segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Simple Minds - "Once Upon A Time"

"Well, that's a question down to time"



Um pouco à imagem do que acontece com os Scorpions, os escoceses Simple Minds vivem hoje com o estigma dos dinossauros do Rock, que com o passar dos anos foram rotulados com os trabalhos mais comerciais e de menor qualidade que fizeram.

Ainda que a fase mais inventiva dos Simple Minds tenha, efectivamente, ocorrido no período de 1979 a 1982  (com apogeu no álbum New Gold Dream (81/82/83/84)"), aquele que é, para mim, o grande trabalho da banda surgiria em 1985, com o nome de "Once Upon A Time".

"Once Upon A Time" capitalizou o sucesso do single "Don't You (Forget About Me)", da banda sonora do filme de culto "The Breakfast Club", que no ano anterior tinha chegado ao topo das tabelas em todo o Mundo (incluindo os EUA). O single de avanço do álbum seria "Alive And Kicking" e este projectou, em definitivo, os Simple Minds para a linha da frente do mainstream Pop/Rock internacional.
O álbum atingiria o nº 1 no Reino Unido, vendendo 4 milhões de cópias em todo o Mundo.

Agora fica a questão que é sempre levantada sempre que certas bandas de culto, mestres num determinado registo (como eram os Simple Minds no New Wave), atingem o sucesso mainstream: a que preço é que veio o sucesso? Será que sucumbiram às regras da indústria em detrimento da sua arte?
A resposta não pode ser generalizada. Neste caso concreto, do álbum "Once Upon A Time", esse conceito certamente que não se aplica.
Apesar de terem, inequivocamente, adoptado um registo mais comercial, tal não significa que os Simple Minds perderam qualidade na sua música. Não aqui, não ainda. Bem pelo contrário.

"Once Upon A Time" mostra uma banda madura, sincronizada e com a perfeita noção das suas qualidades e limitações. Mostra uns Simple Minds inspiradíssimos, com 8 temas muitos fortes, ao mais alto nível na sua escrita.
Por outro lado, são também uns Simple Minds mais calculistas, atentos ao pormenor, com menos espaço para as divagações próprias do New Wave mais puro, que marcou os seus primeiros álbuns. Esta atenção ao detalhe não tem que ser algo necessariamente mau, quando o resultado é algo tão bem produzido e ao mesmo tempo, com tanta vida, como "Once Upon A Time".
Talvez se tenha perdido um pouco do "rasgo" nos Simple Minds. Mas o que se perdeu num lado, ganhou-se no outro.


"Once Upon A Time"  é um álbum fabuloso do princípio ao fim, um casamento perfeito entre as qualidades dos Simple Minds e as premissas do sucesso.
O álbum apresenta uma consistência notável, com o seu ponto alto a aparecer logo no início, no seu tema-título. Sem paragens para baladas, são 8 faixas antémicas de coração aberto e punhos erguidos no ar. Perfeitas para encaixarem que nem uma luva nas ondas da rádio dos anos 80.

Não sei se a intenção era, declaradamente, a de produzir um álbum de sucesso em massa (algo que aconteceu também, no mesmo ano, com o amigo e inspiração da banda Peter Gabriel e o seu álbum "So"), mas a verdade é que em 1985 as estrelas se alinharam na perfeição para os Simple Minds. O sucesso lançou a banda para um patamar de tal ordem estratosférico, que na época vendiam mais discos que, por exemplo, os U2.

Com isto tudo, reafirmo que "Once Upon A Time" é a prova que para produzir música com sucesso, não é preciso comprometer a sua qualidade. Aliás, basta olhar para as carreiras dos The Beatles, ou dos Queen, para termos exemplo disso mesmo.
É claro que esta viragem comercial é um movimento perigoso e tem um preço muito alto a pagar, caso corra mal. Muito poucos são os casos em que uma banda consegue manter a sua matriz base, adaptar-se ao registo da época e manter um sucesso continuado (já dei o exemplo dos Queen). O passar dos anos provou que os Simple Minds não são um desses exemplos.
Depois de "Once Upon A Time", a banda pagou a factura da viragem comercial, vulgarizou-se a pouco e pouco (os álbuns continuaram a ter material interessante, mas cada vez em menos quantidade) e comprometeu a sua música e a sua imagem.
"God only knows, God only knows... That's time!"

