sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

The Smiths - "What Difference Does It Make?"

"So, what difference does it ma-a-ake?
It makes none."



"What came first? Music or the misery?
People worry about kids playing with guns or watching violent videos; that some sort of culture of violence will take them over...
Nobody worries about kids listening to thousands - literally thousands - of songs about heartbreak... rejection... pain... misery... and loss.
Did I listen to pop music because I was miserable? Or was I miserable because I listened to pop music?"
 John Cusack, como Rob Gordon, no filme "High Fidelity"




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Há uns dias atrás, um amigo confessava-me a sua convicção que "Se não fosse a música, os psicólogos e os psiquiatras teriam muito mais trabalho." Eu próprio já aqui defendi essa visão terapêutica da música várias vezes e ainda ontem, no post alusivo à importância da música de Bruce Springsteen, no desenrolar da minha vida em 2012, fiz questão de o fazer novamente.
No filme "High Fidelity" (que eu recomendo vivamente, que mais não seja porque parece contar um pouco da minha História no grande ecrã), a personagem interpretada por John Cusack - como eu, um daqueles amantes de música - levanta uma questão pertinente: ouvimos música porque nos sentimos miseráveis? Ou sentimo-nos miseráveis porque ouvimos música?
Será que a música nos tira da miséria? Ou será que prolonga o nosso sofrimento?

Excelente questão. Eu, confesso, não sei a resposta. Dependerá de pessoa para pessoa e a verdade andará algures no meio dos dois conceitos. Mas façamos uma reflexão sobre o assunto.
O que eu sei é que não vou deixar de ouvir música, por pensar que esta me pode por num lugar pior do que aquele em que estou. A História, a minha História, já me deu provas mais que suficientes em sentido contrário.

O Mundo é um lugar não raras vezes difícil. A música tem o condão de nos transportar para um lugar seguro, onde quer que estejamos, seja em que situação for. Ao ouvirmos os acordes daquele tema que gostamos, ou o som da voz terapêutica daquele artista, somos automaticamente levados para um abrigo, sãos, salvos e em segurança de todos os danos que nos possam infligir.

"I'm feeling very sick and ill today, but I'm still fond of you, oh-ho-oh"

Mas porquê, afinal, todo este discurso sobre a bondade da música e o que é que isso tem a ver com os The Smiths?
Bem, digamos que o papel dos The Smiths em 2012 foi, no mínimo, sui generis. Pode ser que no final do post, esta relação já seja perceptível.

Começo por declarar que os The Smiths levam o epíteto de Revelação do ano em 2012 e é por isso mesmo que lhes dedico este post. Claro que antes deste ano já tinha ouvido algumas coisas aqui e ali, mas ainda não estava familiarizado com o legado e a lenda da banda de Manchester.
2012 mudou tudo isso e com grande impacto. Literalmente.

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Há uns meses atrás, um certo acontecimento dramático desencadeou uma série de transformações na minha vida.
O acontecimento? Um violento choque de automóvel. A relação com os The Smiths? No exacto momento do choque, ouvia "There Is A Light That Never Goes Out", no caso pela voz de Noel Gallagher.
Esta mórbida coincidência levou-me a explorar mais a fundo a música dos The Smiths e a retirar, da sua música, uma experiência terapêutica. Terapia sobre o acidente, terapia sobre as coisas que estavam mal na minha vida e uma decisão sobre o que tinha que mudar. A subsequente revolução.
Outras bandas tiveram um papel importante nesta revolução (falarei numa delas amanhã), mas nenhuma teve uma relação tão situacional, diria até metafísica, como os The Smiths. Foram eles que me apontaram o caminho.

Tony Fletcher - autor da biografia da banda "A Light That Never Goes Out: The Enduring Saga of The Smiths" - acredita que "nenhuma outra banda conseguiu retratar a alma atormentada de um jovem como os The Smiths". Eu não arrisco nenhum epíteto deste tipo (até porque sou relativamente novo ao fenómeno), mas a verdade é que deles veio a música que melhor caracterizava a minha própria atormentada alma, num tempo de revolução.

