obsessão por alfaces.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"I worked it out"</i></blockquote>
<br />
No plano estritamente teórico, de certa forma entendo o encanto bucólico do campo, ou no caso de Castelo Branco, de uma cidade sem trânsito nem correrias, em que se demora 5 minutos a chegar a qualquer lado e em que hora de ponta significa adicionar 15 minutos aos 5 habituais.<br />
Tenho a perfeita noção que o problema não é de Castelo Branco, é meu. Não que eu goste de entrar em lugares comuns, mas este é o caso proverbial de "It's not you, it's me". Não sou dali. Nunca pertenci ali. Nunca na minha vida estive em Castelo Branco e me passou pela cabeça um raciocínio como "este é o meu lugar", ou "é aqui que eu pertenço". Não senti isso nos 17 anos que eu lá vivi. Não senti isso nos 16 anos seguintes que vivi em Lisboa e visitava a cidade esporadicamente. Não senti isso agora que emigrei e regressei à terra onde nasci. Posso entender o fascínio teórico, mas não é para mim.<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">Nada disto tem a ver com patriotismo. A viver no estrangeiro, cada vez mais me me sinto português e cada vez menos albicastrense. É estranho, mas é o que é.</span><br />
<br />
Sempre odiei a calmaria. Aliás, não há nada que me deixe mais nervoso do que quando me dizem "tem calma, Nuno". Até fico com suores frios. Quando a minha mãe me diz para "ver isso com calma", até tremo. Não, mãe. Não, não, não. Seguir os impulsos sempre foi a minha forma de viver. Sempre me alimentei do barulho e das multidões. Sempre me ferveu o sangue. Para mim, Castelo Branco era a antítese de tudo o que eu era. É um lugar estranho para mim.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"I've had enough, I'm getting out to the city, the big big city"</i></blockquote>
<div>
<i><br /></i></div>
Sentia-me sufocado em Castelo Branco. Contava os dias para sair de lá. Mas contava mesmo. Literalmente. Era uma ansiedade indizível de sair, de me ir embora dali e ir em busca do meu próprio "Big Time". Tinha uma folha quadriculada onde fazia ticks diariamente no dia de ontem — menos um, menos um, já falta pouco. Estava lá marcado o dia 29 de setembro de 2003, o dia em que começava o ano lectivo no Instituto Superior Técnico. Sabia que a partir daquele dia, tudo seria diferente. E assim foi. Na manhã de domingo, 28, arrumei a minha colecção de CDs numa caixinha (na altura ainda cabia ali) e acondicionei-a ao meu lado no carro do meu Pai. Meti-me dentro do automóvel e nunca mais olhei para trás.<br />
<br />
A partir daí, foi sempre a trabalhar em busca do "Big Time". Ou de todos os <i>big times</i> que tinha na cabeça. Dizem-me que já alcancei alguns, mas nunca deixei de sentir aquela ansiedade indizível. Nunca senti que cheguei ao "Big Time". E por isso aquela ansiedade permanece, lingering, a perseguir-me dia após dia.Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-69492726411244110402018-01-22T23:56:00.002+00:002018-06-05T11:14:12.528+01:00Nirvana - "Sliver"<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/QECJ9pCyhns" width="640"></iframe><br />
<span style="text-align: center;"><br /></span>
<span style="text-align: center;"><br /></span>
<h2>
<span style="text-align: center;">Vi o "Supernanny". Não fiquei assim tão chocado</span></h2>
<br />
Quem já me leu mais que uma vez, especialmente quando trato de assuntos sociais, sabe que eu sou um libertário por natureza. Creio piamente nas liberdades individuais e apoio qualquer decisão de um indivíduo, seja ela gostar do mesmo sexo, mudar de sexo, recusar sexo, seja ela qual for, desde que venha de um adulto e que não prejudique directamente terceiros. Este princípio serve para tudo e elimina a esmagadora maioria dos argumentos em favor da censura, invariavelmente frutos de insegurança, medo e ignorância. A educação é a chave de tudo, não a censura. Só há uma restrição a este princípio libertário: é que <b>serve unicamente e como refiro em cima, para os adultos</b>.<br />
<br />
Só os adultos têm bases comportamentais e cognitivas para tomar decisões responsáveis, ou pelo menos para serem responsabilizados por isso. As crianças, por seu turno, devem ser protegidas e devidamente educadas, de forma a poderem chegar a adultos informados, capazes de tomar decisões com pleno conhecimento do mundo que os rodeia, ou pelo menos para não votarem no Trump ou outras parvoíces como impedir a vacinação dos filhos.<br />
<br />
Serve esta longa introdução para contextualizar a polémica do novo programa da SIC. <b>O "Supernanny" é muito basicamente um spinoff o "Pesadelo na Cozinha" com crianças, em que o Stanisic é uma milf. </b>E começo por dizer que na televisão, como no resto, sou igualmente defensor da liberdade total. Acho que todos os conteúdos televisivos devem ser permitidos, desde que, mais uma vez, seja salvaguardada a protecção das crianças.<br />
Exemplo concreto: a pornografia deve ser transmitida em televisão? Deve. <span style="font-size: x-small;">(não pode).</span> Mas só a partir da meia-noite. Ao garantir isto, a TV está a zelar pelos interesses da criança. Se houver uma criança a ver TV a partir da meia-noite, a responsabilidade já é dos pais, que já deviam ter posto a criança na caminha àquela hora.<br />
See? Simples.<br />
<br />
O caso da "Supernanny" cai numa área cinzenta muito interessante, uma vez que é um programa para adultos (dá às 21:40, 40 minutos depois da hora de lavar os dentes e a 20 minutos da hora em que já eu já me arriscava a uma palmada se não estivesse na caminha), não devendo por isso ser sujeito ao mesmo critério que a programação do Canal Panda. Por outro lado, é um programa com crianças e tem como conteúdo a exploração da sua imagem. Estamos aqui a salvaguardar o superior interesse da protecção das crianças? Nem por isso. Volto ao exemplo de há pouco: a pornografia deve ser transmitida em televisão? Deve. A pornografia infantil deve ser transmitida em televisão? NÃO. Nem o <i>Senhor Televisão</i> se lembrou de uma dessas.<br />
<br />
Portanto, a "Supernanny" explora a imagem das crianças? Explora. Isso é condenável? É. Mas não é mais condenável que todos os outros reality shows que também exploram a imagem de crianças. Todos os programas que põem os miúdos a cantar, dançar, ou cozinhar perante um júri, tantas vezes cruel e impiedoso para com as crianças são tão ou mais nocivos e traumáticos que o "Supernanny". E os miúdos na publicidade, com os paizinhos a encher o bolso? E já nem falo nos child actors, que em tantos casos descendem para uma adolescência de drogas e comportamentos desviantes. Mas esse é o preço de vermos o "Sozinho em Casa" no Natal (a propósito, não deixem de ler o artigo "Kevin McCallister is a sexist pig"; a sério, googlem) e de termos aqueles filmes com animais que falam no Domingo à tarde, não é?<br />
<br />
Tanto alarido porquê, então? Porque os pais reconhecem muitas das figuras tristes que têm em casa? Provavelmente. As imagens incomodam? Claro que sim. É essa a ideia. Eu não sou pai, por isso talvez não incomode tanto. Mas faz-me muita confusão ver tanto moralista, tão chocado com o "Supernanny" e tão oblívio ao Masterchef Junior e programas derivados. Se é para discutirmos a exploração da imagem das crianças, então discutamos o essencial e proibimos tudo e deixemos o acessório.<br />
<br />
P.S.: Relativamente ao último programa. Então a mãe, coitada, não lhe chegava ter que fazer tudo em casa, ainda tem a responsabilidade de educar e disciplinar sozinha os filhos? Depois de uma sessão de insultos e pontapés do fedelho à mãe, o pai chega a casa e ainda tira autoridade à mãe? É só festinhas? Que coninhas de primeira.<br />
<br />
P.P.S.: Dispensa-se a perseguição mediática à psicóloga do programa. Que merda de hábito é este de nos focarmos no acessório, em vez do conteúdo. O que é que interessa a vida a vida pessoal da senhora?<br />
<br />
P.P.P.S.: A música do post é uma birra de um puto. Foi obviamente escolhida à pressão, por isso não me fodam a cabeça.Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-17609239892959051812018-01-17T18:50:00.001+00:002018-01-17T18:54:25.774+00:00António Variações - "Estou Além"<blockquote class="tr_bq">
<i>"Tenho pressa de sair / Quero sentir ao chegar / Vontade de partir / P’ra outro lugar / </i><i>Vou continuar a procurar o meu mundo, o meu lugar / Porque até aqui eu só / </i><i>Estou bem / Aonde não estou / </i><i>Porque eu só quero ir / Aonde eu não vou / </i><i>Porque eu só estou bem / Aonde não estou"</i></blockquote>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="https://www.youtube.com/embed/INpw3BaXVm4" width="459"></iframe></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
O António Variações é que a sabia toda. O sentimento de inadequação que descreve no seu hit "Estou Além" ("Anjo da Guarda", 1982) é algo que me acompanha desde sempre, uma armadilha da condição humana directamente ligada àquela tentação inócua de pensar n'<i>o que podia ter sido</i>. Todos o fazemos. Eu talvez abuse mais um bocadinho, porque remoer tudo até à infinita iteração é o modo de funcionamento automático do meu cérebro. Não tenho culpa que a minha cabeça me fustigue incessantemente com universos paralelos d'<i>o que podia ter sido</i>, caso tivesse feito as coisas de outra forma.<br />
<br />
Pensar n'<i>o que podia ter sido </i>não é mais que uma forma de auto-ressabiamento, mas mais do que ressabiar o que fiz, a minha regra é <b>só me arrepender do que ficou por fazer</b>. É por isso que de todos os <i>que podia ter sido</i> da minha vida, o que sempre me bateu com mais força foi aquela vez em que estive a uma assinatura de <b>cumprir o meu destino de viver em Londres</b>. As estrelas estavam todas alinhadas: havia dinheiro em cima da mesa; havia a promessa de uma carreira; havia interesse de todas as partes. Havia tudo. Então por que raio eu não fui?!<br />
<br />
Sempre me imaginei a viver em Londres. Londres é o centro do (meu) universo, a capital do país que deu à luz quase todos os meus ídolos, onde todos eles viveram (alguns ainda vivem) e que a todos consagrou em espaços sagrados como o Estádio de Wembley, Earl's Court, Hammersmith Odeon, Rainbow Theatre, Marquee e por aí fora. Por isso sempre me fez todo o sentido mudar para lá e viver as mesmas experiências que os meu ídolos viveram. Claro que a realidade não funciona bem assim, uma vez que <a href="https://nit.pt/opiniao/ao-sexto-dia-deus-criou-manchester">só na minha cabeça é que sou uma "Rock 'n' Roll Star"</a>, mas pelo menos poderia estar no sítio onde tudo acontece primeiro e assim poder testemunhar ao vivo o nascimento do meu próximo ídolo.<br />
<br />
Notem que em lado nenhum me referi a Londres como um "sonho". Não é bem disso que se trata. Lá em cima utilizei a expressão "cumprir o meu destino" porque na verdade, sempre achei que Londres era onde eu ia parar, era ali que eu pertencia. <b>Como se a minha mudança fosse uma inevitabilidade.</b> Não é um sonho na medida de, por exemplo, ver o Benfica campeão europeu, ou dar um abraço ao David Gilmour. É sim algo que eu <b>sempre senti que tinha que fazer</b>. Se é que esta dicotomia vos faz algum sentido.<br />
<br />
<div>
