segunda-feira, 6 de abril de 2015

The Stone Roses - " I Wanna Be Adored"

"I wanna, I wanna, I wanna be adored"


"Ram On"  UK Spring Tour Journal 
(Part 1)

Eu sei que vos tenho andado a falhar, mas foi por uma boa causa. Com o pretexto inicial de visitar um amigo que se mudou para York (chamemos-lhe "Rui"), andei uma semana em digressão pelo UK, mas na verdade, andei mesmo atrás de música (foi fácil encontrá-la, respira-se música ali). Como todas as outras viagens que faço, acabou por se tornar num Rock Film, cheio de sexo, álcool e Rock N’ Roll. Mas sem a parte do sexo. A parte das drogas também foi omitida, que elas são caras e o dinheiro é preciso para comprar discos. Aliás, esse era o segundo propósito da viagem. O terceiro era o concerto do Noel Gallagher no Royal Albert Hall, em Londres. E quem sabe, a perspectiva de um concerto "secreto" do Noel no dia anterior. Mas lá chegaremos. Comecemos pelo início, em Manchester.

Dia 1 – Manchester / York
Chegado a Manchester, o frio. Muito frio. Nos ouvidos, o álbum de estreia dos Stone Roses. Que albão, uma banda sonora perfeita para dias de glória; mas dias de Verão. Como é que raio eles conseguiram fazer música tão quente, num clima tão gélido? Ah ok, os The Smiths também são daqui; e os Joy Division. Pensando bem, mesmo os Stone Roses pareciam estar sempre com frio:

Apanho o free bus de Manchester (autocarro de borla? Já estou a adorar isto) e vou para o Northern Quarter (a vermelho no mapa). Que bairro maravilhoso, tão british, tão charmoso, quem diz que Manchester é feio deve estar doido da cabeça.



Passo a pente fino todas as lojas de discos do bairro: Vinyl Exchange (tudo muito caro), Piccadilly Records (só vinil novo, muito caro também), Vinyl Revival (boa selecção de bandas de Manchester, já estamos a falar melhor), Beatin’ Rhythm (um espantoso espólio de singles 7’’; fixe, mas não é a minha cena), V Revolution (Punk), Eastern Bloc (Electronica), Empire Exchange (boas borlas, mas qualidade duvidosa) e Clampdown Records (melhor loja do Northern Quarter, com tudo o que é essencial). Uff... E tudo com uma mala de 20 kg atrás.

Trazia grandes esperanças, mas saio daqui frustrado. Vi bons discos, mas poucas pechinchas como em Camdem. Siga para York.
Nas palavras do "Rui", York é como Águeda, mas mais frio. Águeda uma porra, isto é mais como a Covilhã. Até já tenho saudades do frio de Manchester. Até o "Rui", que sempre disse que cachecóis eram para meninos, aqui está equipadíssimo com gorro, cachecol e múltiplas camadas de roupa. O que vale é que nos pubs está quente, bora para a noite.
O "Rui" quer mostrar-me todos os bares locais. Local pubs for local people. Em todos os bares por onde passo (e vão três!) toca o "Don’t Stop Me Now" dos Queen, para gáudio absoluto da pista. E eu pareço ser o único que sabe a letra de trás para a frente. Amadores... Mas é incrível, estamos em pleno 2015 e o Rei Freddie continua a dar cartas.
Entramos numa festa de estudantes. Não sei porquê, mas a figura do vestiário à entrada do bar, para um tipo deixar o casaco, aqui, não existe. Deixo o casaco numa cadeira e vou para a pista. Está-se mesmo a ver o que vai acontecer, não é? Pois claro: "Don’t Stop Me Now" passa outra vez e é o delírio da miudagem. Sinto-me quase traído, ao ver tanta gente em êxtase com a música dos Queen. Era suposto aquela música ser minha, só minha. Agora tenho que dividi-la com o Mundo. Mas o que é que estou para aqui a dizer? É muito melhor assim do que andar a levar com o David Guetta.
Ah, pois, e roubam-me o casaco. A noite de Águeda está a ficar perigosa. Sem o único casaco que trouxe na mala, começo a reavaliar se aqueles collants que a minha mãe me obrigava a usar na primária não eram, afinal, uma boa ideia. Acho que esta é a pior noite de sempre.