Um dos temas chave desse meu conflito interno, que marcou os últimos meses deste ano, foi "What Difference Does It Make?".
Este tema foi o 3º single dos The Smiths, lançado em Janeiro de 1984, como aperitivo do 1º álbum da banda - o homónimo "The Smiths" - que veria a luz do dia um mês mais tarde. Acabaria por ser o único single retirado do álbum, com relativo sucesso (atingiu o nº 12 das tabelas britânicas), sendo hoje um dos temas mais reconhecidos da banda.

As duas capas do single "What Difference Does It Make?"; à esquerda a capa original, retirada do mercado e substituída pela da direita, com Morrissey; por sua vez retirada e substituída pela primeira novamente;


Em baixo fica a versão que foi lançada em single e incluída no álbum "The Smiths":




Alegadamente, "What Difference Does It Make?" é um dos temas dos The Smiths que Morrissey menos gosta. Pela minha parte, é um dos meus preferidos.

A versão que me conquistou está mais em cima no post e foi gravada ao vivo na BBC - no programa de John Peel (as Peel Sessions) - e incluída na na compilação "Hatful Of Hollow", lançada em Novembro de 1984.
Conquistou-me tanto pelo riff de Johnny Marr, como pela interpretação vocal fa-bu-lo-sa de Morrissey;  pelo desdém com que ele diz "It makes none", depois de perguntar em agonia "What difference does it ma-a-ake?"; pelo falsetto no fim.
Mas conquistou-me principalmente porque capturou um momento. Um momento numa noite feliz, numa noite de libertação, em que um DJ decidiu colocar este tema, nesta versão, a tocar numa das minhas pistas de dança preferidas de Lisboa. Num momento, cristalizou-se a bondade da música dos The Smiths; provou-se, pela enésima vez, a bondade da música na minha vida.
Que diferença é que isso faz? Faz toda.

5 comentários:

  1. Pronto, ainda não é desta um post sobre a música de 2012: "Gangnam Style", obviamente! :P

    Agora a sério:
    Tu és o Rob Gordon!!! Não sei como ainda não tinha pensado nisso :D a música, as listas... ! ehehe O filme ideal para os melómanos :) Eu adorei tanto o livro quanto o filme. E ainda por cima o Bruce a fazer dele próprio lol

    Ah, The Smiths... eles têm músicas tão boas. Eu tenho a discografia e adoro imensas músicas mas ainda tenho de os conhecer muito melhor.
    Há músicas deles que dão completamente cabo de mim e se estou em baixo tenho a tendência para ir ouvir. Sim, masoquismo puro. A "I Know it's Over" é das músicas mais tristes que conheço (senão for mesmo a mais triste) e ao mesmo tempo uma das mais bonitas. Quando se começa a ouvir Oh mother I can feel the soil falling over my head... pronto, está tudo perdido :/ lol

    Ou a "Please, Please, Please Let Me Get What I Want". A interpretação do Morrissey neste vídeo diz tudo: http://www.youtube.com/watch?v=74BA7CUrGYw
    Mas depois também têm músicas como por exemplo "This Charming Man" que por exemplo no meu trabalho anima toda a gente (há dois colegas meus que são enormes fãs da banda).

    Respondendo à tua pergunta: muitas vezes a música tira-me da miséria e outras vezes faz-me mergulhar nela ainda mais mas torna-se uma catarse por isso acabo por nunca a encarar como algo depressivo ou negativo. Está sempre a acrescentar algo à minha vida, prefiro ver por esse ângulo.
    Há dores que para mim só são curadas precisamente com a música. Ela não me julga, não me diminui, não se aproveita da minha vulnerabilidade.