Há cerca de cinco anos, a viver naquela agitação permanente (tão bem descrita pelo António Variações) de nunca estar satisfeito com o que tinha, achei que estava na hora de mandar tudo ao ar e ir atrás do meu destino londrino. Comecei a mandar currículos em Agosto e a resposta foi <i>overwhelming</i>. Estava de férias e na praia o telefone não parava de tocar com propostas para entrevistas. <i>London was calling</i>, literalmente. Para fazer o bingo de coincidências, tinha um concerto do Roger Waters no Estádio de Wembley marcado para Setembro, daí a poucas semanas. Uau. Parecia que o destino queria mesmo que eu fosse para Londres.<br />
<br />
Mas já diz o ditado: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=YtZqNAI4pBk" style="font-style: italic;" target="_blank">Careful </a><i>with what you wish for</i>. Sem que eu tivesse tempo para reflectir, eles meteram-me um contrato à frente. Bastava assinar o papel <i>et voilá</i>, cumpria-se o destino de viver Londres. <b>Não assinei.</b> De regresso a Lisboa, poucos dias depois da entrevista, voltam a ligar-me com uma proposta mais alta. <b>Voltei a rejeitar. </b>Porquê? <i>Fuck knows</i>. De todos os <i>que podia ter sido</i>, este sempre foi aquele que mais dificuldade tive em encaixar. Foi uma decisão que tomei e que nunca soube se foi a mais correcta. Será que Londres não era, afinal, o meu destino? Ou será que simplesmente ainda não tinha chegado <i>a hora de assinar o papel</i>?<br />
<br />
Importa agora chamar a atenção que os parágrafos em cima foram adaptados de um <a href="http://escolhamusicaldodia.blogspot.pt/2017/08/pete-gabriel-sky-blue.html">texto que escrevi no Verão passado</a>, onde reflectia sobre o meu destino nunca cumprido de Londres. Mal eu sabia que, poucos meses volvidos, <b>chegaria a hora de assinar o papel.</b><br />
<br />
Vou finalmente cumprir o meu destino londrino e para que não falte nada para completar a experiência, vou viver em Earl's Court, outrora palco que coroou todos os meus ídolos: os Queen em <a href="https://www.youtube.com/watch?v=6k8Iso0xBBg&list=PLHCF7sLluO6E6wZcVh8l65sEcw1hyoBOz">1977</a> na digressão da obra-prima da banda "A Day At Races"; os Pink Floyd em <a href="https://www.youtube.com/watch?v=1V3v6O7gpUw">1973</a> na digressão de "The Dark Side Of The Moon", em <a href="https://www.youtube.com/watch?v=mNfSsoa-sf8&t=1756s">1980 </a>e <a href="https://www.youtube.com/watch?v=wbTkCtDfr5s">1981 </a>com o espectáculo megalómano de "The Wall" e em <a href="https://www.youtube.com/watch?v=wu6UqrxY2cw">1994</a> com catorze concertos (um recorde na altura) que fecharam a digressão de "The Division Bell"; os Oasis em <a href="https://www.youtube.com/watch?v=3OLrblNvqos">1995</a> com a digressão de "(What's the Story) Morning Glory?". Percebem a ideia. Agora que o Earl's Court Exhibition Centre foi abaixo, serei eu "Live at Earl's Court".<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirm_RseJS5tLNk8O5nuvWU5XpAc-vwrOdyStTOvSqZqp3GuVy1X0moK5xHocSNV_Gbw6w4ycNDu3VA1GyJaFRLC11tvHEpX8e8dlecS1CeLSTm-TbL952asHSJlbENV-TWj8BKXDl2gGA/s1600/earls-court-crop.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="552" data-original-width="954" height="370" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirm_RseJS5tLNk8O5nuvWU5XpAc-vwrOdyStTOvSqZqp3GuVy1X0moK5xHocSNV_Gbw6w4ycNDu3VA1GyJaFRLC11tvHEpX8e8dlecS1CeLSTm-TbL952asHSJlbENV-TWj8BKXDl2gGA/s640/earls-court-crop.jpg" width="640" /></a><br />
<br />
Mas há mais. Vou também viver ao pé da casa onde viveu o Rei. A meros 500 metros do Garden Lodge de Freddie Mercury estarei protegido; posso sentir-me em casa. Porque esteja onde estiver, não há para mim sentimento igual ao de casa. Talvez por isso desde o <a href="https://nit.pt/opiniao/delfins-marcha-dos-desalinhados-injusticados">concerto da Passagem de Ano</a> que só ouço música portuguesa. <i>Wait, what?</i> <b>Ainda nem fui e já estou com saudades disto. </b><i>Et voilá</i>, vejam lá o Variações a acertar outra vez. Agora não há volta atrás. Citando outro clássico do Rock português, agora é <i>"carga pronta e metida nos contentores"</i> e <i>"adeus aos meus amores que me vou para outro mundo"</i>. Espero trazer-vos novidades de lá.</div>
Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-4017343630960909442017-11-08T18:34:00.002+00:002017-11-14T10:24:20.588+00:00Elton John – "Sixty Years On"<blockquote class="tr_bq">
<i>"I've no wish to be living sixty years on"</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" gesture="media" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/7LWpUO5T-tM" width="640"></iframe><br />
<i><br /></i>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"The next song we're gonna do holds a great deal to the arrangement by Paul Buckmaster. This is called 'Sixty years On'"</i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Elton John live at the BBC</div>
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<br /></div>
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Reavivo o blog para uma homenagem que me obrigo a fazer.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
Hoje perdemos mais uma lenda – o grande Paul Buckmaster. "Quem?", perguntarão os mais incautos.<br />
Paul foi o responsável pelos arranjos orquestrais dos primeiros álbuns de Elton John e um dos principais obreiros da superlativa discografia do seu início de carreira e até, por que não, do <i>big break</i> do próprio Elton John.<br />
<br />
Elton nunca se coibiu de sublinhar a importância de Paul na sua música (como podemos ouvir em cima numa performance para a a BBC), ao ponto de vermos Paul listado como membro da banda nos primeiros álbuns. Pela minha parte, que amo com toda a força "Elton John" e "Tumbleweed Connection" – álbuns que me fizeram companhia quando morria de saudades de casa quando vivia na Polónia –, tenho a perfeita noção que se não fosse por Paul, a música que eu amo não teria sido a mesma.<br />
<br />
"Space Oddity" foi a primeira vez que Paul Buckmaster apareceu num grande hit. Ganhou nome e daí saltou para os discos de Elton John (que já era grande fã de Bowie, ainda antes de ele ter sucesso). Depois ganhou reconhecimento tal, que lhe permitiu fazer música com <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Buckmaster" target="_blank">centenas de artistas</a> nas décadas seguintes, entre eles os Rolling Stones, os Guns N' Roses e mais recentemente, os Tears For Fears, no magnífico <a href="http://escolhamusicaldodia.blogspot.pt/2013/07/tears-for-fears-secret-world.html" target="_blank">"Secret World"</a>. A ele se deve muito do feeling épico do tema.<br />
<br />
Mas ainda não ouvimos tudo da obra de Paul Buckmaster. <b>Ficou a faltar ouvir a banda sonora original que Paul produziu com Bowie para o filme "The Man Who Fell to Earth"</b>, cancelada à última hora por falta de tempo de Bowie. Só posso imaginar a obra prima que ali pode estar.<br />
<br />
Fica a minha homenagem ao eterno Paul Buckmaster, sem o qual a minha vida teria sido um bocadinho menos feliz.<br />
<br />
<iframe allowtransparency="true" frameborder="0" height="380" src="https://embed.spotify.com/?uri=spotify%3Auser%3Aannemcdent%3Aplaylist%3A3nmsopQcuC6x0VR3kp7xBF" width="300"></iframe>Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-91999777716874864742017-08-02T20:15:00.003+01:002017-12-11T12:23:56.604+00:00Peter Gabriel - "Sky Blue"<blockquote class="tr_bq">
<i>"I keep moving to be stable"</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/yFvwVOX95GY" width="640"></iframe><br />
<br />
Uma das armadilhas da condição humana é aquela tentação inócua de pensar n'<i>o que podia ter sido</i>. Todos o fazemos. Eu talvez o faça um bocadinho mais que a média, porque remoer tudo até à infinita iteração é o modo de funcionamento automático do meu cérebro. E é por isso que <i>letting go</i> sempre foi o meu maior martírio, algo que eu simplesmente não controlo. Não tenho culpa que a minha cabeça trabalhe a mil e as minhas memórias me fustiguem incessantemente com universos paralelos d'<i>o que podia ter sido</i> se eu tivesse feito as coisas de outra forma.<br />
<br />
Não estou aqui para vos leccionar sobre se devem ou não remoer o passado. Só quero apontar o facto que isso acontece e que não podem fugir dessa fatalidade. Fora isso, de moral, não aprendem nada aqui. Nem eu a tenho para vos ensinar, nem isto é um livro de auto-ajuda. <i>If anything</i>, o que escrevo pretende ser exactamente o oposto de um livro de auto-ajuda. Tenho aversão ao cenário fantasioso pintado nessa literatura, onde a negação da realidade só serve para afundar ainda mais o leitor num estado de alienação (e para encher os bolsos do escritor). A realidade pode ser podre, mas é tudo o que temos. Fugir dela é negar a vida na sua essência.<br />
<br />
O meu problema com os livros de auto-ajuda é que todos negam a própria condição humana. Todos advogam a repressão de quaisquer sentimentos de tristeza, amargura, ou ressabiamento. Mas esses sentimentos fazem parte de nós, são do nosso dia-a-dia. Temos que lidar com eles inexoravelmente.<b> São reais.</b> E porque são reais, merecem ser celebrados — não literalmente, isso seria deprimente — mas como a prova legítima que estamos vivos. No grande quadro da vida, são esses momentos viscerais de contacto intenso com a realidade que compõem <i>what this shit is all about</i>. Somos humanos e não há mal nenhum nisso. Quando cai a máscara e o sangue ferve, é aí que a vida acontece.<br />
<br />
<span style="font-size: xx-small;">Ui, onde é que eu já vou. Como é hábito, comecei a divagar e já misturei aqui dois ou três posts que queria escrever.</span><br />
<br />
Pensar n'<i>o que podia ter sido </i>não é mais do que uma forma de auto-ressabiamento, um ressentimento para com a merda que fizemos. E tanta merda que eu já fiz. O mais curioso é que apesar de a remoer até ao infinito, acabo por nunca me arrepender de nada. Tenho o meu juízo em boa conta, parece-me. Por outro lado, arrependo-me muitas vezes do que não faço. Aliás, a minha regra é que<b> só me arrependo do que ficou por fazer</b>. É por isso que de todos os <i>que podia ter sido</i> da minha vida, o que me bate com mais frequência talvez seja aquela vez em que estive a uma assinatura de <b>cumprir o meu destino de viver em Londres</b>. As estrelas estavam todas alinhadas: havia dinheiro em cima da mesa; havia a promessa de uma carreira; havia interesse de todas as partes. Havia tudo. Então por que raio eu não fui?!<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://i.imgur.com/vMyne.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="700" data-original-width="700" height="400" src="https://i.imgur.com/vMyne.jpg" width="400" /></a></div>
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<br /></div>
<div>
"Sky Blue" é um dos temas-chave do (ainda) mais recente álbum de originais de Peter Gabriel — "Up" de 2002. Foi escrito originalmente para a banda sonora do (grande) filme "Rabbit Proof Fence", lançado no mesmo ano (obrigado Rita!). O filme conta a história de três meninas aborígenes que são raptadas na Austrália dos anos 30 para servir famílias brancas e por isso são levadas para o outro extremo do país. A única esperança que as meninas têm para regressar a casa é seguir o trilho de uma vedação de 2400 quilómetros que atravessa o deserto australiano, colocada para impedir a migração de coelhos (daí o nome do filme).</div>
<br />
