sábado, 1 de junho de 2013

Blur - "For Tomorrow"

"Modern life is rubbish, I'm holding up for tomorrow"


Épico. Fabuloso. Inesquecível.
Já passou uma semana, mas ainda estou a digerir o que se passou naquela memorável noite.
A madrugada de Sexta para Sábado viveu, no Parc del Fòrum, em Barcelona, o momento do regresso dos Blur aos palcos europeus. O ambiente fervia. Para muitos, era a estreia absoluta em concertos dos Blur. A espera tinha sido longa e longo tinha sido o caminho até ali.
Para mim, foram mais de 1000 quilómetros desde Lisboa e quase 18 anos de espera, desde que ouvi pela primeira vez "Country House", numa qualquer rádio durante o Verão de 1995.


Os Blur foram uma banda da minha adolescência, mas nem sequer foram a mais marcante. Os seus arqui-rivais Oasis (rivais à conta dos irmãos Gallagher, porque parece-me que por Damon e Graham, tinham sido todos amigos) foram uma banda muito mais importante para mim. Mas em vez de pôr uns contra os outros como a "indústria" queria, preferi desfrutar da música de todos.

Volvidos 18 anos, depois de ver os Oasis 2 vezes (Sudoeste em 2005 e Pavilhão Atlântico em 2009), finalmente, a vez dos Blur.
E que dizer? O concerto não poderia ter corrido melhor. Os Blur proporcionaram-me uma das melhores noites dos últimos anos. Uma experiência. Algo a um nível só comparável ao concerto de Bruce Springsteen no ano passado, no Rock In Rio Lisboa.


Mais: durante "Country House", estive "a um bocadinho assim" do Damon Albarn. Vi-o rir-se para o público, num sorriso malandro que gritava "noite triunfal" e que deixava esacapar o seu dente dourado.
Tive mais uma vez a sensação que estava no fecho de um ciclo.
"Mais uma vez"? Pois. Para além de tudo o que descrevi em cima, o concerto dos Blur encerrou ainda outra efeméride: a companhia.

Naquela madrugada desloquei-me ao Parc del Fòrum com uma pessoa especial, alguém com quem partilhei a paixão pela Britpop no final dos anos 90. Na altura, éramos um oásis (pun intended) no deserto cultural que se vivia na escola. Enquanto os outros andavam entretidos com as Spice Girls, ou os Backstreet Boys, a discutir qual deles o mais bonito, ou qual delas a mais "boa", nós sentávamos lado-a-lado nas carteiras da escola a discutir música. Antes, durante e depois das aulas. Blur e Oasis à cabeça.
Partilhávamos experiências do que ouvíamos, trocávamos CD's, gravávamos cassetes, víamos em casa religiosamente a MTV e o VH1 (quando ainda eram canais de música)... era esta a nossa vida para além da escola. Foi uma amizade que se construiu e se fortificou à volta da música. Foi uma amizade (das muito poucas) que se manteve desde então, até hoje.
Por ironia do destino, essa amiga vive hoje em Barcelona. E também ela está a fechar um ciclo na sua vida pessoal e profissional.
Com a nossa reunião, ali, naquele momento, o concerto dos Blur foi como de um alinhamento planetário se tratasse.

Do lado de cá, os corações estavam abertos para deixar entrar a música dos Blur. Do lado de lá, a banda deixou tudo o que tinha em palco.
A banda estava tecnicamente "no ponto" e o Damon é um animal de palco tal, que nos fez sentir como se estivesse a cantar para cada um de nós.
"He's a twentieth century boy, with his hands on the rails. Trying not to be sick again..."
"She's a twentieth century girl, with her hands on the wheel. Trying not to make him sick again..."
O momento alto? "For Tomorrow".
Não é habitual que eu faça este tipo de balanços nesta altura, mas decorridos 6 meses deste ano, eu já estou em condições de eleger o meu tema da primeira metade de 2013. E é este. Para mim, foi este o ponto alto, foi aqui que o festival terminou, foi este o meu fecho de ciclo.
"For Tomorrow" é o tema que sintetiza, em poucas palavras, o lugar seguro onde eu estive neste ano.

Capa do single de "For Tomorrow", lançado em Abril de 1993

"For Tomorrow" é um tema sobre Londres, que mostra aquele que é, para mim, o epítome de toda a discografia dos Blur. No vídeo abaixo está a minha versão preferida deste tema: Visit To Primrose Hill Extended Version. É uma versão alargada que não estava presente no álbum original, mas que foi lançada em single em 1993 e foi mais tarde incluída na compilação "Best Of" de 2000, onde eu o ouvi pela primeira vez.
Do segundo 2:08, ao segundo 2:30, eis os melhores 22 segundos de toda a obra dos Blur. 22 segundos que mexem brutalmente comigo. Numa palavra: harmonias.




