terça-feira, 22 de julho de 2014

George Michael - "Let Her Down Easy"

"She still remembers you, the first boy that she gave it to. And she laughs at how little then she knew"


Nos últimos anos, George Michael tem-se dedicado a destruir a sua carreira e a sua vida, com argolada atrás de argolada. Na sua vida, houve várias detenções por posse de droga e condução sobre o efeito de álcool e drogas (George confessou que fumava 25 charros por dia), hábitos que culminaram na sua prisão, durante 4 semanas em 2010.
Na sua carreira, já há muito que não lança um álbum novo e a pouca música que temos ouvido é uma caricatura do artista que em tempos fora.
Desde quando é que se admite que um cantor com uma das melhores vozes do Mundo queira imitar a Rihanna e lance um tema em que a sua voz é praticamente imperceptível no meio de tanto tratamento electrónico (vulgo vocoder)? E ainda por cima fazendo uso de "True Faith" dos New Order - um dos melhores temas Synthpop dos anos 80? Eu digo: não é admissível.
Como classificou o jornal The Guardian, este terá sido "o pior single de caridade não-cómico de sempre". Ou então foi tudo a gozar, não sei.

Finalmente, parece que George Michael se deixou de merdas e (como diziam no Dragonballdecidiu passar a coisas sérias. Em Março de 2014, George decidiu lançar o álbum "Symphonica", gravado ao vivo entre 2011 e 2012, durante a sua Symphonica Tour - que eu tive o privilégio de presenciar em Madrid.


Se não contarmos com as compilações, "Symphonica" é o primeiro álbum de George Michael desde "Patience", lançado em 2004. Ainda assim, trata-se de um álbum ao vivo, pelo que já lá vão 10 anos desde o último álbum de originais e ainda não vimos nada nesse campo.
Em "Symphonica", George assume o seu lado crooner - papel que ele desempenha com mestria. Aliás, para mim, nem há outro como ele. Se compararmos com outros cantores em voga nesse género - como por exemplo, Michael Bublé - a conclusão a que chegamos é que George não só é o maior nesse campo, como ainda joga em muitos outros campos. Sendo mais concreto, para além de intérprete, também compõe. E tanto canta baladas, como temas Pop mais mexidos, ou até Rock. O maior.

Ao apostar nesta faceta, "Symphonica" mostra-nos uma das maiores paixões de George: cantar temas dos outros. Esta paixão foi sendo revelada ao longo dos anos, pelos vários covers que nos foi presenteando na sua carreira - em 1990 fez a Cover 2 Cover Tour, onde praticamente só cantava covers. Em "Symphonica" podemos ouvir nem mais nem menos 10 covers, num total de 17 temas (na versão física mais completa). É mais de metade do álbum.

George Michael dá voz a temas dos repertórios de Elton John ("Idol", do álbum "Blue Moves", de 1976), The Police ("Roxanne", do álbum "Outlandos d'Amour", de 1978), Nina Simone ("My Baby Just Cares For Me"), Rufus Wainwright ("Going To A Town", de 2007), Roberta Flack ("The First Time Ever I Saw Your Face", canção de Evan MacColl, lançada por Peggy Seeger em 1957), Terence Trent D'Arby ("Let Her Down Easy", do álbum "Symphony or Damn" de 1993), entre outros.

O primeiro single do álbum foi precisamente este "Let Her Down Easy", do norte-americano Terence Trent D'Arby (que agora quer ser conhecido como Sananda Maitreya). A faixa do vídeo em cima é diferente da que ouvimos no álbum, uma vez que, segundo George, a rádio se recusava a passar o tema se não fosse totalmente removido o ruído do público, defendendo que a faixa vocal foi gravada ao vivo e está intacta. Se assim é - e o eco que ouvimos no tema deixa escapar que foi mesmo gravada numa sala ampla e não em estúdio - então aqui está a prova que George Michael ainda está em grande forma.
Pena que seja apenas uma amostra. Quero tanto ouvir mais de ti, George. Sem merdas.

"Let her down easy and you'll grow up in time"

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Soundgarden - "Let Me Drown"

"So let it go, let it go, let it go, won't you let it?"