"Long Walk Home" é o nome da banda sonora de "Rabbit Proof Fence", um álbum que junta duas versões de "Sky Blue" — <a href="https://www.youtube.com/watch?v=ndR5pOo1uTU" target="_blank">"Ngankarrparni (Sky Blue - Reprise)"</a> e <a href="https://www.youtube.com/watch?v=DyFT432hhpo" target="_blank">"Cloudless"</a> —, ambas sem a lírica de Peter Gabriel, que é aqui substituída por cantos aborígenes, mais adequados ao filme. O nome da banda sonora é um perfeito retrato da inspiração de Peter Gabriel na criação da música para um filme que, mais que tudo, ilustra a força de vontade que pode vir do simples (mas tão poderoso) desejo de voltar a casa. Salvaguardadas as devidas proporções, é algo que só podemos sentir no aeroporto quando o voo atrasa mais uma hora, a roupa já se pega ao corpo e a vontade de chegar a casa ganha contornos de desespero. Abrir a porta e sentir o nosso cheiro. Comer a nossa comidinha e finalmente deitar na nossa caminha. Nada é melhor que isto.<br />
<br />
Não há para mim sentimento igual ao de casa. É por isso que sempre que viajo (e felizmente posso fazê-lo muitas vezes), <b>onde quer que esteja, crio um pequeno cantinho, normalmente ao lado da cama, onde ponho os meus óculos, telemóvel e gotas para os olhos. Aquele cantinho é casa.</b> Olho para ali e sinto-me em segurança. <i>It feels like home</i>.<br />
E casa pode ser em qualquer lado. Londres, por exemplo.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"I keep moving to be stable, free to wander, free to roam"</i></blockquote>
<br />
Sempre me imaginei a viver em Londres. Londres é a capital do país de onde vieram quase todos os meus ídolos e foi a cidade que os consagrou a todos: no Wembley Stadium, no Hammersmith Odeon, no Earls Court, no Rainbow Theatre... Por isso sempre me fez todo o sentido mudar para lá e viver as mesmas experiências que os meu ídolos viveram. Claro que na realidade isto não funciona bem assim, mas pelo menos poderia estar no sítio onde tudo acontece primeiro e assim poder testemunhar ao vivo o nascimento do meu próximo ídolo.<br />
<br />
Notem que em lado nenhum me referi a Londres como um "sonho". Não é bem disso que se trata. Lá em cima utilizei a expressão "cumprir o meu destino" porque na verdade eu sempre achei que Londres era onde eu ia parar; que era ali que eu pertencia. <b>Quase como se a minha mudança fosse uma inevitabilidade.</b> Não é propriamente um sonho na medida de, por exemplo, ver o Benfica campeão europeu, ou apertar a mão ao David Gilmour (será que ganhava imortalidade?!). É sim algo que <b>sempre senti que tinha que fazer</b>. Se é que esta dicotomia vos faz algum sentido.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"I can hear the same voice calling, crying out from my heart"</i></blockquote>
<br />
<div>
Há cerca de cinco anos, a viver numa agitação permanente de nunca estar satisfeito com o que tinha (não que isso tenha mudado muito, mas já melhorei), talvez por ver os "vintes" a fechar-se, achei que estava na hora de mandar tudo ao ar e ir atrás do meu destino londrino. Comecei a mandar currículos em Agosto e a resposta foi <i>overwhelming</i>. Estava de férias e na praia o telefone não parava de tocar com propostas para entrevistas. Para fazer o bingo de coincidências, tinha um concerto do Roger Waters no Wembley marcado para Setembro, daí a poucas semanas. Uau. Parecia que o destino queria mesmo que eu fosse para Londres. <i><a href="https://www.youtube.com/watch?v=j7qJ6cb3S8s" target="_blank">It was really happenin'</a></i>.<br />
<br />
Na plataforma de comboios de Victoria Station, a estudar o Google Maps, percebi que afinal o trabalho não era bem em Londres. Era em Croydon, uma espécie de Amadora lá do sítio, a sul da cidade. Mas e depois? A caminho da empresa, o comboio passou ao lado da Battersea Power Station, essa mesmo, que aparece na capa do "Animals" dos Pink Floyd e que podem ver lá em cima, no banner do blog. Que cenário mais idílico poderia eu pedir? À chegada ao edifício, ajeitei a minha gravata e fui para cima deles.<br />
<br />
Subi o elevador sem saber o que esperar. Não tive que esperar muito. Passado meia hora de entrevista, meteram-me um contrato à frente. De repente, <a href="https://www.youtube.com/watch?v=aGSKrC7dGcY" target="_blank">tudo aquilo que eu queria, tudo aquilo que eu precisava estava ali</a>, como se o meu desejo mais íntimo me tivesse caído no colo, sem que eu realmente o desejasse. <i><a href="https://www.youtube.com/watch?v=YtZqNAI4pBk" target="_blank">Careful </a>with what you wish for</i>, não é? Bastava assinar o papel <i>et voilá</i>, cumpria-se o destino de viver Londres. Não assinei.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"So tired of all this traveling, so many miles away from home"</i></blockquote>
<br />
De regresso a Lisboa, poucos dias depois da entrevista, voltam a ligar-me. Parece que o meu caso foi ao CEO do grupo (e acreditem, era enorme) e eles abriam uma excepção para mim. Tinham gostado tanto de mim <span style="font-size: x-small;">(eu tendo a despoletar reacções extremas nas pessoas e às vezes até acontece gostarem de mim)</span>, que estavam dispostos a oferecer-me um contrato superior a todos os que entravam para a minha posição. Voltei a rejeitar.<br />
<br />
Porquê? <i>Fuck knows</i>. De todos os <i>que podia ter sido</i>, este é aquele mais dificuldade tenho em encaixar. Foi uma decisão que tomei e que, embora não me arrependa, ainda hoje não sei se foi a mais correcta. As perspectivas eram excelentes, não tinha nada a perder e nem sequer deixava cá ninguém. Às vezes penso, <i>what the hell was I thinking?! </i>Será que Londres não é, afinal, o meu destino? Ou será que simplesmente ainda não tinha chegado <i>a hora de assinar o papel</i>?<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Back on the road, alone with the sky"</i></blockquote>
<br />
"Sky Blue" leva-me para um universo paralelo onde eu finalmente me decidi a assinar o papel. O tema puxa pelas saudades de quem está há demasiado tempo fora de casa e sonha regressar, pelo que me põe já dois passos à frente da realidade. A canção invoca uma nostalgia reversiva d'<i>o que podia ter sido, </i>saudades de casa se eu me tivesse mudado para Londres. É um sentimento que na escala da autocomiseração, deixa para trás o clássico <i>sofrimento por antecipação</i>. Este é mais o <i>sofrimento por imaginação</i>, algo que só é possível graças ao poder da música.<br />
<br />
Naquele momento de imersão na música de Peter Gabriel, o meu coração aperta com saudades de casa e ali desespero por voltar ao <i>céu azul</i> de Lisboa, ao peixe de Sesimbra e aos lençóis lavados pela minha mãe. Depois olho à minha volta e vejo que afinal estou a conduzir na A5, apenas a 20 minutos de cumprir o sonho de chegar a casa.</div>
Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-12306915980022471132017-07-05T17:57:00.001+01:002017-09-12T10:52:06.785+01:00Radiohead - "Man Of War"<blockquote class="tr_bq">
<i>"Drunken confessions and hijacked affairs just make you more alone"</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/DXP1KdZX4io" width="640"></iframe><br />
<br />
Um dos maiores elogios que recebi em toda a minha vida foi de uma paixão que durou apenas 3 dias em Londres. Há amores que são assim — só existem numa determinada janela de espaço e tempo. Passadas as portas da Martini na Portela, o turbilhão desvaneceu tão rapidamente como aparecera; mas naquelas 72 horas, parecia que não havia mais nada do mundo. Eram todas as cores e todos os sonhos ao mesmo tempo, condensados numa só tempestade adamastora que lavrava tudo à sua passagem.<br />
Encostados ao muro junto ao rio, a olhar para a Tower Bridge depois de um beijo apaixonado, ela virou-se para mim com um olhar encantado e disse-me que o que mais a impressionava em mim é que eu parecia não ter medo de nada. Sem perceber a tragédia do verdadeiro alcance das suas palavras, sorri e por um momento senti-me o James Bond.<br />
<br />
Toda a minha vida fantasiei em ser duas coisas: <a href="https://nit.pt/opiniao/opiniao-opiniao/ao-sexto-dia-deus-criou-manchester" target="_blank">uma estrela de Rock n Roll</a> e o James Bond. Talvez por isso tenha sempre sentido esta atracção irresistível pelo perigo e pelo erro iminente. Para mim, as palavras dela foram um enorme elogio, mas nem por isso tirei quaisquer dividendos deste destemor. A verdade é que o medo não é mais que uma consequência — às vezes nefasta, às vezes salvadora — das experiências negativas que acumulamos. É um sinal de inteligência emocional. Esta minha estúpida falta de medo deve-se ao facto de ter sido abençoado com a maldição de não aprender com as experiências anteriores e por isso não ter medo de cair nos mesmos erros uma e outra vez. E como tal, não tenho medo de nada.<br />
<br />
____________________________________________________<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Man-o-war is very melodramatic. Too melodramatic. When we started out, it was just a homage to Bond themes really. I like it. It's pretty much the opposite to everything we're writing."</i></blockquote>
<div style="text-align: right;">
Thom Yorke</div>
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/L9vAME_4Ws8" width="640"></iframe><br />
<br />
Segundo a minha fiel fonte dos Radiohead e maior especialista da banda que conheço — o Filipe (<a href="https://www.facebook.com/fsksilva/posts/1746804608668169" target="_blank">leiam a review dele da reedição do "OK Computer"</a>) —, "Man Of War" foi o tema sugerido à EoN (produtora dos filmes do James Bond) quando os abordaram para a banda sonora de "Spectre". O tema foi escrito por alturas do "The Bends" como uma homenagem aos <i>Bond themes</i>, na expectativa de um dia os Radiohead serem chamados à prova (em cima, num clip retirado do documentário "Meeting People Is Easy", <a href="https://www.youtube.com/watch?v=L9vAME_4Ws8" target="_blank">podemos ver a banda no estúdio a gravar o tema</a>). Não foram e "Man Of War" ficou na gaveta durante 20 anos, até hoje, que finalmente viu a luz do dia na reedição de "OK Computer".<br />
A chamada chegou finalmente em 2015, mas a EoN perversamente não aceitou o "Man Of War" por ser um tema antigo. Como tal, os Radiohead gravaram<a href="http://www.dailymotion.com/video/x3jsff7" target="_blank"> "Spectre"</a>, que foi igualmente rejeitado <a href="http://www.bbc.com/news/entertainment-arts-36540679" target="_blank">por ser demasiado <i>dark</i></a> e em última instância foi chamado Sam Smith, que acabaria por gravar o deveras <i>underwhelming </i><a href="https://www.youtube.com/watch?v=8jzDnsjYv9A" target="_blank">"Writing On The Wall"</a>.<br />
Não consegui verificar se foi exactamente assim que se passou, mas como gosto da história, vou adoptá-la como a minha versão, até porque como dizia o Mark Twain, <i>"never let the truth get in the way of a good story"</i>.<br />
<br />
Na verdade, "Man Of War" talvez fosse demasiado complexo para o <i>portrayal </i>que a EON quer fazer do James Bond nos seus filmes. Na visão original de Ian Fleming, James Bond é um assassino. <i>Plain and simple</i>. É um homem com mais morte e menos <i>swing </i>que a série de filmes quer fazer crer. Mas acima de tudo, é um homem. Um homem igual aos outros, com medos, desejos e anseios. A morte dos outros é a forma que Bond encontrou para compensar a sua própria morte interior. E é assim que os Radiohead se atrevem a caracterizá-lo.<br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Drunken confessions and hijacked affairs just make you more alone"</i></blockquote>
