quarta-feira, 8 de abril de 2015

Paul McCartney - "Ram On"

"Ram on"


"Ram On"  UK Spring Tour Journal 
(Part 2)

Continuando daqui, hoje deixo-vos a segunda parte do meu diário de bordo, em plena Disneylan... Liverpool.
Antes disso, uma explicação: porquê "Ram On" ali no título? Riam-se à vontade, "Ram On" é o nome da viagem. Sim, do alto da minha nerdice, baptizo a todas as viagens que faço. O nome é invariavelmente escolhido em função da música que ouço nessa altura (todas as viagens têm uma banda sonora, que depois fica para sempre colada àqueles lugares) e nesta viagem, a predominância foi do 2º álbum a solo de Paul McCartney – "Ram". "Ram" é cozy e homey, como a maioria da música do Paul; e talvez por isso me tenha sentido em casa no UK. Há qualquer coisa de heartwarming na música do Paul – ela é caseira, quentinha e deliciosa. But I digress. Voltando à viagem.
Estava eu a planear as minhas férias em cima do joelho (como sempre faço), dois dias antes da partida e deparo-me com um tempo morto entre York e Londres. O que fazer? Regresso a Manchester? Boa ideia. E por que não dar um saltinho a Liverpool? Genial. Marquei hotel no minuto seguinte. E assim cheguei à Liverpool Lime Station, quase por acaso. Mal eu sabia que aquela fora uma das melhores decisões da minha vida.

Dia 4 – Liverpool
Chegado a Liverpool, vou directo ao Cavern na Mathew Street – o mítico bar onde despontaram uns tais de The Beatles. No caminho, levo nos ouvidos "Ram". "Ram" sabe especificamente a morangos fresquinhos e doces, acabadinhos de colher. Mas talvez isso seja de eu estar a comer morangos neste preciso momento. Adiante.

Hoje, o Cavern está dividido em dois: o Cavern Pub e o Cavern Club. Como seria de esperar, Beatles por todo o lado. Ao lado, uma estátua do John Lennon, a imitar a pose na capa do álbum "Rock ‘N’ Roll". Vou já meter-me com estas italianas para me tirarem uma foto ali.
Ok, afinal eram inglesas; bem que podia ter guardado o italiano que aprendi com o Trappatoni e poupava-me a vergonha. Isto com as miúdas corria melhor em Manchester.
No topo da rua está o A Hard Day’s Night Hotel (sim, existe mesmo), com uma megastore dos Beatles. Imaginem a Fnac, mas de dois andares, só com Beatles: t-shirts, camisolas, pijamas, bonés, aventais, posters, quadros, bancos, porta-chaves, almofadas, bonecos, canecas, pratos, copos, livros, discos, sei lá, tudo o que possam imaginar. Estão a ver a loja no fim da Disneylândia, que é o terror dos pais, porque os miúdos querem tudo? É isso, mas aqui sou eu o miúdo. Com a carteira dos pais.
A Hard Day's Night Hotel, com a loja dos Beatles virada para a Mathew Street

Fico de tal forma esmagado com tudo o que vejo à minha volta na loja, que a minha cabeça entra em tilt. No fim de contas, acabo por trazer "só" um porta-chaves do Sgt. Pepper. Isso e um coração partido, porque vi o hoodie (nome muito mais fixe para "camisola com capuz") mais cool de sempre e não havia o meu número. Damn. Mas isto não fica assim, acreditem.

Agora sim, o momento por que tanto esperava. Chego ao museu dos Beatles.

À entrada do The Beatles Story, dizem-me que tenho duas horas para ver dois museus, mas é tranquilo: mesmo que eu seja um daqueles nerds que gosta de ver e ouvir tudo, duas horas chegam perfeitamente. Bora.
Começamos com o Casbah (onde os Beatles se estrearam), o Kaiserkeller, o Star-Club (Hamburgo) e claro, o Cavern, aqui brilhantemente reproduzido:


Depois, chegamos a Abbey Road, onde os Beatles gravaram quase toda a sua discografia. Passamos na porta de entrada dos estúdios e temos os instrumentos todos ali: o baixo do Paul, as guitarras do John e do George, a bateria do Ringo. A bateria do Ringo é hands down a minha peça preferida do museu. Temos também o Mellotron com que os Beatles gravaram o "Sgt.Pepper" e o "Magical Mystery Tour". The real thing. Isto é muito melhor do que ir à Eurodisney com 10 anos.

As duas horas passam e nem a meio do primeiro museu eu consigo chegar. Estava tranquilamente a estudar o concerto no Shea Stadium, quando sou convidado a sair pelo impaciente staff, numa altura em que já as senhoras da limpeza varriam o chão. Nem ao Sgt. Pepper cheguei! O que vale é que posso voltar amanhã.
De regresso ao hotel, tinha no quarto à minha espera uma chaleira eléctrica, chávenas de porcelana e chá – o kit completo. Adoro Inglaterra.

