segunda-feira, 7 de julho de 2014

Pink Floyd - "Coming Back To Life"

"I took a heavenly ride through our silence
I knew the moment had arrived
For killing the past and coming back to life"
Hoje era para vos vir aqui falar de um fim-de-semana épico, onde tive o privilégio de presenciar um serão de concertos com Soundgarden e Black Sabbath, no Hyde Park em Londres, que entrou directamente para as noites mais gloriosas da minha vida.

Mas não.

Tudo o que se passou em Hyde Park foi pulverizado pela notícia que recebi quando estava a caminho de casa, sentado no piso superior de um qualquer autocarro londrino, às 3 e 40 da manhã de Sábado:

Os Pink Floyd vão lançar um novo álbum!!!

Repito:

OS PINK FLOYD VÃO LANÇAR 
UM NOVO ÁLBUM!!!

É verdade. Isto deve ser a melhor notícia de sempre, desde que Rui Costa foi apresentado no Benfica no Verão de 2006.
Quem diria? Eu não poderia imaginar uma coisa destas, de certeza.
Bem, na verdade, até já tinha pensado que seria possível fazer este álbum, mas nunca pensei que se concretizasse. Mas já lá vamos.

Antes de mais, vamos aos factos que já conhecemos.
Tudo começou com um tweet de Polly Samson, esposa de David Gilmour e co-letrista da banda no (fabuloso) álbum "The Division Bell":

Estava assim confirmado o regresso à vida dos Pink Floyd.



E estava também desvendado o mistério desta fotografia, que apareceu na internet no início deste ano pela mão de Durga McBroom (que faz backing vocals nos Pink Floyd desde a segunda metade dos anos 80) e que fazia adivinhar um novo álbum a solo de David Gilmour. Esse álbum a solo vai chegar mas, na melhor das hipóteses, só lá para 2015.


De repente, a internet entrou em histeria. E não era para menos.
20 anos depois de "The Division Bell", numa altura em que todos os fãs já davam como certo o fim da banda, aparece este oásis. Aliás, não é um oásis, mas sim um rio - um rio sem fim.
A história de "The Endless River" é contada em vários actos, em diferentes períodos temporais. Fica então aqui a história, conforme vista por mim.

O 1º Acto de "The Endless River" remonta às sessões de gravação de "The Division Bell", em 1993/1994. Na altura, Nick Mason confessou que a banda tinha gravado material suficiente para 2 álbuns, sendo que o primeiro lote fora lançado em "The Division Bell" e o segundo consistia em material instrumental, nascido de improvisações dos Pink Floyd no estúdio, o qual baptizou de "The Big Spliff". Algumas dessas improvisações devem aparecer na compilação de outtakes em baixo:



Nick revelou que a banda tinha intenção de lançar "The Big Spliff", mas o projecto nunca foi para a frente e desde então que os fãs dos Pink Floyd viveram aguados com este lote de instrumentais.
A única fracção que se pensa fazer parte deste projecto e que viu a luz do dia foi uma colagem de sons com mais de 20 minutos de duração, que os Pink Floyd usavam para abrir os seus concertos na digressão de "The Division Bell".
"Soundscape" - como foi adequadamente baptizado - seria mais tarde incluído na versão cassette do álbum ao vivo "PULSE", lançado em 1995. Para vossa curiosidade, fica também aqui:



Entretanto, foi recentemente anunciada uma caixa de luxo de "The Division Bell" (que me chegou hoje às mãos - oh happy days!) e parecia ser a oportunidade perfeita para "The Big Spliff" ser finalmente libertado. Mas para desgosto dos fãs dos Pink Floyd (e meu, obviamente), that was not to be*.
*gosto sempre de citar Take That num post.

