segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Pink Floyd - "Pigs (Three Different Ones)" (Live)

Pink Floyd: 40 anos depois de "Animals", os porcos triunfaram mesmo

O mais irado e niilista de todos os álbuns foi lançado há 40 anos. 



"Animals" foi a adaptação à música da visão distópica de George Orwell em "Animal Farm" ("O Triunfo dos Porcos", na sua spoiler tradução portuguesa). Foi também o álbum que fez implodir os Pink Floyd (como não?), mas não é disso que vos falo hoje, até porque esse assunto já está bem escapelizado aqui e aqui. Hoje falo-vos da carga política do álbum mais irado e niilista dos Pink Floyd.

Como todas as grandes obras de arte, "Animals" é tão relevante hoje como no dia em que foi desvendada. No caso em concreto, podemos até dizer que é mais relevante hoje do que há 40 anos.
Se é verdade que a profecia de Orwell estava lá desde 1945, ela parecia exageradamente dantesca para que alguém acreditasse que poderia ter fundamento para além da revolução pós-czar soviética. Ouvíamos "Animals" com a mesma candura que visionamos entre pipocas qualquer filme do "Matrix", demasiado longínquo e fantasioso para nos preocupar para além das duas horas em frente ao ecrã.

Ninguém diria que chegaríamos aqui. Neste reality show 24/7 que mais se assemelha a um episódio de Black Mirror, os factos passaram a ser debatíveis (veja-se a secretária de imprensa de Trump a falar em "factos alternativos"), a ciência misturou-se com a opinião (Trump já expurgou todas as menções do aquecimento global do site da presidência) e a fronteira entre a realidade e a fantasia tornou-se difusa.



Todos somos culpados. Amolecidos por esta overdose tecnológica, demos as nossas regalias como garantidas, desprezámos a História e esquecemo-nos que as acções têm consequências. Começámos por tomar Trump como uma anedota; depois achámos que ele iria moderar o seu discurso no fim das primárias; depois durante a campanha; depois chegado à Casa Branca. Nunca o fez. Ignorámos o perigo que batia à porta e sem que nos déssemos conta, ele está aí. 40 anos depois de "Animals", 72 após "Animal Farm", os porcos triunfaram mesmo.

O que é que isto nos interessa? Deste lado do Atlântico, a cinco mil quilómetros e um oceano de distância, podemos olhar para tudo isto como um grande reality-show que acompanhamos todos os dias ao jantar; podemos fazer como os americanos e ignorar o perigo que representa uma criança de 5 anos num corpo de adulto chegar à presidência da maior potência económica mundial, ao dispor do maior arsenal bélico do planeta. Isso, ou então perceber que quando a América espirra, a Europa constipa-se e que tudo leva a crer que o futuro próximo é imprevisível.

O que fazer? Em primeiro lugar, evitar que o efeito dominó comece a fazer efeito e proteger as democracias europeias do populismo que levou os EUA a este ponto. O mundo mudou muito e muito rapidamente e é hoje um lugar diferente daquele que conhecemos há 10 ou 20 anos, quando quer que nos deixámos dormir e não percebemos que a precariedade do trabalho e da educação poderia levar o povo a tomar decisões inenarráveis, como eleger um pateta para seu líder. É preciso fazer uma purga na classe política e injectá-la com mais gente qualificada e menos demagogos jotinhas que só lá estão porque não tiveram capacidade de ganhar a vida em mais lado nenhum.
Já não basta andarmos com activismos de Facebook para depois ir para a praia em dias de eleições. Aliás, se há uma lição que se pode tirar destas eleições americanas é que o voto conta e que é fundamental votar. Só assim se protege a democracia. É capaz de ser hora de acordar.

...ou, como diz o Roger, a resistência começa hoje:




P.S.: O blog já leva 7 anos e este é o primeiro post sobre política. É revelador dos tempos em que vivemos.

2 comentários:

  1. Curiosamente esse vídeo apareceu-me ontem no feed (o do concerto no México) porque fizeste like ;) acabei por vez e pensei muito do que dizes aqui. É assustador e surreal o rumo que as coisas tomaram nos últimos anos...

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    1. Surreal é mesmo a palavra. Durante anos pensámos que o tempo dos déspotas tinha ficado para trás e que as democracias nos iriam proteger. Esquecemo-nos que figuras históricas como Hitler foram eleitos democraticamente.
      Já não basta andarmos com activismos de Facebook para depois ir para a praia em dias de eleições. Aliás, se há uma lição que se pode tirar destas eleições americanas é que o voto conta e que é fundamental votar. Só assim se protege a democracia.

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