Dia 5 – Liverpool / Londres
Começo o dia bem cedinho, às 7:30 (houvesse vontade para me levantar tão cedo para trabalhar e a minha vida seria bem diferente), para um glorioso English Breakfast no hotel.
Bacon, salsicha, ovos estrelados, feijão, torradas com muita manteiga e sumo de laranja. No fim, um chazinho. Adoro Inglaterra.

Às 9:30, já estou na The Beatles Shop na Mathew Street, que ontem me escapou. O motivo? O hoodie, obviamente. Não tenho sorte. Siga para o museu, que o tempo está contado até ao comboio para Londres, às 12:47.
O museu dos Beatles abre às 10:00 e às 10:00, eu estou à porta. Pontualidade britânica (deve ser a primeira vez na vida). Estou eu e está uma excursão sénior de chineses (ou coreanos; ou japoneses; não perguntei, mas isso não interessa para o caso). Que se lixe, vou passar à frente destes Miyagis todos, que não há tempo a perder. Começo onde fiquei ontem: "Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band". Dou com isto. Nice.

Depois, vem o "Magical Mystery Tour" (temos mesmo os bancos do autocarro, para nos sentarmos), o "Yellow Submarine" (entramos mesmo num submarino amarelo), o White Album e de repente, já estamos no fim. Ou sou eu que estou com pressa, ou eles claramente se desleixaram com os anos 1968, 1969 e 1970 – anos que os Beatles passaram em estúdio. Havia tanto para dizer... Enfim, na verdade também já não tenho muito tempo.

No fim, temos uma sala de design minimalista dedicada à memória de Lennon, onde ouvimos "Imagine". (então e o George, malta?!)

... e uma última sala dedicada aos Beatles a solo:
John:
Paul:
George:


Rin...:
...ora porra, ia jurar que tirei uma foto à secção do Ringo, mas não dou com ela. Queria ter um registo do melhor baterista dos Beatles, mas apareceu-me outra foto do Paul.
Haha, desculpa lá Ringo, eu adoro-te, a sério.

Contas feitas, o museu dos Beatles é dos melhores lugares que pisei em toda a minha vida. Confesso-vos que é difícil descrever o entusiasmo em estar aqui, mesmo em contra-relógio. Sinto-me como o miúdo de 10 anos que vê o Mickey pela primeira vez, ou aquele pastor de Pitões que foi a Lisboa ver o mar de helicóptero e conhecer o Mantorras. Qual Louvre, qual Smithsonian, qual Tate, o melhor museu do mundo fica em Liverpool e chama-se The Beatles Story (pelo menos até eu ir a Montreux e ver o museu dos Queen; ou ver aquele dos Pink Floyd que ia abrir em Milão, mas foi cancelado). Recomendo sem reservas, marquem a vossa viagem ainda hoje.

Com os minutos que me restam antes do comboio, ainda vou ao museu sobre a British Invasion (invasão cultural britânica dos EUA) e aproveito a oportunidade para me sentar pela primeira vez numa bateria, numa aula em vídeo do Ringo Starr. Acho que tive uma epifania: tenho que repetir isto.
Ringo, desculpa lá aquilo há bocado. Adoro-te, mesmo.

Não há tempo para mais, siga para Londres.











Mal chego à estação de Euston, tenho a brilhante ideia de ir para Camden com uma mala de 20 kg atrás. Malta, não tentem isto. O conceito de "aproveitar o tempo" não é válido quando tens que carregar uma mala de 20 kg ao longo de uma escada com 96 degraus [sim, as escadas rolantes estavam avariadas; e sim, estava lá escrito o número de degraus]. Isto não é aproveitar o tempo, é só estúpido.
Como ainda não estava preenchido no capítulo do exercício físico, ainda vou à London Beatles Store em Baker Street. O motivo?  Adivinharam, o hoodie. Mais uma vez, tão tenho sorte.
[Como sempre acontece nestes casos, fiquei obstinado pelo hoodie e nunca mais deixei de o perseguir. À hora que publico este texto, já deve vir a caminho de uma loja online dos States... que me cobrou a camisola duas vezes. A saga do hoodie ainda parece longe de terminar...]

Dia 6 - Londres
O primeiro dia em Londres é para compras. E compras em Londres significa discos, discos e mais discos. Ah e umas t-shirts também. Há uma loja em Notting Hill — Backstage Originals — que só vende merch de bandas Rock e é uma das lojas mais cool onde já entrei, uma das minhas paragens obrigatórias, sempre que vou a Londres.

