quarta-feira, 7 de outubro de 2015

David Gilmour - "Coming Back To Life" (live)

"I took a heavenly ride through our silence, I knew the moment had arrived for killing the past and coming back to life"



Rattle That Broken Fout Tour Journal

Tomo IV - Siga para Florença

Toda a vida ouvi maravilhas de Florença. Quando era pequeno, foi para lá o Rui Costa - o meu primeiro ídolo do futebol - e fiquei com o sonho de vestir aquela bela camisola patrocinada pela Nintendo. Não a vesti.
Falaram-me dos jardins (ao crescer em Castelo Branco, ouvia que o Jardim do Paço era uma miniatura dos alegadamente magníficos jardins de Florença). Não fui lá.
Falaram-me das praças, das catedrais, dos museus, das estátuas, da Galleria degli Uffizi, do Batistério de São João, da Ponte Vecchio. Tudo coisas que eu não vi, lugares onde eu não estive.
Falaram-me que ia ser uma viagem mágica, que Florença ia ficar comigo para sempre. Isso, vai. Porque a minha viagem a Florença não teve nada do que me falaram, mas teve mais um concerto de David Gilmour. O terceiro.

Recordo que na noite anterior tinha visto o segundo concerto da digressão, na Arena de gladiadores de Verona. Por isso não houve tempo para tretas de turismo. Na manhã seguinte, foi levantar e apanhar o Frecciarossa em direcção a Florença. Siga para bingo.

Chegado à estação de Santa Maria Novella, sigo directamente para o Ippodromo del Visarno.
Junto ao hipódromo, quase a bater nas seis da tarde, ouço sons de instrumentos vindos do palco. Estão a fazer o soundcheck! Começam com alguns temas do novo álbum. Nesta altura, dois concertos e outros tantos soundchecks depois, os temas já não constituem grande novidade. Até aqui, a setlist dos concertos fora sempre a mesma e não esperava grandes alterações para esta noite. Mas fico por ali. Para quê ver as maravilhas de Florença quando se tem a maior das maravilhas sonoras mesmo ao pé de nós?

Ouve-se um som grave. "É a introdução de "Sorrow"", penso. Confirma-se: David pratica o choro da sua Stratocaster. Ainda não ficou bem no "ponto", mas está quase.
Pausa.
Conversa-se no palco. Volta a ouvir-se o mesmo som grave. toum-toum... tãe-tãe... "Coming Back To Life"!!! Quatro notas chegam para identificar novo elixir da alma retirado de "The Division Bell". É a novidade da noite, espero.

Na foto não dá para ver, mas por trás daquelas árvores vem o som de "Coming Back To Life".

Ao contrário do concerto de Verona, em Florença há lugares marcados, por isso a entrada é feita de forma ordeira e lá dentro, salvo alguns grupos demasiado entusiastas, está um ambiente relativamente pacífico. Pelo menos até eu ter a brilhante ideia de comprar um Tour Program. Vendo o motim à frente da barraca do merchandising, hesito. Mas "estou de canadianas", penso. "O que é que pode correr mal?". Mal sabia eu.
Aproximo-me da multidão junto ao merch e não passa muito tempo até que se dê início ao empurranço... Que poucos minutos depois, dá lugar ao esmagamento. Canadianas? Who cares? Os italianos de certeza que não. Ao meu lado está um senhor com os seus 50 anos, aspecto fino de latifundiário da Toscana, que me põe a mão na cara e me empurra para trás para ganhar posição, num gesto que na grande área daria lugar a penalty. Siga para bingo.

O concerto (o terceiro) foi, musicalmente, o melhor de todos. Depois da insegurança de Pula e da tensão de Verona, em Florença, a banda já estava coordenada e saiu tudo quase ao milímetro. E tivemos, claro, a grande novidade: "Coming Back To Life". Faltou a mística das arenas romanas, a virgindade de Pula e a electricidade de Verona. Lados diferentes das mesmas moedas. Florença foi mais polido, mas também mais previsível.

Fiquem com "High Hopes":

David Gilmour - "High Hopes" live at Ippodromo del Visarno, Firenze

Posted by Nuno Bento on Quarta-feira, 16 de Setembro de 2015


No fim do terceiro concerto em apenas quatro dias, já estava habituado a isto. Tirar-me esse hábito foi como se me privassem da minha heroína (não que eu já tenha passado por essa experiência, ok Mãe? Eu sei que lês isto), mas já não dava mesmo para seguir David para Orange, demasiado fora de mão. A Oberhausen, foi o "Miguel" (esse mesmo) e a Londres, só se fosse doido, tendo em conta os preços dos bilhetes para o Royal Albert Hall. Era preferível ir aos EUA, ao outro lado do Mundo, na légua de 2016 da digressão, do que ir a Londres. Por isso, olhem, vou mesmo (por esta é que não estavas à espera, não é Mãe?).

Em 2016, lá estarei em Los Angeles, no histórico Hollywood Bowl, casa de noites lendárias de Beatles, Elton John e tantos outros, para mais duas doses de David (com possibilidade de uma terceira, no Forum de Inglewood). Siga para bingo.



2 comentários:

  1. Volto a repetir: imperdoável ir a Florença e passar ao lado de tanta coisa!! :P Agora tens mesmo de voltar para ver o outro David (o do Michelangelo) :P ainda bem que ao menos o concerto foi tão bom, dá para compensar ;)

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    1. Eu só tive a noção do crime quando vi as TUAS fotos de Florença no Facebook, umas semanas mais tarde. :P
      Tenho que voltar mesmo!

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