segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Phil Collins - "I Cannot Believe It's True"

" I think it must have slipped your mind, but I remember not so long ago I gave it all, it's gone and I gave it all to you"


Agora que está confirmado o regresso de Phil Collins aos espectáculos, esta crónica que escrevi em Janeiro sobre a necessária reapreciação do seu valor faz mais sentido que nunca.
Independentemente do passado, sobra-me dizer mais umas coisas sobre o Phil e a sua nova digressão.

Vi a conferência de imprensa do anúncio da digressão em directo. Deu-me pena. Adoro o Phil, para mim é como um tio não muito afastado que esteve sempre "ali" durante a minha vida. É difícil vê-lo tão fisicamente e animicamente acabado, cheio de ressentimentos (confessou que reatou com a última mulher, mas que esta "não lhe devolveu o dinheiro que lhe tirou") e uma sombra do poço de vida que já foi.

Phil sempre teve muita dificuldade em lidar com a visão que o mundo tinha sobre ele. Primeiro quando o elevaram a superestrela depois de ter feito um álbum intimista e silencioso sobre o seu próprio divórcio. Depois quando o atiraram para objecto de anedotas por ter continuado a fazer o que sempre fez.
Phil nunca conseguiu lidar com esta reviravolta mediática e como primeira defesa, isolou-se. Sem perceber que os Genesis eram a entidade que em última instância o protegia, enxotou-os da sua vida depois de Knebworth em 1992 (sempre Knebworth como cemitério) e quando as coisas pioraram no fim dos anos 90 e início dos 00s, Phil isolou-se ainda mais - quis uma reforma prematura, retirando-se da música agastado, surdo e sociologicamente queimado.

Quando voltou para casa para ser um pai a tempo inteiro, Phil foi recebido com o embate de um camião TIR: a mulher pediu-lhe o divórcio, levou-lhe os filhos, tirou-lhe o dinheiro e Phil ficou sozinho, agora sim, completamente isolado. Seguiram-se anos de depressão, alcoolismo solitário no sofá e conversas com a linha do suicídio. Até Peter Gabriel teve que intervir na situação, para salvar o seu amigo Phil.

Eventualmente Phil começou a trepar lentamente para fora do buraco em 2014, a sua ex-mulher aceitou-o de volta (ficando com o dinheiro, como ele próprio sublinhou) e chegámos ao dia de hoje, em que ele anuncia uma digressão. E eis que pela enésima vez, desde que despachou os Genesis em Knebworth, Phil volta a tomar uma decisão errada.

Phil volta para um punhado de espectáculos a solo no Royal Albert Hall, em Colónia (terra santa para os Genesis, deuses eternos das Alemanhas) e em Paris. Mas mais uma vez ignora que aquilo que realmente o protege e lhe faz bem é o chapéu-de-chuva dos Genesis.

O que Phil deveria ter feito era o seguinte: telefonava aos seus (verdadeiros) amigos Mike Rutherford e Tony Banks, deixava-os tratar de tudo e limitava-se a sentar-se num banco à frente do palco, a cantar as músicas dos Genesis para gáudio de milhares de pessoas que desesperam para o ver (eu! eu! eu!) interpretar aquelas canções especificamente. Acontecesse o que acontecesse, Phil teria sempre o apoio de Tony, Mike e da máquina dos Genesis. Assim, volta à estrada por sua conta e risco, vulnerável a tudo o que lhe possa cair em cima.

Dito isto, toda a sorte do mundo para o Phil. Whatever happens, I will always love you, Phil.

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