    E devo dizer-te que este parágrafo: Ao ouvirmos os acordes daquele tema que gostamos, ou o som da voz terapêutica daquele artista, somos automaticamente levados para um abrigo, sãos, salvos e em segurança de todos os danos que nos possam infligir. "deitou por terra" um esboço de post que tinha sobre os Pearl Jam. God dammit Nuno! :P (claro que estou a brincar quanto ao ter deitado por terra ;) )

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    1. Ah pois... "Oppan Gangnam Style!", né? :P
      Pá, fui obrigado (aqui literalmente, mesmo) a ouvir tantas vezes esse tema, que até já faço a coreografia e já arrisco dizer que... até aacho piada... um bocadinho, vá. :/ Nos dias que passei em Espanha, era a única coisa que eu conhecia nas discotecas...
      Adiante!! :P

      É curioso que ao ver o "High Fidelity", pensei mais ou menos no mesmo, mas num contexto diferente, tipo: "Porra... então fizeram um filme sobre mim em 1990?! Como é que eles já sabiam?!" :P
      A sério, vi tanto de mim no filme, em tantos, tantos, TANTOS níveis, que ele saltou automaticamente para a minha shortlist de filmes da minha vida!

      Como disse no tópico, os The Smiths foram a grande descoberta deste ano. Que banda fabulosa!
      É incrível como é que nunca tinha dado com eles, principalmente tendo em conta a minha "obsessão" com tudo o que é música Britânica. Relativamente a isto, eu tinha ainda mais um "separador" escrito para este post (o 1º começa com "Há uns dias atrás...", o 2º com "Há uns meses atrás..." e o 3º seria com "Há uns anos atrás..."). Agora que revelei mais um cúmulo de geequice meu, fica prometido o 3º separador para mais um post de The Smiths em breve :)

      Os The Smiths roçam ali no masoquismo, é verdade. Mas a música deles permite-nos relacionar com um estado de espírito que alguém já passou e por isso faz-nos companhia. É masoquista, sim, mas é também reconfortante!

      Excelente parágrafo, este:
      "muitas vezes a música tira-me da miséria e outras vezes faz-me mergulhar nela ainda mais mas torna-se uma catarse por isso acabo por nunca a encarar como algo depressivo ou negativo. Está sempre a acrescentar algo à minha vida, prefiro ver por esse ângulo.
      Há dores que para mim só são curadas precisamente com a música. Ela não me julga, não me diminui, não se aproveita da minha vulnerabilidade."

      Palavras certeiras, não diria melhor. Subscrevo inteiramente! :)

      Não deitou nada por terra, "copia" à vontade! ;-) Até porque eu, ainda há pouco tempo, descobri que tinha "copiado" um post teu de há dois anos, que nunca tinha lido, ao escrever sobre o concerto do Bruce Springsteen! ;)
      Por falar nisso: irra, que nunca mais são divulgadas as datas da digressão para a Península Ibérica...

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    2. Ahahaha!! queria ver isso! :D ainda dizias tu noutro tópico que não és fã de música dançável! Que fará se fosses! :P muito bom!

      Lol venha de lá esse separador então geek :P

      É masoquista, sim, mas é também reconfortante! bem verdade! :))

      Ehehe, esse post :) Eu às vezes estou a escrever e tenho receio de inconscientemente estar a usar expressões parecidas com as tuas mas é porque há coisas que escreves que eu penso da mesma forma, não é de todo porque queira ser copiona, juro! :/ lol

      Eu pensei em ir vê-lo a Londres, até calha no fim de semana (mas depois esgotaram os bilhetes num instante, nem deu tempo de fazer as contas :|). Este suspense mata-me!!!

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    3. Eu tenho muitas dúvidas, sinceramente, que tragam o Bruce a Portugal para o ano... Acho que os Bon Jovi, por exemplo, que até têm cá uma legião de fãs, estão com alguma dificuldade de vendas para o Parque da Bela Vista. Da última vez que cá vieram (também ali), eu fui e o concerto foi fantástico. Mas em tempos de crise, tão pouco tempo depois, nem eles se safam...
      Espero que esteja enganado, claro!
      Em todo o caso, parece-me seguro que ele vá a Espanha e aí tens a certeza de haver pelo menos 3/4 concertos em nome próprio que, esses sim, vão ser verdadeiras maratonas! Pelo menos a um, eu vou de certeza :)

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    4. Faz bastante sentido o que dizes... :/ mas ainda tenho um pouco de esperança que acabe por ser possível vir cá.
      Só se for mesmo impossível é que não o vejo em Espanha, tem de ser! :)

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