Em todo o caso, a caixa de "The Division Bell" é um filão de tesouros e é para mim o produto musical mais perfeito desde o duplo DVD "Queen Live At Wembley Stadium", lançado em 2003 (um dia falarei disso).
Deixo-vos aqui algumas imagens desta maravilha:




Passemos então para o 2º Acto de "The Endless River".
Quando Richard Wright morreu em 2008, sabendo da sua importância para a sonoridade dos Pink Floyd e da sua forte amizade com o líder da banda - David Gilmour, ficou claro para mim que os Pink Floyd tinham acabado oficiosamente naquele dia.
No entanto, houve uma revelação no dia da sua morte que me despertou o interesse: Wright passara os últimos meses da sua vida a gravar material novo, para um álbum instrumental. Neste cenário, seria expectável que este material fosse entregue a David - amigo e companheiro musical de sempre de Rick.
Mas o que poderia fazer David com este material? Terminar, sozinho, um álbum "a solo" de Richard Wright? Incorporar o material de Richard no seu próprio disco a solo? Não fazia muito sentido. E restaurar os Pink Floyd, para uma última homenagem a Rick? Isso já fazia mais sentido. Mas não, não podia ser; afinal, David fazia sempre questão de ser peremptório na resposta negativa à questão do regresso dos Pink Floyd.
Entretanto, fez-se silêncio.

O 3º Acto desta história teve lugar desde há um ano para cá, no estúdio particular de David Gilmour, quando este decidiu finalmente pegar no material de "The Big Spliff" e (presumo eu) nas restantes gravações deixadas por Richard Wright e dar-lhe forma, para um álbum de despedida, agora sim, dos Pink Floyd.

Originalmente, "The Endless River" estava para ser um álbum instrumental de música ambiente, seguindo a linha temática de "The Big Spliff". No entanto, desde há um ano que David Gilmour e Nick Mason têm feito overdubs nas gravações originais, acrescentando faixas vocais em pelo menos um dos temas (o que está a ser gravado na foto de estúdio em cima).

Como seria de esperar, Roger Waters não estará presente em "The Endless River". E não é porque Roger não queira, mas sim porque David não está interessado.
É pena, mas é melhor assim. Senão vejamos: o último laivo de musicalidade de Roger Waters já remonta a 1979 ("The Wall") e o seu último álbum data de 1992 ("Amused To Death" foi lançado há 22 anos). Por muito que eu goste dele e admire o seu trabalho passado, ele dá mostras de estar criativamente terminado (embora adorasse ser provado do contrário, com aquele álbum a solo de Roger que nunca mais aparece).
Desde então, Roger deixou-se inebriar pela política, mas especializou-se na recriação de grande obras suas do passado. Nisso, faça-se justiça, ele é mestre.

Por outro lado, embora muito menos profícuo que no seu auge, David Gilmour vai fazendo uma gestão inteligente da sua carreira e lançando álbuns muito bons (como o "On An Island", a solo, em 2006), ou excelentes (como "The Division Bell" em 1994).
Isto não significa que eu não gostasse de os ver juntos novamente, mas a verdade é que é extremamente improvável.

Nesta altura, não se sabem ainda mais detalhes, mas o álbum já foi confirmado oficialmente para Outubro deste ano, esperando-se mais novidades no fim do Verão, provavelmente no que diz respeito à capa e aos formatos em que será lançado.
A minha aposta, a avaliar por aquilo que ouvi em "The Division Bell" e "On An Island", é que "The Endless River" vai ser um álbum do caralhão.

Para já, o tempo é de alegria. Venha então daí "The Endless River", que eu entretanto vou me entretendo com a edição de luxo do meu álbum preferido dos Pink Floyd de sempre. "Ah, mas como é que podes dizer isso? O Roger Waters nem está nesse álbum!" Olhem para a minha cara de preocupado:


"I took a heavenly ride through our silence
I knew the waiting had begun
And headed straight...into the shining sun"

3 comentários:

  1. É Natal por aí, nestes últimos dias :P Essa caixa parece brutal!! :)

    Quanto ao álbum, vou esperar para ver o que sai dali... Acho um bocado estranho um álbum de Pink Floyd agora, mas pode ser defeito meu :P

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  2. Deve ser defeito teu, sim :)

    Eu estou nas nuvens. Como referi no post, havia material do Richard Wright (quem incutia aos Pink Floyd a sua sonoridade característica) à espera de ser utilizado e que melhor uso pode haver, se não a da inclusão num álbum dos Pink Floyd?
    Penso que o álbum poderá ter um feeling muito semelhante ao "The Division Bell" e algumas músicas podem se assemelhar com esta maravilha (do 1º álbum a solo do Richard Wright):

    http://www.youtube.com/watch?v=kmOgMndMqKk

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    1. Mais sobre o 'quiet one' dos Floyd:

      http://escolhamusicaldodia.blogspot.pt/2011/07/richard-wright-breakthrough.html

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