<br />
O que mais me fascina na personagem do James Bond é o que estará por trás do homem infalível que vemos no ecrã. Nas cenas nunca mostradas, quando a câmara desliga e a missão está descomprometida, de certeza que detrás de todas aquelas conquistas há um homem que bebe uns copos a mais e conta os seus segredos a pessoas que conhece há tempo de menos para os saberem<i>;</i> que pega no carro e conduz bezano pelas curvas da Arrábida (<a href="https://www.youtube.com/watch?v=ACwkQP6q1QQ" target="_blank">ou de Monte Carlo</a>) sem medo, em busca de respostas para os seus tormentos; que anseia pelo momento em que chega a miúda que lhe diz <i>"és a minha Rock 'n' Roll Star"</i>.<br />
<br />
"Man Of War" retrata este herói solitário e perturbado, um homem sozinho que vive com o peso d'<i>a missão</i> nos seus ombros. É o melhor tema de James Bond que nunca o foi. A recusa da EoN faz com que "Man Of War" deixe de ser necessariamente sobre Bond e passe a ser sobre quem quer que viva oblívio do medo e do perigo que espreita a cada esquina. Até finalmente perceber que não há finais felizes.Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-15965145685440544582017-07-04T18:46:00.003+01:002017-07-04T19:44:24.385+01:00Phil Collins - "Invisible Touch" (Live in Hyde Park 2017)<blockquote class="tr_bq">
<i>"And though SHE WILL FUCK UP YOUR LIFE, you want her just the same"</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/JcWa7H5CtGs" width="640"></iframe><br />
<br />
Não tenho muitos amigos. Nem quero. Os amigos dão muito trabalho e são uma grande responsabilidade. É preciso estar presente (mesmo quando distante), saber da vida deles e mimá-los. A amizade não é, aliás, uma coisa que eu dê como garantida. Tomo-a como uma distinção e tento estar à altura dela, provar dia após dia o merecimento de tal galardão. Em contrapartida, são os meus amigos que me enchem o coração e estão lá quando eu mais preciso.<br />
Não conheço o Phil Collins pessoalmente, mas tenho-o como um amigo porque ele esteve lá sempre que eu precisei dele. Ele agora precisou de mim e eu fui para Londres a correr para o acudir.<br />
<br />
Esta crónica é o último capítulo de uma trilogia que contou o regresso de Phil Collins à música e que começou a ser escrita na NiT em Janeiro de 2016. A primeira parte, por altura <a href="https://nit.pt/opiniao/01-30-2016-a-apologia-de-phil-collins-uma-reapreciacao" target="_blank">da reedição da sua obra a solo</a>, centrou-se na absurda percepção plástica da sua obra. A segunda, aquando <a href="https://nit.pt/opiniao/10-18-2016-nenhuma-mulher-pode-amar-um-homem-que-ouve-phil-collins" target="_blank">do anúncio da sua digressão</a> –, sarcasticamente baptizada de 'Not Dead Yet Tour' – focou-se na queda de Phil que quase o levou ao suicídio. O capítulo final, este, conta a história do último concerto desta digressão terapêutica para Phil.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgXmwz3tGrzCfvTqlY38eboIROlfZNzzVepgEPhEDwv7HP_9TEhiQi91Ihgt_kmf7mjmbCT4BGXy7fOIsAP_hSRO95DOYDMh_-M5MIOwMkNBfc4yNjoVZQbYE0Y2SFNLQYYigqYfq9MJk/s1600/phil+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="960" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgXmwz3tGrzCfvTqlY38eboIROlfZNzzVepgEPhEDwv7HP_9TEhiQi91Ihgt_kmf7mjmbCT4BGXy7fOIsAP_hSRO95DOYDMh_-M5MIOwMkNBfc4yNjoVZQbYE0Y2SFNLQYYigqYfq9MJk/s640/phil+2.jpg" width="640" /></a></div>
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A 'Not Dead Yet Tour' terminou na última sexta-feira num Hyde Park esgotado com 65 mil pessoas, curiosamente o maior concerto da carreira a solo de Phil Collins. Foi muito estranho ver o Phil entrar lentamente em palco de bengala, aparentando uma fragilidade mais parecida com o Sr. Zé da Casa de Repouso das Sarnadas de Ródão (tratem bem da minha avó!!), do que o alegre e vivaço baterista que eu conheci. Os anos não foram meigos para com o tio Phil. Mas em boa hora os filhos o obrigaram a mexer o rabo e a sair de casa para voltar a ser recebido pelos seus amigos.<br />
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"Eu sei que prometi não voltar a fazer isto. Mas a verdade é que tive saudades vossas", começou Phil – aludindo ao facto de se ter retirado da música há 10 anos –, antes do seu filho Nicholas arrancar com a inconfundível batida para "Another Day In Paradise". Nicholas acabou de fazer 16 anos, mas já mostra uma habilidade e constância surpreendentes na bateria. Foi a grande surpresa do espectáculo. "Filho de peixe", já diz o povo.<br />
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Seguiu-se um set – demasiado curto – de hora e meia carregada de êxitos como "You Can't Hurry Love", "Easy Lover" e, obviamente, "In The Air Tonight"; <a href="http://www.setlist.fm/setlist/phil-collins/2017/hyde-park-london-england-4be4cbba.html" target="_blank">14 temas no total</a>. Não sei se por cansaço do Phil (ainda há umas semanas voltou a cair na casa de banho do hotel e a magoar-se à séria), se por limitações de horário do festival (os vizinhos do Hyde Park são milionários e muito chatos com o barulho, não é senhor Sting?), mas de fora ficou 1/3 do set normal da digressão, incluindo alguns dos temas que mais queria ouvir, como o pujante "I Don't Care Anymore" e o comovente "You Know What I Mean", com Nicholas ao piano e Phil na voz – um dueto de pai e filho.<br />
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Confesso que me soube a muito pouco, especialmente considerando as 95 libras que custava um bilhete para a zona da Plateia Geral que, atrás do Golden Circle e do Diamond Circle (onde é que isto parar?), começava a 120 metros do palco (confirmei pelo Google Earth). Mas o pior não foi isso. A grande desilusão foi o som vindo das colunas, que mal se ouvia. Já levo uns anitos de concertos (este foi o meu 178º) e confesso que nunca na minha vida estive num concerto Rock ao ar livre com o volume tão baixo. Eu estava à frente da zona da Plateia Geral, centrado com o palco e tinha imensas dificuldades em ouvir as guitarras e até a voz do Phil. Àquela distância, só o baixo e a bateria se salvavam.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdggFMwHpSgsaR-KwUlD7PWZHTTS4KSgEOj94RT7U2_lch8SGGNkh9-WoZCag0kLW-7I9UEk_f3SIa1roeaITCjCY-2XZ9JMdh_MC1PYl4E9pSH1IyDenHozJ_ureUZMXirkugQXqjUC4/s1600/hyde+park.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="929" data-original-width="1600" height="369" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdggFMwHpSgsaR-KwUlD7PWZHTTS4KSgEOj94RT7U2_lch8SGGNkh9-WoZCag0kLW-7I9UEk_f3SIa1roeaITCjCY-2XZ9JMdh_MC1PYl4E9pSH1IyDenHozJ_ureUZMXirkugQXqjUC4/s640/hyde+park.JPG" width="640" /></a></div>
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Por outro lado, Phil cantou "Invisible Touch" e "Follow You, Follow Me", o que muito provavelmente será o mais perto que eu estarei de ver os Genesis ao vivo. Quase perdi a voz no "Invisible Touch" e julgando pelo volume do som vindo das colunas e o volume da minha voz, aposto que num raio de 5 metros à minha volta ouviram mais a minha voz que a do Phil. Pelo menos quando eu gritei <i>"and though SHE WILL FUCK UP YOUR LIFE, you want her just the same!!!" </i>a plenos pulmões, toda a gente se virou para mim. Mas o que importa é que deu para lavar a alma.<br />
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Do que me foi possível ouvir, a voz de Phil já não está em condições para estas andanças. Mas o propósito desta digressão era outro. <b>O concerto não foi mais que a maior sessão de terapia alguma vez organizada. </b>À minha volta, gente de todo o mundo que veio para, como eu, voltar a ver o Phil sorrir. Os mais velhos vieram matar saudades e os mais novos para o ver pela primeira (e última?) vez. É notável a paixão da geração mais nova pela música do Phil, depois de tantos anos de injustificado escárnio; e é engraçado perceber que os millennials se estão a encarregar de voltar a pôr as coisas no seu devido lugar. Grupos enormes de miúdos entre os 15 e os 25 anos que, quando acabou o concerto e começou a debandada geral, ficaram a cantar as músicas que faltaram na setlist. E foram muitas, como já vimos.<br />
<br />
Sabe bem ver o Phil finalmente reconhecido pelo grande músico que é e pela minha parte, tenho que dizer que estou um pouco orgulhoso por fazer parte dessa mudança de mentalidade. Phil merece todo o amor que estes 65 mil amigos que não o conhecem de lado nenhum lhe vieram mostrar. Para alguém que teve tanto sucesso e fez tanta gente feliz com o seu toque invisível, não faz sentido nenhum sentir-se tão mal com o seu passado. Espero que esta noite o tenha ajudado. No fim, Phil despediu-se com um "Obrigado por terem vindo, amo-vos a todos". Soltei uma lágrima e sussurrei baixinho: "I love you too, Phil. Always have, always will".<br />
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P.S.: Trouxe um souvenir do concerto para me motivar a (finalmente!) começar as minhas aulas de bateria. Mesmo manco, o Phil ainda é capaz de me ajudar a mexer. Se isto não é um amigo...<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimb_OJoDxbKUA13OkoeLv_jhs6VCLf8xbMykGVO4wdzPTSreO3CP_8cCK3kAAutJQK5xb13fgy1mizrlWEi-oKobDJRJJLTQzlFD89_o3iq6Jlu4KJ19kz30uqRFcLzpMJhMdOVAC6u2M/s1600/Phil.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1334" data-original-width="1000" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimb_OJoDxbKUA13OkoeLv_jhs6VCLf8xbMykGVO4wdzPTSreO3CP_8cCK3kAAutJQK5xb13fgy1mizrlWEi-oKobDJRJJLTQzlFD89_o3iq6Jlu4KJ19kz30uqRFcLzpMJhMdOVAC6u2M/s400/Phil.jpg" width="299" /></a></div>
<br />Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-5472041334661850082017-06-23T00:22:00.000+01:002017-06-23T12:23:36.372+01:00Roger Waters - "Wait For Her" / "Oceans Apart" / "Part Of Me Died"<blockquote class="tr_bq">
<i>"When I laid eyes on her, a part of me died"</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/zujZDon_Stk" width="640"></iframe><br />
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Ainda o novo álbum do Roger Waters. Confesso que tenho andado completamente vidrado em "Is This The Life We Really Want?". Para terem uma ideia da dimensão da obsessão, confidencio-vos o meu Top 10 dos mais ouvidos da última semana no Spotify:<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYEzgWxtH9SB_rbhu08aAAyUwT2Vg3_G9qE2sQ_TPyXHROQCVSc5EyRCkOOBrzG4o-NkhQZ642dsSKVJRYSeSHuMDbXRtQ_bLg2DqUa1Jm5OOzShhUDGvFlY7ULob7mDpxdW6UzbTGbPk/s1600/lastweek2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="803" data-original-width="1402" height="366" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYEzgWxtH9SB_rbhu08aAAyUwT2Vg3_G9qE2sQ_TPyXHROQCVSc5EyRCkOOBrzG4o-NkhQZ642dsSKVJRYSeSHuMDbXRtQ_bLg2DqUa1Jm5OOzShhUDGvFlY7ULob7mDpxdW6UzbTGbPk/s640/lastweek2.png" width="640" /></a></div>
<br />
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... e isto obviamente não conta com o número de audições do vinil, que já levou umas valentes esfregas. Já agora, se usam o Spotify, aconselho-vos vivamente a fazerem a sincronização com a conta no Last.fm (e se não a têm, criem). Analisar estas estatísticas <i>is half the fun </i>da <i>listening experience</i>. É a banda sonora da nossa vida, <i>right there</i>, ali exposta. Mas voltemos ao Roger.<br />
