terça-feira, 12 de julho de 2011

Pink Floyd - "The Narrow Way - Part 3"

"You know the folly was your own, but the force behind can't conquer all your fears"



Muito antes dos milhões de discos vendidos, dos concertos em estádios e da adoração internacional, a "formação clássica" dos Pink Floyd (Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright) andou perdida durante muito tempo, na procura de uma sonoridade própria.

Esta demanda por uma direcção teve origem na saída de Syd Barrett, a meio da gravação do segundo álbum da banda "A Saucerful Of Secrets", devido aos seus problemas com o uso de drogas. Syd era a força criativa da banda e o autor da esmagadora maioria dos temas dos Pink Floyd. A sua saída foi colmatada com a entrada da David Gilmour, que se tornaria mais tarde num ícone da guitarra, mas até lá chegar, as coisas não foram nada fáceis...

Depois das dificuldades em terminar "A Saucerful Of Secrets" sem Syd Barrett e da muito sofrível banda sonora para o filme "More", os Pink Floyd decidiram mergulhar no experimentalismo com o excêntrico "Ummagumma".

"Ummagumma" foi lançado em 1969 como um álbum duplo: um disco ao vivo e um disco em estúdio. No álbum ao vivo, os Pink Floyd davam uma amostra do espectáculo avant-garde que faziam na época, com largas dezenas de minutos de improviso todas as noites. Versões de 25 minutos de "A Saucerful Of Secrets", ou versões de 15 minutos de "Careful With That Axe, Eugene" figuravam habitualmente num concerto dos Pink Floyd.

O problema estava mesmo no disco de estúdio. Os Floyd estavam sem ideias e depois de gravarem o tema "Embryo" (uma composição conjunta que ficaria guardada na penumbra até ao seu lançamento na compilação americana "Works" de 1983), decidiram que o disco de estúdio devia ser formado por 4 composições individuais, uma de cada membro dos Pink Floyd.

E assim foi.
Largados ao isolamento das suas ideias, sem saberem bem o que fazer e para onde ir, cada membro dos Pink Floyd compôs um tema novo para o disco de estúdio de "Ummagumma", formando aquele que é certamente o mais bizarro álbum dos Pink Floyd.
Considerado por muitos o pior álbum dos Pink Floyd, "Ummagumma" vive a difícil existência de ser o fruto de um experimentalismo desenfreado e sem qualquer direcção.

Mas isto não significa que o disco de estúdio de "Ummagumma" não tenha os seus momentos. Nomeadamente, a composição acústica de Roger Waters "Grantchester Meadows", mas principalmente este fabuloso "The Narrow Way" do recém-chegado David Gilmour.

Com a banda à procura do seu rumo, David Gilmour terá dado aqui o primeiro passo em direcção ao seu estilo único, hoje em dia imediatamente reconhecível. Mais que isso, terá dado até o primeiro passo na direcção que os Pink Floyd seguiriam a partir daí (já no álbum seguinte "Atom Heart Mother") e que iriam aperfeiçoar até ao álbum "Meddle" de 1971.

"The Narrow Way" está dividido em 3 partes: a primeira parte é uma fabulosa introdução acústica, com elementos spacey de slide guitar; a segunda é um arrepiante "crescendo" eléctrico, com mais efeitos psicadélicos ("The Waiting Room" dos Genesis parece retirado daqui); mas a terceira... Bem, é na terceira parte que David Gilmour finalmente se foca, deixa o noodling do psicadelismo e decide compor uma canção.

O resultado? Nada menos que fabuloso.



Pouco ou nada antes de "The Narrow Way" parecia apontar para aqui. Por isso mesmo, a importância histórica deste tema é imensa para os Pink Floyd. David Gilmour toca todos os instrumentos em "The Narrow Way", mas curiosamente, é o próprio quem desconsidera o seu trabalho, referindo-se ao tema como o fruto do "desespero da falta de ideias".
Talvez isso tenha sucedido, mas se o resultado da falta de ideias de David Gilmour é algo como "The Narrow Way", é fácil entender que este seja o mesmo homem que viria a criar as partes de guitarra de "Shine On You Crazy Diamond", "Comfortably Numb", "Time" e tantos... tantos outros.

domingo, 10 de julho de 2011

Foo Fighters - "Best Of You"

"Is someone getting the best of you?"



Grande, GRANDE concerto dos Foo Fighters na última 5ª Feira, no Optimus Alive.
A banda está provavelmente na fase de maior popularidade da sua carreira (Dave Grohl referiu-se a isso mesmo durante o concerto) e isto notou-se bem pelo entusiasmo que havia no Passeio Marítimo de Algés. Sempre que a banda "puxava" como um tema mais rápido ou com um dos clássicos, os níveis de adrenalina na audiência batiam nos limites. Os meus com certeza que batiam. Já há muito tempo que não sentia este tipo de adrenalina colectiva num concerto.

Os Foo Fighters surpreenderam-me pela positiva a quase todos os níveis. Só foi pena que, no meio das 2 horas e meia de concerto, tenha havido demasiados temas mais lentos e/ou desconhecidos, em detrimento de algumas malhas que ficaram por tocar (não muitas, felizmente). Talvez isso tenha servido para deixar a banda recuperar o fôlego.

Para mim, este foi um concerto que deixou várias marcas: começando pela enorme dor de costas, passando pelo pescoço que mal se mexe, a voz que rebentou por completo... e uma enorme sensação de prazer. Estranho? Talvez, mas é isto mesmo que é um concerto Rock e os Foo Fighters surpreenderam-me ao mostrarem que sabem fazê-lo como poucos.

Depois do tema "Walk" do novo álbum, Dave Grohl deu o mote para o que deve ser uma banda de Rock e um concerto Rock (a partir do segundo 4:20):



"Ladies and gentlemen, Foo Fighters are a Rock N' Roll band... We don't need fuckin' computers, ok?
We made this record in my fuckin' garage, with a fuckin' tape machine!
Everything you hear tonight, right now, is the fuckin' Foo Fighters, ok?
So if you gonna see a Rock N' Roll band and you think there is a fuckin' computer on stage, just remember this...
Rock N' Roll is all about people and instruments and not fuckin' computers, ok?"

Lapidar.

Já durante toda a década de 70, os Queen (uns dos heróis dos Foo Fighters) orgulhavam-se de fazer música apenas com guitarras, baixo, piano e bateria, colocando sempre nos seus álbuns o dístico: "No synths!".
40 anos depois, os Foo Fighters mostram qual é a sua escola e qual é o caminho que escolheram percorrer... e que grande e acertada escolha eles fizeram.

O momento mais emocionante da noite chegou com este fabuloso "Best Of You" e um coro de mais de 40 mil pessoas a cantar:

"ooooh,oh,oh ooooh,oh,oh"

"Best Of You" foi o single de avanço do álbum "In Your Honor" de 2005, o álbum pelo qual Dave Grohl espera que os Foo Fighters sejam relembrados. É um dos mais profundos temas da banda, que fala sobre o drama de ter o coração preso a alguém que não o merece, nem faz para o merecer...

"I’ve got another confession to make: I’m your fool"


Há uma semana, disse aqui que não era "propriamente um fã dos Foo Fighters". Depois de um concerto eufemisticamente memorável, o mínimo que hoje posso dizer é que os Foo Fighters ganharam pelo menos mais um fã: eu.