Trago (mais) uma t-shirt dos Beatles, com desconto à pala de uma longa conversa com a miúda italiana (esta era mesmo) que lá trabalhava e que me prometeu uma visita a Sesimbra. O atendimento nesta loja é mesmo personalizado. Adoro Inglaterra, não sei se já disse.

A seguir, passo na Rough Trade ali ao lado e menciono ao Nigel (espero que o Nigel não se importe que eu use o nome dele) um concerto "secreto" que o Noel Gallagher ia dar em Londres no dia a seguir. O Nigel não sabe do que eu estou a falar, mas promete averiguar. Diz-me para lhe deixar o meu mail; se ele souber mais qualquer coisa, avisa-me. Deixo-lhe o mail, mas sem grandes esperanças. Nem um vinil levei, o que é que o Nigel se vai importar com um tuga?
Notting Hill, Soho, Camden e uma porradona de discos depois, está cumprido mais um objectivo da viagem. 15 discos na mala. Venham agora os concertos.

À noite, vou beber umas pints com um amigo que vive em Londres. Chamemos a este amigo "Miguel". O "Miguel" esqueceu-se das chaves dentro de casa (onde vive com a namorada) e por isso a noite prolonga-se. As pints multiplicam-se.
Vou ver o mail. Não acredito, o Nigel respondeu! O concerto secreto é no Rivoli Ballroom, em Brockley. Haha, lindo! Ganda Nigel. Esta viagem está cada vez melhor. "Brockley?! Ninguém vai a Brockley!", diz o "Miguel" com ar enojado. "Mas não interessa, vamos lá na mesma! Aliás, é como se já tivéssemos entrado!", profetiza o "Miguel". E assim brindamos a um concerto para o qual não temos bilhete e onde não fazemos a mínima ideia de como entrar. Sabemos apenas que temos que entrar. Típica chico-espertice tuga.

Se querem saber se conseguimos entrar no concerto secreto do Noel Gallagher, não percam a última parte do diário de bordo. Se não quiserem saber, leiam na mesma. Sempre se podem rir à nossa custa.

10 comentários:

  1. Resp: Muito obrigada pelo teu comentário! E tens toda a razão.

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    1. Olívia! Bem vinda ao meu cantinho :)
      Vais ver que 'aquilo' passa num instante. Aliás, aposto que já nem te lembras do que estamos a falar :P

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  2. Gostas dos Beatles?! Ninguém diria! :P

    Rin...:
    ...ora porra, ia jurar que tirei uma foto à secção do Ringo, mas não dou com ela. Queria ter um registo do melhor baterista dos Beatles, mas apareceu-me outra foto do Paul.
    Haha, desculpa lá Ringo, eu adoro-te, a sério.


    lolol isto não se faz!

    Trago (mais) uma t-shirt dos Beatles, com desconto à pala de uma longa conversa com a miúda italiana (esta era mesmo) que lá trabalhava e que me prometeu uma visita a Sesimbra.

    Sabes muito! :P

    Estes teus posts da viagem estão mesmo bons. Para quem nunca lá esteve (desses sítios só conheço Londres), consegue ficar com uma boa ideia. Sem falar que tresanda a histeria e fanboyzice mas isso torna o relato ainda mais engraçado ;) venha daí a terceira parte (pena já ser a última).

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    1. Os Beatles? Sou apreciador de alguns trabalhos :P

      Sabes do que me lembrei em Manchester? De criar uma agência de viagens só com roteiros deste tipo :P Ou seja, uma agência que organize viagens à la Nuno, mas para grupos. Estas viagens incluiriam sempre um concerto e seriam um pack Viagem+Estadia+Bilhete para concerto+Sightseeing of places of musical interest. Tipo o que as agências fazem com o Benfica, mas para concertos :) Será que isto teria pernas para andar? Parece-me uma ideia genial :P

      Outra ideia genial: de modo a poder dar o prazer aos leitores destes posts tão informativos (Travel Channel for Rockers :P ), pode-se organizar uma campanha de crowdfunding no Kickstarter para eu poder fazer disto vida :P

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  3. (o blogger está a censurar a minha resposta -_- )

    Eu alinhava nisso!

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    1. O que raio escreveste para eles te censurarem?! :P

      Isto sou eu a pensar já no meu PPM! Quando me reformar, não me estou a ver a ficar parado ad eternum. O meu plano sempre foi abrir uma loja de discos, mas isto pode ser uma ideia ainda melhor ;)

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    2. isso agora... :P

      agora fora de brincadeiras, essa ideia é bem jogada :) you might be on to something ;)

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  4. Resp: Os teus comentários são awesomes, obrigado a sério mesmo!

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  5. Gostei do diário de bordo, parece ter sido uma excelente viagem!

    Bjxxx

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    1. Obrigado, Teresa! Foi sem dúvida uma grande viagem, mas ainda falta falar do drama de Brockley, na última parte ;-)
      Bjs :)

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