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Tenho grande estima pelos álbuns a solo do Roger. Todos os três anteriores ("The Pros And Cons Of Hitch Hiking", "Radio KAOS" e "Amused To Death") fizeram parte da minha vida de uma forma ou de outra, mas "Is This The Life We Really Want?" aterrou aqui como um pára-quedas humanitário numa zona de catástrofe. Nenhum álbum me moveu assim nos últimos anos, talvez desde que <a href="http://escolhamusicaldodia.blogspot.pt/search/label/%C3%81lbum%3A%20All%20Things%20Must%20Pass" target="_blank">descobri "All Things Must Pass" em 2011</a>. Por isso este é especial. <b>Este sim, é o melhor álbum de sempre do Roger</b>; <a href="http://escolhamusicaldodia.blogspot.pt/2017/06/roger-waters-picture-that.html" target="_blank">e nesta segunda parte da minha review</a> vou continuar a explicar-vos porquê.</div>
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<b>Hoje vou falar do outro lado do novo álbum de Roger Waters.</b> Para lá da visão niilista da vida e do mundo, "Is This The Life We Really Want?" é um exercício de introspecção implacável. Roger despe-se por completo, olha para dentro e escava a fundo em si mesmo. Nu e cru. Sem medos. E desta vez, não é só a interminável saga do pai que morreu na guerra; é o Roger <i>himself, </i>que morreu por dentro, bocadinho a bocadinho e quer falar sobre isso. Este é o álbum mais pessoal de toda a sua carreira. E se eu tivesse que apostar, diria que este álbum confessional só chegou agora, porque só agora é que Roger aprendeu a olhar para dentro.<br />
<br />
Roger Waters tem 73 anos e por esta altura já está ciente do que é. Após 4 casamentos e outros tantos divórcios, Roger já percebeu <i>loud and clear </i>que é <a href="https://www.youtube.com/watch?v=PYTC79rPI1s" target="_blank"><i>unloveable</i></a> — melhor, sabe que pode até chegar alguém que o ame, mas nunca quererá partilhar a sua vida com ele; nunca ninguém o vai aturar. <a href="http://escolhamusicaldodia.blogspot.pt/2012/10/freddie-mercury-great-pretender.html" target="_blank">Já o Freddie se queixava do mesmo</a>.<br />
Roger é um homem muito intenso e não é fácil encontrar alguém que saiba (e queira) lidar com alguém assim <span style="font-size: x-small;">(eu também sei um bocadinho do que é isso e talvez por isso me tenha identificado tanto com o Roger ao longo dos anos)</span>. Mas aquilo que falta ao Roger em inteligência emocional, sobra-lhe no domínio com as palavras (e às vezes com a música). O novo álbum foi a forma que ele encontrou para expressar o que lhe ia na alma e quiçá estabelecer comunicação com alguém importante.<br />
<br />
Como a sua personalidade, <a href="http://escolhamusicaldodia.blogspot.pt/2017/06/roger-waters-picture-that.html" target="_blank">"Is This The Life We Really Want?" é uma audição extenuante</a>. É o perfeito espelho da intensidade de Roger, tanto quando fala de política, como quando fala de amor. Atentemos, pois, na intensa trilogia que fecha o álbum: "Wait For Her" / "Oceans Apart" / "Part Of Me Died". Esta sequência é de partir o coração, tão pessoal que chega a ser desconfortável.<br />
<br />
"Wait For Her" é baseado num <a href="http://daryl-goh.blogspot.pt/2010/08/wait-for-her.html" target="_blank">poema do autor palestiniano Mahmoud Darwish</a> e fala de como o "<a href="https://www.youtube.com/watch?v=ZG9KGDayPGI" target="_blank">verdadeiro amor espera</a>" (e o produtor Nigel Godrich sabe acerca disso): <i>"And if she comes soon, wait for her / And if she comes late, wait"</i>. "Oceans Apart" fala sobre o momento mágico do primeiro encontro e serve de introdução para a declaração de amor que vem a seguir.<br />
<br />
A última parte é "Part Of Me Died", que parece tudo menos o título de uma canção de amor (um pouco como o "If I Had A Gun" do Noel Gallagher). É porém tão somente uma das mais bonitas, mais sinceras e mais despidas canções de amor de sempre. <i>Despida</i> é mesmo a palavra. Porque só quando nos despimos (por dentro e por fora, obviamente) é que o amor pode funcionar. Roger abre o coração e confessa todos os seus pecados, um por um:<br />
<div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>The part that is envious; Cold hearted and devious; Greedy, mischievous; Global, colonial; Bloodthirsty, blind; Mindless and cheap; Focused on borders; And slaughter and sheep; Burning of books; Bulldozing of homes; Giving to targeted killing with drones; Lethal injections; Arrest without trial; Monocular vision; Gangrene and slime; Unction, sarcasm; Common assault; Self-satisfied heroic killers; Lifted on high: Piracy adverts; Acid attacks on women by bullies and perverts and hacks; The rigging of ballots and the buying of power; Lies from the pulpit; Rape in the shower; Mute, indifferent; Feeling no shame; Portly, important; Leering, deranged; Sat in the corner; Watching TV; Deaf to the cries of children in pain; Dead to the world, just watching the game Watching endless repeats; Out of sight, out of mind; Silence, indifference; The ultimate crime.<br /><b><span style="font-size: large;">But when I met you, that part of me died</span></b></i></blockquote>
Roger é uma besta e ele sabe disso. E como vemos, já não tem pudor em confessá-lo de todas as maneiras possíveis. Literalmente.<br />
Mas até ele fecha o seu álbum mais niilista com um laivo de esperança:<br />
<div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>Bring me a bowl to bathe her feet in, bring me my final cigarette<br />It would be better by far to die in her arms than to linger in a lifetime of regret</i></blockquote>
</div>
</div>
Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-50909004770720395762017-06-21T02:22:00.000+01:002017-06-23T18:41:06.247+01:00The Kinks - "Shangri-La"<blockquote class="tr_bq">
<i>"You've reached your top and you just can't get any higher. You're in your place and you know where you are, in your Shangri-la"</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/7ybNnweR_Ak" width="640"></iframe>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i><b>Shangri–la: </b></i><br />
<i>1: a remote beautiful imaginary place where life approaches perfection<br />2: a remote usually idyllic hideaway</i><br />
<div style="text-align: right;">
<a href="https://www.merriam-webster.com/dictionary/shangri-la">Merriam-Webster</a></div>
</blockquote>
<br />
<i>"Agora que encontraste o teu paraíso, este é o teu reino para comandar".</i> O cinismo cheira-se à distância nas primeiras linhas de "Shangri-la", o mais fascinante tema dos The Kinks. Complexo e multiparte, erudito e quasi-progressivo (pelo menos na mesma medida de "Happiness Is A Warm Gun" — outro tema cínico de um tal de John), "Shangri-La" mostra o lado mais intelectual da banda em detrimento do apelo proto-punk de temas carregados de testosterona como "You Really Got Me" e "All Day And All Of The Night". Onde antes havia desejo, agora há cinismo. A minha dúvida é até onde ele vai.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/9/98/Shangri-La_cover.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="284" data-original-width="280" src="https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/9/98/Shangri-La_cover.jpg" /></a></div>
<br />
Levado à letra, "Shangri-la" fala sobre as parcas aspirações da classe média, para quem os grandes sonhos se resumem a um carro, uma casa com nome na porta e uma cadeira confortável em frente à lareira para beber chá com os vizinhos. Sonhos de pantufa comedidos, equilibrados e realistas que, quando não acompanhados da loucura do amor, são inexoravelmente medíocres (e que o MEC <a href="http://www.citador.pt/textos/so-um-mundo-de-amor-pode-durar-a-vida-inteira-miguel-esteves-cardoso" target="_blank">descreveu aqui tão bem</a> — têm mesmo que ler isto). Sonhos que eu quero longe de mim e da minha vida. Não duvidem, esta teimosia em me dobrar ao cinzentismo da realidade sujeita-me a um <a href="http://escolhamusicaldodia.blogspot.pt/2017/06/lindsey-buckingham-christine-mcvie.html" target="_blank">carrossel emocional de dissabores</a>, mas talvez seja esse o preço a pagar por uma forma de viver romantizada e, como diria o meu Louis C.K., <a href="https://www.youtube.com/watch?v=35RPFTeN36w" target="_blank">um pouco estúpida</a>. Mas haverá outra forma de <b>viver</b>?<br />
<br />
Na verdade, "Shangri-la" teve origem na visita dos manos Davies (Ray e Dave) à Austrália em 1964, onde foram ver a sua irmã mais velha que se tinha mudado para um condomínio fechado com o marido. Por isso admito que a leitura literal do tema até pode ser historicamente a mais correcta. Contudo, eu tenho uma visão bem mais ampla de "Shangri-la" do que uma mera alfinetada aos sonhos terrenos da classe média. O cinismo vai bem para lá da crítica social.<br />
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Para mim, "Shangri-la" é uma <i>revenge song</i>, ou uma <i>break-up song</i> — dependendo do grau de relacionamento com o alvo do tema. O tom jocoso com que Ray Davies entrega linhas como <i>"You've reached your top and you just can't get any higher"</i> ou <i>"You're in your place and you know where you are"</i> leva-me a crer que o alvo era bem mais específico que a classe média. É uma canção de vingança à imagem de "Death On Two Legs" (Queen) e "How Do You Sleep?" (John Lennon), ou uma canção de separação como "Positively 4th Street" (Bob Dylan) e "I Am The The Resurrection" (The Stone Roses).<br />
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O caso mais interessante é, obviamente, o da separação amorosa. E o cenário aqui é bem claro: Ray Davies foi abandonado em detrimento do Shangri-la do seu par, a quem ela pode finalmente dar toda a atenção que Ray antes roubava; o mundo dela foi mais forte do que Ray e ele não conseguiu lutar mais contra isso; Ray ficou sozinho e cinicamente lhe diz que <i>"agora que encontraste o teu paraíso, este é o teu reino para comandar"</i>. Como quem diz, "fizeste a tua escolha, agora lida com as consequências".<br />
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Claramente prefiro a minha interpretação.Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-24748044716573081912017-06-20T01:19:00.004+01:002017-06-20T02:19:59.945+01:00Lindsey Buckingham & Christine McVie - "Carnival Begin"<blockquote class="tr_bq">
<i>"I'll take it all, I may lose or win, a new merry-go-round. Carnival begin"</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/hK_fYkvUiFE" width="640"></iframe>
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Permitam-me que solte isto logo de início: "Carnival Begin" é um dos temas do ano. É lindo, lindo, lindo. Eu sei, certamente não o vão encontrar nas listas dos melhores do ano das publicações mais trendy, mas <i>fuck that</i>, não deixem que isso afecte o vosso sentido de melodia. Só precisei de o ouvir uma vez para ficar agarrado. Amor à primeira audição, podem chamar-lhe. Acontece. E nem de propósito, porque é mesmo de amor que fala o tema; mais especificamente um novo amor, um novo carrossel, um novo carnaval que começa (<i>"I want it all / All the colours and swings / A new merry-go-round / Carnival begin"</i>).<br />