8 comentários:

  1. que inveja! sabes, os blur foram o meu primeiro concerto a sério. Fui vê-los ao coliseu, em 2003, mesmo sem o Graham. eles tinham acabado de lançar o Think Tank e eu tinha 15 anos acabados de fazer e os blur eram a minha banda preferida. foi, aliás, o amor pelos blur que me abriu os horizontes musicais (isso e duas boas amigas). passados 10 anos, continuo a dizer que foi um dos melhores concertos da minha vida, se é que não foi mesmo o melhor.
    estou aqui verde de inveja do teu relato. mas pode ser que ainda tenha mais oportunidades :)

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    1. Não há amor como o primeiro! Eu digo o mesmo relativamente aos Queen e aos Pink Floyd! Aliás, o meu primeiro concerto "a sério" até foi o Roger Waters no Pavilhão Atlântico, com muitas lágrimas à mistura :)

      Este concerto dos Blur foi também especial, espectacular. O público "fervia" de tal forma, que os temas mais mexidos (como a entrada com "Girls And Boys" / "Popscene" / "There's No Other Way") levou a cenas de mosh muito puxadas ao longo de todo o concerto, com miúdas a serem continuamente "cuspidas" lá para trás! Vá lá que a malta se acalmou um bocadinho a seguir, no "Beetlebum", que é das minhas preferidas e que eu queria ver com mais tranquilidade.

      A banda estava toda impecável, tanto em termos físicos, como na indumentária (ainda vestem a mesma roupa que há 15 anos!! :P ), como na música. E o Damon... Eu tenho uma amiga que me acusa de ter um fraquinho por ele (deve ser daquele dente dourado, como poderia resisitir?!), mas ele é um animal de palco que nos faz sentir como que se estivesse a cantar para cada um de nós. Ele olha para o público de forma tão expressiva, que nos dá a sensação que ele "está ali". Mesmo. Que aquilo não é "mais um dia de trabalho". Tanto ele, como o resto da banda deixaram tudo o que tinham no palco.
      São esses pormenores que fazem com que a experiência ao vivo não tenha paralelo a qualquer gravação áudio ou vídeo!

      (Vá, admite, agora ainda ficaste com um bocadinho mais de inveja ;) )

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    2. um bocadinho mais de inveja é um eufemismo :p mas agora também te vou fazer inveja: no coliseu eu fiquei na grade e na To the End agarrei-me ao braço do Damon :D eu percebo a tua crush pelo Damon, deve ser como a minha crush pela Jennifer Lawrence lol. mas olha, a minha primeira celebrity crush foi precisamente o Alex James ahah

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    3. Curioso, eu também tenho um ENORME crush pela Jennita. Casava-me :P

      Também curioso é que o Alex, não sendo o vocalista, até era o que levava a vida mais hedonística na banda! Até escreveu um livro sobre isso ("A Bit Of A Blur"), que eu tenho que ler um dia destes! Para tirar dicas ;)

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    4. eu empresto-te o a bit of a blur :p por acaso têm lá duas frases que me marcaram:
      'still, when you do know exactly why someone likes you, that's not really a friend. That's a fan.'
      'the tragedy of getting what you want is that when you do actually get it, you always lose what you had.'

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  2. Na música, como na vida, o que sempre me tem cativado (a mim e a tanta gente, como fui percebendo ao longo do tempo) é a verdade e a honestidade. Dou-me conta que isso nunca pode ser falseado ou camuflado porque é por demais evidente. Ou aquele artista está ali e me mostra quem é e de que forma quer chegar até mim ou nunca me vai atingir profundamente. Eu tenho de ver isso na forma como cantam, como tocam, como se expõem, como estão na vida.
    Não quer dizer que eu às vezes não ouça coisas que sei perfeitamente que são descartáveis mas é tipo pastilha elástica: ouço, entretém-me uns momentos e deito fora passado algum tempo.

    Tanta coisa para dizer que este teu post reflecte o que eu procuro em todo o tipo de criação. Este é um daqueles (muitos) posts que me fazem continuar por cá. A forma como tu vives as coisas é mesmo autêntica e deixas isso no que escreves. Adorei este teu post, mesmo. Não só pelo relato do concerto mas também essa história espetacular de amizade. E mais ainda, fizeste-me recordar o concerto do Porto que foi inesquecível ;)

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    1. Rita, só hoje é que me apercebi que não tinha respondido a este teu comentário, que já lá vai para mais de um mês!
      Ora bem, a verdade e a honestidade, então. O que dizer?
      Estes são dois dos valores base pelos quais rejo a minha vida. Sabes o que ganho com isso?

      http://www.youtube.com/watch?v=gXk6PRzooq0

      Enfim, estou num dia mau, mas é isto. A forma autêntica como vivo as coisas dá-me muitos dissabores.

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