quinta-feira, 3 de setembro de 2020

George Michael - Listen Without Prejudice 30

"And if these wounds, they are self inflicted. I don't really know how my poor heart could have protected me" 

Nestes dias, sempre que decido escrever sobre um dos meus heróis, sinto que já não tenho mais nada a dizer sobre ele. Não admira. O blog já tem 10 anos e já escrevi (quase) tudo o que tinha para escrever sobre os artistas que marcaram, mudaram e salvaram a minha vida. Não resta nada, penso sempre.

Até que acontece um dia como este, um dia que o meu saudoso avô Artur chamaria sabiamente de um "dia de um filha da puta", um dia em que tudo corre mal, tudo sai ao contrário. Chego a casa com a cabeça em papa, abro o Facebook e vejo que faz hoje exactamente 30 anos que foi lançado o meu álbum favorito de 1990 — "Listen Without Prejudice Vol.1". Nem de propósito, era mesmo este o disco que eu precisava de ouvir. E tal como aconteceu em tantos outros momentos da minha vida, o George apareceu outra vez. Sempre para me salvar o coiro. Sempre quando mais precisava dele.

É por isso que amo o George. Ele esteve lá sempre que eu precisei e a única coisa que pediu em troca foi um pouco de atenção e que eu lhe fosse comprando os (poucos) discos que ia lançando. Nunca lhe faltei com a minha parte.

"Listen Without Prejudice Vol.1" é um álbum pivotal na vida do George. Marca a sua passagem de artista mercantilizado como sex symbol, de boy toy, para o que ele achava ser um artista sério.  George queimou as suas roupas no clip de "Freedom '90" e deixou de aparecer nos próprios vídeos. George já tinha tido a sua Beatlemania e queria agora o seu Imagine. E tal como John, George buscou a sua afirmação artística na procura pelas emoções mais viscerais, na aposta na estética minimalista e adicionou-lhe infusões de Jazz e Bossa Nova que atiraram o álbum "Listen Without Prejudice Vol.1" para um patamar de excelência raramente alcançado na Pop. Não admira que o público americano não o tivesse compreendido.


(Review hilariante do álbum Older, a pedir o George de Faith de volta. Em suma, gente que não gosta do George.)

Lançado a 3 de Setembro de 1990, "Listen Without Prejudice Vol.1" foi um sucesso no UK, onde vendeu ainda mais cópias que "Faith". No US, foi um suicídio artístico. Quem é que o George pensava que era? Armado em Bob Dylan, ou Leonard Cohen? O público americano conhecia o George de calças de ganga, casaco de pele e crucifixo na orelha esquerda e queriam mais. Mas o George estava mais preocupado em ser levado a sério. Sempre demasiado preocupado com o que os outros achavam dele, o nosso George. As putas das inseguranças que o atemorizavam e que o levaram daqui. E que ele deixou tão explícito no tema de fecho do disco, "Waiting (Reprise)": "All those insecurities that have held me down for so long, I can't say I've found a cure for these, but at least I know them, so they're not so strong.". Ninguém escrevia sobre inseguranças como tu, George. Que saudades.

"Please be stronger than your past, the future may still give you a chance"

Fiquem, pois, com um cheirinho late night da obra-prima maior da carreira do George, última faixa do Lado A de LWPv1 — "Cowboys And Angels":


P.S.: Tenho há anos em rascunho um post sobre o nunca lançado "Listen Without Prejudice Vol.2", cancelado devido ao conflito do George com a sua editora, a Sony. Afinal ainda há mais umas coisinhas para escrever.

2 comentários:

  1. Como se fosse possível esgotar tudo o que tens para escrever ;)

    Percebo bem as inseguranças do George. Ainda bem que mesmo assim ele continuou a fazer música para die-hard fans como tu.

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