quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Genesis - "Duchess"

"Yes times were hard, too much thinking about the future and what people might want"



"Times were good, she never thought about the future, she just did what she would"

A saída de Peter Gabriel dos Genesis, em 1975, obrigou a banda a procurar um novo rumo. Inicialmente, a ideia era procurar um novo vocalista, mas a maioria dos que se apresentaram para audição pareciam aspirantes a cópias de Peter Gabriel, tentando a todo o custo mostrar a sua excentricidade. Mal eles sabiam que era exactamente isso que os restantes membros dos Genesis queriam evitar.

Quem dava as indicações de como cantar as músicas nestas audições era Phil Collins, até então baterista e backing vocals dos Genesis. Com o álbum seguinte praticamente pronto, faltando apenas acrescentar as faixas vocais, a banda decidiria desistir das audições e aproveitar os inegáveis dotes vocais de Phil.
E foi assim que Phil Collins saltou para a frente do palco dos Genesis e nasceria uma carreira brilhante no Rock e Pop das décadas seguintes.

O álbum "A Trick Of The Tail" - o primeiro dos Genesis com o quarteto Banks/Rutherford/Collins/Hackett - foi um sucesso de vendas, superando todos os trabalhos anteriores dos Genesis, incluindo "Selling England By The Pound". No entanto, Steve Hackett e a restante banda pareciam estar a mover-se em direcções diferentes e após a digressão de "Wind And Wuthering", Steve deixaria a banda.
Estava então completa a formação mais duradoura dos Genesis: o trio Banks/Rutherford/Collins. O álbum seguinte chamar-se-ia, apropriadamente, "...And Then We Were Three".

"And she dreamed that every time that she performed, everyone would cry for more"

Porém, "...And Then We Were Three" foi um tiro ao lado, um álbum onde se notava que o trio Banks/Rutherford/Collins já não estava muito à vontade com o Prog. Para além disso, em 1978 a banda estava exausta depois de uma década de constantes gravações em estúdio e digressões.
Naquele cenário, o trio não iria longe e à chamada de aviso de Phil Collins, que queria voltar a casa para salvar o seu casamento, Banks e Rutherford responderam-lhe com uma proposta irrecusável: 1979 seria um ano de férias para os Genesis.

"She battled through, against the others in her world, and the sleep, and the odds"

Mas as coisas não correram bem para a vida pessoal de Phil Collins.
Enquanto o seu casamento desmoronava, Phil vivia nesta altura uma das fases mais prolíficas da sua carreira. Durante o aftermath do casamento, Phil escreveu "Face Value" - o seu primeiro álbum a solo e ainda hoje o mais aclamado da sua discografia a solo - e ainda emprestou aos Genesis dois temas para o novo álbum: "Misunderstanding" e "Please Don't Ask". Tudo isto no mesmo ano.

Em 1980, depois de um ano de hiato, os Genesis voltaram ao estúdio e assim nasceu o superlativo "Duke".

"Duke" representa o ponto alto da formação em trio dos Genesis. É a fusão perfeita entre o Rock Progressivo que ficara para trás em "...And Then We Were Three" e o Pop Rock que viria a seguir, mais influenciado por Phil Collins e cristalizado no álbum "Invisible Touch" de 1986. Em "Duke", os Genesis juntaram peças longas reminiscentes dos seus anos progressivos, mas também usaram Drum Machines, um instrumento proibitivo do Rock Progressivo.

É esse o caso deste fabuloso "Duchess".

"Duchess" faz parte da suposta "Duke Suite", uma sequência longa, inicialmente prevista para ocupar um lado inteiro do álbum (à imagem, por exemplo, de "Supper's Ready" do álbum "Foxtrot") e que consistia em:
- "The Duke" (mais tarde baptizado de "Behind the Lines")
- "Duchess"
- "Guide Vocal"
- "Turn It On Again" (alegadamente, mas aqui sou obrigado a pôr as minhas dúvidas, uma vez que não vejo grande relação entre "Turn It On Again" e as restantes partes)
- "Jazz" (faixas mais tarde separadas e baptizadas de "Duke's Travels" e a instrumental "Duke's End")


Deste grupo, sobressaem obviamente "Duchess" e "Turn It On Again", como faixas que se fazem valer por si só.
"Turn It On Again" foi lançado como o single de avanço de "Duke" e tornou-se num dos singles de maior sucesso dos Genesis até à data, fixando-se também como um dos temas obrigatórios em concerto.
"Duchess" seguiu-lhe como o 2º single e, embora não tenha obtido grande sucesso nas tabelas, é visto por Tony Banks como o melhor tema de sempre dos Genesis, eventualmente profetizando a História real da banda, desde o ido passado em 1980, até ao futuro que ainda aí viria.

"And all the people cried, you're the one we've waited for"

O vídeo foi gravado junto ao Liverpool Empire Theatre e mostra Phil Collins num novo visual de barba comprida, na minha opinião, o mais cool de sempre. Visual esse que eu tentei, com sucesso, imitar durante alguns meses nos meus tempos de estudante.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Héroes del Silencio - "Entre dos Tierras"

"Entre dos tierras estás y no dejas aire que respirar"




"Déjame!! Que yo no tengo la culpa de verte caer, si yo no tengo la culpa de ver que..."

