segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Trent Reznor and Atticus Ross - "What Have We Done To Each Other?" (Gone Girl Soundtrack)



Acabo de sair da sala de cinema, onde fui exposto a "Gone Girl" - o filme que supostamente será o melhor do ano. E é mesmo.
Não me vou alongar sobre como David Fincher já deve reclamar para si um lugar de proa no panteão dos melhores contadores de histórias da História de Hollywood. Outros especialistas em cinema tratarão disso.

Vou antes falar da banda sonora. Porque da mesma maneira que o povo diz que "por trás de um grande homem, está sempre uma grande mulher", também por trás de um grande filme, está sempre uma grande banda sonora. E não raras vezes, por trás de um grande realizador, está um grande músico. Foi assim com David Lynch e Angelo Badalamenti, foi assim com Béla Tarr e Mihály Vig, foi assim com Krzysztof Kieślowski e Zbigniew Preisner.

Fincher encontrou o seu Badalamenti em Trent Reznor e no seu fiel escudeiro Atticus Ross. Juntos, deram voz a "The Social Network" de 2010 (que ganharia o Oscar de melhor banda sonora), "The Girl with the Dragon Tattoo" de 2011 (que ganharia o equivalente Grammy) e agora trazem-nos a banda sonora de "Gone Girl", acabadinho de chegar aos cinemas.
Se as 2 anteriores foram muito boas, esta é de cortar a respiração; causa ansiedade, provoca arritmia. É o perfeito casamento com o filme que sonoriza.

David Fincher pode continuar a confiar em Trent Reznor e Atticus Ross. Foi muito à custa deles que eu passei as últimas 2 horas e meia com os rins colados ao fundo do banco do cinema. Fica o aviso: não bebam café antes de "Gone Girl".


3 comentários:

  1. Este filme estava a passar-me ao lado, pensava que ainda não tinha estreado. Mas por acaso no outro dia, no Sapo, estava a ler uma entrevista do Fincher em que ele fala sobre os filmes dele e em que explica a visão dele sobre este e preferia não ter lido porque ele basicamente explicou o filme e isso já vai influenciar um bocado a forma como o vou ver...

    Acabei de ler ontem aquele tal livro do David Lynch (lê-se num dia ou dois) e há uma parte em que ele fala precisamente sobre a importância da banda sonora nos filmes e da relação dele com o Angelo Badalamenti. O livro é pequeno e lê-se muito bem. É curioso que há uma parte em que ele diz que muitas vezes as pessoas percebem bem mais sobre os filmes que aquilo que pensam.

    People sometimes say they have trouble understanding a film, but I think they understand much more than they realize. Because we're all blessed with intuition - we really have the gift of intuiting things. (...) Cinema is a lot like music. It can be very abstract, but people have a yearning to make intellectual sense of it, to put it right into words. (...).

    E subitamente eu percebi a razão para ter tanta dificuldade em identificar-me com os filmes dele apesar de o admirar imenso: racionalização em demasia da minha parte... Na música isso não me costuma acontecer mas os filmes dele deixam-me mesmo frustrada :P se bem que só vi dois e alguns eps. do Twin Peaks quando era miuda... Depois de ler o livro fiquei com vontade de ver o resto da filmografia.

    Quanto ao Trent Reznor: no seu melhor não costuma desiludir ;)

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    1. Portanto, queres com isso dizer que fiz um post a explanar uma ideia que já tinha sido indicada pelo David Lynch. Devo estar no caminho certo! :)

      Relativamente à vontade em explicar e em expressar em palavras a música e o cinema, bem, é um pouco esse o objectivo deste blog, por isso essa é uma carapuça que me assenta. Acho que essa vontade é algo normal em pessoas cujas capacidades cognitivas impedem que a percepção de uma obra como um filme, ou um álbum, se limite ao consumo momentâneo. Não vejo mal nenhum nisso. Só que no caso das obras do Lynch, a interpretação e a racionalização são conceitos tão abstractos como as próprias obras :)
      Se quiseres, pensa nisto como uma 4ª dimensão dos filmes dele. Os filmes do Lynch não acabam (longe disso) quando os créditos descem. Acabou apenas a 1ª visualização. Depois, há que ficara a olhar para o ecrã negro a pensar "Wtf just happened?" e a tentar formular algum sentido para aquilo que acabaste de ver.
      Depois, há que ver 2ª vez (e muitos elementos novos te chamarão a atenção).
      Depois, há que ir à net e pesquisar nos fóruns pelas interpretações das outras pessoas e ver se coincidem com a tua.
      Depois, há que perguntar aos teus amigos quem já viu o filme e discutir com eles o que raio era aquilo.
      Enfim, you get my drift.

      Em suma, os filmes do Lynch são obras densas e devem ser analisadas como tal. A explicação, essa está na tua imaginação, ou como diz o Lynch, na tua intuição. :)

      O "Twin Peaks", como era para a televisão e tinha a parceria do Mark Frost, acaba por ser a versão mais soft do Lynchianismo. Claro que para uma miúda é praticamente inacessivel, tanto pelo enredo, como pelo ritmo. Vê-o agora (se quiseres empresto-te os DVDs) e verás que tens uma opinião totalmente diferente.

      Mas as obras primas do Lynch para mim são o "Mullholland Drive" e o "Blue Velvet". Começa por este último ;)

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    2. Ontem, quando acabei de ver o "Eraserhead", foi precisamente isso que pensei: "wtf did I just saw?!" :P É basicamente o mesmo quando acordo de manhã e me lembro de algum sonho e nesta realidade não faz sentido mas enquanto estava no sonho era a coisa mais normal do mundo e existem imensos elementos que parecem não encaixar em nada mas tinham uma ordem precisa dentro do sonho... A minha interpretação se calhar está bem fora daquilo que ele estava a pensar quando o fez mas isso é sinal que deixou espaço para cada um fazer com a obra dele o que quiser. Pensei nisso de ir ler interpretações de outras pessoas mas ainda estou a digerir o filme... Hei-de ler porque fiquei com curiosidade para saber se mais alguém viu o mesmo que eu.

      Curioso que ele diz exactamente isso que disseste sobre os amigos e quase com as mesmas palavras! :D

      Eu vi o "Mulholland Drive", um amigo meu emprestou-me o DVD há uns 3 ou 4 anos, mas eu já ia de pé atrás, confesso... Tenho de ver outra vez. Vi esse e o "Wild at Heart".
      Eu ia vê-los todos por ordem cronológica mas a ver se vejo o "Blue Velvet" a seguir então ;)

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Let the music do the talking.