Os Soundgarden apresentaram-se no Hyde Park, na tarde de 4 de Julho, para aquela que seria a última data de uma digressão europeia conjunta com os Black Sabbath. "It's nice to see so many people here" ("É bom ver tanta gente aqui"), começou por dizer Chris Cornell, antes do início do concerto; "Well, maybe you're here to see Black Sabbath. But that's ok, we're here for Sabbath too!" ("Bem, talvez estejam aqui para ver os Black Sabbath. Mas não faz mal, nós estamos aqui para os Sabbath também!"), aventou de seguida.
E depois Chris revelou o que aí vinha durante a próxima hora e meia: "We just decided 15 minutes ago that we're gonna do something for the last time, which we only did twice before. We're gonna play the album "Superunknown" in its entirety." ("Acabámos de decidir há 15 minutos que vamos fazer pela última vez algo que só fizemos 2 vezes no passado. Vamos tocar o álbum "Superunknown" na íntegra.")
E depois rebentou as gigantescas colunas de som, dispostas entre as árvores que adornavam o palco, com "Let Me Drown" - tema de abertura de "Superunknown" e o meu preferido dos Soundgarden.

Loucura.


"Superunknown" comemora este ano o seu 20º aniversário com pompa e circunstância, tendo sido lançada uma caixa de luxo (daquelas que eu adoro), com 5 discos de demos, lados B e o álbum em versão multi-canal. Ainda não a tenho na minha colecção, mas vontade não me falta.


"Superunknown" é de uma qualidade e uma solidez excepcionais. Lançado em 1994, numa altura em que era difícil fazer um álbum sólido, uma vez que estavam formatados para a duração de CD e eram muito mais longos, os Soundgarden conseguiram esta façanha.
Na minha opinião, é somente um dos melhores álbuns dos anos 90.
Como dizia um jornal exposto num quiosque londrino no dia 5 de Julho: "Superunknown should be super known"; ou seja, o álbum "Superunknown" deveria ser super conhecido. Este é, de facto, o melhor sumário possível do concerto dos Soundgarden que acontecera no dia anterior e da magnitude que o álbum representa, 20 anos depois do seu lançamento.
""Superunknown" is a hugely influential record. Soundgarden achieved a giant feat."
Mike McCready - guitarrista dos Pearl Jam

Mike McCready - guitarrista dos Pearl Jam e amigo dos Soundgarden, desde os tempos das garagens de Seattle - apareceu para tocar o tema título de "Superunknown" e não se poderia mostrar mais efusivo. Como que numa (feliz) reunião com os amigos do liceu, ele estava ali com tanto ou mais prazer que a audiência. Pareceu-me até que ele ficou desiludido quando acabou o tema e ele foi obrigado a sair de palco.

Como bónus para este concerto, tivemos ainda a presença de Matt Cameron na bateria. Matt Cameron é o baterista original da banda, mas juntou-se aos Pearl Jam quando os Soundgarden se separaram no fim dos anos 90. Quem andava agora em digressão com a banda era Matt Chamberlain - antigo baterista dos Pearl Jam. Como os calendários de ambas as bandas se juntaram na Europa, juntou-se o útil ao agradável. Bem, agradável, não sei. Na verdade, os Pearl Jam tocavam na noite anterior na Polónia e na noite a seguir na Bélgica, mas para isso é que servem os aviões.

Muito haveria para dizer sobre a dinâmica entre os Pearl Jam, os Soundgarden, os Mother Love Bone, os Temple Of The Dog e uma série de outras bandas de Seattle daquela geração, mas isso ficará para outra vez. Se quiserem uma visão mais profunda sobre o assunto, vejam o excelente documentário sobre a carreira dos Pearl Jam "Twenty", realizado por Cameron Crowe, que lança um fascinante olhar sobre Seattle do início dos anos 90 - a panela de pressão que deu ao Mundo aquilo que conhecemos como o grunge.

De todas as bandas de Seattle desta geração, os Soundgarden são a melhor; e com alguma distância. Aqui, já estou a considerar todas as que referi em cima, bem como bandas como os Alice In Chains e os Nirvana.
São a melhor banda porque têm as melhores, mais complexas e mais diversificadas composições e têm também o melhor vocalista. A sério, ouçam o Chris Cornell nos álbuns "Badmotorfinger" e "Superunknown" e digam-me se o homem não é um prodígio vocal. E nem me falem em comparações com o maior ícone da cena de Seattle - Kurt Cobain - porque nem há comparação possível. "Estilos diferentes", dir-me-ão. Pois, mas mesmo nesse estilo mais arrastado, Layne Staley dos Alice In Chains dá o bigode a Kurt. (eu sei que estou a comprar uma guerra com os fãs dos Nirvana)


Por falar em Chris Cornell, será que o homem não envelhece? Fez ontem 50 anos e parece que está na casa dos 30. Incrível. Até a sua voz, que pagou um preço alto pelas digressões exaustivas de Chris com os Soundgarden e os Audioslave, estava em grande forma.