3 comentários:

  1. Do que me foste lembrar...
    Não conheço muito da história dos Simple Minds e nem me tinha dado conta que têm uma discografia tão vasta mas é claro que conheço várias músicas deles e, principalmente, a "Alive And Kicking" traz-me imensas lembranças da minha infância. Longas viagens de carro nas férias para o Algarve e a música a dar no rádio... :) Há certas músicas que posso ficar anos e anos sem ouvir, às tantas até me esquecer do contexto em que estão inseridas na minha memória mas no preciso momento em que as ouço, parece que até consigo sentir o cheiro desses dias... E também é daqueles momentos em vejo que tou a ficar velha :P

    É interessante falares sobre o impacto que o mainstream teve na banda. É algo que dá sempre que pensar, a forma como certas bandas lidam (ou não lidam porque não conseguem) com esse nível de sucesso. E às vezes a percepção que nós temos, enquanto fãs também é diferente. Por vezes chega a ser injusto para as bandas quando finalmente atingem um patamar que sempre aspiraram e os fãs que já as acompanhavam há algum tempo, as acusam de terem cedido à indústria, de terem perdido a essência que tinham originalmente... Não vou mentir, há várias bandas pouco conhecidas que adoro e sinto-me dividida porque se por um lado quero que lhes reconheçam todo o valor que eu vejo que têm e que sejam recompensadas por isso, por outro lado tenho receio que não saibam lidar com isso e se "percam". Não é que eu queira que continuem a ser um "segredo" que pouca gente conhece ou que seja egoísta mas tenho aquele receio que sejam engolidas pelo mainstream lol Mas tirando isso, fico contente quando têm esse tipo de reconhecimento e continuam fiéis ao que eram e mais importante, continuam a fazer boa música.

    (pronto, divagações do costume... :p)

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    1. Sem dúvida. Tantas vezes acontece ouvirmos uma determinada música que associamos a uma memória e sermos transportados para esse tempo, esse lugar, de uma forma tão vívida que quase sentimos o cheiro. Nem acho que seja velhice, porque há temas que sempre me transportaram para tempos idos. Algumas das memórias mais remotas que eu tenho, eu só as consigo definir e localizar porque as tenho associadas a uma música qualquer que o meu pai tinha no carro! Portanto, aí tens: é como escreveste em 2008, sentimos todos da mesma forma. :)

      Sobre a relação com o mainstream, é um assunto deveras interessante. Isto porque muitas pessoas ouvem música em função da sua exclusividade. Já vi vários casos em que, para uma determinada pessoas, o mesmo tema, ou o mesmo álbum, que era conhecido apenas por ele e pelo seu grupo de amigos, passa de bestial a besta, só porque ficou mais conhecido do que ele desejava. Perdeu exclusividade.
      Por isso é como tu também referes, há aqui duas faces da mesma moeda: a maneira como o público se relaciona com a sua banda a partir do momento em que passam a "partilhá-la" com milhões de outras pessoas; a maneira como a banda se relaciona com a obrigação de ter que agradar, ou não, a esse novo público, a esses milhões de pessoas.
      Muitos tentam fazê-lo e é aí que se perdem. Outros continuam com o seu caminho, são abandonados pelos milhões e retornam para os braços da sua fan base. Enfim, cada caso é um caso! Divagações todas elas pertinentes!! :)

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    2. É sempre engraçado quando isso acontece. Começamos a ouvir uma música qualquer e é um misto de sentimentos, ela faz parte da nossa "história" :)

      Sim, isso acontece muito: pessoas que deixam de ouvir certas bandas porque passaram a ser conhecidas (ah! hipsters do car... aças :P) o que é perfeitamente estúpido porque se o álbum era bom ontem quando eles e os amigos o adoravam, porque é que amanhã já não vale nada se estiver em 1º na tabela de mais vendidos?... Porque deixou de ser apreciado somente por um grupo de iluminados cuja missão na Terra é descobrirem obras primas da música?! bah...

      Não deve ser nada fácil estar numa banda e tentar conjugar estas coisas todas... Uns fãs querem uma coisa, os outros querem outra, o manager e as produtoras exigem outra... :/ As grandes bandas serão aquelas que conseguem durante uma carreira inteira arranjar forma de continuarem fiéis a elas próprias. E mesmo isso é susceptível de se alterar com o tempo porque se todos temos direito a mudar enquanto pessoas, também as bandas evoluem e com isso vão sempre alienar alguém. É como tudo na vida, é impossível agradar a toda a gente a menos que deixemos de ser nós próprios para sermos o que cada um, em qualquer altura, quer de nós... É bastante interessante pensar nisto tudo, tem implicações bem extensas.

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