quinta-feira, 21 de março de 2013

Wham! - "Club Tropicana"

"Club Tropicana, drinks are free!"


Agora que o blog parecia ter ganho alguma reputação como um espaço de antologia do Rock Alternativo, chega a altura de voltar a baixar os níveis de snobismo e distinção. Chega a altura de voltar a puxar pela minha banda fetiche dos anos 80 e aquela que é, na minha opinião, a melhor banda Pop de sempre: os Wham!.

"Melhor banda Pop de sempre? Que heresia!"... já estou a ouvir. Calma, eu explico.
Os Wham! foram um duo britânico formado por George Michael e Andrew Ridgeley, um duo de vida curta, mas meteórica, brilhando incandescentemente na sua passagem. Como já referi aqui, de 1982 a 1986, os Wham! lançaram 9 singles no Reino Unido e TODOS, entraram para o Top 10 das tabelas, sendo que 4 deles chegaram ao 1º lugar.
É um registo avassalador, que ilustra o impacto das músicas de George Michael no Mundo de então.

Perguntem a qualquer "quarentona" de hoje, como é que era com as meninas na escola e os Wham! (principalmente o George Michael), na primeira metade dos anos 80. Era a loucura. Justin Bieber, Tokio Hotel e quejandos não têm paralelo com o fenómeno da época. Basta fazer um exercício simples de observação das tabelas para o confirmar.

Mas eu sei que agora toquei num assunto delicado: será que a popularidade e a qualidade são duas variáveis directamente relacionáveis? Claro que não.
Os Wham! foram um fenómeno de popularidade, é um facto; mas foram muito mais do que isso. Artistas Pop de hoje como a Rihanna, ou o já referido Justin Bieber, são puros produtos de venda ao público, de mérito artístico ínfimo. São "artistas" (as aspas são devido ao abuso linguístico da derivação da palavra "arte") cujas carreiras são milimetricamente projectadas ao detalhe, desde a escolha dos grooves, passando pelas letras, pela produção, pela imagem e claro, pela promoção. É como o fabrico de um carro, ou de um qualquer produto de produção em série: tudo resulta de decisões de um conjunto "executivos", com propósito puramente comercial. No fim de contas, "arte" é coisa que ali não mora e o "artista" pouco tem a ver com o processo, a não ser dar a cara para o público.

E quanto aos Wham!? Não eram eles também um produto comercial, com forte componente de imagem? Em parte, claro que sim. Também os The Beatles tinham sido nos anos 60, no auge da Beatlemania. Mas ao invés de serem um produto concebido por "executivos" da editora, sentados num escritório, os Wham! eram um produto saído somente da cabeça de George Michael. Parecendo que não, é diferente: chama-se criatividade.
George era o cantor, o compositor e o produtor da banda; e ainda tocava vários instrumentos nos discos. Tudo isto quando tinha ainda 18 anos.
Andrew Ridgeley, o outro membro do duo, estava lá basicamente a "fazer número", servindo para atrair uma faixa etária mais velha. Ainda hoje se pergunta exactamente o que é que Andrew fez, ou contribuiu realmente pelos Wham!.
Em suma, o George Michael era os Wham!.

Na primeira metade dos anos 80, os Wham! disputavam o trono de maior banda Pop do UK com os Duran Duran e os Culture Club (de Boy George). Mas enquanto os Culture Club (nunca consegui apreciar esta banda) se apoiavam mais no Reggae e os Duran Duran eram uma banda da onda New Wave e Synthpop, com um travo de Rock, os Wham! trouxeram outro prato para a mesa: o Soul e a Disco.
Os Wham! foram uma espécie de Motown britânica dos anos 80. Música negra americana, para jovens brancos britânicos.
Ainda arrisco mais: George Michael, sozinho, foi a Motown britânica dos anos 80. Com a histórica editora Soul em fase de declínio (Lionel Richie e o seu "Can't Slow Down" foi um caso raro, que manteve a Motown no topo no UK), George Michael assumia o papel principal de voz do Soul no Reino Unido. O prémio pessoal viria em 1987, quando foi "galardoado" com um dueto com uma das suas referências: Aretha Franklin, em "I Knew You Were Waiting (For Me)".

Mas já me estou a afastar do assunto.
Tudo o que está em cima serve apenas para reiterar que os Wham! tinham muito mais sumo do que vos possam fazer querer. Gostar dos Wham! pode ser visto como foleiro, mas não gostar deles por causa disso só pode ser visto como estúpido.

O tema que aqui deixo é "Club Tropicana", 3º single retirado de "Fantastic" - o álbum de estreia dos Wham!. O tema chegou ao 4º lugar e foi o último antes da grande explosão dos Wham! com o lançamento de "Wake Me Up Before You Go-Go".


Mas se é verdade que eu não nutro grande simpatia por "Wake Me Up", já sou um grande apreciador de "Club Tropicana". Afinal, no "Club Tropicana", as bebidas são à borla ("drinks are free!") e não há como não gostar disso.

O vídeo, filmado em Ibiza, prova que os Wham! eram imbatíveis também no kitsch. Nesta pérola da boa disposição, temos um pouco de tudo.

George e Andrew a tocar trompete:

George a beber cocktails na piscina:

George de tanga na praia:

George no chuveiro:



(Este espaço foi propositadamente deixado em branco,
uma vez que até este blog tem limites no kitsch)





Mas acima de tudo, temos este Senhor com um espectacular bigode:



Conhecem a expressão "é tão mau que é bom?" A origem dela pode ter vindo do vídeo de "Club Tropicana". Aqui, o "mau" é "bom" e é tão bom, que é óptimo.
Não tenham medo de gostar dos Wham!. A sério, vão ver que é fantastico e vão ver que não dói nada.

2 comentários:

  1. Lol, defendes bem os Wham (ou melhor o George Michael) e tens aí argumentos bastante pertinentes principalmente a questão do fabrico de "artistas" e da criatividade mas mesmo assim são banda que não me cativa :P
    Quando era miuda gostava bastante, lembro-me de uma K7 que a minha mãe tinha e eu ouvia várias vezes. Mais uma daquelas lembranças de infância engraçadas :)

    (e pronto, já fiquei com a "Wake Me Up Before You Go-Go" em loop na cabeça... é fatal como o destino sempre que ouço falar deles e mesmo que o tema nem seja essa música em particular :/ lol)

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    1. Estes são dos posts que mais prazer me dão escrever :)

      Defender o George Michael, para um amante da pureza do Rock, pode parecer inusitado, mas está longe de ser um contra-senso.
      Na nossa vida, vivemos diversas emoções diferentes e para cada uma delas pode haver um som diferente. Há espaço para tudo, inclusivamente para a Pop. Mas não para toda a Pop, porque ela não é toda igual. E aqui é que está a chave: o que não se pode fazer, de maneira nenhuma, é por o George Michael no mesmo saco dos outros "artistas" Pop.

      Um gajo que tem uma voz divinal, que escreve a sua música e respectivas letras, que produz e que, se tal for necessário, toca todos os instrumentos nos seus temas, não pode ser equiparado a "fruta do chão" como a Rihanna e quejandos.

      Quando faço um post deste género, apoiado nesta argumentação, a malta hipster, ensinada a ver os Wham! como uma "cena not cool", fica com dificuldade em ripostar. Eu já ouvi de tudo (incluindo o clássico: "como é que gostas da música desse paneleiro?"), mas cá continuarei para defender os Wham! :)

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