Dia 2 – York
A noite de ontem não foi assim tão má. Diria até que foi das mais épicas de sempre. Pena a cena do casaco. Mas que se lixe, as bifas do norte de Inglaterra são impecáveis e o filho de mil meretrizes que me levou o casaco, no final de contas, fez-me um favor. Comprei um casaco de pele muito mais cool e fiquei a ganhar com a mudança. Se agora aparecesse o antigo é que era. E já que estamos a pedir, também podia aparecer o outro blusão de pele que me roubaram no Bairro Alto em 2009. E a mala de CDs que me gamaram do carro no Arraial do Técnico em 2008. Ou talvez seja eu que tenho que começar a beber menos. Haha, beber menos, estava a brincar.
Já agora, um aparte: será que chamar as inglesas rosaditas de 'bifas' é racista, se eu gostar da raça? (e gosto) Fica a questão.
#estaroubeiaoSeinfeld

À procura do casaco novo, ainda dou com uma feira de discos, com aqueles preços apetitosos que tanto procurava e saio de braços carregados com uma selecção portentosa do bom vinil britânico; e ainda compro uma t-shirt dos Stone Roses. Mesmo a calhar, "I Wanna Be Adored" tem sido um dos hinos desta viagem. Também já aprendia a fechar a braguilha.
#oldhabitsdiehard
#estouaficarviciadonoshashtags
#omelhorépararcomestamerda






Dia 3 – Manchester
Regresso a Manchester para uma jornada de descoberta. Descubro que a Haçienda (clube histórico da cena Madchester) é agora um complexo de apartamentos. Descubro que o Salford Lads Club (onde os The Smiths posaram para a artwork do "The Queen Is Dead") continua a ser o que sempre foi. Faço uma visita guiada pela mancuniana mais simpática e católica que eu já conheci, que me mostra todos os cantos à casa. O sonho dela é ir a Fátima. Quando lhe digo que já lá fui várias vezes, os seus olhos brilham. Fixe, nunca pensei que ter ido a Fátima me desse um leverage com uma miúda. Estou mesmo a gostar de Inglaterra. Descubro que o Lads Club tem hoje uma sala indescritível – mais parece um altar – dedicada aos The Smiths, com paredes forradas do chão ao tecto com lembranças e post-its deixados por fãs que por ali passaram. Só estando lá é que se tem noção do nível de devoção que uma banda como os The Smiths provoca. Indescritível, mesmo.



No fim, deixo o meu post-it, tiro a clássica foto em frente à entrada do Lads Club e sigo viagem.


De regresso ao centro, faço uma paragem técnica no Manchester Arndale (ao lado do Northern Quarter) para comer e descubro uma das lojas mais cool de sempre, com um nome não menos cool: Pulp  uma loja com tudo para rockers. Carrego uma t-shirt dos Guns e outra dos Stones. Vir ao UK para mim é caro, mas não é pelo preço da viagem; não consigo parar de gastar dinheiro.
Ao fim da noite, descubro ainda que as miúdas do norte de Inglaterra não lidam muito bem com a rejeição: quando tento explicar a uma loirita num bar que estou demasiado cansado para uma noite triunfal de Domingo (não sejam farrombas, já contava com 50 kms nas pernas em 3 dias e não há heróis), levo uma joelhada épica nas partes baixas. Não faz mal, estou a adorar isto e parece que o sentimento é correspondido.
Mas hoje já chega, vou dormir, que amanhã os Beatles esperam-me em Liverpool.

Não percam amanhã a segunda parte do diário de bordo, porque eu também não. Até porque sou eu quem a vai escrever.

4 comentários:

  1. Que regresso (ao blog) em grande! ;)

    Descubro que o Lads Club tem hoje uma sala indescritível – mais parece um altar – dedicada aos The Smiths, com paredes forradas do chão ao tecto com lembranças e post-its deixados por fãs que por ali passaram. Só estando lá é que se tem noção do nível de devoção que uma banda como os The Smiths provoca. Indescritível, mesmo. Gostava bastante de ver isto...

    Fico à espera do resto da viagem!

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    1. Só lá estando, mesmo. Aquilo é uma sala ao lado de um ginásio e quando entrei, estava muito escuro e não via nada. Mas de repente a miúda liga as luzes et voilá! Estás num templo dos The Smiths. É uma visão. Não tirei fotos ao tecto, mas acredita, estava cheio de post-its.
      O meu já o viste, foi este:
      https://fbcdn-sphotos-a-a.akamaihd.net/hphotos-ak-xfa1/v/t1.0-9/11083671_965017846849189_8652526974226265234_n.jpg?oh=da0ed9b0797f08912b9e3b354616f4a6&oe=55A51E93&__gda__=1436886949_8ca6bc13eabc88413e65cd3ee1f8b6a3
      ;)

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  2. Que inveja! De facto foi um regresso em grande. E adoro a I Wanna Be Adored :)

    Amelia Pond (do antigo come só as batatas)

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    1. Maria Francisca é bem melhor que Amelia Pond! ;) Mas este é verdadeiro, right? :P
      É o que dá andares sempre a mudar de blog, perde-se o rasto às pessoas! E não me venhas com tretas de "Ah, este blog dizia respeito a um estado de espírito que tinha naquela altura e agora quero fazer um novo capítulo na minha vida". Nada disso. Tudo faz parte da mesma Amelia Po...Maria Francisca :P
      Por isso fazes favor de agora manter o estabelecimento, ok? ;)

      Quanto à viagem, espera até eu contar como foi Liverpool! E Londres! :D

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