Numa das muitas tertúlias musicais que tinha em tempos com um velho amigo, um dia mencionei esta famosa introdução de guitarra em delay ("tan (tan tan) tan (tan tan)"... e por aí fora), ao que ele sorriu e disse: "Estes espanhóis sabem o que fazem".
E sabem mesmo.

O tema é o fabuloso "Entre Dos Tierras" dos Heroes Del Silencio, um hino Rock latino, que me acompanhou ao longo de várias fases da minha vida.
Aquando do seu lançamento, em 1990, como single de avanço do álbum "Senderos de Traicion" (que foi recentemente eleito pela Rolling Stone como o 2º melhor álbum espanhol de sempre), "Entre Dos Tierras" foi um smash hit não só em toda a Espanha, mas também nas rádios locais de onde eu cresci. Durante um longo período de tempo, não havia dia nenhum que não ouvisse este tema inadvertidamente, pelo menos uma vez.


Os anos passaram e eu deixei de ouvir "Entre Dos Tierras" com tanta frequência.
Passara para a época eu que teria que ser eu a procurar a música que queria ouvir. E assim surgiu novamente "Entre Dos Tierras", que adoptei como uma espécie de hino da noite na juventude.
Neste sentido, costumo dizer que há sempre uma maneira de salvar uma noite, mesmo as mais amorfas: é com Heroes Del Silencio e este imperdível "Entre Dos Tierras". Não sendo propriamente um êxito recente, é por isso inevitável que este seja um dos temas que mais requesitei a DJ's ao longo dos anos.

Para mim, "Entre Dos Tierras" não só o melhor tema que conheço do Rock espanhol (diria até do Rock não falado em inglês), como também um dos melhores temas Rock de sempre.
Mais do que isso, "Entre Dos Tierras" tornar-se-ia também num dos temas preferidos do meu Pai, o que faz com que aquela entrada com as guitarras em delay signifique muito mais do que a chegada de mais um tema Rock... mas sim uma experiência familiar.

domingo, 2 de outubro de 2011

Red Hot Chili Peppers - "Can't Stop"

"The world I love, the tears I drop, to be part of the way I CAN'T STOP, ever wonder if it's all for you?!"



Os Red Hot Chili Peppers têm aquela sonoridade muito própria, de quem trouxe um cheirinho Funk ao Rock. Não é um original deles, mas é algo que não havia muito no mainstream, quando explodiram em 1991 com "Give It Away".

A procura do ritmo, do groove, é algo que sempre assumiu grande importância nas música dos Red Hot. Tanto nos seus trabalhos mais antigos, nos anos 80 e 90, como nos álbuns mais recentes.
É o caso deste "Can't Stop", do álbum "By The Way" de 2002.

O álbum "By The Way" foi escrito no período mais feliz da banda, na sequência do mega-sucesso de "Californication", durante os late 90's e early 00's. Um mega-sucesso que não foi marcado por tragédias ou conflitos, como em outras fases da carreira dos Red Hot. "Californication" foi um álbum que marcou indelevelmente a minha geração. O seu sucesso foi tão grande, que durante 2 anos foram lançados singles de promoção ao álbum. Parecia uma mina sem fim para as rádios.

A recepção de "By the Way" foi assim feita com grandes expectativas, não só pelos fãs, como também pelo público em geral, que tinha sido brindado massivamente com os Red Hot na rádio e na televisão nos anos anteriores.
O primeiro single foi "By The Way" e eu confesso que, mesmo gostando, não fiquei muito impressionado. Já o segundo single - "The Zephyr Song" - revelou-se como o tema que mais abomino dos Red Hot. Não sei porquê, mas não me entrou no ouvido. Não entrou na altura e continua a não entrar hoje.

Foi só com o 3º single que o jogo mudou.
"Can't Stop" foi lançado em Janeiro de 2003, meio ano depois do lançamento de "By The Way" e fixou-se como o meu tema de eleição dos Red Hot Chili Peppers (ainda hoje o é). Mais que isso, mostrou-me que eles ainda tinham muito na manga.


Na mimha opinião, quem brilha com maior intensidade em "Can't Stop" é o guitarrista John Frusciante. John marca o ritmo com as suas simples frases na guitarra (o início até é reminiscente do Reggae, um género do qual nem gosto particularmente), mas mais que isso, confere com as suas harmonias vocais um estado de graça ao tema. Sublime.

Para além das virtudes musicais de "Can't Stop", a lírica deste tema é algo com que me identifico pessoalmente. As palavras de Keidis funcionam de forma salpicada e algo arbitrária, mas inserem-se todas na mesma temática: a condição inquieta e desassossegada do ser humano.
Não de todos obviamente.
Mas para quem vive em constante urgência de resolução;
Para quem não se limita a uma vida levada pela corrente;
Para quem não consegue parar;
Para essas pessoas... este tema toca nalguns botões.

"Choose not a life of limitation, distant cousin to the reservation!"

A lírica em "Can't Stop" está exposta de forma a que o ouvinte se possa identificar com pelo menos alguns dos pontos abordados. Kiedis descreve vários factos da sua vida, mas sem especificar o seu sentido pessoal, permite ao ouvinte adoptar a canção para si mesmo, como um hino da sua própria vida.

"Can't stop the spirits when they need you, this life is more than just a read thru"