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Começar de novo. É sempre uma merda. É preciso estômago, depois dos enjoos sofridos na última viagem. Mais que isso, é preciso coragem para vencer o medo de um carrossel desconhecido, sentar no pónei e ter a esperança pueril que desta vez vai correr tudo bem. Mas antes que isto se pareça com um livro do Pedro Chagas Freitas, vou fazer uma ligação ao mundo real e citar o meu filósofo de eleição ainda vivo: <i>"Why the fuck would anything nice ever happen?!"</i>.<br />
<div>
<br /></div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/35RPFTeN36w" width="640"></iframe><br />
<br />
Ou então sou que tenho ouvido demasiadas vezes o <a href="http://escolhamusicaldodia.blogspot.pt/2017/06/roger-waters-picture-that.html">novo álbum do Roger Waters.</a> Também pode ser isso.<br />
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Alheios à erma realidade, Lindsey Buckingham e Christine McVie navegam ingenuamente pelas águas do sonho em "Carnival Begin" e isso reconforta-me; nem que seja para também eu me alhear da realidade. O ambiente acolhedor bluesista senta-me imediatamente na velha poltrona do meu Pai na sala da minha casa antiga, à meia luz das persianas quase-fechadas, deixando apenas os orifícios para passar a luz e o barulho da linha de comboio. Desenganem-se se pensam que vos falo de nostalgia. Não. Isto não é saudade da infância e muito menos da casa à beira da linha de comboio (belas madrugadas eram essas). É sim uma ânsia de um sentimento familiar. Saudades de um futuro desejado, talvez. Mas avancemos que isto agora é que se está a tornar num livro do Pedro Chagas Freitas.<br />
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"Carnival Begin" só peca por terminar demasiado cedo, interrompendo o coito de um solo de guitarra tão belo e tão raro nestes tempos em que toda a gente se pela de medo por arriscar um solo num disco. Louvo-te a coragem, Lindsey. O solo de guitarra em <i>fade out</i> fecha "Lindsey Buckingham Christine McVie" — um álbum que tem tanto de elusivo, que eu me pergunto se os seus criadores querem mesmo que tenha sucesso.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0ahiorf2M3l9MhSJqcqPE5_ciiofKWZAhjIJhlwfEBSbfq5hULKU4b2trAGosptnZQmeLqOahRt3G0UDDvvZ3paiEHEVv-lEUQCbZeR7yr0Qg7lKDWMMCLPC4CCK-9nLqGHM50SyRdWk/s1600/AR-170619967.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0ahiorf2M3l9MhSJqcqPE5_ciiofKWZAhjIJhlwfEBSbfq5hULKU4b2trAGosptnZQmeLqOahRt3G0UDDvvZ3paiEHEVv-lEUQCbZeR7yr0Qg7lKDWMMCLPC4CCK-9nLqGHM50SyRdWk/s400/AR-170619967.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
"Lindsey Buckingham Christine McVie" é, na prática, o novo álbum dos Fleetwood Mac em tudo menos no nome. Senão vejamos: todos os temas são escritos por Lindsey Buckingham e Christine McVie, dois terços do núcleo de compositores da formação clássica dos Fleetwood Mac; a secção rítmica que toca no álbum é composta por Mick Fleetwood na bateria e John McVie no baixo, nomes que acho que são auto-elucidativos; e <i>last, but defintely not least</i>, o álbum soa brutalmente a Fleewood Mac. E como não? Afinal de contas, a equipa é a mesma. Só falta mesmo a Stevie Nicks. Mas quem precisa da Stevie Nicks, <i>anyway</i>? Nada contra a senhora, seria aqui muito bem-vinda com dois ou três temas e uns <i>"Aaaahs"</i> e uns <i>"Oooohs"</i> nas <i>backing vocals</i>, mas será que ela é mesmo <i>precisa</i>? Só se for mesmo para dar direito a usar o nome. Mas se ela não queria ter trabalho, podia ter aparecido para tocar umas maracas num dos temas e resolvia-se a questão.<br />
<br />
Não houve Stevie Nicks, não pôde haver Fleetwood Mac e foi aqui que começou um rol de equívocos. Começando logo pelo nome do álbum. Quem conhece as bases da história dos Fleetwood Mac, mais especificamente da sua formação clássica, saberá que Lindsey Buckingham e Stevie Nicks foram recrutados anos depois do vazio deixado pela saída do icónico compositor e guitarrista Peter Green (por este ter, digamos, "fritado" com as drogas) e que o que lhes valeu a entrada na banda foi um álbum que gravaram em 1973, nos tempos em que eram um casal — "Buckingham Nicks", chamava-se o LP. Faria todo o sentido que este álbum, sendo uma colaboração entre Buckingham e McVie se chamasse... "Buckingham McVie". Foi esse o <i>working title </i>do álbum até à última hora e eu adorava que me explicassem a decisão de mudar.<br />
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Agora atentem na capa em cima. Será que era possível o Lindsey e a Christine estarem <b>mais separados</b> na foto da capa?! É que eu acho que nem as sombras se tocam. Para um álbum onde o afecto e a intimidade são temáticas recorrentes, não poderia haver capa mais fria. E tantas imagens melhores havia. Como esta foto de promoção, por exemplo:<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://ironstoneamphitheatre.net/wired/wp-content/uploads/2017/04/Lindsey_Dec2016_1169_v06_crop.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="686" height="400" src="https://ironstoneamphitheatre.net/wired/wp-content/uploads/2017/04/Lindsey_Dec2016_1169_v06_crop.jpg" width="342" /></a></div>
<br />
Ou esta, com ambos sentados no sofá e Lindsey a mostrar todo o seu desconforto por estar ali. Ok, esta talvez não.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.trbimg.com/img-587be798/turbine/la-ca-ms-lindsey-buckingham-christine-mcvie-20170113" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="600" height="266" src="https://www.trbimg.com/img-587be798/turbine/la-ca-ms-lindsey-buckingham-christine-mcvie-20170113" width="400" /></a></div>
<br />
E por que não a recuperação de uma imagem clássica, dos velhos tempos dos Fleetwood Mac?<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://keyassets.timeincuk.net/inspirewp/live/wp-content/uploads/sites/28/2017/01/Fleetwood-Mac24.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="630" height="253" src="https://keyassets.timeincuk.net/inspirewp/live/wp-content/uploads/sites/28/2017/01/Fleetwood-Mac24.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
A capa do álbum é uma aberração entre o esquisito e o inexplicável. Não acredito que ninguém fosse capaz de avisar o Lindsey e a Christine que aquilo na melhor das hipóteses era medíocre e na pior passava a mensagem errada ao público (de afastamento). E se eu não conhecesse as capas obscenamente más dos álbuns a solo do Lindsey, ainda era capaz de suspeitar que era auto-sabotagem.<br />
<br />
Ainda me resta mais uma queixa relativamente a "Buckingham McVie" (deixem-me ficar com o título antigo): o som. Mas que raio de assassinato sonoro vem a ser este? Para quê tanta compressão? Para quê o volume tão alto? Os álbuns dos Fleetwood Mac soam maravilhosamente bem, por isso sei que o Lindsey e a Christine sabem melhor que isto. Qual é a ideia? Apelar à geração Spotify? Malta, ninguém vai ouvir o vosso álbum porque o apanharam na barra de sugestões do Drake ou da Ariana Grande. Vão ouvir porque conhecem os Fleetwood Mac e estão habituados a essa bitola.<br />
<br />
Agora que já ventilei as minhas reclamações, eis o meu veredicto. Nestes dias do <i>Indie Rock</i> perdido, bipolar e esquizofrénico, é sempre bom ouvir um álbum firmemente ancorado na melodia. E na positividade também. Para variar.<br />
Se são fãs da era clássica dos Fleetwood Mac (entre o álbum homónimo "Fleetwood Mac" de 1975 e "Tango In The Night" de 1987), vão adorar "Buckingham McVie"; é um <i>return to form </i>da dupla mais improvável dos Fleetwood Mac e o melhor trabalho desde o longínquo (e a todos os títulos maravilhoso) "Tango In The Night". Se são fãs da era de Peter Green, talvez isto não seja para vocês. Se só conhecem alguns temas avulsos dos Fleetwood Mac (provavelmente "Little Lies", "Go Your Own Way" e "Gypsy"), devem dar uma chance a "Buckingham McVie", mas mais importante que isso, do que é que estão à espera para ouvir esfomeadamente o "Rumours" e o "Tango In The Night"? Ou <a href="https://open.spotify.com/user/1167055173/playlist/7AwCLxeGmHHMlRW9g4MJjw">esta playlist espectacular</a>? Ainda aqui estão? Tudo para o Spotify! <span style="font-size: xx-small;">O "Buckingham McVie" pode esperar.</span>Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-45318635997040235182017-06-19T00:23:00.002+01:002017-06-19T01:18:00.385+01:00Bruce Springsteen - "For You" (Live at Hammersmith Odeon '75)<blockquote class="tr_bq">
<i>"I came for you, but you did not need my urgency"</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/8fwHNoHIBnU" width="640"></iframe><br />
<br />
Tenho uma teoria: acho que a minha vida pode ser contada através dos álbuns do Bruce Springsteen. Eliminando algumas incongruências e introduzindo algumas analepses e outras tantas prolepses, posso contar a minha história a partir do "Born To Run", quase cronologicamente. O mais engraçado é que os álbuns são biográficos, sim, mas naturalmente do próprio Bruce. Eles reflectem o seu estado de espírito na altura em que foram gravados e cada um desses álbuns entrou na minha vida em ordem cronológica no respectivo tempo em que eu passei esse mesmo estado de espírito ou condição de vida. Perdoem-me se tiverem que ler esta frase mais uma vez, mas é isto mesmo.<br />
<br />
Várias vezes senti que o Bruce estava "ali" a tomar notas sobre a minha vida e a escrever sobre isso, em canções com 30 e 40 anos. Mesmo admitindo algum (ou muito!) pretensiosismo associado a esta teoria, às vezes eu próprio fico pasmado com a capacidade que Bruce tem em descrever minuciosamente os eventos da minha vida e pôr em palavras o meu estado de alma.<br />
<br />
É enquadrado nessa teoria que hoje me lembrei de "For You", tema que faz parte do primeiro álbum de Bruce Springsteen (teria que ser introduzido na minha história como uma analepse na sua discografia, portanto), mas que só levantou voo quando Bruce se sentou ao piano e deu asas ao que lhe ia na alma. A versão que resultou do concerto no Hammersmith Odeon em Londres, 1975 — o primeiro concerto da E Street Band na Europa — é das materializações mais bonitas de um sentimento em música. Como só Bruce Springsteen sabe fazer.<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Princess cards she sends me, with her regards</i><br />
<i>Her bar room eyes shine vacancy, to see her you have to look hard</i><br />
<i><b>I was wounded deep in battle, but I stood stuffed like a soldier undaunted</b></i><br />
<i>To her Cheshire smile I'd stand on file, <b>she was all I ever wanted</b></i><br />
<i>But you let your blue walls get in the way of these facts</i><br />
<i>And honey, get your carpetbaggers off my back</i><br />
<i>You wouldn't even give me time to cover my tracks</i><br />
<i><b>You said, "Here boy, here's your mirror, your ball and your jacks"</b></i><br />
<i><b>But they ain't what I came for, and I'm sure you know that's true</b></i><br />
<i><b><br /></b></i>
<i><b>Baby, I came for you, for you, I came for you; but you did not need my urgency</b></i><br />
<i><b>For you, for you, I came for you, but your life was one long emergency</b></i><br />
<i>And the cloud line urges me, and my electric surges free</i><br />
<i><br /></i>
<i>Oh, crawl into my ambulance, your pulse is getting weak</i><br />
