quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Supertramp - "School"

"I can see you in the morning when you go to school"



Foi na 6ª feira passada - já faz quase uma semana - mas ainda não me saiu da cabeça o concerto de Roger Hodgson no Hipódromo de Cascais.

Para quem o nome é estranho, Roger Hodgson foi um dos elementos fundamentais dos Supertramp, durante os seus anos dourados, entre 1974 e 1983. Roger e Rick Davies formaram uma parceria de compositores (ala Lennon-McCartney ou Jagger-Richards) que deu à banda 3 álbuns de luxo ("Crime Of The Century", "Even In The Quietest Moments..." e "Breakfast In America") e uma série de êxitos que levaram os Supertramp a um sucesso estratosférico em 1979, fazendo de "Breakfast In America" o álbum mais vendido do Mundo naquele ano.

Mais do que o sucesso, o que fica do legado de Roger Hodgson e Rick Davies é uma sonoridade única, inconfundível, nos álbuns clássicos dos Supertramp. A harmónica, o piano eléctrico Wurlitzer, bem como a restante bateria de instrumentos de teclas e todos os outros subtis adornos da paisagem sonora que os Supertramp tão bem sabiam utilizar. À custa desta identidade sonora muito própria, ao ouvirmos um qualquer trecho de um álbum dos Supertramp entre 1974 e 1983, imediatamente reconhecemos quem está a tocar.

"It's always up to you if you want to be that, want to see that way"

Como em quase todas as parcerias de sucesso na música (tirando Elton John/Bernie Taupin, não me lembro de outra que tenha prevalecido no tempo), Roger e Rick viraram costas um ao outro em 1983 e seguiram caminhos separados. Roger aventurou-se a solo e Rick continuou com os Supertramp.
Em 2010, tive a oportunidade de ver os Supertramp no Pavilhão Atlântico, na sua digressão de reunião "'70-10", que comemorava os 40 anos da banda. Reunião, mais ou menos, uma vez que um dos membros-chave - Roger Hodgson - não estava presente. O concerto foi muito bom, muito polido e profissional.
Foi bom, mas foi "só" isso, não andei com aquela noite a ressoar na minha cabeça durante uma semana.

Com Roger Hodgson foi bem diferente, incrível. Incrível, mesmo.
A noite foi memorável; já tinha começado da melhor maneira com os Level 42 e o slapping bass de Mark King - um baixista dotado de uma técnica ímpar.
Mas o melhor veio depois. Apresentando uma setlist com 90% de material dos Supertramp, o concerto de Roger Hodgson foi tão bom, tão belo, tão harmonioso, que em partes chegava a doer, de tão bom que estava a ser. Partes houve, em que a linha que separa o deleite do sofrimento ficava esbatida, com a ultra-estimulação dos sentidos. O concerto valeu-me uns quantos arrepios na espinha.

Enquanto eu ia cuspindo umas interjeições do tipo "Brutal!", ou "Espectáculo!", nos intervalos entre temas, ou entre secções da mesma música (não esquecer que os Supertramp fizeram muito Rock Progressivo), o amigo que me acompanhava estava sem palavras, limitava-se a sorrir. Esse amigo é de uma geração à frente da minha, com poucos anos de diferença do meu Pai, é alguém que viveu os Supertramp in loco. Ele nada dizia, trazia apenas consigo um sorriso aberto, inocente, idiota, qual miúdo de 10 anos a abrir os presentes na noite de Consoada.

Quanto a mim, o efeito do concerto de 6ª feira foi tal que, desde então, ainda não consegui parar de ouvir Supertramp.
Para celebrar esta semana inundada de Supertramp deixo aqui "School", tema que Roger Hodgson foi buscar logo no início do concerto. "School" abriu o álbum "Crime Of The Century" de 1974, com aquela inconfundível harmónica e à semelhança do tema-título "Crime of the Century" foi uma composição de facto conjunta de Roger e Rick.



A poucos dias de embarcar para Londres, para aquele que espero que seja um dos concertos do ano - Roger Waters ao vivo no Estádio do Wembley, com o álbum "The Wall" - outro Roger já elevou a fasquia, e de que maneira.