<i>Reveal yourself just once for me baby, while you've got the strength to speak</i><br />
<i>'Cause they're waiting for you at Bellevue with their oxygen masks</i><br />
<i><b><span style="font-size: small;">But I could give it all to you here, if only you would ask...</span></b></i><br />
<i>And don't call for your surgeon, even he says it's too late</i><br />
<i>It ain't your lungs this time, baby, it's your heart that holds your fate</i><br />
<i>Don't give me my money, honey, I don't want it back</i><br />
<i>You and your pony face and your union jack</i><br />
<i>You can take that local joker and teach him how to act</i><br />
<i>You know I was never that way even, even when I really cracked</i><br />
<i>And didn't you think I knew that you were born with the power of a locomotive</i><br />
<i>You could leap tall buildings in a single bound</i><br />
<i>And your Chelsea suicide with no apparent motive</i><br />
<i>You could laugh and could cry in a single sound</i><br />
<i><br /></i>
<i>Your strength is devastating in the face of all these odds</i><br />
<i>Remember how I kept you waiting when it was finally my turn to play the god?</i><br />
<i>And you were not quite half so proud when I found you broken on the beach</i><br />
<i>Remember how I poured salt on your tongue and hung just out of reach</i><br />
<i>And the band they played the homecoming theme as I caressed your cheek</i><br />
<i><b>And that ragged, ragged jagged melody, still clings to me like a leech</b></i><br />
<i>And you know that medal you wore on your chest, and how it always got in the way</i><br />
<i>You were like a little girl with a trophy, so soft to buy her way</i><br />
<i><b>We were both hitchhiking, but you had your ears tuned to the roar</b></i><br />
<i>Of some metal-tempered engine on an alien, distant shore</i><br />
<i><b>So you left to find a better reason than the one we were living for</b></i><br />
<i>And it ain't that nursery mouth that I came back for</i><br />
<i>And it ain't the way that you're stretched out on the floor</i><br />
<i><b>'Cause I've broken all your windows and rammed through all your doors</b></i><br />
<i><b>And who am I to ask you to lick my sores? </b></i><br />
<i><b>You should know that's true</b></i><br />
<i><b><br /></b></i>
<i><b><span style="font-size: small;">Baby, I came for you! But you did not need it...</span></b></i><br />
<i><b>For you, baby, I came for you, but your life was one long, long emergency</b></i><br />
<i>And your cloud line urges me, and my electric surges free</i></blockquote>
Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-66314220197395092242017-06-18T02:56:00.002+01:002017-07-06T12:02:04.617+01:00Roger Waters - "Picture That"<blockquote class="tr_bq">
<i>"Picture a leader with no fucking brains"</i></blockquote>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/Bnqd-qK8fCI" width="640"></iframe><br />
<br />
Faz-me muita confusão ler as opiniões quase unanimemente complacentes e moderadas relativamente ao novo álbum de Roger Waters. Condescendentes, diria até. Parece que ouviram uma vez — se ouviram uma vez sequer — escreveram meia dúzia de banalidades e siga para bingo. Mas que caralho, pá. Aceito todas as reacções, mas se há uma coisa que Roger Waters não provoca é indiferença. Preservem a dignidade do homem, por favor. Na minha óptica, esta condescendência constitui maior ofensa ao Roger do que de lhe dissessem na cara que o álbum é uma valente merda. Mas que nova moda é esta de não ter opinião para não magoar ninguém? Pela minha parte, até posso nem dar a minha opinião, mas se me perguntam, eu digo. Costumo ter opiniões. Vamos agora todos pintar as nossas palavras de cinzento porquê? Para agradar aos outros? Citando o Roger, fuck them.<br />
<br />
"Is This The Life We Really Want?" é um álbum difícil. Podemos começar por aí. É uma audição extenuante, tal o negativismo que assola a música do princípio ao fim. <i>"I'm still ugly, you're still fat"</i>, começa Roger por dizer logo no primeiro tema. <i>"Our parents made us what we are. Or was it God? Who gives a fuck? It's never really over."</i><br />
Também é um álbum fatalmente político, não há volta a dar. Eu costumo ser apologista que os meus artistas se mantenham longe da política, mas a verdade é que "Animals" era político ("The Final Cut" idem) e não deixa de ser uma obra-prima por isso. Roger tem opiniões fortes e quer expressá-las; e ainda bem. Se ao menos o fizesse mais vezes. Foi preciso ir o Trump para a Casa Branca para o fazer sair da toca.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://mm.aiircdn.com/5/58f8a0e3e798c.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="775" data-original-width="780" height="397" src="https://mm.aiircdn.com/5/58f8a0e3e798c.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
O tom é agressivíssimo, mesmo para a bitola de Roger. Para terem uma ideia da violência das palavras, vou citá-lo no niilista "Picture That": <i>"Picture a courthouse with no fucking laws / Picture a cathouse with no fucking whores / Picture a shithouse with no fucking drains / Picture a leader with no fucking brains"</i>. Bem, por onde começar? Comecemos pelo fim: Trump, obviamente. Ele aparece várias vezes ao longo do álbum, quer neste tipo de referências, quer em discurso directo (<i>"This is a fine tuned machi.."</i>). É ele o alvo principal de todo o fel que Roger despeja ao longo destes 54 minutos. Depois, <i>"Picture a cathouse with no fucking whores"</i>?! Uma tradução possível disto será <i>"imaginem uma casa de putas sem as putas das putas"</i>.<br />
<br />
Mark Twain disse um dia que em determinadas circunstâncias de urgência e desespero, um palavrão é capaz de proporcionar um alívio negado até pela oração. Roger faz uso deste alívio profusamente ao longo do álbum, como um velhote a gritar obscenidades à televisão. À custa disto, Roger foi avisado pela editora que se não fizesse uma versão limpa, o seu álbum não iria ser vendido no Walmart e noutras cadeias mais "sanitizadas" nos Estados Unidos. Em resposta, Roger gritou sem pensar duas vezes: "FUCK WALMART! Se não quiserem vender o meu álbum, não vendem! FUCK THEM!". Grande Roger. É por estas coisas que te amo.<br />
<br />
Mas calma, que isto ainda fica pior. Voltemos a "Picture That" e atentemos na estrofe seguinte: <i>"Follow me filming myself at the show / On a phone from a seat in the very front row / Follow Miss Universe catching some rays / Wish You Were Here in Guantanamo Bay" </i>— mais um punhado de estalos à nossa realidade. Roger começa por apontar aos próprios fãs e à porra dos telemóveis hasteados nos concertos; não há paciência, de facto. Depois àquela nossa mania de seguir a Miss Universo, a Miss Portugal e a Miss Israel no Instagram. Para quê, ao certo? Não sei, mas todos o fazemos e não há inocentes. Mas o pior vem a seguir: <i>"Wish you were here in Guantanamo Bay"</i>?! A referência ao álbum dos Pink Floyd é óbvia e representa uma desconstrução de tudo de bom que Roger já teve. É que "Wish You Were Here" é tão somente o álbum mais pacífico da História dos Floyd e aquele normalmente apontado por toda a banda como o melhor esforço colaborativo de todos. Um produto de amizade, portanto. Mas aqui parece que toda a luz em Roger foi ensombrada pela escuridão e tudo de bom que passou cheira a podre.<br />
<br />
"Is This The Life We Really Want?" é pesadíssimo. O desconforto é uma sensação provocada deliberadamente no ouvinte e por diversas vezes no limite do suportável ao longo do álbum, como na secção média de "Bird On A Gale". Roger está tão fodido aqui como estava em "Animals", com a diferença fundamental que agora já não tem o David nem o Rick para complementar a sua raiva com música. Tem o Nigel Godrich (produtor dos Radiohead) para tentar emular isso, mas nem sempre chega.<br />
<br />
Goste-se ou não, Nigel Godrich teve um papel importantíssimo na criação deste álbum e arrisco dizer que se não fosse ele, "Is This The Life We Really Want?" não teria sido possível. Pelo menos não assim. O objectivo de Nigel parece ter sido tripartido: focar Roger nas suas canções e obrigá-lo a abandonar (na medida do possível) as suas megalomanias; destacar ao máximo as valências de Roger (nomeadamente a mensagem); e fazer soar o álbum "à Pink Floyd" (os callbacks à música dos Pink Floyd são intermináveis). Nigel assumiu responsabilidades e correu riscos. E meteu a cabeça no cepo quando avisou os fãs que não havia solos de guitarra em "Is This The Life We Really Want?". Passado o choque inicial, hoje creio que esta medida veio em tudo beneficiar Roger. Senão vejamos: nos três primeiros álbuns a solo, Roger convidou Eric Clapton, Andy Fairweather Low e Jeff Beck para tentar compensar a falta de David Gilmour. Nenhum deles conseguiu. Melhor assim então.<br />
<br />
É um exercício interessante comparar "Is This The Life We Really Want?" a "Rattle That Lock", álbum de David Gilmour de 2015. O álbum de David é leve e despreocupado, o reflexo de alguém que está bem com a vida. Por outro lado é também um álbum demasiado relaxado, que não levanta muita poeira e não corre riscos (e quando corre é mal sucedido e sim, estou a falar do terrível "The Girl In The Yellow Dress"). O álbum de Roger mostra exactamente o oposto: um homem amargurado e revoltado, oblívio a tudo de bom que já lhe aconteceu (e foi muito) e a todo o mundo que o ama.<br />
<br />
Gostava um dia de dizer ao Roger que <i>it's all right</i>. Que ele não precisa de carregar todo o peso do mundo em cima dos ombros e que não será ele, sozinho, a resolver os males da humanidade. Mas não posso. E mesmo que lhe dissesse tudo o que quero, sei que ele não me iria ouvir. E talvez ainda bem, porque é assim que eu gosto do meu Roger. Fodido.<br />
<br />
Tenho a perfeita noção que pintei um cenário tão negro que, se chegaram até aqui, já não sabem se devem ou não ouvir o novo álbum do Roger. Devem, pois claro que devem. "Is This The Life We Really Want?" é o álbum mais niilista da carreira de Roger Waters e se isso não chega para atrair a vossa atenção, não sei o que fará. Ouçam, mas tenham um copo de vinho à mão, de preferência. Sempre é uma anestesia para o vazio que vão sentir.Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-91873426263270407632017-04-21T14:40:00.002+01:002017-04-21T14:48:01.010+01:00Roger Waters - "Smell The Roses"<blockquote class="tr_bq">
<i>Roger Waters está de volta. Regozijemos.</i></blockquote>
<br />
Abram as garrafas de champanhe. Vinte e cinco anos depois do último álbum, Roger Waters está de volta com música nova, este furioso "Smell The Roses". O veredicto? É do caralho.<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/PEh7Ip4yvH8" width="640"></iframe><br />
<br />
Eu disse música nova? Mais ou menos. O tema é basicamente um rip-off directo de "Have A Cigar", com algumas texturas de "Dogs" e de "Pigs (Three Different Ones)" lá pelo meio. É uma reciclagem do seu próprio material antigo com nova roupagem, mas e depois? É o Roger. Ele está fodido com o mundo e como sempre que isso acontece, tem coisas para dizer. Muitas coisas. Como não lhe dão a devida atenção nas entrevistas, resolveu então dizer tudo da melhor forma que sabe: com música. Para isso, foi buscar Nigel Godrich - produtor dos Radiohead -, que o manteve focado a produzir um álbum que tivesse uma estrutura e sonoridade "à Waters" e que o fizesse abandonar a ideia da radio-novela sobre um avô e a sua neta, que investigavam por que tantas crianças morrem no médio-oriente. Louvado seja Nigel. Até ver, acertou em cheio.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7y7GvC4Xgn3Gdxs5C8XLehVQ6rwlj7e8ndX1lQB6TAVtc4cAUXUonTgc-6FFoR5jQasOU5EdWLd27qndcCk4qWREGpkXUNwXcqWmpCQ1lyRYnP4wCIcNYue0aJPVZAwXScyoBchb2vAc/s1600/roger-waters-cover.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="397" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7y7GvC4Xgn3Gdxs5C8XLehVQ6rwlj7e8ndX1lQB6TAVtc4cAUXUonTgc-6FFoR5jQasOU5EdWLd27qndcCk4qWREGpkXUNwXcqWmpCQ1lyRYnP4wCIcNYue0aJPVZAwXScyoBchb2vAc/s400/roger-waters-cover.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div>
O novo álbum chama-se "Is This The Life We Really Want?" e foi gravado ao longo dos últimos 7 anos. O disco será editado dia 2 de junho e terá o seguinte alinhamento:</div>
<br />
1. "When We Were Young" (1:38)<br />
2. "Déjà Vu" (4:27)<br />
3. "The Last Refugee" (4:12)<br />
4. "Picture That" (6:47)<br />
5. "Broken Bones" (4:57)<br />
6. "Is This The Life We Really Want?" (5:55)<br />
7. "Bird In A Gale" (5:31)<br />
8. "The Most Beautiful Girl" (6:09)<br />
9. "Smell The Roses" (5:15)<br />
10. "Wait For Her" (4:56)<br />
11. "Oceans Apart" (1:07)<br />
12. "Part Of Me Died" (3:12)<br />
<br />
Algumas das faixas que já tinham sido confirmadas por Roger - "Crystal Clear Brooks", "Safe and Sound" e "Lay Down Jerusalem (If I Had Been God)" -, afinal não aparecem no álbum. Obra de Nigel, aposto. Esperemos que o novo álbum esteja (pelo menos) à altura deste furioso "Smell The Roses". E não, não me importo com reciclagens.Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-47424784424765629252017-01-23T17:04:00.002+00:002017-01-24T10:26:35.105+00:00Pink Floyd - "Pigs (Three Different Ones)" (Live)<div style="text-align: center;">
<b style="font-size: x-large;"><i>Pink Floyd: 40 anos depois de "Animals", os porcos triunfaram mesmo</i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<i>O mais irado e niilista de todos os álbuns foi lançado há 40 anos. </i><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAZv81eQ_I6NwPttEuqHNFbmGQuGDYgBfATsjIsu4o7XjZp76pOtjstUk9NNGcLwWUN3N1d6XX_HuRJtdD-_LU8z109pvy81YuDfOZTHeiiDMcTMCZH9APMQM_FEmDcG854aB1iGlcHUw/s1600/animals.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="359" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAZv81eQ_I6NwPttEuqHNFbmGQuGDYgBfATsjIsu4o7XjZp76pOtjstUk9NNGcLwWUN3N1d6XX_HuRJtdD-_LU8z109pvy81YuDfOZTHeiiDMcTMCZH9APMQM_FEmDcG854aB1iGlcHUw/s640/animals.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
"Animals" foi a adaptação à música da visão distópica de George Orwell em "Animal Farm" ("O Triunfo dos Porcos", na sua spoiler tradução portuguesa). Foi também o álbum que fez implodir os Pink Floyd<a href="http://escolhamusicaldodia.blogspot.pt/search/label/%C3%81lbum%3A%20Animals"> </a>(como não?), mas não é disso que vos falo hoje, até porque esse assunto já está bem escapelizado <a href="http://escolhamusicaldodia.blogspot.pt/2012/07/pink-floyd-dogs.html">aqui</a> e <a href="http://escolhamusicaldodia.blogspot.pt/2012/07/pink-floyd-pigs-three-different-ones.html">aqui</a>. Hoje falo-vos da carga política do álbum mais irado e niilista dos Pink Floyd.<br />
<br />
Como todas as grandes obras de arte, "Animals" é tão relevante hoje como no dia em que foi desvendada. No caso em concreto, podemos até dizer que é mais relevante hoje do que há 40 anos.<br />
Se é verdade que a profecia de Orwell estava lá desde 1945, ela parecia exageradamente dantesca para que alguém acreditasse que poderia ter fundamento para além da revolução pós-czar soviética. Ouvíamos "Animals" com a mesma candura que visionamos entre pipocas qualquer filme do "Matrix", demasiado longínquo e fantasioso para nos preocupar para além das duas horas em frente ao ecrã.<br />
<br />
Ninguém diria que chegaríamos aqui. Neste <i>reality show </i>24/7 que mais se assemelha a um episódio de Black Mirror, os factos passaram a ser debatíveis (veja-se<a href="http://edition.cnn.com/2017/01/22/politics/kellyanne-conway-alternative-facts/"> a secretária de imprensa de Trump a falar em "factos alternativos"</a>), a ciência misturou-se com a opinião <a href="https://www.nytimes.com/2017/01/20/us/politics/trump-white-house-website.html?_r=0">(Trump já expurgou todas as menções do aquecimento global do site da presidência</a>) e a fronteira entre a realidade e a fantasia tornou-se difusa.<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/1Oeu7SBvPaQ" width="640"></iframe><br />
<br />
Todos somos culpados. Amolecidos por esta overdose tecnológica, demos as nossas regalias como garantidas, desprezámos a História e esquecemo-nos que as acções têm consequências. Começámos por tomar Trump como uma anedota; depois achámos que ele iria moderar o seu discurso no fim das primárias; depois durante a campanha; depois chegado à Casa Branca. Nunca o fez. Ignorámos o perigo que batia à porta e sem que nos déssemos conta, ele está aí. 40 anos depois de "Animals", 72 após "Animal Farm", <b>os porcos triunfaram mesmo</b>.<br />
<br />
O que é que isto nos interessa? Deste lado do Atlântico, a cinco mil quilómetros e um oceano de distância, podemos olhar para tudo isto como um grande <i>reality-show </i>que acompanhamos todos os dias ao jantar; podemos fazer como os americanos e ignorar o perigo que representa uma criança de 5 anos num corpo de adulto chegar à presidência da maior potência económica mundial, ao dispor do maior arsenal bélico do planeta. Isso, ou então perceber que quando a América espirra, a Europa constipa-se e que tudo leva a crer que o futuro próximo é imprevisível.<br />
<br />
O que fazer? Em primeiro lugar, evitar que o efeito dominó comece a fazer efeito e proteger as democracias europeias do populismo que levou os EUA a este ponto. O mundo mudou muito e muito rapidamente e é hoje um lugar diferente daquele que conhecemos há 10 ou 20 anos, quando quer que nos deixámos dormir e não percebemos que a precariedade do trabalho e da educação poderia levar o povo a tomar decisões inenarráveis, como eleger um pateta para seu líder. É preciso fazer uma purga na classe política e injectá-la com mais gente qualificada e menos demagogos jotinhas que só lá estão porque não tiveram capacidade de ganhar a vida em mais lado nenhum.<br />
Já não basta andarmos com activismos de Facebook para depois ir para a praia em dias de eleições. Aliás, se há uma lição que se pode tirar destas eleições americanas é que o voto conta e que é fundamental votar. Só assim se protege a democracia. É capaz de ser hora de acordar.<br />
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...ou, como diz o Roger, a resistência começa hoje:<br />
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P.S.: O blog já leva 7 anos e este é o primeiro post sobre política. É revelador dos tempos em que vivemos.Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-976517716438817822.post-49294648153452370532016-12-26T03:55:00.003+00:002020-09-04T00:09:40.614+01:00George Michael - "Waiting (Reprise)"<blockquote class="tr_bq">
<i>"All those insecurities that have held me down for so long, I can't say I've found a cure for these, but at least I know them, so they're not so strong.<br />You look for your dreams in heaven, but what the hell are you supposed to do when they come true?"</i></blockquote>
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George, o que foste fazer? A minha namorada ligou-me há uma hora com a notícia que te tinhas ido embora e desde então que me tranquei no quarto e não consigo parar de chorar. Só penso em tudo o que te queria ter dito mas nunca tive a oportunidade. Escrevo-te aqui para te contar tudo o que não pude; para falar na tua importância, em como eras amado e em como te preocupavas demasiado. Esta é a carta do que nunca te disse.</div>
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Estou em choque, devastado, no meu velho quarto da casa dos meus pais, a tentar processar que já cá não estás. Calhou receber a notícia aqui porque te foste embora no Natal, logo no Natal, época em que todo o mundo ouve a tua música. Aqui, neste quarto, a tua música sempre se ouviu todo o ano.</div>
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Foi dentro destas paredes que eu cresci ao som dos teus álbuns: foi aqui que dancei despreocupadamente com os Wham!, foi aqui que me revi nas tuas inseguranças — essas malditas inseguranças que te perseguiram e te levaram — e foi aqui que me senti protegido pela tua voz. Por me teres ajudado quando precisei, sempre te defendi acerrimamente. Fi-lo na escola, quando não havia nada mais uncool do que gostar de ti e fi-lo até agora, que ainda subsiste esse estigma idiota. Acredita, sempre fiz tudo o que pude para te defender.</div>
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Ainda assim, não consigo deixar de pensar que podia ter feito mais. Queria ter tido a chance de te dizer que te amava, que meio mundo te amava e que todos te amávamos incondicionalmente porque eras o George Michael. Não era preciso preocupares-te em ser outra coisa qualquer, estava tudo bem em seres "apenas" o George Michael. Tinhas ganho esse direito. Eras teimoso, mas talvez as coisas pudessem ter sido diferentes se me ouvisses.</div>
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Conhecia-te bem. Sabia dos teus traumas, dos teus fantasmas e dos teus vícios. Sabia que eras um homem complexo, cheio de vícios adultos, mas no fundo só um menino perdido e frágil. Sabia do teu medo de envelhecer. Quando me mandei para Madrid sozinho só para te ver e tu sacaste de um tema obscuro do teu amigo Elton — "Idol", um dos meus preferidos dele —, eu percebi que estavas a cantar sobre ti e as tuas inseguranças. E pensei que aquilo podia ser sobre mim também. E desatei ali a chorar compulsivamente.</div>
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A minha vida foi cheia de ti. A primeira grande viagem que fiz foi quando peguei corajosamente no carro e fui de Lisboa a Coimbra para te ver. A primeira vez que viajei para fora do país sozinho foi quando apanhei um avião para Madrid para te ver. A minha namorada, só o é, por causa de ti; porque na noite em que nos conhecemos lhe disse que gostava de Wham! e ela me desafiou a nomear o meu tema preferido da banda. Quando lhe cantei o refrão do "The Edge Of Heaven", ganhei a miúda. Era esta a importância que tinhas na vida das pessoas. O teu legado é imortal.</div>
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Agora que já cá não estás e que o mundo chora o teu desaparecimento, estou convicto que já estamos preparado para reconhecer o génio que foste e enfim apreciar a tua obra conforme tu nos aconselhaste: "ouvir sem preconceitos". </div>
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Love you, George. The world is going to be a shittier, shittier place without you.<br />
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Edit: post original publicado às 4 da manhã, poucas horas depois da morte do George. Revisto em cima.</div>
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Nuno Bentohttp://www.blogger.com/profile/04561648154310690133noreply@blogger.com2